terça-feira, novembro 29, 2011

#AntiSecPT

Ataque Cibernético Benigno ou o início de uma Democracia Electrónica
 
Operação #AntiSecPT – dia 1 de Dezembro Hackers Portugueses unem-se Online para apoiar os ativistas Legais e Pacificos ANONYMOUS Portugal e todos os movimentos contra a corrupção.


O grupo LulzSec Portugal, responsável pela divulgação de dados de agentes da PSP, está a convidar hackers portugueses a juntarem-se em acções de ataques informáticos e de divulgação de dados, numa operação para arrancar a 1 de Dezembro — Público.

 Depois do ataque cibernético benigno aos polícias (fardados e à paisana — infiltrados) que terão abusado da força na contenção da manifestação realizada no passado dia da dita Greve Geral, diante da escadaria da Assembleia da República —e que o inenarrável dirigente vitalício da CGTP denunciaria, entre dentes, diante das câmaras de televisão, como sendo uma provocação que as autoridades deveriam averiguar— foi esta noite a vez do sítio da Assembleia da República ter ficado às escuras durante algumas horas depois de um suave DDoS (Distributed Denial of Service).

Na convocatória publicada no sítio do Tugaleaks lê-se a propósito do digital sit-in do próximo Primeiro de Dezembro, o seguinte:
“Olá, mundo.

LulzSecPortugal dá início dia 1 de Dezembro à Operação #AntiSec em Portugal.

Viemos das AnonOps e acreditamos no movimento #AntiSec de corpo e alma. estamos aqui para combater a corrupção, expondo online a
transparência que este sistema não permite existir.. e este sistema está a falhar.”

 É caso para dizer, Aleluia! O protesto digital desembarca finalmente em Portugal depois de mais de uma década de eventos que ficarão para a mitologia das primeiras décadas da era social electrónica.

Os ataques indignados à deterioração da nossa democracia populista e partidocrata são as primeiras provas das reacções naturais de uma classe média de base cognitiva uma vez encurralada por uma crise financeira e social sem precedentes, gerida com os pés por uma nomenclatura de políticos e burocratas corruptos e desmiolados. Tal como as manifestações de rua, estas manifestações electrónicas são por enquanto de natureza completamente pacífica e derivam na ordem jurídica, pura e simplesmente, da liberdade de expressão e do direito democrático à indignação — o mesmo que Mário Soares convoca para manifestar o seu recente furor revolucionário.

É cedo para analisar o conteúdo programático destes DDoS e raptos de informação. Tal como é cedo para perceber o que poderá ainda vir a nascer da geração à rasca. O carácter inorgânico das explosões genuínas de protesto social, precisamente por estarem à solta e rejeitarem o respeito submisso às burocracias corrompidas da libertação, são por definição imprevisíveis. Podem ser manipuladas pelas agências secretas dos poderes vários em que estamos imersos, mas também podem escapar-lhes quando menos se espera — provocando os colapsos cíclicos dos regimes, ou mesmo das civilizações.

As burocracias instaladas —dos governos aos sindicatos, passando por uma boa parte dos média— sabem que algo deverá mudar para se evitar o pior, mas não têm em geral coragem para levar por diante as necessárias cirurgias de emergência. As contradições, as indecisões e as fugas para o lado tendem a multiplicar-se, aumentando a entropia. O medo cresce, primeiro, e depois, quando menos se espera, o povo começa a crescer como uma onda imparável que tudo leva pela frente. Se os pobres egípcios e tunisinos conseguiram o que conseguiram com meia de dúzia de telemóveis recém-adquiridos, imagine-se o que a imensa classe média profissional esclarecida da Europa, dos Estados Unidos e Canadá poderá um dia fazer quando perder a paciência e sobretudo a esperança.

Chegou o momento para olhar com olhos aberto e sem preconceitos para o que se está a passar!

terça-feira, novembro 22, 2011

TAP: abençoada lingerie!

QaTArP Airways
Estivemos 150 anos no Abu Dhabi. Porque não deixar agora regressar as moiras a Portugal?

Freddrick's of Hollywood abriu a sua nova "flagship" no Abu Dhabi
TAP pede licenças para operar rotas entre aeroportos portugueses e Abu-Dhabi
“Torna-se público que a TAP - Transportes Aéreos Portugueses requereu uma licença para a exploração de serviços de transporte aéreo regular na rota Lisboa/Abu-Dhabi/Lisboa”, o mesmo acontecendo para as ligações Funchal/Abu-Dhabi/Funchal, Porto/Abu-Dhabi/Porto e Faro/Abu-Dhabi/Faro, refere o INAC. — in Jornal de Negócios online.

UAE: Lingerie Revealing Symbol Of Abu Dhabi's Retail Pull

ABU DHABI, United Arab Emirates (AP) -- It could have picked London or Hong Kong. Instead, the lingerie retailer that styles itself "the original sex symbol" chose the buttoned-down sheikdom of Abu Dhabi for the launch of its first international store.

Frederick's of Hollywood, famed for its curve-cinching corsets and provocative push-up bras, opened up to little fanfare in the Emirati capital last weekend. Another outpost offering the chain's racy lingerie is set to open soon up the road in more freewheeling Dubai. — in Huffingtonpost.

Enquanto os comandantes e pilotos da TAP são assediados pelas companhias aéreas chinesas, sul-coreanas, turcas e árabes, com contratos que, face à degradação galopante do estado financeiro da nossa companhia aérea de bandeira, se tornarão em breve muito apetecíveis, Fernando Pinto prepara-se para aumentar o radar do hub aeroportuário nacional, tornando-o, por assim dizer, bifocal: um olho no Brasil, outro no Abu Dhabi. É caso para dizer que a necessidade aguça o engenho!

A situação da TAP continua a sofrer de indefinições, hesitações e imprevisibilidades que convém analisar:
  1. Desconhecemos o caderno de encargos da privatização apresentado aos interessados — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  2. Continuamos sem saber se a privatização da TAP será total ou parcial; e se faz parte, ou não, de um bundle, com a ANA — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  3. Continuamos sem saber quais são as empresas efectivamente interessadas na privatização total ou parcial da TAP, ou seja, quais foram as que realmente levantaram a documentação respectiva — o que em matéria da transparência deixa muito a desejar;
  4. Não sabemos se, sim ou não, o governo português tenciona proceder a um spin-off prévio da companhia, com vista a uma reestruturação preventiva do grupo, liquidação parcial das dívidas, etc.
  5. Sabemos apenas que a data limite para o fecho das negociações foi adiada até Dezembro de 2012 — o que não deixa de revelar à evidência as dificuldades de encontrar um parceiro, ou comprador credível que não seja a Ibéria-British Airways (IAG), a única opção à partida inaceitável, por motivos óbvios: a Ibéria liquidaria o hub de Lisboa em três tempos (replicando a arrogância demonstrada, aliás, noutras paragens — o caso da Argentina foi escandaloso!)
Sabe-se, entretanto, que os pilotos e os comandantes da TAP, já para não mencionar o pessoal de manutenção das aeronaves e o pessoal de bordo e de Terra, estão cada vez mais nervosos com a situação.

Companhias chinesas, sul-coreanas e árabes têm vindo a oferecer aos pilotos mais experientes contratos aliciantes para duas zonas do globo onde a compra de aviões novos e o crescimento do tráfego aéreo, de negócios e turístico, dispararam na proporção inversa da falta de pessoal qualificado para manobrar e manter aeronaves e sistemas tecnológicos altamente sofisticados. Não se improvisam pilotos, e muito menos comandantes de aeronaves, nem engenheiros-chefe de manutenção, como quem escolhe cagarros para um parlamento. São precisas muitas horas de voo documentadas, históricos profissionais e de carácter sem nódoas, classificações de desempenho credíveis e de alto nível, em suma, competência e fiabilidade.

À medida que o amadorismo negocial e a falta de estratégia política prevalecem entre as conspirações que há muito caracterizam a corja político-partidária e os lóbis corruptos que temos, maior será a pressão para aceitar os ventos que sopram de Oriente. Seis comandantes já voaram. Trinta ou quarenta mais entregaram CVs e avaliam dia-a-dia os prós e os contras de uma emigração forçada pelas elites desmioladas que conduzem o país.

Há por enquanto consenso, entre os pilotos da TAP, sobre três temas:
  1. o aeroporto de Lisboa deverá passar a contar com o Montijo — solução que supera em todos os termos de comparação, Alverca, Sintra, Beja e Monte Real (1);
  2. a entrada da Ibéria na TAP significaria a prazo muito curto o fim do hub de Lisboa e transformação dos aeroportos portugueses em aeródromos de província;
  3. os pilotos da TAP, nomeadamente através do seu sindicato, querem fazer parte do futuro da empresa, exigindo para tal que lhe seja dada a participação no respectivo capital, a que têm direito em virtude dos resultados das negociações que em 1999 encetaram com a tutela, então dirigida por João Cravinho.
Insisto: o governo deve falar com quem melhor conhece a companhia, e deve recorrer a uma entidade internacional independente para realizar um spin-off do grupo tendo em vista a sua privatização, mas também a salvaguarda de um bem estratégico.

