quinta-feira, outubro 18, 2012

TAP perdida

Calendário Ryanair, 2013. Por beneficência pura!

BES quer que sejamos nós a pagar as dívidas da TAP

Preâmbulo

Passos Coelho, antes de vir para o governo, foi um dos executivos da Fomentinvest, presidida por Ângelo Correia. Esta empresa obscura, dedicada sobretudo a capturar fundos comunitários e encomendas do estado português, é detida em 15,4% pelo BES, um grupo financeiro da família Espírito Santo, que está metido em mais de 400 empresas e em boa parte dos grandes negócios protegidos pelo estado ou por lógicas de oligopólio.

O Grupo Espírito Santo é uma das alavancas das seguintes PPP rodoviárias: PPP Grande Porto, PPP Beira Litoral e Alta, PPP Costa da Prata, e PPP Pinhal Interior.

Como querem que o Gaspar ataque as PPP?

O BES e a TAP

Neste momento o BES e a administração da TAP sabem que não existem candidatos à compra da dívida insustentável da companhia: cerca de 3 mil milhões de endividamento revelado e por revelar + 3 mil milhões de responsabilidades contraídas na encomenda de 12 novos aviões A350 = 6 MIL MILHÕES !!!

Os primeiros A350 devem chegar já em 2013. Quem paga?

Assim sendo, não me custa nada imaginar a coincidência súbita de pontos de vista entre o BES e a Comissão de Trabalhadores da TAP. Nenhum deles pretende que a privatização vá para a frente, apesar de prevista para 2011 no memorando assinado com a Troika. O BES, porque sabe que não há nenhum comprador credível, salvo a Lufthansa, que lhe imporia condições hostis; e os sindicatos, porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas, ou seja, pagamos todos nós!

Ambos têm assim a esperança de que o governo pague as faturas atrasadas da TAP, nomeadamente ao BES e ao Crédit Suisse, que são dois dos bancos envolvidos na encomenda dos Airbus A350, nem que seja, depenando o país inteiro, incluindo as classes médias altas.

Foi ventilada a hipótese de uma emissão obrigacionista da Parpública para o efeito. Ou seja, mais uma receita extraordinária para esconder o que está à vista de todos: a TAP é neste momento uma empresa insolvente, falida, e acima de tudo uma companhia inviável, seja pelo modelo de empresa, que não soube adaptar-se ao fim do petróleo barato, e ao fim do dinheiro fácil, seja pelo excesso de pessoal, seja pela dispersão de objetivos, ou seja ainda pela desastrosa gestão política que a caracteriza. Tal como o resto do país, a salvação da TAP não depende de mais liquidez, mas de uma radical mudança de estilo de vida. Por fim, no que se refere a truques de secretaria, não vejo como poderá a Troika deixar passar mais um financiamento público disfarçado a este cadáver adiado.

O preço da ANA, por outro lado, está necessariamente indexado à sorte da TAP.

Sem a TAP os aeroportos portugueses valem uma coisa, com ela, como tem vindo a ser gerida, valem outra, e no caso de a companhia cair nas mãos de um grupo europeu, ou colombiano, as variações de valor potencial podem ser abissais! É certamente esta dança de expetativas que explica a  produção da novela de última hora, Um Efromovich em Lisboa. Se não me engano, a mesma visa apenas embalar a dezena de interessados na privatização ou concessão da ANA, e de quem o governo quer uma resposta pronta e completa até 26 de outubro, apesar de não lhes ter apresentado até à data qualquer caderno de encargos. Ou seja, estamos diante de uma evidente comédia tropical!

Entre 2013 e 2014 a ofensiva Low Cost destruirá a TAP que hoje conhecemos.

As Low Cost de médio curso, que nascem como cogumelos e querem invariavelmente voar para Lisboa (ver o mais recente anúncio da Norwegian), e as mais do que prováveis Low Cost de longo curso, promovidas pela Air Canada e pela Ryanair-Aer Lingus, irão certamente alterar e muito o panorama da Portela a partir do verão de 2013. O mercado norte-americano da TAP será progressivamente comido pela crescente oferta de voos intercontinentais de baixo custo, e uma vez provada a receita, as ligações entre a América do Sul e a Europa irão pelo mesmo caminho. O Brasil passará a exigir da Avianca, da TAP e de outras companhias voos baratos para a Europa, e voos baratos da Europa para as Olimpíadas do Rio!

Bem gritou a Blogosfera por uma TAP Low Cost, e por uma TAP Atlântica (intercontinental), na sequência de um spin-off realista e inteligente da companhia. Mas nada aconteceu, certamente porque o senhor Ricciardi, ou o senhor Ricardo, ou ambos, não quiseram, e os moluscos do governo concordaram cabisbaixos.

Ainda veremos um avião da TAP retido em Zurique por dívidas!

Se e quando tal ocorrer, a empresa será forçada a fechar. Depois de semelhante bronca, assistiremos à queda em dominó de várias empresas e bancos devoristas. Os mesmos que levaram Portugal à ruína e alegremente continuam a acreditar que uma Nossa Senhora de Berlim virá salvá-los da fogueira financeira onde já assam, por enquanto, em lume brando.

Um país à beira da implosão. Estamos pior do que a Grécia

Um gráfico que ilustra bem o regime cleptocrata instalado

Há três bombas-relógio que, para além da falência da segurança social e do colossal serviço da dívida pública que teremos que pagar em 2014, são uma espécie de pregos no caixão de Portugal:
  • as PPP rodoviárias (41% de um total de 120 PPP), 
  • as PPP do ambiente, ou seja, saneamento básico, águas e tratamentos de resíduos (19%), 
  • e as PPP eléctricas, ou seja, produção e distribuição de energia, de que as novas barragens lançadas por Sócrates são o crime maior. Só nos chamados CIEG — Custos de Interesse Económico Geral (1), atrelados à fatura da EDP, o estado e os piratas do regime extraem subrepticiamente aos contribuintes 2,5 mil milhões de euros por ano, ou seja, mais do dobro do IMI cobrado em 2010, que foi de 1,1 mil milhões de euros, e mais do que o subsídio de desemprego, indemnizações compensatórias de salários em atraso e políticas activas de emprego despendidos em 2011: 2.140 milhões de euros.
Em todas estas parcerias ilegítimas estão os bancos BES, BCP e o Grupo Mello, entre outros. Como já se percebeu, o governo em funções é demasiado cobarde para afrontar os usurpadores silenciosos do regime. No entanto, vamos chegar a um momento em que o estado português se verá confrontado com uma necessidade inadiável: nacionalizar esta gente!

Os agarrados da dívida
Europe banking supervisor plan ‘illegal’ 
Those non-eurozone countries that want to opt into the bank supervision regime would also be legally unable to vote on any ECB decisions – a key demand of countries such as Sweden and Poland.

While it is common for lawyers from different EU institutions to disagree on aspects of proposals, diplomats involved in the talks said the sharp difference in legal opinion would complicate efforts to overcome the deep-set concerns of some member states. Banking union will be a central topic at the EU leaders summit on Thursday.

While EU leaders are still aiming to agree the supervision plan by the end of the year, talks have made little progress to date, in part because of strong German objections. Some participants privately suggest the talks may drag on for a year or more.

Other elements of the commission proposal were also challenged in the legal opinion, notably in asserting the rights of member states to decide how rules on their banks are applied, even when under the supervision of the ECB.

“The major question that follows from this opinion is a practical one,” said Alexandria Carr, a former UK legal adviser now at Mayer Brown International.

“Will the ECB have the capability and capacity to be the ultimate decision maker in respect of all supervisory decisions over complex, global institutions and to apply at least 17 different pieces of domestic legislation?”

Financial Times/ ZeroHedge

Lá se vai a Nossa Senhora do Crescimento Agarrado à Dívida, de que Hollande e Seguro são devotos.

Os devoristas lusitanos acreditam piamente num milagre, e portanto acham que é melhor adiar e esperar. Estarão mesmo dispostos a fazer cair o governo em funções, levando Portugal para um patamar de desespero semelhante ao da Grécia.

Para quê redefinir as funções do estado? Para quê ajustar o nosso estilo de vida ao que temos, em vez de continuarmos a contar com o ovo no cu da galinha, e os euro-marcos da senhora Merkel a tempo e horas na conta bancária de cada um de nós —a começar pelos funcionários públicos, trabalhadores e dirigentes das empresas públicas e grandes rendeiros do estado: BES, BCP, Grupo Mello, EDP, Mota-Engil, etc. ?

No entanto, como não vai haver nenhum milagre, o país só tem teoricamente duas saídas: inventar um inimigo externo, de preferência o credor, e declarar-lhe guerra (hipótese inexistente), ou então ir buscar o dinheiro dentro de portas, onde o mesmo estiver. O mais portátil tem voado a grande velocidade, nomeadamente, para a Alemanha!

A classe média alta e muitos empresários perceberam finalmente que é isto que está em marcha.

Ultrapassada a curva de Laffer, que ocorrerá entre 2013 e 2014, só restará uma e uma única alternativa: nacionalizar o BES, nacionalizar o Grupo Mello, deixar cair a Mota-Engil e outras construtoras em benefício de concorrentes espanhóis, franceses, italianos ou polacos, em suma, evitar uma revolução, ou uma guerra civil (já tivemos muitas, sabem?). Os banqueiros piratas do regime acabarão, em suma, por receber pesadas faturas pela sua imprudência e ganância desmesurada.

Mas até lá, talvez fosse bom pensarmos a sério na reforma do estado e numa economia liberta do terrorismo fiscal e da omnipresença dos devoristas. Há sempre a possibilidade de um golpe de estado militar, sobretudo se surgirem precedentes na Grécia e em Espanha, estragar ainda mais este fim de regime.

O nosso problema não é um problema de liquidez, mas sim de insolvência!

