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sábado, junho 18, 2022

As almofadas do regime

O destino Porto e Norte de Portugal nunca teve tantos turistas em abril como este ano. «É um bom presságio. A recuperação está a revelar-se rápida, tal como esperávamos”, diz Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte ao Expresso depois de ver os números do quarto mês do ano baterem 2019, até agora o melhor ano de sempre do sector—Expresso.

O regime partidário e o rotativismo eleitoral indolente que temos sobrevivem em cima de uma almofada chamada Balança do Turismo, isto é, a diferença entre o que os turistas estrangeiros deixam em Portugal e o que os turistas portugueses deixam fora do país. 

Foram 13 mil milhões de euros em 2019. Esta almofada é ainda insuflada pelos 3 mil milhões de investimentos em imobiliário no nosso país ao abrigo dos Vistos Gold. Ou seja, 16 mil milhões de euros em 2019, a que acresce ainda o superavit da emigração em 2019, de 3,1 mil milhões. Ou seja, 19,1 mil milhões de euros que entram no país, através dos saldos largamente positivos do turismo e da emigração, e do investimento imobiliário ao abrigo os Visa Gold.

Foi isto, e ainda as taxas de juro negativas e o preço médio do barril do petróleo em volta dos 56 USD (nov 2015- jan 2022), que amamentou a Geringonça, e é isto que amamenta o governo de António Costa de maioria absoluta. Ou amamentava, já que os preços da energia e a inflação vieram agora bater à porta dum país sobreendividado, gerido por ideólogos e oportunistas.

Percebe-se, assim, a indecisão sobre o buraco negro da TAP e sobre a necessidade de ampliar a capacidade aeroportuária de Lisboa e do Porto. O buraco negro da TAP está agora sob controlo de Bruxelas. Ou seja, vão mijar menos fora do penico. Resta saber quando regressará a privatização da companhia, e com quem será celebrado novo casamento. David Neeleman ainda é a minha aposta, mas para tal é preciso correr com o Costa.

PS: A alternativa bancária dos emigrantes remediados sempre foi e é a Caixa. Estes emigrantes são a maioria que, ainda hoje, trabalha e poupa para construir uma casa em Portugal, ao mesmo tempo que vai trabalhado o tempo necessário para obter uma reforma decente dos países onde dão o corpo ao manifesto. Os emigrantes mais qualificados e cosmopolitas, saídos frequentemente das classes médias, também investem no imobiliário português, mas não como opção principal. Muitos deles optaram por viver o resto das suas vidas no estrangeiro, em vários países estrangeiros até, onde frequentemente adquirem as suas casas. Em Portugal esperam herdar as casas dos pais, e visitam o país mais de uma vez por ano (coisa que a Ryanair e a Low Cost rapidamente perceberam..), para estar com a família e/ou em gozo de férias. Quando podem, e há poupança suficiente, adquirem habitações secundárias em Portugal, para uso próprio, AL, e/ou como refúgio possível para o período da reforma.


ACP/RR

sábado, setembro 02, 2017

É a China, estúpido!

Clique para ampliar. In Nikkei Asian Review

Renminbi convertível em ouro desafia fake money de Wall Street. Um novo Tratado de Tordesilhas nunca esteve tão perto, pois uma guerra nuclear global é impensável.


“China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry.” Nikkei Asian News

A Coreia do Norte não é o maior problema da América. A China é. Na realidade, aquilo a que temos assistido é à transformação da Coreia do Norte numa espécie de Israel à moda de Pequim. Senão vejamos.

O que tem sido, de facto, o estado de Israel desde que foi criado pelos ingleses, sob o comando e inteligência de Lord Balfour e do Barão Edmond de Rothschild? Pois bem, um seguro de vida para as comunidades judaicas, sobretudo Asquenazis (oriundas na sua maioria da Europa Central e Oriental), e um bastião militar da estratégia petrolífera inglesa, e depois, anglo-americana. Basta ler a famosa Balfour Declaration (1917), ou a nota de Lord Rothschild que a precedeu para termos um quadro analítico que dispensa toda a verborreia ideológica. O petróleo foi a energia fundamental da Segunda Revolução Industrial. E quem controlou as principais regiões petrolíferas do planeta dominou o mundo até hoje.