Este é um Mercedes Benz de um bilionário do petróleo em Abu Dhabi.
Motor V10 com 4 turbos 1600 HP, Torque de 2800Nm, vai de 0 a 100 km/h em menos de 2 seg. Utiliza bio combustível. Não é de aço inoxidável, é de OURO BRANCO!
Certamente poderemos dormir melhor sabendo que o que pagamos pela gasolina é por um motivo nobre.


NOTAS
  1. As objecções à falta de ILS na pista que melhor servirá a operacionalização do Montijo não têm base técnica, pois a solução já existe e chama-se GNSS (Global Navigation Satelite System) — bastando para tal que o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) faça rapidamente o seu trabalho em matéria de certificações. Por outro lado, as dificuldades criadas ao uso da pista de recurso 17/35, da Portela, resultantes do número de aeronaves que pastam como bovinos em cima das estendidas e aumentadas placas de estacionamento, resolver-se-à precisamente com o desvio de parte do tráfego para o Montijo, e sobretudo, com a desactivação da quimera burocrático-militar a que chamam "Aeroporto de Figo Maduro"! Esperemos que o ministro da defesa e os militares desorçamentados percebam rapidamente as vantagens financeiras que poderão obter com a entrega da placa de cimento de Figo Maduro à Portela, e da cedência do Aeroporto do Montijo ao Novo Aeroporto de Lisboa, composto por três terminais: Terminal 1 (Portela), Terminal 2 (Portela) e Terminal 3 (Montijo)

sábado, novembro 05, 2011

Bete comme un peintre, greedy as an architect?

De um lado temos a corrupção... e do outro alguma arquitectura... entre uma coisa e outra há um desvio colossal de inteligência e ética!

Estádio AXA, Sporting Clube de Braga, desenhado por Eduardo Souto de Moura. Foto©Wetete (mod.OAM)
O galardoado arquitecto português Eduardo Souto Moura vai conceber a central hidroeléctrica da barragem de Foz Tua, no Nordeste Transmontano, com o desafio de harmonizar a edificação com a paisagem do Douro Património da Humanidade. Diário de Notícias, 5/11/2011.

Os desgraçados dos bracarenses irão pagar durante décadas o estádio que alegremente encomendaram. Para já, desembolsam em impostos e taxas seis milhões de euros por ano pela "obra de arte", o suficiente para cuidar estrategicamente de uma cidade que degenera aos pedaços sob o peso de um cacique em quem uma minoria da população vota há décadas (apenas 21% das almas do município e 29% dos inscritos nos cadernos eleitorais votaram na criatura "socialista" em 2009).

Tal como a Parque Escolar escolheu a dedo projectistas e empresas de construção, sem cumprir nem a lei nem as regras da decência democrática, o mesmo acaba de ocorrer com a escolha, pela pública e tecnicamente falida EDP, do arquitecto Eduardo Souto de Moura, para desenhar os edifícios de um dos monumentais embustes herdados da era "socialista" que nos atirou para o buraco da bancarrota: a Barragem do Tua! 

Ninguém contesta os méritos artísticos do arquitecto, mas o mesmo não direi da sua desastrosa e manifesta falta de sentido de oportunidade e cidadania. Já para não suscitar a questão da inexistência de um concurso internacional para o efeito, que pelos vistos não impressionou o arquitecto que recomendou aos seus jovens colegas portugueses que emigrassem. Pudera!

A classificação patrimonial do Douro Vinhateiro irá à vida, com ou sem Prémio Pritzker, e em boa parte pela aliança recente e interessada da actual ministra da agricultura com os interesses da EDP e dos construtores de barragens inúteis e criminosas.

As barragens ruinosas projectadas não servem para coisa alguma, salvo mascarar a insolvência da EDP, tornada mais do que evidente pela decisão ontem divulgada de emitir obrigações a três anos no valor de 200 milhões de euros, cujo objectivo aparente é o de conseguir in extremis pagar o serviço da dívida da empresa este ano!

Em suma, responsabilidade social é coisa que alguns arquitectos não têm. Mas lá barriga não lhes falta!

act. 5/11/2011 18:24 

POST SCRIPTUM

Alguém me chamou a atenção para um facto extraordinário relativamente ao comportamento do nosso Nobel 2 da arquitectura. Pelos vistos, a criatura não se importa de criar mais uma extraordinária e caríssima "obra de de arte" destruindo previamente uma outra obra de arte (de engenharia e desenho) que serviu durante dezenas de anos populações inteiras e que, em bom rigor, deveria há muito ter sido classificada como património cultural do país — não fora estas atribuições dependerem sempre duns infelizes intelectuais burocratas, de CV sempre alçado em direcção a São Bento. À espera de promoção, claro!

act. 6/11/2011 16:53

quinta-feira, novembro 03, 2011

Super-Mario

No Quantitative Easing, thank you!

Vista da futura sede do BCE, Frankfurt © ISOCHROM

A imprensa e a televisão portuguesas passaram toda a conferência do novo senhor BCE à mesa de uma caldeirada! Não viram, não ouviram, não sabem! Que desgraça :(

Mas o super Mário, afinal, frustrou (ainda bem) as expectativas monetaristas de Londres, de Nova Iorque, dos especuladores e piratas que não desistem de deitar a mão à poupança mundial, e ainda das burocracias e nomenclaturas rendeiras da Europa — nomeadamente a portuguesa, do senhor Mexia ao senhor Sampaio!

Confirmam-se, assim, as minhas expectativas, expressas em Junho passado: “Vem aí um novo BCE! — Draghi, o italiano mais germânico que a Alemanha poderia esperar

Mário Draghi é um admirador do Bundesbank — está tudo dito ;)

Toca, pois, a trabalhar, afastando do poleiro imediatamente os principais responsáveis pelo nosso próprio buraco financeiro!

Introductory statement to the press conference
Mario Draghi, President of the ECB,
Vítor Constâncio, Vice-President of the ECB,
Frankfurt am Main, 3 November 2011

[extracto]

“Turning to fiscal policies, all euro area governments need to show their inflexible determination to fully honour their own individual sovereign signature as a key element in ensuring financial stability in the euro area as a whole. The Governing Council takes note of the fiscal commitments expressed in the Euro Summit statement of 26 October 2011 and urges all governments to implement fully and as quickly as possible the measures necessary to achieve fiscal consolidation and sustainable pension systems, as well as to improve governance. The governments of countries under joint EU-IMF adjustment programmes and those of countries that are particularly vulnerable should stand ready to take any additional measures that become necessary.

It is crucial that fiscal consolidation and structural reforms go hand in hand to strengthen confidence, growth prospects and job creation. The Governing Council therefore calls upon all euro area governments to accelerate, urgently, the implementation of substantial and comprehensive structural reforms. This will help the euro area countries to strengthen competitiveness, increase the flexibility of their economies and enhance their longer-term growth potential. In this respect, labour market reforms are essential and should focus on measures to remove rigidities and to enhance wage flexibility, so that wages and working conditions can be tailored to the specific needs of firms. More generally, in these demanding times, moderation is of the essence in terms of both profit margins and wages. These measures should be accompanied by structural reforms that increase competition in product markets, particularly in services – including the liberalisation of closed professions – and, where appropriate, the privatisation of services currently provided by the public sector.”

O BCE não será, para já, o lender of last resort dos filhos pródigos da Europa e dos piratas que a rodeiam. Ou seja, o BCE não irá por enquanto carregar na tecla electrónica mágica que cria dinheiro do nada, para remunerar especuladores à custa da destruição maciça das poupanças de quem poupou: empresas e pessoas. Quem andou distraído, a vadiar ou a estourar heranças, que acorde e comece a trabalhar e poupar!

Isto significa, no caso dos Estados sobre endividados, como o português, uma coisa muito simples: avaliar o preço justo do nosso bem estar social, e adequar este bem estar às nossas possibilidades.

Mas para aqui chegarmos será irremediavelmente necessário separarmos democraticamente aquilo que só o Estado pode e deve fazer (bem e administrando os recursos com transparência e racionalidade) de tudo o resto, nomeadamente do que podemos fazer melhor e mais barato recorrendo a empreendedores, a empresas privadas, a cooperativas, fundações e associações não lucrativas, e ainda às redes sociais tecnológicas.

Esta separação vai ser dolorosa, em particular por causa das enormes resistências que todo o tipo de corporações e burocracias instaladas há décadas no conforto da coisa pública garantida irão opor à mudança.

Mas esta mudança necessária e inevitável terá que ser transparente, negociada e vigiada por todos, para que ninguém saia injustamente prejudicado, ou alegremente beneficiado. Precisamos, pois, de mais democracia para não falhar! As redes sociais e aquilo que há anos chamo democracia electrónica pode desempenhar aqui e agora um papel crucial nesta batalha por uma sociedade mais produtiva, justa e solidária.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Dia de los muertos (uma farsa grega)

Os Estados Unidos não desistem de tentar tudo para acabar com o euro. Mas o dólar cairá primeiro!