Temos que aprender a viver com o que temos. A mama do império, a mama da UE e a árvore das patacas secaram :(

Voltando à TAP 

Tenham a coragem de reestruturar a fundo esta empresa, sem atender às razões do senhor Salgado. Até porque sendo uma empresa pública, das duas uma: ou conseguem vendê-la por um euro, o que na realidade significaria um custo/investimento na ordem dos 6 mil milhões por parte do comprador, ou então, se não aparecer mais nenhum aventureiro, a única saída será mesmo a reestruturação da empresa. Pois abrir falência, creio que não pode. E encerrá-la sem mais também não faz sentido algum.


ÚLTIMA HORA 

Efromovich: A TAP precisa de muito mais que 500 milhões de euros

O Grupo Synergy passou sozinho à segunda fase de privatização da TAP. Germán Efromovich, que lidera a proposta, contou ao Negócios que este foi um processo "concorrencial" [CONCORRENCIAL?! CONCORREU COM QUEM?], mostrando confiança na conclusão com sucesso do mesmo. Sem falar na sua proposta, o empresário assegurou que, pelo conhecimento que para já tem das contas da TAP, a companhia "precisa de bem mais do que 500 milhões de euros" — Jornal de Negócios.

Pois precisa!

O que o brasileiro-colombiano-polaco-judeu está a dizer ao governo português é que, para além dos 500 milhões de euros necessários para acudir às necessidades de tesouraria urgentes, há mais contas por pagar e compromissos firmes para cumprir:

    — desde 31.12.2011 que o relatório e contas do grupo TAP regista um buraco de 2.325 milhões €
    — a Airbus confirma que a TAP encomendou 12 Airbus A350, com entregas a começar em 2013, por valores que rondarão os 3 MIL MILHÕES DE EUROS (leasing a que estão associados, pelo menos, o BES e o Credit Suisse — que esperam rendas chorudas de tamanha encomenda realizada por um gestor --Fernando Pinto-- contratado há mais de uma década para privatizar a TAP!
    — indemnizações por despedimento de uns 3 mil trabalhadores... portugueses!

Em suma, tudo somado (2.325.000.000 + 500.000.000 + ~3.000.000.000 + indemnizações) a coisa andará certamente muito perto dos SEIS MIL MILHÕES DE EUROS, entre dívidas por pagar, compromissos firmes e indemnizações.

Deve ser por isto que o alucinado Sérgio Monteiro veio com a patranha de que um concurso com um só concorrente é bestial, e que, se o Efromovich quiser vender a TAP logo depois de a comprar, o estado português terá direito de preferência!

Isto cheira a esturro mesmo antes de começar :(

Quer-me parecer que o gaúcho, aparentemente desaparecido em combate, está a replicar o golpe dado aquando da falência da Varig. À época o lombinho da companhia brasileira insolvente chamava-se VEM (Varig Engenharia e Manutenção); hoje o mesmo lombinho chama-se TAP Maintenance&Engineering (é a mesma empresa, i.e. "a maior empresa de manutenção de aviões da América Latina e uma das maiores do mundo" — Wikipédia).

Que grande negócio para os irmãos Efromovich e a sua Avianca poder comprar a preço de saldo o grupo TAP, separar depois a TAP Maintenance&Engineering da TAP, colocando-a ao serviço da Avianca, e depois, com o difícil processo de reestruturação da TAP em Portugal, acabar por desistir de aturar os porrtugueses, e voltar a vender o prejuízo ao estado português.

Se é isto que está na forja, é uma burla e um crime. O governo que prove desde já quais são as suas reais intenções, e que confronte o engenheiro Fernando Pinto com a suas responsabilidades na falência da TAP!

Cá estaremos para irmos acompanhando esta telenovela sul-americana!

Uma privatização ‘low cost’ da TAP — 23/10/12 03:04 | Pedro Carvalho | Económico

[…] a lei das privatizações […] tem implícita uma lógica de leilão, em que vários interessados fazem ofertas concorrentes com vista a inflacionar o encaixe para o Estado. Ora bem, nesta privatização, German Efromovich é o único interessado, numa short, short, short list que deixa o empresário com a faca e o queijo na mão. E Efromovich já anda a mandar recados na imprensa: ontem dizia ao Jornal de Negócios que a "TAP precisa de muito mais de 500 milhões" (valor negativo dos capitais próprios), que é como quem diz ‘não pensem que vou pagar 500 milhões'. A última vez que o Estado fez uma privatização com um único candidato foi o BPN e deu no que deu. Injectou 500 milhões para depois vende-lo por 40 milhões.
A falsa privatização da TAP começa finalmente a cheirar mal na imprensa do regime. Aleluia!


Embuste da privatização da TAP levanta o véu...

O que anunciaram hoje não foi o caderno de encargos de uma privatização, foi o prospeto de uma operação swap. Género: eu empresto-vos a TAP para darem uma voltinha e ganharem uns euros, pagam-nos uma renda à cabeça, nós vamos absorvendo a dívida em sucessivos OE martelados (não se preocupem com o buraco), através da Parpública, e daqui a uns anos devolvem-nos a empresa como se fosse nova :)


Sérgio Monteiro: Estado tem direito de preferência na compra da TAP em venda futura - Jornal de negócios online

O caderno de encargos da TAP já foi aprovado pelo Governo. Fica determinado que o Estado terá direito de preferência caso o comprador queira mais tarde vender a transportadora aérea. Governo admite que Grupo Synergy está na corrida.

Jornal de Negócios, 18 out 2012, 14_18


Mas afinal...
"Estado fica com direito de preferência em venda futura da TAP e admite interromper negociações com Efromovich caso não atinja os seus objectivos." Negócios, 19 out 2012, 00:01
Este negócio já cheira mal antes de começar! O dossiê da rocambolesca e por finalizar falência da Varig (parte do processo ainda está retido nos tribunais), bem como da compra da VEM pela TAP, em 2005, é uma boa ilustração do que de mau poderá suceder à TAP se não houver vigilância democrática do, para já, obscuro processo de privatização em curso. Os cagarros parlamentares, e o senhor Seguro, em vez de andarem a dar tiros na Troika, bom seria que pensassem no país e fizessem aquilo para que lhes pagamos. Neste caso, exigir a máxima transparência de uma operação que está a ser cozinhada entre o Passos Coelho-Miguel Relvas e a malta do BES, apesar de a coisa ser apresentada publicamente por um porta-voz governamental (Sérgio Monteiro) que é simultaneamente um ignorante em matéria de transportes.

PS exige suspensão do processo de privatização da TAP!

Basílio Horta em nome do PS exige suspensão da privatização da TAP. PCP e Bloco acompanham decisão do PS. Água mole em pedra dura... Sérgio Monteiro fala de comissão de acompanhamento, ao que parece presidida por Ferraz da Costa. O problema, porém, está nos assessores financeiros, os bancos BES e Crédit Suisse, partes interessadas no negócio!


NOTAS
  1. Componentes dos preços da energia pagos pelos consumidores (informação da EDP):

    Energia: 51%
    Redes: 24%
    CIEGS: 25%

    Decomposição dos CIEG

    Rendas pagas aos municípios: 25%
    Sobrecusto da produção em regime especial (essencialmente energias renováveis): 16%
    Sobrecusto de produção em regime especial (essencialmente energias não renováveis): 11%
    Sobrecustos das regiões autónomas: 11%
    Sobrecustos da produção em regime ordinário (centrais térmicas e hídricas): 24%
    Rendas de défice de tarifa: 10%
    Outros custos: 3%

Última atualização: 23 out 2012, 10:56

segunda-feira, outubro 15, 2012

Fantasia eleitoral

Caldeira Grande, Furnas, São Miguel, Açores.
Foto @ OAM

Debaixo do paraíso há um vulcão!

As eleições de 14 de outubro não só desfizeram o CDS, o Bloco e o PCP, como revelaram uma realidade preocupante: mais de 54,2% dos eleitores inscritos deixaram de votar nos partidos do sistema. Ou não votam, ou votam em branco ou votam nulo.

O PS renovou no domingo a maioria absoluta nas eleições regionais dos Açores, conseguindo 31 deputados dos 57 mandatos totais, mais um do que há quatro anos, enquanto o PSD apesar de derrotado aumentou igualmente a sua votação em relação a 2008, com mais dois deputados.

O CDS perdeu eleitorado e passou de cinco para três deputados. Já Bloco de Esquerda perdeu também um deputado, ficando com apenas um representante no parlamento regional, enquanto a CDU manteve o seu deputado único, tal como o PPM.
A abstenção ficou nos 52,1 por cento, um pouco abaixo [não é verdade!] do recorde de 2008 (53,2 por cento).

O PS conseguiu 48,98% dos votos expressos (52.793 votos); o PSD obteve os 32,98% (35.550 votos); o CDS-PP ficou 5,67% (6.106 votos); o BE com 2,26; (2.437 votos); a CDU (PCP-PEV) com 1,89% (2.041 votos) e o PPM 0,09por cento (86 votos), conseguiu manter o seu deputado pelo círculo do Corvo.

in Público, 14 out 2012

Esta notícia, como todas as que foram publicada pela nossa imprensa indigente, limita-se a papaguear o que a Lusa e os condottieri de comunicação lhes impinge. É certo que a o portal da Comissão Nacional de Eleições é uma coisa deprimente —nem sequer os resultados provisórios das eleições publicou, já para não falar da falta completa de tino informativo e de usabilidade informática ali exposta— e que para sabermos alguma coisa das eleições de 14 de outubro, só mesmo consultando o portal do governo dos Açores.