Acontece, porém, que a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu pico em meados da década de sessenta do século passado, e o pico do petróleo americano ocorreu no início da década de 1970. Ou seja, os anos dourados do Sonho Americano tinham passado, e a partir daquele momento a hegemonia americana no mundo, conseguida como troféu da sua participação na Segunda Guerra Mundial, começaria a esmorecer. O dólar passou a estar sob pressão, pois a América estava cada vez mais dependente das importações de petróleo do Médio Oriente, do Golfo do México, da Venezuela e de África.

Esta dependência significava trocar petróleo por dólares convertíveis em ouro. Ou seja, a existência da moeda americana como moeda de reserva mundial pressupunha a estabilidade do seu valor real, e não apenas fiduciário, ou seja, implicava a sua convertibilidade no único mineral capaz de garantir a fé no dólar: o ouro.

Esta convertibilidade (1 onça de ouro = 35 USD) foi entretanto destruída por um império condenado a desvalorizar paulatinamente a sua moeda, tal como o Império Romano fez durante a sua longa decadência e colapso.

Nixon, face ao crescente excesso de dólares no mercado (e a correspondente procura de ouro como garantia anti-inflacionista), face à estagflação que se seguiu à criação da OPEP (1960), e face à Guerra dos Seis Dias (1967), viria a declarar sem efeito os Acordos de Bretton Woods, pondo deste modo fim à convertibilidade do dólar.

A Guerra do Yom Kippur (1973), protagonizada pela parceria entre Israel e a aliança anglo-americana, levaria a OPEC a concertar o famoso embargo, e a provocar uma subida do preço do petróleo sem precedentes (de 3 para 12 dólares). Desde então, a hegemonia americana não parou de perder influência, e a bolha fiduciária especulativa alimentada em Wall Street e na City londrina não parou de crescer até hoje.

A Alemanha tentou escapar a esta corrida para o precipício estabelecendo uma agenda económica e diplomática própria. Por sua vez, a implosão da União Soviética e a reunificação da Alemanha forçou a França a negociar com Bona a criação efetiva da União Europeia, um sonho alimentado desde 1952 (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), mas sempre adiado por pressão dos americanos e dos ingleses. O Brexit foi provavelmente a última e desesperada tentativa por parte da coroa britânica e financeiros londrinos de manter um paradigma de domínico há muito insustentável.

Entretanto, a China cresceu!

Mas para crescer, sobretudo depois de também ter chegado o pico das suas reservas petrolíferas, que começaram a ser extraídas por volta de 1959-60, em Daqing, a China viria a tornar-se no terceiro maior importador de crude do planeta, depois da União Europeia e dos Estados Unidos (há quem afirme que já é o primeiro). Ou seja, a disputa estratégica global pelo ouro negro tem três grandes atores, todos eles com demografias de peso e capacidade militar de sobra para destruir o planeta.

Acontece que os americanos, ainda que por razões compreensíveis (ninguém gosta de deixar de ser império), continuam a ignorar a realidade, ao mesmo tempo que se endividam cada vez mais, assistem ao declínio imparável do dólar, e começam a perder o controlo da sua própria estabilidade económica, social, política e cultural.

Chegou, pois, o momento de deixar de depender da moeda americana, e sobretudo de permitir que esta exerça chantagem sobre os países que quer controlar, ou impedir de crescer, recorrendo sistematicamente à prepotência das sanções económicas e financeiras, só possíveis de duas formas: pela manipulação do acesso e uso do dólar, ou pelo uso da força militar.

É neste ponto que importa perceber o real significado da escalada nuclear na Coreia do Norte, na sequência, aliás, de inúmeros incidentes entre americanos e chineses em torno da territorialidade dos Mares de China.

Quer queiramos quer não, o supremo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, transformou o seu país numa potência nuclear. Ou seja, num país inatacável, ao contrário, por exemplo, da Síria, do Irão, ou da própria Turquia. As consequências são óbvias: se os Estados Unidos forem, como tudo indica, incapazes de impedir o nascimento de mais um país dotado de mísseis balísticos intercontinentais, então é só uma questão de tempo para que a Turquia e o Irão atinjam desideratos semelhantes.