A caveira coberta de diamantes do artista britânico Damien Hirst é bem a metáfora do dia de hoje!
Foto©Daily Mail

Greece has stunned Europe by calling a referendum on the bailout plan agreed to by EU leaders last week. The move throws efforts to rescue the euro into doubt and heralds weeks of market turbulence ahead of the vote. A Finnish minister said Greece will in effect be voting on whether to remain in the euro.
— Spiegel Online, 1-11-2011

Das duas uma: ou estamos perante a sabotagem de um agente infiltrado de Washington —cujo objectivo é destruir o euro—, ou de um demagogo populista vagamente idiota, o que não é verosímil.

A verdade é que foi este mesmo grego-americano, George Papandreu, quem, com apoio da Goldman Sachs, ajudou a esconder o endividamento grego até... à bancarrota!

Basta ler a sua biografia para perceber quase tudo. Do desastre olímpico, ao novo e ruinoso aeroporto de Atenas, passando pelas contas públicas marteladas com o auxílio, pago a peso de ouro, da Goldman Sachs, tudo este monarca republicano e o seu antecessor "socialista" (Costas Simitis) fizeram para enterrar a Grécia!

Crer que esta criatura teve uma inspiração divina na véspera do Dia dos Mortos, e que tão só o vento levou as palavras solenes proferidas na sequência da cimeira que cortou pela metade os dividendos esperados por quem apostou na dívida grega e perdeu, ou é ingenuidade ou confusão entre democracia e populismo referendário.

Five banks -- JPMorgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America Corp. (BAC) and Citigroup Inc. (C) -- write 97 percent of all credit-default swaps in the U.S., according to the Office of the Comptroller of the Currency. The five firms had total net exposure of $45 billion to the debt of Greece, Portugal, Ireland, Spain and Italy, according to disclosures the companies made at the end of the third quarter. Spokesmen for the five banks declined to comment for this story.
Bloomberg, 1-11-2011

Há 46 milhões de americanos a recorrerem à sopa dos pobres. No sonho americano chama-se Food Stamps e dá direito a cartão de plástico emitido pela insuspeita JP Morgan.

As the European news flow overflow continues, it is useful to occasionally look at how America's own economy is doing. After all remember that the latest paradigm is that the US will decouple from everyone (as is always foolishly and erroneously assumed whenever the ROW turns lower) and carry the weight of the global economy on its own shoulders. So here is this month's refresh from the Supplemental Nutrition Assistance Program, which informs us that in August, a new all time record number of Americans, or 45.8 million, relied on food stamps for sustenance.
 — ZeroHedge, 1-11-2011

Talvez seja bom recordar, a propósito desta farsa grega, e da aflição americana, uma pequena sociedade secreta chamada Skull and Bones. Só por acaso as coisas acontecem por acaso.


POST SCRIPTUM

A China indicou hoje esperar que a zona euro permaneça fiel ao plano de resgate aprovado há uma semana e reafirmou a disposição de "continuar a investir" na Europa, depois do referendo anunciado na segunda-feira pela Grécia.
Negócios online, 2-11-2011.

A única forma de avaliar as notícias financeiras desta crise global é imaginar um teatro de guerra financeira entre os EUA e a Eurolândia, de que as moedas japonesa e chinesa são uma espécie de actores oscilantes. Algumas das guerras militares convencionais e assimétricas em curso, actos de terrorismo, invasões ilegais de países e mudanças de regimes são obviamente parte desta mudança dos termos de troca mundiais. O império anglo-americano está em declínio acelerado. A sua última grande batalha é a batalha pelo par dólar-libra. E o seu inimigo estratégico, ao contrário do que se quer fazer querer, não é a China, mas o euro!

O volte-face grego de ontem não foi mais do que uma manobra imposta à Grécia pelos amigos americanos do americano-grego Papandreou. Como todas as provocações bem montadas, é uma operação populista quase perfeita, e conta, como não podia deixar de ser, com o olhar complacente dos ingénuos e dos distraídos, e sobretudo conta com o apoio militante dos burocratas oportunistas da Esquerda Empalhada Europeia!

A grande armadilha montada à União Europeia passa obviamente por lançar o euro na corrida descendente da desvalorização —forçando o BCE a baixar os juros, a parir euros do nada e, por conseguinte, a esvaziar a própria dívida europeia. Isto significará por em marcha a expropriação acelerada da poupança europeia, por via fiscal e através de uma inflação acelerada. Isto significará, em suma, se vier a ocorrer (a Alemanha poderá sempre mandar o euro às urtigas!), que os súbditos britânicos, incluindo os patetas americanos, conseguirão encurralar uma vez mais a Alemanha. Vale-nos, por enquanto, o namoro apaixonado entre Angelita e Sarko. E vale-nos, sobretudo, a inteligência estratégica da China e em geral dos países emergentes (com particular destaque para o Brasil)

act. 2-11-201122:51

domingo, outubro 30, 2011

Estamos fodidos!

Portugal vai a caminho da Grécia, ou pior :(
E a desgraça é que não temos nenhuma ferramenta à mão para o evitar...

Portugal wants U.S. help in euro crisis: source
ASUNCION | Sat Oct 29, 2011 1:16pm EDT

(Reuters) - Portugal asked Mexico on Saturday to tell fellow G20 members next week that the United States should offer "financial help" to resolve the euro zone sovereign debt crisis, describing it as a "systemic and global" problem, a Portuguese government source said.

Portuguese Prime Minister Pedro Passos Coelho asked Mexican President Felipe Calderon to convey the message during the G20 meeting in Cannes next week, the source told reporters after the two leaders met at the Ibero-American summit in Paraguay.

Neste gráfico as coisas (depósitos) não parecem mal — in Street Light, Set 2011

Europe's rescue euphoria threatened as Portugal enters 'Grecian vortex'
By Ambrose Evans-Pritchard
The Telegraph, 9:37PM BST 27 Oct 2011

Monetary contraction in Portugal has intensified at an alarming pace and is mimicking the pattern seen in Greece before its economy spiralled out of control, raising concerns that the EU summit deal may soon washed over by fast-moving events.

Data released by the European Central Bank show that real M1 deposits in Portugal have fallen at an annualised rate of 21pc over the past six months, buckling violently in September.

"Portugal appears to have entered a Grecian vortex and monetary trends have deteriorated sharply in Spain, with a decline of 8.4pc," said Simon Ward, from Henderson Global Investors. Mr Ward said the ECB must cut interest rates "immediately" and launch a full-scale blitz of quantitative easing of up to 10pc of eurozone GDP.

Mas neste outro, os depósitos convertíveis em empréstimos bancários (M1) parecem esvair-se claramente a partir de Outubro deste ano — in The Telegraph, Out 2011

Quando ouvi as palavras de Pedro Passos Coelho ditas em Assunção fiquei com um zumbido nos neurónios que não me deixaram descansar até encontrar a causa daquela performance desesperada.

A austeridade vai durar anos, na Função Pública o fim dos 13º e 14º meses será tão definitivo quanto a perda de rendimentos na ordem dos 30-40%, e os 15 mil despedimentos até 2014 admitidos pelo Secretário de Estado da Administração Pública, segundo notícia do Expresso. Culminando todas estas admissões penosas vem o apelo patético do primeiro ministro ao presidente mexicano, depois de uma viagem relâmpago e suplicante ao Palácio do Planalto. O sorriso cínico do traste de Belém não me passou despercebido. Os olhos esbugalhados e a manifesta inquietação de Paulo Portas fez-me temer pelo pior. Escassas horas depois a Reuters lançava a bomba: afinal, tal como tinha insinuado Ambrose Evans-Pritchard no Telegraph da passada Quinta Feira, Roubini ao longo das últimas semanas, e Tyler Durden, no Zero Hedge, Portugal será mesmo a próxima réplica do tsunami grego! Vamos ter que conviver com duas Europas, a do euro-PIIGS, e a do euro-marco!

A EDP deve mais de 16 mil milhões de euros, as Águas de Portugal devem 6 mil milhões, a TAP deve 2,4 mil milhões, o sector público de transportes deve 16,8 mil milhões, o buraco das PPPs ascende a mais de 60 mil milhões, e este governo ainda hesita sobre se deve ou não parar o Plano Nacional de Barragens, se deve ou não mandar parar imediatamente as barragens assassinas do Tua e do Sabor (entre outros motivos porque tem na chefia da pasta responsável uma advogada ferida por óbvios conflitos de interesse e um secretário de estado do ambiente cujo CV não poderia ser mais anti-ambiental.)

Ao contrário das hienas que clamam cinicamente por crescimento, a verdade é que não podemos crescer sem investimento. Mas onde vai buscar investimento um país cujas dívidas pública e privada somadas atingirão no próximo ano 360% do PIB? Estamos tramados!

As nossas orelhas vão sangrar e muito. Teremos necessariamente que pendurar alguns dos responsáveis directos desta inqualificável desgraça. Não passaremos sem um pornográfico apertar de cinto e o empobrecimento dramático da classe média. Será completamente impossível deixar à iniciativa privada a resolução desta macro-desgraça. Terá que ser o Governo, reforçado com um Gabinete de Crise em funcionamento permanente e com poderes excepcionais, como já propus, a conduzir este navio ferido por um enorme rombo no casco da solvabilidade. O mar está pejado de traiçoeiros blocos de gelo e de buracos negros. Foi nisto que decaíram a economia e o sistema financeiro mundiais.