Ora bem. Eu estive a ver os resultados e a coisa é bem pior do que parece, para os pequenos partidos, mas sobretudo para a democracia.
  • população residente (2011) = 246.746
  • menores de 15 anos (17,9%) = 44.167,534
  • população com mais de 15 anos = 202.578
  • eleitores: 225.109 (há obviamente muitos eleitores fantasma*)
  • votantes: 107.783 (47,88%)
  • abstenção: 117.326 (52,12%) — em 2008 abstiveram-se 102.913, logo, a abstenção subiu!
  • brancos: 3.460 (3,21%)
  • nulos: 1.388 (1,29%)
  • votos validamente expressos em partidos: 102.935 (45,72%)
  • abstenção + votos brancos + votos nulos = 122.174 (54,27%)
  • PS = 52.793 votos — 48,98% (% entre partidos concorrentes); 23,45% (% do eleitorado)
  • PSD = 35.550 votos — 32,98% (% entre partidos concorrentes); 15,79% (% do eleitorado)
  • CDS-PP = 6.106 votos — 5,57% (% entre partidos concorrentes);  2,71% (% do eleitorado)
  • B.E. = 2.437 votos — 2,26% (% entre partidos concorrentes) / 1,08% (% do eleitorado)
  • PCP/PEV = 2.041 votos — 1,89% (% entre partidos concorrentes); 0,90% (% do eleitorado)

Os milhares de eleitores fantasma, fenómeno que se verifica tanto nos arquipélagos como no Continente, ao que parece têm origem na vontade dos autarcas impedirem que os seus vencimentos desçam em função de dois fenómenos indisfarçáveis: a perda de população e a perda de eleitores. Seja como for, este empolamento da população eleitoral é mais uma prova da democracia degenerada que temos. A responsabilidade começa nos autarcas, mas acaba nos dirigentes partidários, que são conhecedores e cúmplices desta óbvia e indecorosa ilegalidade.

Por outro lado, a festa das percentagens em noite de eleições é outro embuste reiteradamente promovido pelos partidos em nome de uma democracia populista que, mesmo assim, se esvazia de eleição para eleição. O que importa não são as percentagens relativas entre os partidos, mas a percentagem de povo que vota nos ditos partidos, e aqui já são bem menos de metade dos eleitores dados oficialmente como vivos!

De 2008 para cá houve mais 14.870 pessoas que não votaram. A imprensa indigente, no entanto, assegura que a abstenção baixou um bocadinho! Como? Em percentagem? Pois, mas as pessoas não são %...

Chegados a este ponto é fácil perceber porque ganhou o PS nos Açores. Votaram neste partido, no essencial, os empregados e clientes do governo, os quais representarão algo mais do que 25% dos eleitores do arquipélago.

A maioria das pessoas não votou, ou seja, mais de 52% dos eleitores abstiveram-se. Isto significa que, para além de alguns empresários e proprietários residentes mal queridos pela administração de Carlos César (que serão poucos), a maioria dos que votaram reune, na realidade, empregados e clientes do governo regional.

Num ambiente de ameaça evidente ao emprego público a aos fornecedores do estado é natural que a continuidade governativa seja particularmente querida por quem dela depende. Ou seja, o medo de que um novo governo pudesse roubar algum emprego ou encargos "socialistas" para o PSD foi determinante na derrota deste partido e no desaparecimento fulminante dos pequenos partidos.

Por outro lado, não devemos confundir, nem os partidos, nem a governação nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, com as cenas do Continente. Há um mar de diferenças! Carlos César, por exemplo, não foi nem um despesista, nem um demagogo leviano.

E no Continente ?

Se houvesse hoje eleições no Continente, o PS ganharia folgado, deixando igualmente o PCP e o Bloco para trás. Paulo Portas e Passos Coelho já sabem a esta altura do campeonato o que lhes vai acontecer nas autárquicas em 2013. Por isso nada fizeram da reforma autárquica, estupidamente!

O preço desta hesitação fatal, e doutras, é o terrorismo fiscal em curso que, ao ameaçar destruir as classes médias —baixa, média e alta— já as virou brutalmente contra o governo do Memorando.

Duvido que a coligação chegue ao Natal... É que Paulo Portas já percebeu que se não deita o governo abaixo, desaparece!

O radicalismo recente dos estalinistas do PCP, e dos trostkistas e maoistas do Bloco, é uma tentativa desesperada de evitar o inevitável: uma enorme fuga de votos em direção ao PS. A nova vaga de esquerda do PS, protagonizada por atores como Pedro Nuno Santos e Isabel Moreira, vai ter um efeito demolidor sobre os cadáveres adiados do leninismo, do maoismo e do trotskismo.

Abstenção e voto útil são as realidades que me aparecem na bola de cristal...

Agenda para os próximos meses
  1. aprovação do Orçamento de Estado (OE)
  2. análise do documento em Bruxelas
  3. se tudo estiver conforme, envio do cheque de 4,3 mil milhões €
  4. se houver recuos ou batota visível no OE, a Troika fará recomendações de cujo cumprimento dependerá o envio do cheque (humilhação redobrada da casta que manda no país)
  5. admitindo que 3) ou 4) são ultrapassados, e cobrado o cheque de Bruxelas, Paulo Portas abandona a coligação e precipita a queda do governo
  6. Cavaco nomeia governo de iniciativa presidencial (PSD-PS-independentes próximos de Cavaco), que durará até às próximas eleições, que serão convocadas para o fim de 2013.

IMPORTANTE: se o CDS não abandonar a coligação depois de chegar o cheque de Bruxelas, desaparecerá nas eleições autárquicas, o que até seria excelente, para espevitar uma reforma e recomposição do miserável panorama partidário que temos.

* Eleitores fantasma: a população total do Açores cresceu entre 2001 e 2011, de 4.983 almas, passando de 241.763 para 246.746. No entanto, o número de eleitores pulou entre 2008 e 2012 de 192.943 para 225.109, ou seja, um acréscimo de 32.166 votantes potenciais. Alguém me consegue explicar este fenómeno?

domingo, outubro 14, 2012

Rendeiros e Devoristas


Nosferatu, o morto-vivo, o imortal de Murnau (1922)

Nem a Troika, nem este governo são os principais problemas

Problema são os vampiros insaciáveis do regime. Pela calada das suas metáforas e disfarces faliram o país e preparam-se para continuar a beber o sangue dos portugueses ad aeternum. Se estes deixarem, claro!


Expresso (13 out 2012): dos 7,2 milhões de prédios urbanos registados 1.590.768 usufruem de isenções temporárias ou permanentes de IMI. 565.534 usufruem de isenções permanentes.

Observando os beneficiários destas isenções indecorosas ficamos a conhecer de forma precisa quem são os novos devoristas de Portugal:
  • os fundos de investimento imobiliário, com valor estimado de 12 mil milhões de euros (além do IMI também não pagam IMT pelas transações imobiliárias que realizam!);
  • as 4860 instituições particulares de solidariedade social (ver também a lista oficial), ou seja, as famosas IPSS, de que a União das Misericórdias é uma parte autónoma, mas muito importante, e que foi em tempos presidida pelo padre Melícias (um franciscano simpático que usufrui a linda reforma de 7450 euros)
  • os clubes de futebol — os adeptos que não se queixem da carga fiscal antes de fazerem as perguntas devidas sobre o que são, na realidade, os seus clubes de futebol :(
  • os sindicatos — não pagam IMI, mas os seus associados pagam a dobrar :(
  • as associações patronais — a mania de pedir...
  • as coletividades de cultura e recreio, onde, como todos sabemos, se realizam as mais diversas atividades lucrativas — como alugar instalações para eventos desportivos, culturais e religiosos;
  • os colégios particulares, que são caros, como todos sabemos, e que pertencem na sua maioria à igreja católica;
  • e ainda todos os edifícios considerados de interesse público ou com valor municipal — ou seja, uma bolsa interminável de favores à disposição dos partidos e dos poderes de turno. Pergunta: o Pavilhão Atlântico recentemente "oferecido" ao genro de Cavaco Silva, paga IMI? E pagou IMT?

Resumindo, pagamos todos mais IMI e mais IMT do que seria necessário, para que o estado capturado pelos devoristas satisfaça de privilégios estas insaciáveis criaturas. A teia está bem montada e engoliu literalmente o embaraço democrático que no início, isto é, pouco depois do 25A, atrapalhou os rendeiros e os cleptocratas de sempre. Sabem quem é a presidente da mesa da assembleia geral da União das Misericórdias? Pois é, acertaram: a irmã Maria de Belém Roseira.

Se todos, ou quase todos, pagassem impostos, a fiscalidade deveria baixar, naturalmente. Os partidos, como em tudo o que lhes convém, não pagam — pois imagino que se instalaram todos em imóveis com valor municipal. E nós que julgávamos que o financiamento vinha só dum lado. Não, vem de todos os lados e mais alguns. É só cavar um pouco mais, e lá aparece outro pequeno desvio orçamental em direção aos partidos!

Nestas circunstâncias, mudar de governo não adianta coisa nenhuma, pois todas as combinações de governo que se podem imaginar apenas serviriam para alimentar o monstro, nunca para o enfrentar.

Quando os rabos pelados do novo regime devorista instalado depois do 25A, que colonizam de forma permanente e omnipresente o espaço mediático, acusam os ministros deste governo de impreparação, de falta de aderência à realidade (neste particular Álvaro Santos Pereira foi o bombo da festa), ou mais recentemente acusam todo o governo pelo assalto fiscal em curso (porque lhes chegou finalmente aos bolsos!) eu desconfio das suas razões. Aliás percebo muito bem que a sua única intenção é impedir que os seus privilégios sejam beliscados, nem que o país se afunde entre as suas lágrimas de crocodilo e as suas contas bancárias e ativos tantas vezes ilegitimamente adquiridos. Nisto, todos se juntam, dos burocratas de sucesso do PCP e professores do Bloco, aos passageiros do táxi CDS.

O Bloco Central da Corrupção é isto: uma turma interminável que se está nas tintas para o país e se atirou de cabeça para dentro do caldeirão da poupança salazarista, e depois para o dilúvio de euros vindo de Bruxelas e Frankfurt, até que não restasse nada, ou seja, até que ficasse apenas à vista o cadáver adiado de um país estupefacto com o que lhe aconteceu.

É por isto que eu não confio nada nos partidos do parlamento. É por isto que defendo o boicote nacional das próximas eleições autárquicas. É por isto que a menos que o euro desapareça, ou sejamos expulsos da união monetária, a nossa saída está mesmo inscrita no memorando da Troika.