Neste jogo de xadrez, a China levou a melhor, e usou Pyongyang da mesma forma que Washington usou Telavive ou, como alguns preferem, como Telavive tem usado Washington.

Aqui chegados, os Estados Unidos não terão outra opção que não seja negociar uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas com Pequim. Desta vez, os meridianos não serão geográficos, mas monetários. Haverá duas moedas. Resta saber se o dólar e o yuan, se o yuan e o euro. Tudo dependerá de quem ganhar a batalha africana.


REFERÊNCIAS

Nota de Lord Rothschild ao então MNE britânico Arthur Balfour

Baron Edmond de Rothschild & Palestine 
Edmond de Rothschild (1845-1934) was the youngest son of James and Betty de Rothschild. He bore the Hebrew name Benjamin. He was born in Paris on 19 August 1845. Edmond joined the Paris Banking House in 1868 becoming a director of the Est railway company and other family concerns, and devoting himslef to art, culture and philanthropic interests.  In 1877, he married Adelheid (1853-1935), the daughter of Wilhelm Carl Rothschild (1828-1901). 
He made journeys to Bukharu to examine the potential of the oilfields of the area. In 1895, he visited Palestine for the first time, and his most outstanding achievements were involved in responding to the threats facing the Jewish people in Europe in the late 19th century by supporting massive land purchases and underwriting Jewish settlements in Palestine and Israel. 
Until his death, 'The Benefactor', as he was known provided support for Jewish colonists, overseeing dozens of new colonies. Rishon le Zion (the First in Zion) was followed by others bearing the names of his parents. In 1923 PICA (the Palestine Jewish Colonisation Association) was formed to oversee his affairs in Palestine. When Edmond died in Paris in 1934, he left a legacy which included the reclamation of nearly 500,000 dunams of land and almost 30 settlements. In 1954 his remains and those of Adelheid were brought to Ramat Hanadiv in Zikhron Ya'akov. 
— in Rothschild Archive

China prepara alternativa ao Banco Mundial

China sees new world order with oil benchmark backed by gold 
Yuan-denominated contract will let exporters circumvent US dollar
DENPASAR, Indonesia -- China is expected shortly to launch a crude oil futures contract priced in yuan and convertible into gold in what analysts say could be a game-changer for the industry. 
The contract could become the most important Asia-based crude oil benchmark, given that China is the world's biggest oil importer. Crude oil is usually priced in relation to Brent or West Texas Intermediate futures, both denominated in U.S. dollars. 
China's move will allow exporters such as Russia and Iran to circumvent U.S. sanctions by trading in yuan. To further entice trade, China says the yuan will be fully convertible into gold on exchanges in Shanghai and Hong Kong. 
"The rules of the global oil game may begin to change enormously," said Luke Gromen, founder of U.S.-based macroeconomic research company FFTT. 
(...)
China has long wanted to reduce the dominance of the U.S. dollar in the commodities markets. Yuan-denominated gold futures have been traded on the Shanghai Gold Exchange since April 2016, and the exchange is planning to launch the product in Budapest later this year.

(...)
Saudi Arabia, a U.S. ally, is a case in point. China proposed pricing oil in yuan to Saudi Arabia in late July, according to Chinese media. It is unclear if Saudi Arabia will yield to its biggest customer, but Beijing has been reducing Saudi Arabia's share of its total imports, which fell from 25% in 2008 to 15% in 2016. 
Chinese oil imports rose 13.8% year-on-year during the first half of 2017, but supplies from Saudi Arabia inched up just 1% year-on-year. Over the same timeframe, Russian oil shipments jumped 11%, making Russia China's top supplier. Angola, which made the yuan its second legal currency in 2015, leapfrogged Saudi Arabia into second spot with an increase of 22% in oil exports to China in the same period.
—in  Nikkei Asian Review, September 1, 2017 8:56 pm JST