Portugueses: façam de conta que estão em guerra, tomem conta das vossas reservas e não as confiem aos piratas que nos conduziram à bancarrota! Exijamos responsabilidades a quem as tem em primeira mão!! E forcemos este governo a trabalhar pelo país!!!


in Gold Money, 2011-OCT-30

POST SCRIPTUM
  • De acordo com o primeiro quadro estatístico acima publicado, os depósitos (à ordem e a prazo, creio) existentes na banca portuguesa apresentam uma evolução positiva entre 2008 e Abril de 2011, começando depois a declinar ligeiramente. Já no quadro seguinte, que se refere a uma realidade distinta, ou seja à massa monetária em circulação (M1), isto é ao dinheiro que temos nos nossos bolsos e à ordem nas nossas contas bancárias, verifica-se uma oscilação descendente seguida de queda muito acentuada a partir do início deste mês de Outubro. Não sei avaliar exactamente o significado destas curvas, mas parece que, por um lado, têm vindo a crescer os depósitos a prazo e, por outro, tem vindo a desaparecer o dinheiro à vista, e portanto a capacidade de financiamento da economia por parte dos bancos. A moeda escritural resultante de uma fracção dos depósitos à vista caíu a pique, ao que parece, desde Julho, ameaçando assim a solvabilidade dos bancos portugueses. Daqui os alarmes que começaram a repicar depois da cimeira europeia de 26 de Outubro, que não satisfez as expectativas tardo-keynesianas de todos os devedores e filhos pródigos da Eurolândia!
  • Dez horas depois da publicação deste post (2011-10-30 00:39) a Agência Financeira divulgou informação estatística, com origem no Banco de Portugal e no INE, coerente com os quadros acima expostos.

    Poupança dos portugueses caiu para metade em 30 anos
    Agência Financeira, 2011/10/30 10:00

    “A poupança dos portugueses caiu para menos de metade desde as décadas de 1970 e 1980. A taxa de poupança bruta (percentagem do rendimento disponível das famílias que é aforrado) foi 9,8% em 2010, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Banco de Portugal (BdP) citados pela Lusa. Mas em 1971, era 21,2%.

    [...] No ano passado, a taxa ficou nos 9,8%, mas a tendência era de quebra e segundo as contas trimestrais do INE, caiu para 9,3% no segundo trimestre deste ano.

    [...] O povo mais poupado da Europa é o alemão, cuja taxa de poupança atingiu os 17% em 2010. Na lista dos mais poupados seguiam-se a Bélgica (16,2%), Eslovénia (15,7%) e a França (15,6%).

    No extremo oposto vinham a Hungria (8,2%), Estónia (9,6%), Lituânia (7,9%) e Letónia (4,2%).”
  •  Em sentido contrário, ou talvez não (um aumento de depósitos a prazo não dá aos bancos —a menos que cometam, fraude— melhores perspectivas de crédito à economia), o Económico veio também, ao fim da manhã de hoje, tocar a campainha dos rácios de solvabilidade da nossa banca, aparentemente fustigada pelos limites ao potlach em curso para atrair os chamados super-depósitos (os mesmos que atraíram tantos incautos ao BPN!)

    Poupanças dos clientes ajudam na crise de liquidez
    Económico, 30/10/11 13:55

    “Em Agosto deste ano, o saldo de depósitos no sector bancário, de acordo com os dados do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, atingiu o valor mais elevado de sempre, ou seja, 127 mil milhões de euros. Mais 7,3% que o saldo de Agosto de 2010. No entanto, a média "esconde" algumas taxas de crescimento superiores que alguns bancos têm apresentado, que em certos casos são de dois dígitos.”
act. 30/10/2011 23:20

  • Paul De Grauwe, "Infelizmente, creio que Portugal está mais próximo da reestruturação"
    Negócios online, 31/10/2011.

    Paul De Grauwe é um dos maiores especialistas sobre o funcionamento da Zona Euro. O professor e conselheiro da Comissão Europeia não tem dúvidas de que as decisões da semana passada serão insuficientes.
  • "O BCE tem de dizer que estará disposto a avançar com poder financeiro total e enquanto for preciso"
    Negócios online, 2/11/2011.

    Mário Draghi não terá tempo para respirar. A crise da dívida pública continua por resolver e só o BCE pode dar a resposta credível aos mercados financeiros. Paul De Grauwe, especialista em economia monetária e uma autoridade na análise da Zona Euro, avalia em entrevista ao Negócios os desafios que se colocam ao novo presidente do BCE, e faz um balanço do mandato de Trichet.

    [...]

    Os problemas surgem só com a crise da dívida?
    Sim. Em 2008, o BCE agiu bem e rapidamente na saída para salvar o sistema bancário. Foi quando chegou a crise da dívida soberana que as coisas começaram a andar mal. Eles foram guiados por dogmas, sendo o principal a ideia de que o BCE poderia comprar tudo menos obrigações de soberanos.

    Mas em certa medida, a compra de obrigações em larga escala pode violar os Tratados?
    Não concordo. Muitas pessoas dizem isso, e assim até parece que isso é um facto. Mas não é assim. O Tratado diz que o BCE pode comprar e vender papel transaccionável no mercado. E o que são obrigações soberanas? São activos, como quaisquer outros. Não há nada nos Tratados que limite as compras apenas a activos emitidos pelo sector privado.

    [...]

    O que é prioritário para o BCE nos próximos três a seis meses?
    O BCE tem de oferecer uma garantia de travão à crise de dívida soberana, de forma a travar que esta alastre e acabe por se tornar numa crise bancária de grande escala. A forma como o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) foi construído e agora reforçado é insuficiente. O BCE tem de prestar esse apoio e tornar claro que está completamente comprometido a usar todo o poder financeiro necessário. Só isso pode convencer o mercado. E nesse caso, como disse, nem terá de usar muito poder financeiro. Usará menos do que se tem visto forçado a usar.
act. 6/11/2011 10:13

sábado, outubro 29, 2011

A água não é da AdP, nem da EDP!

A tragédia dos comuns é dupla se libertarmos o uso insustentável do que é de todos, da inércia e do egoísmo colectivos, para o entregarmos à ganância dos especuladores financeiros

Tâmega - Eutrofização - Tujidos - Amarante
©Foto: Anabela Matias de Magalhães

 Alargar a luta pelo direito à água

Mais de cem representantes de diversas organizações representativas da sociedade portuguesa deram corpo ao primeiro Encontro Nacional da Água e aprovaram um manifesto que reafirma o firme empenhamento em prosseguir os princípios e objectivos da campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns», nomeadamente «o desenvolvimento de acções em defesa da água pública e a sua disponibilidade para trabalhar com outros movimentos que lutam contra a privatização da água e serviços públicos essenciais, convictos de que este é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa, progressista e solidária» — in A Água é de todos.

Não podemos permitir que a voragem especulativa dos piratas que levaram Portugal à bancarrota prossiga agora sob o patrocínio do liberalismo retardatário, da distracção, ou da hipocrisia dissimulada dos novos governantes. Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas (o que começou bem pode acabar depressa e mal!) têm que se entender sobre o que é vital para o país, e não deixarem-se influenciar pelo poder da corrupção, que não desiste.

A água potável é um bem comum, cuja gestão deve ser publicamente controlada, límpida e cristalina, equilibrada, acautelando assim a gestão sustentável de um bem que é cada vez mais escasso e pertence à vida, não a uma turma de imbecis ávida de automóveis de alta cilindrada!

As albufeiras geridas pela EDP, por exemplo, estão em processo acelerado de eutrofização, por manifesta incúria e incumprimento contratual. A única coisa que preocupa o senhor Mexia são os lucros e as cotações do PSI20. Pois bem, por aí também já não chegará a parte alguma!

Sócrates, o capturado INAG e as Águas de Portugal levaram aliás a cabo um processo de privatização irresponsável da exploração do domínio público hídrico nacional, juntando à lógica do capitalismo burocrático, endogâmico e rendeiro, que nos conduziu à bancarrota, a adesão indígena e provinciana à lógica especuladora das bolhas financeiras que fazem do bem comum mais um casino para as suas orgias.

Uma das causas da eutrofização das albufeiras, nomeadamente no rio Douro, é o excesso de nutrientes azotados que escorrem das explorações vinícolas e olivícolas intensivas. Se queremos manter viva a bacia hídrica do rio Douro teremos que dar prioridade ao vinho e ao azeite biológicos!

Aliás, Portugal deveria seguir o exemplo da Áustria: avançar rapidamente para uma agricultura e uma silvicultura biodinâmicas, sem químicos prejudiciais, nem OGMs. A vantagem competitiva seria óbvia e poder-se-ia finalmente aumentar a segurança alimentar do país — com uma sustentada diminuição da nossa dependência das importações.

Este governo tem muito por onde começar, se quiser preparar as bases para um novo paradigma de sustentabilidade económica do país. Mas para isso, deve agir já, começando por colher e deitar no balde da compostagem todos os frutos podres da árvore da administração pública, incluindo todo o seu perímetro empresarial. E em paralelo, tem que puxar pela imaginação e pela criatividade, tem que chamar os melhores, e tem que desafiar o país a libertar-se do torpor que o mantém em estado praticamente vegetativo.