Livrem-nos da corja devorista!




A tempestade mundial ainda não amainou

Tal como estão as coisas em Portugal, Grécia e Espanha —mas também na Irlanda, Bélgica, Reino Unido e EUA— teremos depressão e recessões sucessivas até 2017, pelo menos. Haverá até lá uma destruição, sem precedentes na história do capitalismo, de excedentes de capital fictício, de máquinas, de empresas, de capacidade produtiva e de emprego .

Mas o pior de tudo chama-se hipertrofia dos ditos estados de bem-estar social, capturados pelos bancos, pelas partidocracias, pelas corporações e pela burocracia, e que crescem como manchas de azeite entornado que em breve poderão transformar-se em regimes de terrorismo fiscal intermitente.

Se a Grécia não aguentar, duvido que o euro aguente. Logo, a Alemanha vai ter que acabar por aceitar um crescimento desmesurado da massa monetária de onde virá, mais cedo ou mais tarde, inflação como não vemos há décadas.

A inflação é o alimento preferido do devorismo demopopulista europeu, precisamente por causa dos regimes de exceção fiscal. Depois de expropriadas pela via fiscal, o que ainda sobreviver das riquezas nacionais será confiscado através da inflação. O monstro estatal e o buraco negro da especulação financeira são insaciáveis.

Tudo se conjuga para uma catástrofe inimaginável. Não tardaremos a ver a extrema direita portuguesa contagiada pela explosão que a mesma terá em breve no país vizinho. A esquerda está a repetir os erros do passado, e portanto vai acabar por dar mais um grande tiro no pé.

A China, aliada à Rússia e à Índia criará em breve uma moeda única asiática para fugir à inflação monetária do dólar e do euro. Em breve deixará o Ocidente entregue a novas guerras fratricidas.

Quando isto ocorrer, e temo bem que venha a ocorrer, em Portugal haverá um novo golpe de estado constitucional, e possivelmente uma nova ditadura. Não vai parecer uma ditadura, mas vai ser uma ditadura.

Eu acho que deveríamos evitar chegar aqui, mas para tal, teremos que tomar a tempo a iniciativa de refundar a democracia, com outra constituição e acabando de vez com o predomínio sombrio dos devoristas.

Portuguese Graffiti



Só pode ser um negócio

Em julho passado fui visitar a recém inaugurada estação de Metro do aeroporto. Como no resto do sistema de transportes ferroviários de Lisboa a bilhética é um perfeito exemplo de estupidez kafkiana e as barreiras físicas são verdadeiras guilhotinas à espreita da primeira velhinha distraída, ou grávida com bébé ao colo. Quando um acidente fatal ocorrer os burocratas que gerem o Metro e a CP não se esqueçam de reler este post! Eu não me esquecerei de assistir ao processo-crime que então for levantado.

Mas a história deste post é outra. Chama-se GRAFFITI

O país está cheio de maus graffiti e sobretudo de tags. Deixou de haver qualquer ética artística nesta forma de inscrições urbanas e suburbanas radicais. Quando regressava de comboio a Carcavelos entrei numa composição coberta de tags, e com todas as janelas pintadas com tinta prateada opaca.

Pela primeira vez na minha vida fiz uma viagem naquela que é uma das mais belas linhas de caminho de ferro deste planeta e não pude ver o cais, não pude ver a ponte, não pude a central de carvão de Belém, não pude ver as marinas, nem a Torre de Belém, nem depois o rio, a outra margem, o Bugio, os fortes da Caxias, nada! As janelas já não se abrem, pelo que podemos ficar cegos ou asfixiados à menor alteração das circunstâncias.

Tal como nas greves dos maquinistas, a rapaziada inútil dos graffiti está-se cagando para os desgraçados que não têm alternativa no seu dia a dia aos transportes públicos.

Curiosamente os comboios são borrados, ao que me dizem, nas estações de limpeza… em Carcavelos, etc. Enquanto as mães e as irmãs aspiram e lavam os interiores por uma côdea de pão mensal, os estupores deliciam-se a borrar de pintura cara o exterior das composições.

Há, porém, um caso muito curioso que tenho vindo a observar há já uns dois ou três anos na praia de Carcavelos.

A Câmara de Cascais tem um serviço de limpeza de graffiti. O processo funciona com jatos de areia fina (ou algo parecido) sobre as superfícies pintadas. É moroso e seguramente pouco saudável para os pulmões dos imigrantes contratados que costumam fazer aquele perigoso serviço. Limpos os muros, duram um par de semanas, até que novo graffiti recubra os túneis de acesso à praia, ou partes dos muros da praia. Ao que parece, não é feito nenhum tratamento anti-graffiti. Ou se é feito, resulta totalmente inútil.

As latas de spray não são baratas. Pela dimensão das "obras de arte" podemos calcular custos de produção, incluindo logística, apreciáveis. Os pobres escrevem tags, mas os meninos burgueses, venham de onde vierem, "pintam". Quem paga? Quem fornece as latas? É assim tão difícil estabelecer o circuito entre vendedores de latas e quem as compra? Não há obrigatoriedade de faturas? Quem anda a enganar quem neste milionário negócio chamado graffiti?

Ganham os que vendem latas, ganham os que vendem máquinas e produtos para limpar, ganham os que vendem tintas para reparar e voltar a pintar os muros, os edifícios públicos, as casas e as lojas.

Perdem os proprietários das casas, perdem os cidadãos que vêm os seus impostos municipais subir para que os ineptos governos municipais brinquem ao gato e ao rato com os ditos "artistas de rua".

Os poderes podem tentar diminuir este fenómeno de vandalismo urbano e destruição de propriedade alheia promovendo eventos de arte pública inclusiva. Já foi tentado com resultados satisfatórios nalgumas cidades por esse mundo fora. Mas não basta. É preciso multar de forma pesada os aventureiros. Nalgumas cidades australianas, as multas chegam aos 5 mil dólares. Em Singapura —um paraíso de prosperidade—o tratamento é ainda mais radical.

In 1993 in Singapore, after several expensive cars were spray-painted, the police arrested a student from the Singapore American School, Michael P. Fay, questioned him and subsequently charged him with vandalism. Fay pleaded guilty to vandalizing the car in addition to stealing road signs. Under the 1966 Vandalism Act of Singapore, originally passed to curb the spread of communist graffiti in Singapore, the court sentenced him to four months in jail, a fine of S$3,500 (US$2,233), and a caning. The New York Times ran several editorials and op-eds that condemned the punishment and called on the American public to flood the Singaporean embassy with protests. Although the Singapore government received many calls for clemency, Fay's caning took place in Singapore on 5 May 1994. Fay had originally received a sentence of six lashes of the cane, but the then President of Singapore Ong Teng Cheong agreed to reduce his caning sentence to four lashes.

Wikipedia

sexta-feira, outubro 12, 2012

Que venha a Troika!

Durão Barroso já é o novo Primeiro Ministro de facto de Portugal

Que se lixem este governo e os partidos! Que venha a Troika, mas a 100% !

Governo terá de preparar um plano de contingência para cortar na despesa

A Comissão Europeia explica que os aumentos de impostos planeados pelo Executivo correm o risco de continuar a prejudicar os objectivos de receita fiscal em 2013. Nesse sentido, é necessário um “plano B” que consiga acomodar esses desvios.

“Para criar uma almofada para eventuais quebras de receita, o Governo preparará um conjunto de medidas de contingência no âmbito do Orçamento do Estado para 2013, predominantemente do lado da despesa, que poderão ser utilizadas em caso de necessidade”, escreve a Comissão Europeia.

in Jornal de Negócios online, 11 out 2012.

Eu prefiro, simplesmente, que o meu país seja administrado pela Troika, conferindo-se-lhe poderes executivos suficientes para colocar o país na direção do equilíbrio orçamental, ao calvário que a cleptocracia e a partidocracia dominantes nos estão a submeter. É a corja criminosa que nos trouxe até aqui quem, na realidade, se prepara para nos levar couro e cabelo —pela via do terrorismo fiscal— em 2013 e 2014!

Portugal tem a segunda pior dívida pública e privada do mundo desenvolvido, à frente da Grécia, e só atrás do Japão! 

Mas enquanto o Japão é um exportador gigantesco, Portugal importa mais do que exporta. A nossa dívida externa (acumulada sobretudo pela via da importação de capital) é tão insustentável quanto as dívidas pública e privada. É neste cenário de colapso que vejo a demonização da Troika como um truque de magia para proteger os devoristas insaciáveis de sempre. Os credores reunidos na Troika têm pensamentos divergentes sobre como prosseguir com devedores moribundos. Eles sabem que se desligarem a máquina que na Unidade Financeira de Cuidados Intensivos mantém os sinais vitais de Portugal, este apaga-se. Grécia e Espanha estão na mesma situação moribunda. Ou seja, qualquer destes três países estão a um passo de caírem, do estado de insolvência em que se encontram, para o rigor mortis da bancarrota.

E no entanto, são os povos e as suas elites lúcidas, onde as haja, que podem e têm o dever de mudar estes regimes degenerados e financeiramente exangues, não as Troikas. Estas apenas podem ajudar, ainda que no seu próprio interesse, e pressionar. Que se lixe a Troika! foi definitivamente uma má consigna, pois vira a indignação para o alvo errado.

Uma tabela medonha sobre o endividamento dos países desenvolvidos
© Cecchetti, Mohanty e Zampolli

Há um estudo fundamental do BIS, publicado em setembro de 2011 (ver extratos abaixo), que demonstra como dívidas públicas acima dos 85% do PIB, dívidas de empresas acima dos 90%, e dívidas das famílias acima dos 85%, provocam a paragem do crescimento e a recessão, agravando as próprias probabilidades de se sair do ciclo infernal da dívida acumulada > défice > juros,  e colocando assim em causa a solvabilidade do país que cair nesta situação.

O jogo da culpabilização não nos leva a lado nenhum. Do que precisamos é de agir, e de meter na prisão alguns responsáveis criminosos pelo despiste suicida das finanças públicas e privadas portuguesas. Alguns políticos e alguns banqueiros devem ser expostos, denunciados, julgados e presos.