Atualizado em 13/9/2017, 00:56, WET

quarta-feira, julho 20, 2016

Sem petróleo barato nada cresce


O shale não passou de uma manobra de diversão caríssima


O aumento da produção petrolífera americana deveu-se a um forte recurso à especulação financeira e a preços muito altos pagos pelo barril de crude. Na realidade, o Pico do Petróleo já chegou—há um ano, mais precisamente, em julho de 2015. E traduz-se assim: a procura agregada mundial não suporta preços muito acima dos 60 USD/b, mas abaixo deste valor a produção deixa de ser rentável para boa parte dos produtores. Ou seja, o fim do petróleo barato projeta o fim do petróleo caro. E assim, a grande crise começou, larvar, com as suas guerras proxi e a propagação do terrorismo organizado ou espontâneo. O sobre endividamento privado das economias, e o sobre endividamento público dos países, assinalam sintomaticamente o declinar de uma era de 200 anos assente nos combustíveis fósseis, com destaque especial para o carvão, o petróleo e o gás natural. Vamos ter que aprender rapidamente a viver com menos intensidade energética, ou perecer sob sucessivos e cada vez mais violentos conflitos pela posse do último barril de petróleo.



Gráficos in "The Peak Oil Paradox -Revisited" by Euan Mearns.

quinta-feira, maio 26, 2016

Quando os petrodólares regressam a casa

Fonte: Bloomberg

Quando o endividamento insustentável for universal só haverá uma saída: um Jubileu parcial das dívidas e a introdução de um rendimento básico garantido à escala planetária. Os suíços, et pour cause, parecem querer ser os pioneiros!


Quando os produtores de petróleo se endividam, repatriam os petrodólares que alimentaram a especulação financeira, o investimento na Europa nos EUA e na Ásia (e as lojas da Prada, claro!) ao longo das últimas décadas, e emitem agora dívida pública em quantidades industriais, parece evidente que as placas geo-estratégicas da 'World-economy' entraram num imprevisível movimento browniano!

O Bill Gross falou ontem de 'basic income', não como previsão, ou aposta, mas como algo que já está a acontecer...

Qatar’s unprecedented $9 billion Eurobond sale has pressed the re-set button for the Gulf region’s debt market. 
Bloomberg, May 26, 2016 — 7:23 AM WEST Updated on May 26, 2016 — 1:08 PM WEST 
Qatar Stuns Mideast Debt Market With Record $9 Billion Bon 
The country sold $9 billion of bonds in three maturities on Wednesday, almost double the amount expected by analysts. The issue helped push 2016 offerings from the Middle East and North Africa, which includes Saudi Arabia and the United Arab Emirates, to $29.3 billion, already a record for the first half of a year, according to data compiled by Bloomberg.
Pagar 2200 euros por mês aos cidadãos para não fazerem nada? A discussão segue na Suíça 
Expresso, 23.05.2016 às 12h00109 
Os suíços estão a discutir a atribuição de um "rendimento básico incondicional" mensal na ordem dos 2500 francos (2200 euros) em substituição de vários benefícios sociais atribuídos no país. É uma medida que vai ser votada em referendo a 5 de junho e, diz a agência Bloomberg, acabaria por colocar os seus beneficiários perto do limiar da pobreza num dos países mais caros do mundo. 
Bill Gross on Monetary Policy and Asset Prices 
Bill Gross: “Japan’s a pretty good picture for the rest of the world, maybe five or 10 years ahead. I have a sense that that’s the route central banks will pursue. They’ll keep on buying debt, keep interest rates low and then ultimately the treasury doesn’t owe them anything.” 
Bill Gross, Janus Capital fund manager, comments on the performance of the Janus Global Unconstrained Bond Fund, U.S. fiscal and monetary policies, and the current state of asset prices. He speaks with Bloomberg's Erik Schatzker at the Bloomberg FI16 conference in Beverly Hills, California. (Source: Bloomberg; 2:54 AM WEST ; May 26, 2016).

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

E depois do dólar?


O pico de crescimento americano deu-se na década de 1950. Capiche?

Quando há crescimento há mais energia e petróleo produzidos


É a procura agregada, estúpido!


Lá para 2018... quando o embuste do petróleo/gás de xisto americano ficar totalmente a descoberto, os USA voltarão a comprar no Médio Oriente, África, Canadá, Venezuela, Brasil, etc., mas quando tal suceder, o mais provável é que precisem de comprar euros para comprar petróleo.