POST SCRIPTUM

Depois de publicado este artigo li a opinião de Luís Todo Bom sobre a polémica em volta da anunciada privatização da Águas de Portugal, explicitando a sua oposição à privatização da AdP, uma empresa de direito comercial privado, mas com capitais 100% públicos e um passivo de mais de 6 mil milhões de euros! Cabe perguntar qual foi afinal a vantagem de se ter constituído um tal modelo de empresa. Só se foi para permitir endividar o país sem dar cavaco ao Orçamento de Estado, permitindo, claro está, remunerar escandalosamente os boys&girls lá colocados e comprar frotas automóveis de luxo.

act. 29-10-2011 15:20

sexta-feira, outubro 28, 2011

Uma década de austeridade

O euro não sucumbiu, o dólar, sim, apodrece!

A Eurolândia ganhou a primeira grande batalha que lhe foi movida pelo par dólar-libra, mas tem pela frente uma década de austeridade, e precisa dramaticamente de maior e melhor integração económica, financeira e social, precisa de outra coesão política e de uma estratégia global comum.

Rich Mattione ©GMO LLC
(clicar para ampliar a img)
Eurozone bail-out: holes emerge in the 'grand solution’ to solve EU debt crisis
A trillion euro bail-out to save the EU’s single currency is in danger of unravelling after Germany’s central bank warned that the rescue measure was too dependent on the high-risk deals that caused the economic crisis. By Bruno Waterfield — 27 Oct 2011, The Telegraph.

Apesar do nervosismo evidente do eixo que continua a unir Washington a Londres, a verdade é que a Eurolândia se safou, por enquanto, de mais um grande aperto e de mais uma ameaça de cisão. Sem ceder no essencial, a Alemanha acabou por convencer a França e os países do Sul de que a melhor maneira de atacar a crise das dívidas soberanas da União é perspectivá-la a médio-longo prazo, ou seja, repartir no imediato entre governos (i.e. pagadores de impostos), bancos e fundos de investimento, os efeitos mais nefastos e prementes do buraco negro criado pelo sobre endividamento privado e soberano e pelas bolhas especulativas do casino derivativo em que se transformou a chamada inovação financeira desenhada pelos piratas de Wall Street, e, por outro lado, convencer os mais indisciplinados de que vai ser necessário manter, como alternativa à inflação monetária suicida da América, um programa de disciplina orçamental (austeridade), aumento da produtividade e reequilíbrio da balança comercial comunitária e intra-comunitária, no mínimo, ao longo dos próximos dez anos. Só assim continuaremos a contar com a boa vontade (liquidez) e expectativa positiva da China-Japão, Rússia, produtores de petróleo e Brasil.

De acordo com os números de Rich Mattione (“Et tu, Berlusconi? The daunting (but not always insuperable) arithmetic of sovereign debt”. By Rich Mattione — October 2011 © GMO LLC) a situação europeia, no que diz respeito às dívidas soberanas, é grosso modo esta:

País Dívida Pública
Alemanha2.062.000.000.000 (83% do PIB)
França1.591.000.000.000 (82% do PIB)
Reino Unido1.353.000.000.000 (80% do PIB)
Bélgica341.000.000.000 (96% do PIB)
PIIGS3.123.000.000.000
Portugal161.000.000.000 (93% do PIB)
Irlanda148.000.000.000 (95% do PIB)
Itália1.843.000.000.000 (118% do PIB)
Grécia329.000.000.000 (145% do PIB)
Espanha642.000.000.000 (61% do PIB)

Ou seja, como já aqui se escreveu repetidamente, as dívidas públicas da Alemanha e da França juntas superam a totalidade das dívidas soberanas do PIIGS (Itália incluída!) Mais: ao contrário da Espanha, cujo problema é sobretudo uma gigantesca dívida externa, resultante da sua monumental bolha imobiliária, raros são os países da União Europeia que respeitam o Pacto de Estabilidade e Crescimento em matéria de endividamento público, cujo limite é de 60% do PIB. Nenhum dos acima citados pode, de facto, atirar a primeira pedra. A próxima grande dor de cabeça que levou a Alemanha a despachar rapidamente o caso grego chama-se, obviamente, Itália!

O apoio dos países emergentes e produtores de petróleo à Europa resulta de uma nova compreensão estratégica do mundo actual. Os Estados Unidos não poderão continuar a gastar e consumir o que gastam e consomem, sobretudo tendo em conta que produzem cada vez menos coisas palpáveis, e a própria Europa terá que rever alguns aspectos insustentáveis do modelo de consumo e bem-estar social estabelecido numa época em que era sobretudo uma potência colonial, a demografia mundial era outra e o petróleo abundava. O mundo tornou-se muito mais pequeno, muito mais povoado, envelhecendo dramaticamente nos países mais industrializados, com um número crescente de recursos ameaçados ou mesmo em vias de extinção, e onde deixou, pura e simplesmente, de haver hegemonia militar. Em caso de guerra mundial, morreremos todos, ou quase todos!

Mais do que persistirmos numa lógica de conflitos e guerras assimétrica pelos recursos que deixaram de ser abundantes, e em muitos casos se extinguem a olho nu, parece mais evidente a cada dia que passa, que ou conseguimos desenvolver um modelo de crescimento zero criativo, justo e sustentável, ou espera-nos o abismo ao virar de cada esquina de cada crise financeira, de cada guerra, de cada desastre ambiental, ou de cada incidente climático extremo.

É fundamental substituirmos a lógica suicida do prisioneiro encurralado, por uma nova lógica de cooperação competitiva.

act. 28-10-2011 23:10

quarta-feira, outubro 26, 2011

Pagamos com Sol

Acabou-se a mama!
É preciso pegar no tema energético com uma garra implacavelmente estratégica

Amareleja, maior central solar do mundo ligada à rede (45,8MWp) pode alimentar 30 mil casas.
Solar recession signals end of 'Wild West' gold rush
“A clean-energy recession caused by massive over-capacity in the solar panel market could have unexpected benefits for the nascent renewable industry, industry insiders say.” Euractiv.
A bolha solar rebentou! Tal como a bolha dos créditos de CO2 equivalente não chegou a inchar, por oposição da China, Índia, Brasil, etc. (na Cimeira de Copenhaga, 2009), é agora a vez de uma correcção forçada do mercado especulativo e altamente subsidiado das energias renováveis. Depois da correcção em curso nas eólicas é agora a vez da fotovoltaica. E também já é tempo de acabar com os subsídios às fósseis. Leu bem sr. Sec. da Energia?

A compra em Janeiro de 2007 de 100% da central solar da Amareleja pela espanhola ACCIONA fora já um indicador do que se iria passar (Portugal então já estava de tanga). Em 2009 foi a vez da ACCIONA vender 34% da maior central solar do mundo ligada à rede aos japoneses da Mitsubishi. E agora é a vez de Portugal começar a pensar no vento, no Sol e nas ondas como activos preciosos e capazes de desempenhar um papel decisivo no pagamento das nossas dívidas. Mas para irmos por aqui, o Estado tem que tomar em mãos, sem cerimónias, a estratégia energética e mesmo boa parte do negócio energético nacional.
Brussels discusses Greek solar payback
“EU’s energy commissioner Gunther Oettinger, the director general for energy Philip Lowe, and the head of the EU’s Athens task force Horst Reichenbach have discussed the idea of enabling Greece to repay some of its debts to EU member states, such as Germany, by providing them with solar energy.” Euractiv
Toca a pagar aos espanhóis, franceses e alemães (os nossos principais credores) com transferências de energia! Por cá, as eólicas sempre poderiam começar a carregar baterias durante a noite, nomeadamente baterias de automóveis eléctricos a produzir futuramente no nosso país, em vez de continuarem a insistir na patranha das novas barragens. As barragens que existem (sobretudo depois dos reforços de potência de algumas delas) chegam perfeitamente para ocuparem durante a noite o parque eólico nacional, e este poderá mesmo, em breve, se houver imaginação, trabalho e menos ladroagem, interagir com a nova indústria de baterias solares que aí vem.
IEA top economist calls for bonfire of the fossil fuel subsidies
“The chief economist of the International Energy Agency (IEA) has urged the world to slash hundreds of billions of dollars of fossil fuel subsidies or face the prospect of a catastrophic 3.5 degrees Centigrade rise in global temperatures.” Euractiv.
E de caminho abandonemos de vez com a idiotia nuclear do senhor Patrick Monteiro de Barros, bem como com os escondidos subsídios às energias fósseis que enchem de dividendos ilegítimos a GALP e a EDP!