Até na perseguição e condenação dos devoristas criminosos já estamos atrás do Brasil. Quem diria!


REFERÊNCIA

Vale a pena ler este estudo, publicado em setembro de 2011, entre outros motivos, para sairmos do jogo da culpa, um labirinto de espelhos alimentado pela partidocracia em nome da sua própria mais do que ameaçada sobrevivência.
Abstract

At moderate levels, debt improves welfare and enhances growth. But high levels can be damaging. When does debt go from good to bad? We address this question using a new dataset that includes the level of government, non-financial corporate and household debt in 18 OECD countries from 1980 to 2010. Our results support the view that, beyond a certain level, debt is a drag on growth. For government debt, the threshold is around 85% of GDP. The immediate implication is that countries with high debt must act quickly and decisively to address their fiscal problems. The longer-term lesson is that, to build the fiscal buffer required to address extraordinary events, governments should keep debt well below the estimated thresholds. Our examination of other types of debt yields similar conclusions. When corporate debt goes beyond 90% of GDP, it becomes a drag on growth. And for household debt, we report a threshold around 85% of GDP, although the impact is very imprecisely estimated.

[...]

Conclusions

While the attention of policymakers following the recent crisis has been on reducing systemic risk stemming from a highly leveraged financial system, the challenges extend beyond that. Our examination of debt and economic activity in industrial countries leads us to conclude that there is a clear linkage: high debt is bad for growth. When public debt is in a range of 85% of GDP, further increases in debt may begin to have a significant impact on growth: specifically, a further 10 percentage point increase reduces trend growth by more than one tenth of 1 percentage point. For corporate debt, the threshold is slightly lower, closer to 90%, and the impact is roughly half as big. Meanwhile for household debt, our best guess is that there is a threshold at something like 85% of GDP, but the estimate of the impact is extremely imprecise.

A clear implication of these results is that the debt problems facing advanced economies are even worse than we thought. Given the benefits that governments have promised to their populations, ageing will sharply raise public debt to much higher levels in the next few decades. At the same time, ageing may reduce future growth and may also raise interest rates, further undermining debt sustainability. So, as public debt rises and populations age, growth will fall. As growth falls, debt rises even more, reinforcing the downward impact on an already low growth rate. The only possible conclusion is that advanced countries with high debt must act quickly and decisively to address their looming fiscal problems. The longer they wait, the bigger the negative impact will be on growth, and the harder it will be to adjust.

It is important to note that our finding of a threshold for the effects of public debt on growth does not imply that authorities should aim at stabilising their debt at this level. On the contrary, since governments never know when an extraordinary shock will hit, it is wise to aim at keeping debt at levels well below this threshold.

As with government debt, we have known for some time that when the private sector becomes highly indebted, the real economy can suffer.47 But, what should we do about it? Current efforts focus on raising the cost of credit and making funding less readily available to would-be borrowers. Maybe we should go further, reducing both direct government subsidies and the preferential treatment debt receives. In the end, the only way out is to increase saving.

The real effects of debt
by Stephen G Cecchetti, Madhusudan Mohanty and Fabrizio Zampolli
LINK

Última atualização: 14 out 2012, 12:22

quarta-feira, outubro 10, 2012

Adeus ao Público

Vicente Jorge Silva, exemplar de uma espécie em vias de extinção
Foto ©Lusa

Morte súbita, ou morte anunciada?

A direção do 'Público' anunciou hoje aos editores que se iniciou um processo de despedimento coletivo no jornal envolvendo 48 trabalhadores, sendo 36 da área editorial.

Diário de Notícias, 10 out 2012

Em 1990 fui convidado simultaneamente para colaborar com dois jornais nascentes, o Público (n. 1990) e o Independente (n. 1988). 

A minha especialidade era e ainda é (embora não pareça) a crítica cultural. O Público oferecia-me então mais dinheiro do que a generalidade da concorrência, incluindo O Independente, e pagava muito mais do que o então já descafeínado Expresso, do famoso forreta Francisco Pinto Balsemão. 

Resolvi optar pelo jornal mais inovador e menos comprometido com agendas jornalísticas gastas (o primeiro diretor do Público foi recrutado no Expresso — Vicente Jorge Silva). 

O Independente durou bem uma década e, depois de 2000, começou a decair rapidamente. Foi quando me cessaram o contrato verbal de colaboração, sem mais explicações. Eu percebera que o Indy já não iria a parte nenhuma e aceitei naturalmente a situação. Não reclamei direitos. Ainda fui sendo solicitado de vez em quando para uma ou outra participação pontual, mas o sonho de um jornalismo de papel, inovador e frontalmente crítico, acabara. 

À exceção do Indy, e da Kapa, de cujos corpos de "colaboradores permanentes" fiz parte, escrevera anteriormente no Diário Popular, no Diário de Notícias, no Expresso, e depois em revistas de arquitetura e design, sempre a título ocasional. A última experiência tive-a com a revista de design chamada MID. 

Percebi ao longo da primeira década deste século que o jornalismo tradicional português estava seriamente ameaçado, por um lado, pela sua instrumentalização sistémica da parte de grupos de pressão económico-financeira e partidária, e por outro, pelo seu manifesto atraso tecnológico e cultural. 

O Público foi um jornal politicamente correto, até no grafismo, que sempre me irritou. Por incrível que pareça, de vez em quando, ainda compro o Expresso!

Em 1994 concebi e desenvolvi com uma equipa técnica o primeiro CD-ROM interactivo em português (chama-se Museu Virtual). Através de um dos seus apoiantes, a Unissys, dera-o a conhecer a Francisco Pinto Balsemão. Disse-lhe então que o futuro da imprensa estava ali: bases de dados eletrónicas interactivas online. Ele ouviu e comentou: as letras são muito pequenas! O resto é história. Uma história triste, mas história :(

sexta-feira, outubro 05, 2012

A III República morreu

Cavaco: senhor guarda, apetecia-me algo...
Polícia: entendo, senhor

©ASN para O António Maria

O fiasco de 5 outubro de 2012

A comemoração do 5 de outubro, reservada à nomenclatura que levou o país à ruína, correu mal. Bandeira de pernas para o ar, uma senhora aos gritos, e uma promissora cantora lírica entoando uma ária de Fernando Lopes Graça... ao fim desta República, presumo.
A cerimónia no Pátio da Galé foi marcada por um incidente. No final do discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, uma senhora tentou chegar junto dos lugares dos convidados principais. SIC-N e RTP.
Os fins de regime têm sempre este ar. As elites vivem nas nuvens, deslocam-se em viaturas de luxo com motorista, ouvem ritualmente discursos de circunstância e no fim beberricam espumante rosé, devoram folhadinhos de gamba e entornam chantilly sobre as gravatas e os decotes. Desta vez, a nomenclatura anda muito irritada com o Gaspar, por causa da fiscalidade progressiva. Basta pensar nas vivendas cor-de-rosa implantadas em plena zona protegida da serra de Sintra para perceber o alcance da diatribe oratória desferida hoje pelo apparatchik chamado António Costa. Falou do que o preocupa e preocupa a sua tribo alargada —a partidocracia. Acha que o sacristão pouco Seguro que hoje fala em nome do PS não chega para tanta encomenda desesperada. Entendo perfeitamente!

Os bem pagos juízes e procuradores, os bem pagos reitores, os bem pagos gestores, e os que não sendo tão bem pagos têm, apesar disso, a possibilidade recorrente de cobrar comissões escondidas por mexeram com tanta facilidade na massa orçamental (desde que os deixem renovar eternamente os mandatos, claro!), acorreram à cerimónia. É o pequeno preço a pagar por servir os banqueiros — perdão, os populares, ou melhor, o povo!

Cavaco Silva iça bandeira republicana de pernas para o ar. Estava escrito!

A monarquia constitucional, corrompida até aos ossos, não caiu à primeira pancada. Levou aliás onze anos a cair, depois que o anúncio do seu funeral foi feito no Porto, a 31 de janeiro de 1891, nas vésperas da bancarrota do país. Nesses onze anos de agonia, a tropa partidária que então comandava a desgraça continuou na galhofa parlamentar, e o rei em caçadas.

A I República, que havia proibido o voto às mulheres, andou de golpe de estado em revolução, de revolução em guerra civil, enviou uma expedição militar para o matadouro da I Guerra Mundial, criou uma espiral de inflação nunca vista, e não morreu sem antes coligir um bom número de assassínios, incluindo um fundador do regime, um primeiro ministro e um presidente da república

Desta vez não vai demorar onze anos, nem dezasseis. Palpita-me que esta III República incapaz, corrupta e moribunda não irá além de 2015. As pessoas honestas e inteligentes que estão no PSD, no CDS/PP, no PS, nas empresas, nos escritórios e nos ateliês já não têm muito tempo a perder. O poder já anda escondido — mas nem assim! A multitude está na rua, e vai continuar a engrossar o descontentamento nacional perante uma democracia capturada pela estupidez e pela ganância de sempre.

A esquerda parva acha que os ventos lhe são favoráveis. Engana-se, como hoje se viu.

É preciso ir preparando, com lucidez e coragem, o nascimento da 4 República!


POST SCRIPTUM

Mário Soares faltou, que digo eu, boicotou as cerimónias privadas do 5 de outubro. E fê-lo com estrondo. Tiro-lhe o chapéu pela lucidez e instinto político. Como disse: "Quem tem medo compra um cão!"


Última atualização: 6 out 2012 12:41

4 República

Lara Stone por Mert Alas & Marcus Piggott | Interview Magazine (2010)

Por uma Nova Constituição!

O republicano Afonso Costa proibiu o voto às mulheres. Está na altura de reparar esta violência de género, com juros!

As comemorações da República que hoje terão lugar são a mais evidente prova de que a terceira República morreu e que, portanto, o regime corrupto e insolvente a que chegámos precisa de ser substituído por outro.