Ou seja, o castelo de cartas do sobre-endividamento americano acabará por ruir, e o dólar será então uma espécie de moeda-peste. Quando isto acontecer, o preço do petróleo será marcado em euros, mas não poderá ir além do que for realmente o poder de compra inscrito na procura agregada mundial.

Haverá então mais uns milhões de seres humanos a consumir energia fóssil. No entanto, não terão recursos para comprar petróleo caro. O paradigma do crescimento mudou: muitos mais a crescer, mas todos a crescer mais devagar e com um rendimento per capita decrescente.

Energia e matérias primas terão que manter preços acessíveis (barril de crude a menos de 80 dólares, etc.), sob pena de ficarem por produzir e vender.

Por sua vez, as energias alternativas e a eficiência energética não poderão diminuir as necessidades de petróleo, gás natural e carvão, em mais de 30%, isto se formos todos muito eficientes.... que não somos.

Portugal, descontando a gritaria populista dos partidos aninhados em volta da manjedoura orçamental, irá crescer menos, sempre abaixo dos 2%. E assim sendo, não pode pagar 3,7% de juros pela sua descomunal dívida pública (1). Nem deve continuar a financiar a despesa inútil e burocrática do estado e das suas PPP aumentando criminosamente a fiscalidade que incide sobre a energia e os produtos petrolíferos.

A única aposta correta é produzir mais e a bom preço, exportar mais do que importamos, racionalizar o estado (e o estado social) de acordo com uma fiscalidade adequada, justa, competitiva e transparente, combater a corrupção e alterar sobretudo o quadro legal que a estimula, e melhorar radicalmente a qualidade e o preço da nossa mobilidade interna e externa, física e digital.

BP vê preços do petróleo de regresso aos 100 dólares
JORNAL DE NEGÓCIOS. Patrícia Abreu | 10 Fevereiro 2016, 16:50

Os preços do petróleo têm estado a testar novos mínimos de 12 anos em 2016. Apesar de terem recuperado parte das fortes quedas registadas no ano, as cotações continuam bastante deprimidas. Mas isto pode estar prestes a mudar. O presidente da BP antecipa que os preços acelerem até aos 100 dólares por barril.
If Chesapeake Does Not Go Bankrupt In Just Over One Month, This Could Be The Trade Of The Year
ZERO HEDGE. Submitted by Tyler Durden on 02/10/2016 12:53 -0500
É preciso rever os comentários sobre a 'nova Arábia  Saudita'
Back in March 2013, when nat gas, and pretty much everything else, was trading far higher than where it is today, investors who believed in the vision of Chesapeake'snow long gone CEO Aubrey McClendon had no problem writing a check for $500 million of other people's money to the Oklahoma gas giant, hoping to generate a "whopping" 3.25% return by the time the bonds matured on March 15, 2016.

Sadly, since then things changed.

Chesapeake - as we previously reported - is now on the verge of bankruptcy having hired K&E as a restructuring advisor, and these bonds (maturing March 15, 2016) are currently trading at 80.5 cents on the dollar.  As the chart below shows, this results in a yield that is about 100 times where it was at issue, or just shy of 300%. 

Why oil under $30 per barrel is a major problem Our Finite World. Posted on January 19, 2016 by Gail Tverberg 
Experience over a very long period shows a close tie between energy use and GDP growth (Figure 3). Nearly all technology is made using fossil fuel products, so even energy growth ascribed to technology improvements could be considered to be available to a significant extent because of fossil fuels.



[...] 9. Many people believe that oil prices will bounce back up again, and everything will be fine. This seems unlikely. 
The growing cost of oil extraction that we have been encountering in the last 15 years represents one form of diminishing returns. Once the cost of making energy products becomes high, an economy is permanently handicapped. Prices higher than those maintained in the 2011-2014 period are really needed if extraction is to continue and grow. Unfortunately, such high prices tend to be recessionary. As a result, high prices tend to push demand down. When demand falls too low, prices tend to fall very low. There are several ways to improve demand for commodities, and thus raise prices again. These include (a) increasing wages of non-elite workers (b) increasing the proportion of the population with jobs, and (c) increasing the amount of debt. None of these are moving in the “right” direction.