NOTA: dois oportunos artigos de Luís Mira Amaral, antigo ministro da energia, sobre o beco energético nacional, e ainda um gráfico em tempo real do preço da energia no mercado ibérico:
  • Luís Mira Amaral, “A sustentabilidade do défice tarifário” — DN, 22Oct2011 (pdf)
  • Luís Mira Amaral, “Os CMEC e a sustentabilidade do sistema energético” — DN, 26Set2011 (pdf)
  • Sempre que há vento, a energia eólica tem prioridade sobre as demais, ou seja, não só obriga a parar, por exemplo, as centrais de ciclo combinado (com os custos inerentes do pára-arranque), como o preço por nós pago pela energia eólica (~93,7€ por MW/h) é sempre superior ao preço mais caro da energia obtida no mercado ibérico (ver QUADRO DINÂMICO da OMIE), raramente acima dos 70€ por MW/h. Resultado: só as eólicas sobrecarregam em 750 milhões de euros a factura que pagaremos à EDP em 2011!

act.: 26-10-2011, 14:22

Setúbal-China

Autoeuropa, Palmela, Portugal

Quem disse que Portugal não conseguia exportar para a China? Com uma ajudinha alemã, claro. Ânimo!
No passado dia 18, foi efetuada, no Terminal Roll-on Roll-off do porto de Setúbal, a primeira carga direta de veículos fabricados na Autoeuropa para a China. As viaturas foram embarcadas no ro-ro “NOCC Atlantic”, do armador norueguês Norvegian Car Carriers, agenciado pela Barwil Knudsen - Agentes de Navegação, Lda e operado pela Setefrete – Sociedade de Tráfego e Cargas, SA.

Este carregamento, de 538 viaturas Scirocco e Eos fabricadas na Autoeuropa e parqueadas no terrapleno do Terminal Autoeuropa, foi o primeiro de vários embarques diretos previstos, até ao final do próximo ano de 2012, de viaturas destinadas ao mercado chinês, sendo de realçar o absoluto sucesso de toda a operação e o despacho rápido do navio sem qualquer atraso.

Com esta operação, o porto de Setúbal passa a constar como um porto de primeira linha da rede logística da Wolkswagen, com ligações diretas para outros continentes sem passar pelo Porto de Emden, porto principal do Grupo VW, como sucedia até agora. CARGO (25-10-2011) | E ainda APP.
Se o pirata Sócrates ainda estivesse ao leme do país tinha entupido todos os canais mediáticos com esta notícia.

Mais um argumento, portanto, a favor de duas realidades que não há meio de entrarem na caixa craniana dos nossos jornalistas e analistas económicos: a necessidade de dar máxima prioridade aos nossos portos, à renovação da ferrovia que ligue os principais portos (Sines, Setúbal, Lisboa, Aveiro, Leixões) e as principais cidades (Lisboa e Porto) ao resto da Europa e do mundo, e ainda a criação de uma indústria naval de cabotagem e recreio.

Isto e repovoar os campos com tecnologias verdes e cultura urbana, mais o turismo de marisol&surf, de fim-de-semana e residencial (nomeadamente orientado para a 3ª e 4ª idades), é uma receita que não pode falhar!

Mas primeiro, claro, há que não hesitar um minuto na dose cavalar de contenção que é urgente impor ao complot burocrático em marcha. Nada de cenouras, o pau basta!

act. 26-10-2011 13:05

terça-feira, outubro 25, 2011

A fuga fiscal

É preciso desblindar a corrupção, esteja onde estiver!



Senhores Pedro Passos Coelho, Carlos Costa, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira,

não basta actuar nas aparências, por mais importantes que estas sejam —refiro-me à caça que tem que ser feita aos privilégios da indecorosa nomenclatura que temos. É fundamental também atacar as raízes do problema que conduziu à bancarrota do país. E entre estas está a evasão fiscal maciça aos impostos das 19 maiores empresas portuguesas que deslocaram as suas sedes fiscais para a Holanda, um país de piratas que há muito aprendeu a roubar o que é nosso!

Vocês não podem enforcar o contribuinte indígena que não tem como deslocar a sua pessoa fiscal para a Holanda, Gibraltar ou para as ilhas piratas da rainha de Inglaterra, enquanto permitem que a burguesia rendeira se ria de vós e de todos nós!

E não me venham com as desculpas esfarrapadas dos contratos blindados (a EDP e as barragens da corrupção, SCUDs, PPPs, etc.), nem com a liberdade de circulação de capitais na Europa e neste mundo globalizado. Os mesmos advogados a soldo que blindaram, desblindam! E assim como o Japão soube muito bem tornar o seu país uma fortaleza inexpugnável às importações, e sabe muito bem levar pela trela a sua não menos luxuriante e indecorosa burguesia, também agora vossas excelências, se quiserdes sobreviver politicamente, tereis que fazer algo semelhante.

Basta querer!


NOTA: Rui Tavares no Parlamento Europeu, um discurso que subscrevo 100%. Mas este já não é do Bloco, pois não? Ainda bem!

domingo, outubro 23, 2011

A formiga e as cigarras europeias

A Alemanha tem razão, os bancos, não!

Sacrificar a poupança, nomeadamente de quem produz, em nome da rigidez dos direitos sociais adquiridos, de uma desmiolada cultura do consumo, e de um sistema bancário insolvente, será o caminho mais expedito para o colapso em cadeia do actual sistema capitalista. Não precisaremos de nenhum marxista para nos ajudar!

Se a cigarra triunfar, mais uma vez, sobre a formiga, em vez de uma transição pacífica para o pós-capitalismo teremos miséria e guerra nos próximos anos e décadas — OAM.

O fracasso redondo do Conselho Europeu deste fim-de-semana mantém em suspenso uma divergência fundamental entre a Alemanha, mais alguns países do norte da Europa, e a França, mais os endividados países do Sul:
  • Quem vai pagar as dívidas soberanas da Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido... ?
  • Quem vai pagar as dívidas externas do Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria, França…, quando o colapso da bolha de derivados financeiros atingir o zénite? 
  • Quem vai reequilibrar as deterioradas balanças de pagamentos da Espanha, Itália, França, Reino Unido, Portugal, Grécia…? 
  • Quem vai salvar os bancos sobre expostos às bolhas especulativas (imobiliária, soberana e dos mercados cambiais) da sua cada vez mais grave crise de liquidez e de um dominó de insolvências? 
O GEAB deste mês fala da falência inevitável de 10 a 20% dos bancos ocidentais! As praças financeiras de todo o mundo, entretanto, tornaram-se os alvos compreensíveis de uma indignação à escala global que apenas começou a crescer, que dificilmente será neutralizada pelas polícias, e que poderá muito bem ditar o fim do capitalismo tal qual o conhecemos nos últimos quatrocentos anos.

Há basicamente duas posições:

Uma é a posição da França e de todos os demais países europeus sobre endividados, para quem a solução passa por monetarizar as dívidas nacionais, expandindo a liquidez do euro e emprestando assim sem limite aos governos e aos bancos, com a consequente desvalorização monetária e disparo da inflação, nomeadamente por via do preço acrescido das importações e pelo estímulo artificial do consumo privado e público. Esta solução significaria, pura e simplesmente, um novo assalto à robustez comercial e industrial da Alemanha, um ataque sem precedentes à produtividade e competitividade externa desta trave mestra da União Europeia, e uma destruição inexorável da poupança europeia, onde quer que a mesma se encontre — nos países, nos negócios equilibrados, e nas pessoas produtivas e prudentes. Esta solução implicaria promover o que não pode deixar de ser considerado um crime: financiar os bancos, os especuladores profissionais e os governos populistas da Europa, à custa de quem planeou, produziu e poupou!

A outra solução, propugnada nomeadamente pela Alemanha, e agora também por Durão Barroso, passa por envolver os especuladores e os bancos na reestruturação inevitável dos países simultaneamente sobre endividados e incapazes a prazo de pagar os serviços das respectivas dívidas públicas sem colapsar económica, política e socialmente — casos da Grécia, Portugal, Bélgica e talvez mesmo de países como a Itália, a Espanha, ou a própria França. O BCE e Sarkozy aceitaram em Junho passado um haircut das expectativas de retorno especulativo das bolhas imobiliária e soberana na ordem dos 21%, mas a Alemanha exige agora maior responsabilização por parte dos especuladores privados no colapso financeiro em curso: 50 a 60%.

Acontece, porém, que este contra-ataque alemão à lógica insaciável do capital financeiro vem colocar em causa a situação já de si extremamente frágil de dezenas, se não mesmo centenas de bancos e fundos de investimento por essa Europa fora e ainda onde quer que haja sociedades financeiras e bancos atolados de obrigações soberanas europeias: Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Abu Dhabi, Brasil, etc. A pressão sobre Angela Merkel não pode, pois, deixar de ser brutal.

Conseguirá a União Europeia sair deste dilema?

Os preços da alimentação tendem a acompanhar os preços do petróleo. Ler Gail Tverberg.