Não propomos sublevações de marinheiros, até porque os não há — só almirantes a caminho da reforma! Propomos antes que as mulheres tomem o poder, ajudados pelos homens, claro, mas em posição, para variar, subalterna.

Ora a maneira civilizada de derrubar este regime imprestável é propor a formação de uma nova assembleia constituinte, onde estejam presentes partidos, mas também outros representantes da sociedade civil. A maneira civilizada de instaurar uma nova república deve pois começar por uma assembleia popular constituinte, cujos trabalhos poderão durar até seis meses, e da qual deverá sair um novo texto constitucional aprovado por uma maioria mínima de 2/3 dos delegados.

Este texto deverá ser subsequentemente distribuído a todos os portugueses com mais de 18 anos, nomeadamente recorrendo aos formatos eletrónicos. E deve ser objeto de uma larga discussão pública, da qual poderão resultar propostas específicas de alteração que a assembleia constituinte aceitará ou não discutir, e que incorporará, ou não, na proposta final do novo texto constitucional, seguindo a mesma regra de maioria nas votações.

A versão final deverá, por fim, ser submetida a referendo.

Se o referendo for conclusivo, o novo regime constitucional entrará imediatamente em vigor, procedendo-se à substituição ordenada das instituições e regras da III República pelas estabelecidas pela nova Constituição para a 4 República.

Menos do que isto será uma lenta e fatal agonia.


Última atualização: 6 out 2012 12:55

quinta-feira, outubro 04, 2012

Austeridade II

Francisco Louçã não mudou: continua a pensar que vai crescer à custa do PS

Menos burocracia, menos partidocracia, menos cleptocracia e menos Estado!

Na realidade, quem lê a imprensa económica internacional com alguma regularidade notará que Portugal saiu dos radares da desgraça — seja porque melhorou rapidamente a sua balança de pagamentos, ou porque conseguiu fazer crescer as suas exportações em plena recessão europeia e crise financeira mundial, ou porque o Banco de Portugal tem sabido gerir com discrição e resultados a difícil situação dos bancos nacionais, ou ainda porque conseguiu hoje mesmo trocar uma pesada dívida que vencia em 2013 por novas obrigações a custos razoáveis com maturidades mais estendidas.

A mobilidade profissional dos portugueses (1), buscando rapidamente trabalho fora do país, nomeadamente através das ligações familiares que têm em todo o mundo, a par da paz social que durou até aqui, têm sido ainda argumentos fortes a favor da confiança que lentamente regressa ao país. Mas também a determinação com que este governo e o anterior (é verdade, já vem do tempo de Sócrates) têm procurado estabelecer pontes diplomáticas e comerciais com a China, Angola e Brasil, e as respostas que não se têm feito esperar, é algo que deve ser pesado a nosso favor.

Nada disto quer dizer que estejamos bem — muito pelo contrário! Na verdade, vamos continuar a ganir até 2015, pelo menos. No entanto, quanto mais depressa encolhermos a burocracia, a partidocracia, a cleptocracia e o Estado, menos violento e duradouro será o terrorismo fiscal em curso.

As pessoas vão ficar, em breve, muito mais sensíveis ao gasto público, às mordomias, às tríades e às máfias que destruíram o país e querem continuar a sugá-lo. Mas também serão cada vez mais sensíveis às greves burocráticas das empresas públicas que prejudicam milhões de portugueses —apenas para garantir privilégios salariais, sociais, sindicais e partidários de que a esmagadora maioria de quem trabalha não usufrui— e que são financiados desde sempre e quase exclusivamente pelos impostos pagos por todos nós.

O ponto nodal do equilíbrio precário até agora conseguido é a atual equipa de governo, apesar do PM de plástico!

Parece-me fundamental barrar o caminho aos piratas que todos os dias clamam contra os ministros e pedem remodelações de governo. Só contendo os padrinhos do regime, nomeadamente Cavaco e Almeida Santos, haverá espaço suficiente para reformar o estado antes que a hipertrofia deste destrua por completo o país.

As lideranças miseráveis do PS, PCP e Bloco não oferecem quaisquer alternativas concretas aos planos do governo. Limitam-se a gritar frases inconsequentes, oportunistas e populistas, com o único fito de prosseguirem os seus pequenos jogos partidários e eleitoralistas. Já só pensam nas autárquicas. Querem lá saber do país e das pessoas!

Jerónimo de Sousa é um fóssil estalinista da era frente populista. Louçã é um fóssil trotskista oriundo de uma seita dos anos sessenta do século passado. Só Arménio Carlos parece ter aprendido a falar num português político mais inovador à sua base sindical e partidária de apoio. Pena é que continue fechado no armário das relíquias comunistas, e não tenha ainda percebido que o seu querido proletariado morreu, que a sua base de apoio é essencialmente formada por trabalhadores e burocratas do Estado, e que o mundo que hoje conta e pode forçar a mudança é essencialmente composto por classes médias profissionais e por um imenso precariado!

A esquerda populista quer tudo: quer pleno emprego, quer mais regalias sociais, quer mais dinheiro, quer mais escolas e universidades, quer mais hospitais e centros de saúde, quer mais tribunais, quer mais câmaras e mais freguesias, em suma, quer mais Estado. E acima de tudo não quer saber de contas. Os ricos, como dizem, que paguem!

No entanto, os efeitos inevitáveis da Austeridade II vão fazer pensar os portugueses sobre o preço da RTP, sobre o preço da TAP, sobre o preço da CP, sobre o preço dos barcos que atravessam o Tejo, sobre o preço de tantos deputados inúteis, sobre o preço de tantos governos municipais que nos casos evidentes das cidades-região de Lisboa e Porto há muito deveriam ter sido concentrados, sobre o preço dos juízes e procuradores improdutivos que temos, sobre o preço da corrupção, sobre o preço de uma constituição que já só serve os beneficiários especiais do regime — em suma, sobre o preço da nossa pobreza. E vão querer mudar!

Quando esta tensão subir, a esquerda deverá olhar para trás e meter a mão na consciência. Que papel tenciona desempenhar à medida que a contestação do monstro estatal subir de tom?


GREVES CORPORATIVAS
A propósito da campanha de greves promovida pelo PCP e pela CGTP

Nesta altura do campeonato as greves da CP (2) e em geral no setor público são intoleráveis.

O pessoal da CP, da Carris, Metro, etc, ganha em geral mais do que os usuários dos serviços que deveriam prestar com qualidade, eficiência e rentabilidade, e não prestam.

Os sindicatos portugueses do setor público começam a parecer-se cada vez mais com máfias extrativas.

Defendo que as greves no setor público devem ser objeto de medidas restritivas temporárias e em todo o caso de requisição civil sistemática em todos os casos em que o oportunismo sindical e partidário prejudique visivelmente os portugueses que pagam, quase sempre através de passes mensais, os insubstituíveis meios de transporte que utilizam para trabalhar.

Os senhores deputados se começassem a usar regularmente os transportes públicos, e pagassem o estacionamento dos seus automóveis na AR, como os lisboetas pagam para estacionar no espaço público que é a sua cidade, talvez passassem a ter uma maior sensibilidade relativamente aos milhões de portugueses que são prejudicados por este tipo de greves corporativas e partidárias. O PCP tem que aprender a ganhar eleições, e não a prejudicar o povo em nome das suas tropas de choque sindicais!

Não há nada que impeça o governo de ter mão dura com os sindicatos corporativos do setor público. Deixar apodrecer a situação só pode conduzir ao desastre. Os democratas não podem ficar prisioneiros de silogismos oportunistas sobre o direito à greve. Pois o preço de semelhante cobardia é normalmente o aparecimento e alastramento rápido de forças de extrema direita.

Olhem para a Grécia !!!


ÚLTIMA HORA

E é bom que se perceba que isto não vai ficar por aqui!

“O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, avisou esta quinta-feira que o BCE só voltará a realizar compras de obrigações portuguesas depois de o país ter reconquistado o acesso total ao mercado, algo que ainda não aconteceu.” Público, 4 out 2013.

Gaspar falou de um aumento brutal de impostos. Eu chamo-lhe terrorismo fiscal. No entanto, a coisa não vai ficar por aqui, sobretudo se a corja instalada continuar a boicotar o saneamento estrutural das finanças públicas.

2014 será ainda pior...
  • a menos que se reduzam drasticamente as rendas leoninas dos monopólios naturais e das PPPs, ou mesmo, em caso extremo, se recuperem para a órbita pública as autoestradas, hospitais, barragens, redes elétricas e redes de águas e saneamento negociados contra o interesse público, podendo mais tarde estas grandes obras regressar ao mercado das privatizações;
  • a menos que se acabem com todas as fundações e empresas pública municipais e regionais, fazendo regressar estes centros de má despesa aos perímetros orçamentais de onde nunca deveriam ter saído;
  • a menos que se privatizem a 100% a RTP, a Caixa Geral de Depósitos, os CTT, a CP, a ANA e a TAP;
  • a menos que se concentrem os municípios e freguesias das cidades-região de Lisboa e Porto, substituindo o Carnaval atual por verdadeiros governos metropolitanos, como existem em Madrid, Londres, Xangai, Pequim, etc;
  • a menos que se estabeleça um ensino 100% gratuito, do pré-escolar até ao último ano do secundário, mas ao mesmo tempo se privatizem todas as universidades e se atribuam bolsas de estudo para os 10 melhores alunos em cada 100 e ainda aos estudantes com médias acima dos 75% manifestamente sem recursos económicos próprios ou familiares;
  • a menos que se imponha um teto às reformas e pensões pagas pelo Estado, por exemplo de 1700 euros (caso Suíço), cabendo às pessoas procurar pelos seus próprios meios e hábitos formas de poupança complementares;
  • a menos que se reduza substancialmente a proporção de funcionários públicos e equiparados relativamente à população ativa nacional;
  • a menos que se despartidarize a administração pública com a introdução de um regime de admissão por concurso nacional obrigatório, cuja elegibilidade deverá passar pela frequência de cursos de administração pública a cargo de uma Escola Nacional de Administração e Trabalhos Públicos;
  • a menos que as nomeações políticas, obrigatoriamente temporárias, fiquem restringidas, sem exceção, aos gabinetes dos ministros e secretários de estado;
  • a menos que se reforme e reduza a Assembleia da Republica;
  • e a menos que se escreva uma Nova Constituição, breve, simples, não partidária, discutida e votada por uma nova assembleia constituinte alargada à cidadania não partidária e, por fim, ratificada em referendo.