[...] Conclusion 
Things aren’t working out the way we had hoped. We can’t seem to get oil supply and demand in balance. If prices are high, oil companies can extract a lot of oil, but consumers can’t afford the products that use it, such as homes and cars; if oil prices are low, oil companies try to continue to extract oil, but soon develop financial problems. 
Complicating the problem is the economy’s continued need for stimulus in order to keep the prices of oil and other commodities high enough to encourage production. Stimulus seems to takes the form of ever-rising debt at ever-lower interest rates. Such a program isn’t sustainable, partly because it leads to mal-investment and partly because it leads to a debt bubble that is subject to collapse. 
Stimulus seems to be needed because of today’s high extraction cost for oil. If the cost of extraction were still very low, this stimulus wouldn’t be needed because products made using oil would be more affordable. 
Decision makers thought that peak oil could be fixed simply by producing more oil and more oil substitutes. It is becoming increasingly clear that the problem is more complicated than this. We need to find a way to make the whole system operate correctly. We need to produce exactly the correct amount of oil that buyers can afford. 
Prices need to be high enough for oil producers, but not too high for purchasers of goods using oil. The amount of debt should not spiral out of control. There doesn’t seem to be a way to produce the desired outcome, now that oil extraction costs are high. 
Rigidities built into the oil price-supply system (as described in Sections 3 and 4) tend to hide problems, letting them grow bigger and bigger. This is why we could suddenly find ourselves with a major financial problem that few have anticipated. 
Unfortunately, what we are facing now is a predicament, rather than a problem. There is quite likely no good solution. This is a worry. 

NOTAS

  1. No dia 11 de fevereiro os juros a 10 anos chegaram aos 4,5% (Jornal de Negócios: Juros de Portugal sofrem maior aumento desde a demissão irrevogável de Portas). Se Marcelo não olhar para isto com olhos de ver, o cenário de um segundo resgate será verosímil antes do verão.... PCP e Bloco, ou formam com o PS uma coligação governamental—opção coerente com as 'posições comuns'—, ou terão que abandonar a geringonça—posição incoerente e antecâmara de um colapso duradouro das esquerdas—, provocando eleições antecipadas em 2017, ou mesmo no final deste ano.

Atualização: 11/2/2016 18:57 WET

segunda-feira, setembro 14, 2015

História de Angola num gráfico


Depois do petróleo, que Angola teremos?


Se Angola não melhorar rápida e eficazmente o perfil institucional da sua quase-democracia, a incerteza sobre o futuro e a instabilidade político-militar voltarão a atormentar o país.

Valeria certamente a pena gastar 1% do seu orçamento numa revolução pacífica pela educação, competitividade, sustentabilidade, transparência, democracia e liberdade do país.

O gráfico aqui publicado é completamente claro sobre a história recente de Angola.

1960-1974: guerra colonial (exploração inicial do petróleo de Cabinda)
1975-1991: guerra civil angolana (quebra inicial da produção seguida de crescimento rápido até superar os 500 mil b/d)
1991-1994: guerra civil angolana (subida sustentada da produção; abaixo do milhão b/d)
1998-2002: guerra civil angolana (subida sustentada da produção; abaixo do milhão b/d)
2002-2011: período de paz (produção acima do milhão b/d, até próximo dos 2 milhões b/d)
2011-2015: período de paz ('peak oil', 'plateau', fim do 'boom' petrolífero angolano)

Em Angola, depois de uma subida a pique na produção de petróleo, no período de paz que se seguiu ao fim da guerra civil, a que chegaria perto dos 2 milhões de barris/dia, em 2008, a produção estagnou numa espécie de planalto, algo acima dos 1,6 milhões b/d.

Mais recentemente, com a diminuição da procura agregada mundial e a queda abrupta dos preços resultante do abrandamento económico global, Angola procurou ganhar margem comercial suplementar na exploração do petróleo impondo custos administrativos aos concessionários. Mas os concessionários não gostaram, e acabam de avisar a casta dirigente do que poderá ocorrer em Angola se insistirem no aumento político das margens.