No decurso das décadas de 1950 até meados da de 1970, o fim do colonialismo e uma redistribuição mundial menos desequilibrada e menos injusta dos recursos disponíveis, sobretudo do petróleo, do gás natural, dos metais e das matérias primas alimentares, acabaria por induzir uma desindustrialização acelerada dos Estados Unidos e da Europa ocidental, com a subsequente deslocalização de sectores industriais inteiros para países com contingentes aparentemente infindáveis de trabalho barato e socialmente desprotegido. O consequente desequilíbrio resultante do aumento e encarecimento progressivo das importações, e a ameaça do abrandamento económico resultante da diminuição da actividade industrial nos países mais ricos do planeta, conduziram sucessivamente os Estados Unidos e a Europa ao desenvolvimento de uma estratégia de compensação apoiada em três pilares:
  1. a expansão do consumo interno, desenvolvendo para tal toda uma ideologia cultural apropriada (a sociedade de consumo);
  2. o crescimento do campo tecnológico e cognitivo, de que resultaria uma expansão sem precedentes nos sectores da educação, da investigação e do desenvolvimento de produtos inovadores (tecnológicos, mas também culturais);
  3. e a inovação financeira, sobretudo orientada para o desenvolvimento de estratégias de financiamento virtual de economias cujas rentabilidade e deterioração dos termos de troca com o exterior se prefiguraram desde muito cedo nos radares dos estrategas mais atentos.
Foi precisamente a aceleração contínua destes três factores que conduziu o capitalismo mundial à crise sistémica anunciada em 2005-2006, declarada em 2008, e que viria a mergulhar os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo na grande complicação em que agora se encontram. A bolha especulativa da China que acompanha a previsão, para 2012, do primeiro défice comercial chinês dos últimos vinte anos, mostra até que ponto estamos perante uma crise global, e até que ponto os países emergentes são incapazes de sustar o poder destruidor do buraco negro financeiro responsável por esta prolongada e profunda crise sistémica do capitalismo.

O paradigma do consumismo e do consumo conspícuo chegou ao fim, nomeadamente por efeito da inflação crescente, dos limites explosivos do endividamento, e ainda por causa do crescimento demográfico que de uma forma ou doutra implica um melhor aproveitamento e redistribuição dos recursos disponíveis à escala mundial. A tecnologia, por sua vez, evoluiu para uma rede geograficamente dispersa e desnacionalizada, diminuindo progressivamente a densidade dos antigos centros de ciência e tecnologia americanos, japoneses e europeus. A inovação financeira, por fim, acaba de esbarrar nos limites materiais da deteriorada hegemonia monetária da América, renovando o debate sobre a sustentabilidade do actual sistema bancário e financeiro global, desenhado à imagem e semelhança de um modelo que parece ter dado resultados desastrosos na China imperial, e volta agora a mergulhar a Europa numa sucessão catastrófica de bolhas especulativas.

É possível que os Estados Unidos estejam a preparar uma nova moeda, ou até a retoma da indexação do dólar ao ouro, através de uma operação súbita, surpreendente e sem precedentes de decuplicação do valor da onça de ouro. Para aqui chegar teria, porém, que lançar sucessivos pacotes de Quantitative Easing e afogar praticamente o planeta em notas verdes e inflação. Num cenário desta grandeza, que faria a União Europeia?

Uma parte da União Europeia, viciada no bem-estar gratuito, no consumismo, na corrupção, e no endividamento especulativo, não quer sofrer, quer continuar a satisfazer os seus caprichos sem pagar o preço justo das coisas, exige, portanto, dinheiro grátis, que alguém pague as contas, e que se esse alguém não aparecer (e for impossível sangrar mais o indefeso contribuinte europeu), então, que não se pague e pronto! A solução protagonizada nomeadamente por Cavaco Silva é portanto esta: que o contribuinte refinancie os bancos e que estes, depois de refinanciarem os governos, as nomenclaturas e as burocracias, e depois de pagarem os dividendos aos especuladores (nomeadamente do BPN), que retomem paulatinamente as operações de crédito à economia e ao consumo. Haverá riscos elevados de cairmos numa inflação galopante, e de uma desvalorização imparável do euro? Sim, há! Mas não faz mal, diria um qualquer assessor de Belém — os alemães, os árabes, os chineses, os iranianos, os russos e os brasileiros que paguem a crise!

A Alemanha já por duas vezes viu o seu sucesso industrial e económico ser desbaratado pelo resto de uma Europa, ou decadente e com maus hábitos difíceis de perder, ou simplesmente indolente. Será que iremos assistir a um terceiro suicídio colectivo?

Juntei a este escrito uma selecção de factos, observações e opiniões que me parecem de grande oportunidade para melhor compreendermos o que está em causa. De algum modo complementam as minhas reflexões sobre a nova e perigosa disputa entre as cigarras e as formigas desta velha Europa.


REFERÊNCIAS

Esta pirâmide entrou em modo especulativo (Ponzi) a partir da decisão de descolar o USD do ouro. Os CDO, CDS, e toda a parafernália de produtos financeiros criados para segurar/especular com o endividamento exponencial, privado e público, são as causas próximas do colapso sistémico actualmente em curso — OAM.
  1.  The European Financial Crisis in One Graphic: The Dominoes of Debt   (October 24, 2011)
    “After 19 months of denial, propaganda and phony fixes, the political and finance leaders of the European Union are claiming a "comprehensive solution" will be presented by Wednesday, October 26-- or maybe by the G20 meeting on November 3, or maybe on Christmas, when Santa Claus delivers the gift global markets are demanding: a "solution" that actually pencils out and that forces monumental writeoffs of debt and thus equally monumental losses on European banks and bondholders”.

    in Charles Hugh Smith.

  2. German Parliament Slows Euro Rescue Decisions
    “Europe’s leaders had only just presented themselves to their guests as a picture of unity, amid speeches praising the outgoing president of the European Central Bank (ECB), Jean-Claude Trichet, before the sparks began flying in another part of the building. Unfortunately, the German chancellor told a group of stunned men, she would not be able to make a decision on the euro bailout fund at the European Union summit on the following Sunday, because she needed the approval of the German parliament, the Bundestag, first. But because this approval was not to be expected, Chancellor Angela Merkel, a member of the center-right Christian Democratic Union (CDU), proposed postponing the meeting of the 27 heads of state and government.

    European Council President Herman Van Rompuy protested, saying a postponement was absolutely out of the question, if only out of consideration for the other member states. “This is the last exit on the highway,” French President Nicolas Sarkozy said excitedly. “If we don’t reach a decision now, we’re dead.”

    But it was of no use. By the end of last week, it was clear that the decisions would be postponed. Grudgingly, the majority of the EU was forced to follow the Germans’ lead.”

    By Ralf Neukirch, Christian Reiermann and Christoph Schult, in Der Spiegel (23-10-2011)
     
  3. M3 has ceased to be published by the US Federal Reserve
    The world is left without any reliable data on the dollar-value.

    As announced last February 15 by Leap/E2020, yesterday March 23, 2006, the US Federal Reserve has ceased publishing M3, the most reliable indicator of the amount of USDs circulating in the world.

    The Fed has also ceased publishing a number of less important indicators (such as the amount of EuroDollars, large-denomination time deposits, and repurchase agreements) which could have been used to calculate M3 on the basis of other aggregates.

    It is important to bear in mind that the Fed continues to calculate M3 and the other indicators. It doesn’t cease to gather these data, but it no longer shares the information with US citizens and the rest of the world. To use a simple image, it is as if, on the eve of a war, the Pentagone suppressed GPS guidance, including for its own allies.

    Such measure, which has had no equivalent since 1945, when the dollar imposed itself as the global monetary reference, is a major break in the confidence contract between the US and its Allies.

    in GEAB
    (March 24, 2006)
     
  4. The Seeds of Our Destruction Were - And Still Are - Sown in the Bond Markets

    Paul Brodsky:  All the way through 2006, where a monetary aggregate called M-3 -- which was the only aggregate that included repurchase agreements, which is the process by which banks fund themselves with each other -- grew almost 12% a year. It is an enormous amount, and that basically tells you that this overnight lending among banks provided the fuel from which all of the term credit, or the 30-year mortgages ultimately, and the auto loans, and revolving consumer credit that, of course, has never paid down from whence that came. So in effect, we knew that the system became highly susceptible to any hiccup.

    And what we were looking at was an economy where, according to recent data, we have got $53 trillion dollars in dollar-denominated claims, according to the Fed. Well, I actually think it is higher than that, significantly higher than that, but let us just take their figure. On top of a $2.7 trillion dollars in actual money, or M-zero, or to put it another way, currency in circulation plus bank reserves held at the Fed.

    So the system is levered at least 20 to 1, and there is effectively 20 times more debt than money with which to repay it. And so that is a long-winded way of setting the table for where we come down in our macro views. Clearly, it has great ramifications, negative ramifications, for the currency, and given that the dollar is the world’s reserve currency, we think it has significant ramifications for the global monetary system in general.

    [...]

    I think debt is still probably marked too high on balance sheets. Certainly at banks. And so I think it is still out there; it is still lurking. It does not necessarily have to be recognized, ever, frankly, if the Fed produces enough inflation that takes them out in nominal terms. But it is still out there, and I would argue it is not only sub-prime, but as we are seeing now, it is turning into prime as well.

    [...]