NOTAS
  1. 100 mil portugueses em Angola
    Segundo a Monocle deste mês, a população portuguesa residente em Angola passou de cerca de 30 mil, em 2003, para mais de 100 mil em 2012.
  2. Recebi este comentário de alguém bem informado sobre a aristocracia sindical, que transmito na íntegra:

    As corporações que dão pelo nome de "sindicatos" já há muito perceberam que o seu poder advém da capacidade de prejudicar os outros trabalhadores e todos os demais que precisam de fazer a sua vida diária.

    Dito de outro modo, só as greves nos transportes têm impacto e dimensão para prejudicar os outros (não a entidade patronal, que até beneficia com a breve) em escala suficientemente visível para terem direito de acesso à lamentável comunicação social que temos.

    Especialista nestas artes, o PCP desde sempre dominou a FESTRU, mas, que se saiba, e felizmente, não controla o Sindicato dos Maquinistas da CP (SNAQ), que defende os seus interesses corporativos autonomamente (é a FESTRU que costuma colar-se ao SNAQ e não ao contrário).

    De qualquer forma, as empresas que prestam serviço público estão obrigadas a garantir os serviços mínimos, sejam eles quais forem, não sendo, pois, admissível o seu encerramento "por motivos de greve". Se as respectivas Administrações não são capazes de defender o interesse público, deveriam abandonar os cargos e respectivas mordomias.

    Acresce que, embora não pareça, existe um Secretário de Estado dos Transportes que deveria meter na ordem as Administrações que dele dependem. Por onde é que ele anda? Não tem tempo para acautelar os interesses dos utentes, nomeadamente dos que já pagaram no início do mês por um serviço que não lhes está a ser prestado na íntegra e que não irão ser reembolsados por esta falta? O desconto nos salários dos grevistas deveria servir para isto, não? Para onde é que ele vai?

    Repare-se que a Fertagus não é empresa pública nem depende de subsídios estatais e nunca fez uma greve. Por que será?

    O estado comatoso do País obriga a que o esforço financeiro tem de ser de todos, independentemente das armas reivindicativas de cada grupo de pressão, pelo que todos, sem excepções, terão mesmo de ter alguma redução salarial e ou de privilégios.

    No caso dos maquinistas da CP, que reclamam quanto à redução do valor pago pelas horas extraordinárias, a solução parece-me simples:

    — a CP reorganiza as escalas de serviço para não haver horas extraordinárias nenhumas, mesmo que tenha que ajustar alguns horários dos comboios ou até admitir maquinistas, e acaba-se com o problema (para não dizer com a mama).

    De que é que está à espera ? 


Última atualização: 5 out 2012 11:43

quarta-feira, outubro 03, 2012

Banco de Portugal, repito, cadé o ouro?

Marc Quinn, Siren (2006). Modelo: Kate Moss. Ouro de 18Q, Peso: 50Kg.

Onde está o ouro português? Existe mesmo ou é de papel? 

O Banco de Portugal, ao referir-se aos seus ativos em ouro, descreve-os assim:  “Ouro e ouro a receber”, ou seja, ouro mesmo e ouro emprestado em troca de liquidez, supõe-se. Mas quanto ouro metal afinal existe no Banco de Portugal? E quanto foi alienado sob a forma de swaps e outros instrumentos de venda dissimulada? É que há fortes suspeitas de que os bancos centrais europeus, tal como o FMI, alienaram milhares de toneladas de ouro desde que este século começou! Terá sido esta uma das contrapartidas para as astronómicas vendas de dívidas soberanas europeias, a chineses, americanos, árabes, russos e indianos, por intermédio do BCE?
“...once we acknowledge how big the discrepancy is between the actual true level of physical gold demand versus the annual “supply”, the obvious questions present themselves: who are the sellers delivering the gold to match the enormous increase in physical demand? What entities are releasing physical gold onto the market without reporting it? Where is all the gold coming from?

There is only one possible candidate: the Western central banks. It may very well be that a large portion of physical gold currently flowing to new buyers is actually coming from the Western central banks themselves. They are the only holders of physical gold who are capable of supplying gold in a quantity and manner that cannot be readily tracked. They are also the very entities whose actions have driven investors back into gold in the first place. Gold is, after all, a hedge against their collective irresponsibility – and they have showcased their capacity in that regard quite enthusiastically over the past decade, especially since 2008.”

in "Do Western Central Banks Have Any Gold Left???". By: Eric Sprott & David Baker. Sprott Global.
Entre 2002 e 2006 (!) o Banco de Portugal vendeu, sem perguntar aos portugueses, qualquer coisa como 225 toneladas de ouro (15 em 2002, 30+45 em 2003, 35+20 em 2004, 35+10 em 2005 e 15+20 em 2006). E só não vendeu mais, nomeadamente durante o consulado pirata de Sócrates, porque a UE proibiu a venda de ouro para tapar os buracos orçamentais — que todos os partidos com assento parlamentar cavam alegremente, em nome da presa eleitoral, e adiando invariavelmente o pagamento da fatura. Para a corja partidária populista que nos levou à bancarrota o governo que vier, os filhos, e os netos, que paguem a crise!

Diz-se que o BdP tem ainda 382,5 toneladas de ouro. Mas terá mesmo?

Nas demonstrações financeiras de 2011 o BdP regista entre os seus ativos: “Ouro e ouro a receber” no montante de 14 964 159 000 €.

"A receber"? Como? Porquê? Quanto? Quando?!

Fiz algumas contas rápidas, reportadas a 31 dez 2011:
  • Preço da onça troy em 31/12/2011: 1 209,87€
  • Preço da tonelada: 38 897 569 €/T  
  • Quantidade existente estimada no (?) Banco de Portugal: 384,7 toneladas
No entanto, fazendo contas de acordo com relatórios do próprio BdP, deveria haver 600-225=375 ton. E de acordo com os jornais (Sol), 382,5 ton.

Em que ficamos? Que diz o Banco de Portugal? O dono do banco, isto é, o povo português, quer saber!

Na realidade, está na altura de exigir uma auditoria independente às reservas nacionais públicas de ouro. É que depois do roubo encoberto pela nacionalização/venda do BPN tudo é de esperar das desconfiáveis autoridades monetárias deste sítio insolvente chamado Portugal.

Qual foi a rentabilidade real das vendas de ouro realizadas entre 2002 e 2006, quando comparadas com o valor atual e futuro próximo deste metal precioso, que regressa paulatinamente ao centro da discussão sobre a natureza inflacionista da monetização das dívidas soberanas atualmente em curso?


Francisco de Goya — Urano devorando a sus hijos (1823), Museu do Prado. Provavelmente uma das mais terríveis metáforas sobre o endividamento irresponsável.

Depreciação da moeda e decadência dos regimes andam sempre associados!

A inflação provocada pelo aumento constante dos custos do trabalho, da energia e da responsabilidade social associada à diminuição do emprego (seguros de desemprego, extensão dos programas educativos, criação de emprego burocrático e não produtivo, consumo conspícuo) leva ao crescente endividamento público e privado, atingindo por vezes níveis insustentáveis.

A resposta que historicamente os governos têm dado a estas crises sistémicas passa por aumentar a massa monetária e por diminuir o preço do dinheiro (através da destruição dos juros), ou seja, pela depreciação da moeda.

Esta depreciação, por sua vez, conduz à especulação económico-financeira, produzindo bolhas e colapsos, acabando por lançar pessoas, empresas e governos na insolvência. Se a resposta à insolvência for mais liquidez, e portanto uma depreciação radical da moeda, o resultado é invariavelmente a deflação dos ativos financeiros e não financeiros (casas, por exemplo) e a ocorrência de episódios de hiperinflação. atingindo sobretudo os preços associados aos bens de primeira necessidade (alimentação, etc.)

Quatro dos seis gráficos que se seguem foram compilados por Dylan Grice, um analista da Société Géneral, cuja mais recente reflexão desaguou em vários blogues económicos, nomeadamente no ZeroHedge — From Currency Debasement To Social Collapse: 4 Case Studies (ZeroHedge/ Dylan Grice).

A depreciação da moeda e a inflação aparecem intimamente associados ao colapso de Roma, ao incremento da Caça às Bruxas em Inglaterra nos séculos 16 e 17, ao Terror dos primeiros anos da Revolução Francesa, e ao colapso da República de Weimar que antecederia a irrupção do nazismo.

As tabelas sobre a depreciação do marco alemão, e sobre a repartição dos gastos familiares durante o longo período de inflação que antecedeu o episódio hiperinflacionista de 1923, são particularmente ilustrativas do que poderá vir a suceder na Europa e nos EUA se a crise sistémica em curso continuar agarrada a paliativos monetaristas.


Colapso do denário romano


A Caça às Bruxas recrudesce com a inflação


A desvalorização abrupta do franco face ao ouro acompanha o Terror na Revolução Francesa


A concomitância entre a chegada de Hitler e a inflação é evidente


Notas de banco servem para construir papagaios!


A relação entre o marco e ouro revela até que ponto o dinheiro fácil é ilusório. O ouro torna-se na medida real do valor das coisas quando o dinheiro nada vale


A alimentação torna-se o bem mais valioso quando o dinheiro perde exponencialmente valor

terça-feira, outubro 02, 2012

Portugal pode falhar

Adriana Xavier e Sérgio: imagem efémera de um país em colapso?

Há quem já aposte no regresso ao isolamento

“Estimular artificialmente a procura, como pedem muitos empresários, apenas agrava o problema. Reduz a poupança, aumenta o défice  e retarda a redução do endividamento externo. Sem redução do endividamento externo o crédito não volta.”