Total: Angola vai ficar sem indústria do petróleo se não reduzir os custos 
Jornal de Negócios, 13 Setembro 2015, 18:04 por Lusa

"Se não houver uma significativa redução dos custos, tudo vai parar", disse o director-geral da Total em Angola, Jean-Michel Lavergne, em declarações à agência financeira Bloomberg, nas quais explicou que caso as condições não melhorem, a indústria petrolífera angolana "vai desaparecer", partindo do princípio que o preço do barril de petróleo se mantém nos 60 dólares.

Em causa estão as várias medidas que o Governo angolano tem tomado nos últimos anos, que fizeram os custos de produção aumentar em 500 milhões de dólares por ano, disse Lavergne durante um fórum empresarial em Luanda, no qual anunciou que está pedida uma reunião com o Governo angolano para dar conta destas preocupações causadas pelos custos da regulação.

A China estará a crescer pouco acima dos 3% ao ano, mas os especuladores, incluindo os analfabetos indígenas, adoram repicar a litania dos 7%. A China cresceu, como Angola cresceu, acima dos 7%, duplicando o PIB de dez em dez anos, enquanto dispôs de petróleo próprio em quantidade e a bom preço. No caso da China, o maná começou a jorrar em 1965, acelerou depois da Revolução Cultural, com Deng Xiaoping (1978), e o pico chegaria em... 2015. No caso de Angola, o petróleo de Cabinda começou a jorrar em 1967, acelerou a partir de 1982, e disparou depois da guerra civil (2002) até atingir o 'plateau' do 'peak oil' angolano em 2011.

O grande problema, agora, é que os países emergentes (China, Angola, Nigéria, Brasil, África do Sul, Rússia, Índia, etc.) precisam de continuar a exportar a ritmos elevados para sobreviverem, ou seja, para impedirem um retrocesso violento das suas sociedades. Acontece, porém, que perderam, ou estão a perder, as suas duas principais vantagens competitivas: a energia petrolífera barata e trabalho humano 6x, 5x, 4x, 3x, 2x mais barato que nos países industrializados e pós-industriais: EUA, Canadá, Europa ocidental, Japão, ...)

O petróleo caro ameaça os países ricos e em geral quem depende dele, mas o petróleo barato compromete gravemente o ritmo de crescimento económico e o desenvolvimento social dos países emergentes; nuns casos, grandes produtores de energia e matérias primas, noutros, regiões demográficas densamente povoadas que são também reservatórios de trabalho humano barato.

A globalização acabou, não por desejo das esquerdas desmioladas, mas pela natureza própria do fenómeno económico que lhe deu origem. O empobrecimento dos países industriais desenvolvidos tem limites que chocam com o enriquecimento relativo dos chamados países emergentes. Só num mundo pós-capitalista avançado, a teoria dos vasos comunicantes entre países pobres e ricos (e entre pessoas ricas e pobres) poderá, eventualmente, reiniciar o seu caminho de esperança democrática.

quinta-feira, agosto 06, 2015

Sem energia barata não há crescimento

Figure 12. World GDP in 2010$ (from USDA) compared to World Consumption of Energy (from BP Statistical Review of World Energy 2014)

O petróleo continua muito caro!


What we really need is more high wage jobs. Unfortunately, these jobs need to be supported by the availability of large amounts of very inexpensive energy. It is the lack of inexpensive energy, to match the $20 per barrel oil and very cheap coal upon which the economy has been built that is causing our problems. We don’t really have a way to fix this [Gail Tverberg].

Em vez de ouvir os desvarios geopolíticas sobre energia do senhor Partex (António Costa Silva) seria bem melhor ler o que escreve Gail Tverberg.

A queda dos preços do petróleo não é uma consequência do excesso de oferta e de produção, mas sim da queda agregada da procura motivada pelo preço demasiado alto do petróleo e das commodities em geral.

Neste momento, o preço do petróleo está abaixo do seu custo real uma vez descontado o efeito inflacionista do mercado especulativo que é por definição o seu. Deste modo a indústria petrolífera tenta responder à estagnação económica induzida, precisamente, pelo preço insustentável da energia e das matérias primas—do petróleo, do gás natural, da terra fértil, da água potável, das sementes e dos metais comuns, preciosos e raros.