    Chris Martenson:  [...] Suppose, for the moment, though, that somehow things do get away from the Fed, they find themselves following, not leading the market. It has happened to them before. It has not happened recently, but certainly, that used to be the case. So I do not know, so there are all these people who have bond funds that are levered up 20 times, 10 times, some big giant number, and all of a sudden the rumor comes through the grapevine that China has decided enough is enough and they are quietly liquidating their custody account into what ever bids they can find. Would we not find that those levered bond funds would potentially get caught in the equivalent of a long squeeze, in essence? I mean, they would have to get out there and start liquidating into this madness. Is that a possibility? Let us admit that it is a possibility; how probable it is, is another question. Do you think the Fed has, with its infinite capability, can really step in and battle that?

    Paul Brodsky:  Well, functionally, yes, they can. Because again, let us say China has three trillion in dollar reserves (just to pick a round number). Yes, the Fed could print five trillion if they wanted to. They would always have more money than bonds outstanding, number one. And they could always assume anyone else’s debt, because there is literally no limit.

    [...]

    ...if we anger them for whatever reason and they decide as retribution, and maybe it is an economic decision that they just do not want to own Treasurys any more and they decide to liquidate. I would suspect at that point, you would see a, maybe even a formal devaluation, of dollars. And we could go into that in a bit if you would like, but I would think that is the point at which you would see obviously the Fed would have to come and buy a bunch and monetize a lot of debt. But my guess is that would see something more formal. And you would go into a weekend and you would come out of the weekend with a completely different new monetary system.

    Chris Martenson:  Okay, interesting. So where I am, what I am hearing here, is a fairly simple story then, had a very long, very protractive credit bubble, it ran up pretty hard. And the Fed has nearly infinite or probably infinite capability to just manufacture credit, or what we call "money," out of thin air. All U.S. debt is denominated in U.S. dollars in this point in time, so there is really no external forcing function. So, guess what, printing can always happen. You started all of this by saying that when you peered through this landscape, what you saw was actually a currency risk. Let us go there for a second, if we could. What do you, how would that play out, if it does not really play in a big bond market route, something has to give in this story. You are saying it is the currency; what does that play out like?

    Paul Brodsky:  I think the Fed is going to have to continue printing. They are going to go significant QE3 at some point; I do not know exactly what form it will take, but they are going to have to monetize debt. The process of doing that is, I am sure your listeners know, is when you buy debt, you print money with which to buy it. And which moves new money out, ostensibly into the system, but as we have seen, it only goes into banks as excess reserves. This process is the exact process of inflation, so if you print a dollar, you are diminishing the purchasing power of that dollar through dilution. And it is a very easy thing to understand more dollars chasing, let us say, the same amount of goods and services and assets, must drive the price level higher for those goods services and assets. And so what we see happening is, through this process of money printing, we will have rising prices that rise much faster than wage growth or income growth, and it is going to make the ability to service debt that much harder.

    [...]

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it looked as though we have output growth and in nominal terms, we did. However, I had to fire someone who was a consumer and so on and so forth and a taxpayer. And so the real economy actually shrunk while nominal growth grows. And so this is what has already been happening. The pressure is the fundamental economic pressures that build, through this juggling act of trying to keep all the balls in the air by printing money and giving the appearance of growth, and trying to instill confidence among consumers and among factors of production, and among manufacturers and so on and so forth. It really can’t last if there is no fundamental reason for it to continue. So in reality we think that they will print a lot of currency, the real economy will shrink. However, the good side of this whole thing, in an aggregate sense, and I am not judging the merits or whether or not it is moral or anything along those lines, but since the U.S. and Western Europe and Japan, the great majority of our populations are indebted. By printing all this money, the prices will rise and eventually even our wages will rise, but the only thing that won’t rise, is the amount we owe. And so this process of inflation reduces the burden of repaying debts. Both in the private and the public sector. While it does not reduce the debt at all but it does act as a de-leveraging. You can de-lever either by letting credit deteriorate and that has all terrible ramifications because you actually do have real contraction in the economy. Or you can print money up to meet the notional value of the debt. And those are the two ways to de-lever and I think they are clearly going to print money and that is the process of de-leveraging they are going to take. Thereby inflating the way the burden of paying the debt.

    Chris Martenson: Yeah, there is all kinds of reasons that, there is really no opposition to the idea of printing. At the political sphere, they love it. Politicians tend to get tossed out during deflationary episodes. Inflation you know, they tend to hold their jobs. So there is a job, job’s creation act for political people buried in there. And also, government cannot tax deflation. Meaning if I hold an asset like a house, and it inflates 100%, some of that is taxable, depending on the size, or any asset that inflates, that is a taxable moment. A deflating asset is not a taxable amount. So you cannot tax deflation. There is another reason why we hate deflation, because it does not perpetuate the entire model of continued growth. But you know at some point, in every credit bubble - and this has been true through all of history and Reinhart and Rogoff certainly proved that - at some point, you just hit the limit, you cannot go any further. Even leaving aside that we remove the natural resource pressure from peak oil or from other resources or that there are natural limits being hit, forget about all of that. There is always a moment when your credit bubble just cannot go any further. There are no more noses that can fog mirrors, that can take out a loan. In your estimate, you are looking at all of this, they have been pulling on the ripcord of the chain saw as hard as they can trying to get this thing started again. Have they? And if they cannot, do we not just face some sort of deflationary outcome anyway?

    Paul Brodsky: I think before we ever get to a truly deflationary outcome, meaning output contraction, shall we say. The Fed will formally devalue the currency, which will solve all these problems. They can do it tomorrow if they chose.

    Chris Martenson: Isn’t everybody trying to devalue their currency?

    Paul Brodsky: Well, they would devalue it to gulp and not against the Euro, or not against the Yen or the Renminbi. That alternating currency devaluation tag team, whack-a-mole, beggar-thy-neighbor  policy, works obviously for exporters and it works in the very near term but it really does not solve the problem which is all of these currencies are baseless and are losing their purchasing power versus the goods and services with inelastic demand properties. Such as natural resources and things of scarcity.

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it makes perfect sense that while they are trying to politically, through policy, devalue their currencies versus other fiat currencies. That is not a long-term solution. When I say devaluation, I mean against the currency that is scarce and that policy makers cannot manufacture because ultimately it comes down to if I have a widget that I want to exchange for money, no matter where I am in the world, the money I want in exchange, I want to know that that’s going to have. I want to have confidence in it that that is going to retain its purchasing power. And it will get to the point ultimately where the one I am going to want is something other than what you are offering. There is precedent obviously, that gold has backed money. And we happen to think that that is the end game. Ultimately, you will see probably the Fed formally devalue the dollar versus gold. After 40 years of it being untied, and that is all. This is just the pendulum swinging back we think. And they will do it at a price, a gold price, in dollar terms, that will reflect the amount of past monetary inflation that we have seen.

    Chris Martenson: Yikes

    Paul Brodsky: Or something close to that.

    Chris Martenson: That is a big number.

    Paul Brodsky: It is a big number, we think it is about little north of $10,000 currently.

    [...]

    What I am saying is, the government will want to retain control, the only way they will be able to do that, is through going back, is devaluing. As they devalued it in 1971, the irony is, they will be going back to a gold standard or a quasi gold standard. I think that the method that they will do that, you know they will print a lot of money with which to tender gold at some big number. That will be highly inflationary. And then they will probably make a market, target a gold price as today they target Fed funds and interest rate. They will target a gold price. You know we will buy your gold at $10,000 we will sell you our gold at $10,200 and if too many people tender, then they will take the price down and vice versa. And what I think that would do, that is not a gold standard by the way, that is maintaining a credit market in effect. However, what it would still place a little more pressure on lenders to watch their backs in terms of the unreserved credit that they are carrying. And it would probably, more than anything, just instill confidence.]

    in Chris Martenson, Transcript for Paul Brodsky
     
  5. The collapse of paper money & the vertical move of gold

    It is the charging of interest on money issued as loans from a central bank that is the foundation of capitalism. It should be noted that prior to capitalism, charging interest on money lending was considered immoral by Christians, Muslims and Jews alike.

    Outlawed by Islam, considered by the Catholic Church to be a sin and contrary to the Law of Moses, because of William Patterson’s combination of money and debt, money lending is now the basis of all modern economies.

    Jews, barred from all trade guilds in Medieval Europe, were allowed only two avocations in the Middle Ages, that of money lending and the selling of used clothing. It is not without irony that the once shunned practice of money lending has now catapulted Jewish bankers to their pre-eminent position of power and wealth in the world today.

    [...]

    When capitalism—institutionalized money lending in debt-based economies—became the world’s predominant economy, bankers found themselves temporarily on top. The operant word is temporarily because where credit and debt is concerned, that which goes up always comes down.

    [...]

    In 1971, capitalism began to unravel when the US was forced to suspend the convertibility of the US dollar to gold. Without gold’s constraint on the money supply, governments—especially the US—began printing and borrowing money virtually without limit. Today, that limit has been reached.

    William Patterson’s 300 year-old house of cards and credit is now collapsing as defaulting debt consumes what’s left of savings. Despite the efforts of governments to save the system that allows them to spend money they don’t have, the end of the banker’s reign is near.

    By Darryl Robert Schoon, in Goldsurvival, July 18, 2011.
É por isto que os bancos querem que os governos tapem o buraco dos derivados especulativos com a expropriação fiscal do cidadão comum — OAM.
act. 24-10-2011 01:38