João Miranda, Blasfémias.

Vale a pena ler este comentário às declarações desajeitadas de António Borges.

No entanto, não basta mexer nas porcas da macroeconomia, do orçamento e da fiscalidade. Se não acabarmos com a apropriação do orçamento público pelos cleptocratas, rendeiros, corporações, burocracias instaladas e redes de tráfico de influências partidárias, isto é, se não atacarmos os setores protegidos do regime, como desde o Memorando e em todas as avaliações a Troika vem recomendando e insistindo, de nada servirão as engenharias financeira e orçamental.

O regime precisa de uma revolução!

Ou seja, sem uma nova Constituição, escrita por uma nova Assembleia Constituinte, convocada na sequência de um referendo ao regime, iremos mesmo pelo cano de esgoto abaixo.

Espanha está já em estado avançado de instabilidade social e política, que o agravamento da situação financeira apenas ajudará a transformar numa possível fragmentação da monarquia. Entre nós, assim que o desemprego chegar aos 20-25%, o consenso ruirá, deixaremos de beijar os polícias, e o tempo da convulsão civil e das tentações autoritárias regressará. Há mesmo, à esquerda e à direita, quem já só aposte nesta falsa saída para os nossos graves problemas.

República Federal Espanhola?

Fonte: JPMorgan, salvo comentário fora do quadro.

Juan Carlos, cuida de tus pueblos!

A situação económica, social e financeira da Espanha, longe de acalmar, parece cada vez mais fora de controlo. Abrem-se feridas antigas sobre a natureza do reino e das suas nacionalidades. O gráfico recém produzido pela JPMorgan mostra os altos e baixos de um país assombrado pelo fim de um período histórico de fulgor, império e glória.

A Catalunha quer a independência, o País Basco quer a independência, os nacionalistas galegos tornaram-se violentos, e Madrid não sabe responder se não com intransigência. Ao País Basco disse que não, porque são terroristas. Aos galegos envia a polícia. E à Catalunha diz que não, porque são inconstitucionais. Mas assim não pode ser!

A Portugal sempre calhou melhor ter um único soberano vizinho, em vez de uma dúzia. Mas a verdade é que um país chamado Espanha só em 1876, quando o império já se esfumava no horizonte, aparece constitucionalmente definido. Antes desta data, apesar de haver um único suserano, as Espanhas eram, na verdade, reinos e principados independentes, com fronteiras, arquiteturas regionais, idiomas próprios e moeda.

“A Espanha é unificada durante o Iluminismo, até então era um conjunto de reinos juridicamente e politicamente independentes governados pela mesma monarquia. Até à data da unificação a monarquia era formada por um conjunto de reinos associados por herança e união dinástica ou por conquista. A forma de governo era conhecida como aeque principaliter, os reinos eram governados cada um de forma independente, como se tivesse cada reino o seu próprio rei, cada reino mantinha o seu próprio sistema legal, a sua língua, os seus foros e os seus privilégios. As Leyes de extranjeria determinavam que o natural de qualquer um dos reinos era estrangeiro em todos os outros reinos ibéricos.” [Wikipédia]

A ideia de uma Espanha una e centralizada consagrada por uma constituição surge curiosamente por inspiração e durante a ocupação Napoleónica, em 1808 e 1812, sofrendo depois sucessivos avanços e recuos: 1834, 1837, 1845, 1852, 1856, 1869, 1873, 1876, 1931, 1938-1977, 1978 [Wikipedia]

A democracia que sucede à morte de Franco foi, de algum modo, armadilhada pelo ditador receoso das tendências historicamente nacionalistas da Ibéria. Franco garantiu, antes de morrer, a subordinação do novo regime que previa democrático a uma monarquia entretanto ressuscitada em nome da unidade da pátria espanhola. Apesar deste trinco, as nacionalidades históricas regressaram e progressivamente exigiram graus crescentes de autonomia. A Madrid não restou outra alternativa que não fosse sustentar o chamado Estado das Autonomias —um preço demasiado alto assim que as faturas da União Europeia e sobretudo do euro começaram a cair em cima do orçamento do estado central.

Durante o boom espanhol das últimas três décadas o nacionalismo disfarçado de poder autonómico foi alimentado a Pão de Ló. Madrid voltaria aliás a ter sonhos de expansão ultramarina, tendo cometido o erro crasso de voltar ao lugar do crime, isto é, às suas antigas colónias americanas, com ares de conquistador. Foi o tempo em que bancos e grandes empresas de telecomunicações acreditaram poder invadir a América Latina. O triste episódio entre Juan Carlos e Hugo Chávez (¿¡Por que no te callas?!) acabaria por transformar o sonho em pesadelo.

Madrid está cada vez mais só, apesar de ter crescido desmesuradamente, esvaziando tanto quanto pôde as capitais regionais de importantes centros de decisão institucional, financeira e empresarial. Mas o maior problema é que tanto o Palácio da Zarzuela, como a Moncloa, parecem incapazes de abordar a hipótese de uma viagem de regresso ao que foram séculos da sua história, tudo por causa de um figurino absolutista e centralista imposto por um invasor: Napoleão!

A Espanha encontra-se numa trajetória perigosa. Basta meditar um pouco no gráfico da JPMorgan.

Tal como Portugal e o resto da Europa, as nações ibéricas vizinhas terão que ceder uma parte significativa do seu ritmo de crescimento económico assente, ao longo dos últimos trinta anos, no consumo, na educação, no bem estar social e na economia especulativa, ao crescimento do resto do mundo e em particular dos chamados países emergentes. O preço desta adaptação vai ser doloroso, vai exigir uma verdadeira metamorfose cultural e uma renúncia drástica aos maus hábitos acumulados. E o pior é que não há tempo a perder!

Extrapolando um pouco o gráfico da JPMorgan, vejo seguramente o perigo de novos desastres num país que aprendi a amar desde 1986, quando um jovem arquiteto da Corunha me convidou a dar uma conferência num curso de verão promovido pela Universidade Menéndez Pelayo.

Será assim tão difícil imaginar uma República Federal Espanhola, pacífica e próspera, cujo nascimento ficaria a dever-se à lucidez de um rei capaz de abdicar a favor de um povo que são muitos povos?


 POST SCRIPTUM

Se o referendo catalão sobre a independência da Catalunha revelar uma clara maioria a favor da separação da coroa espanhola, e os Estados Unidos reconhecerem o novo estado, que fará Madrid? Envia generais fascistas, tanques e o seu porta-aviões para as imediações de Barcelona? A União Europeia não reconheceu o direito à autodeterminação e independência do Kosovo? Não está preparada para admitir a Escócia como um novo membro da União e do euro? Não façamos do regresso à normalidade secular nas nações espanholas campo para uma nova guerra fratricida!

segunda-feira, outubro 01, 2012

Alta Velocidade by Ferrari

Quem não quererá viajar a 350Km/h num comboio da Ferrari?
Foto ©Bloomberg

Portugal, Berlengas ferroviárias da Europa?

Aos ignorantes da imprensa e da classe partidária portuguesas, e à corja do Bloco Central da Corrupção que capturou o PS, PSD, CDS/PP e alguns autarcas do PCP, aqui vai a demonstração de que o futuro está na mudança de agulha para os novos foguetes ferroviários (TGV, AVE, ICE, NTV-Ferrari, etc.)

Rui Rodrigues (“A Nova Ferrovia Poupa Energia”, Público) compilou e analisou...
Em média, um comboio de Alta Velocidade, cuja operação não depende do petróleo, considerando o consumo de energia por passageiro e por quilómetro percorrido, é 7 vezes ou mais eficiente que o avião, e 4 vezes mais eficiente que o automóvel.

Avião: 0,87 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 66%. Valor que baixa para maiores distâncias.

Carro: 0,5 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 1,7 passageiros por viatura.

Comboio Regional: 0,45 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 20%

TGV: 0,18 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Metro: 0,14 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 21%

ICE 350 (Intercity-Express): 0,12 kWh/passageiro.Km, com uma taxa de ocupação de 65%

Em Espanha, as contas estão feitas. Em Portugal as araras do governo e dos partidos andam a pastar, como sempre!

Portugal está a comportar-se com a Espanha como a Madeira com o Continente

Segundo as previsões do Ministério do Fomento espanhol, quando toda a nova rede estiver terminada, o transporte ferroviário será competitivo frente ao automóvel e ao avião e irá captar 30 % do tráfego gerado entre os pontos de origem e destino.

Por ano, a Espanha importa cerca de 51 mil milhões de euros em petróleo. Desta verba, a maioria é utilizada no sector do transporte. A nova rede ferroviária de tração elétrica vai pois permitir uma poupança anual de muitos milhares de milhões de Euros.

El Plan de Infraestructuras, Transporte y Vivienda 2012-2024 (PITVI), presentado la semana pasada por la ministra de Fomento, prioriza la inversión en ferrocarriles en el horizonte temporal que contempla el Plan. Así, de los 136.627 millones de euros de inversión en el sector del transporte, 52.733 millones de euros se destinarán a diferentes actuaciones en el ámbito del ferrocarril, entre las que destacan la culminación de los corredores de alta velocidad ya iniciados y las destinadas a potenciar el transporte ferroviario de mercancías, entre otros proyectos, como los que se desarrollarán en las redes convencional y de cercanías o en estaciones. Via Libre, 1 out 2012.

Mas se a comichão é cultural, então vejamos o tema doutro prisma: Alta Velocidade by Ferrari!

Rome, Italy (CNN) -- As chairman of Ferrari, Luca di Montezemolo is used to making things that move at breakneck speed. But rather than flashy sports cars for wealthy motor enthusiasts, the Italian businessman's latest high-velocity project aims to cater for the traveling masses.

The Italo train from NTV -- a passenger rail company of which di Montezemolo is also chairman -- is a high-speed service that has been dashing between Milan, Rome and other major Italian cities since April. CNN, june 22, 2012.