Em suma, o petróleo está a ser vendido abaixo do seu preço de custo (deflação) porque se tornou demasiado caro. O petróleo barato acabou em 2006 (Peak Oil).

Sem crescimento do consumo energético não há crescimento. Sem crescimento, o endividamento gera instabilidade económica, financeira, social e política.

Ponto.

E agora?

Figure 1. Oil as a percentage of total energy consumption in 2006, based on June 2015 Energy Information data. (Inverted order from chart originally shown.)

Nine Reasons Why Low Oil Prices May “Morph” Into Something Much Worse
by Gail Tverberg
Posted to Our Finite World on July 22, 2015

[...]

4. The way workers afford higher commodity costs is primarily through higher wages. At times, higher debt can also be a workaround. If neither of these is available, commodity prices can fall below the cost of production.

If there is a significant increase in the cost of products like houses and cars, this presents a huge challenge to workers. Usually, workers pay for these products using a combination of wages and debt. If costs rise, they either need higher wages, or a debt package that makes the product more affordable–perhaps lower rates, or a longer period for payment.

Commodity costs have been rising very rapidly in the last fifteen years or so. According to a chart prepared by Steven Kopits, some of the major costs of extracting oil began increasing by 10.9% per year, in about 1999.

In fact, the inflation-adjusted prices of almost all energy and metal products tended to rise rapidly during the period 1999 to 2008 (Figure 7). This was a time period when the amount of mortgage debt was increasing rapidly as lenders began offering home loans with low initial interest rates to almost anyone, including those with low credit scores and irregular income. When debt levels began falling in mid-2008 (related in part to defaulting home loans), commodity prices of all types dropped.

Figure 6. Figure by Steve Kopits of Westwood Douglas showing trends in world oil exploration and production costs per barrel. CAGR is “Compound Annual Growth Rate.”


O que aí vem

O RUÍDO PARTIDÁRIO EM VOLTA DOS ÚLTIMOS NÚMEROS DO EMPREGO É UM RUÍDO POPULISTA QUE DEVE SER DENUNCIADO E DESPREZADO.

Sem uma disponibilidade crescente de energia barata (sobretudo petróleo e combustíveis líquidos em geral, abaixo do 40USD/b) não há crescimento; sem crescimento não há emprego, há desemprego e há substituição de emprego caro por emprego barato e mais eficientemente servido por máquinas e sistemas inteligentes. Esta espiral descendente é de natureza recessiva e deflacionista, sobretudo à medida que a capacidade de endividamento e de monetização das dívidas se esgota nos Estados Unidos, na Europa, na China...

Os governos têm cada vez menos controlo sobre esta dinâmica, e na luta entre capital e trabalho, desta vez, ambos empobrecem: número crescente de falências industriais e bancárias, empobrecimento das classes médias e colapsos financeiros de grande magnitude, com consequências terríveis, por exemplo, na bancarrota iminente de vários países, regiões e cidades.

Onde melhor podemos antever o nosso futuro, se nada fizermos e nos deixarmos embalar pelo populismo estridente das nomenclaturas partidárias instaladas, é nas vagas de migração de África para a Europa. Os níveis de rendimento destes países é há muito totalmente incompatível com o custo da energia e matérias primas disponíveis... Quando o barril de crude desce abaixo dos 60USD a maioria dos países exportadores de petróleo e gás natural deixam de obter as gigantescas receitas e margens de lucro e de rapina que têm alimentado as suas altíssimas taxas de crescimento e os investimentos e a especulação financeira nos Estados Unidos e na Europa.

sexta-feira, abril 10, 2015

Estados Unidos sem petróleo em 2033, ou antes

Petróleo americano: reservas reconhecidas (1993-2013)
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O fracking foi uma tentativa vã de esconder o fim do petróleo americano


Se os EUA dependessem apenas das suas reservas reconhecidas de crude (petróleo de xisto incluído), as mesmas, mantendo-se constante o consumo de 2014, durariam apenas 7 anos. Repito sete anos!

Percebe-se agora porque Washington empenha tanto dinheiro virtual em armamento e dispositivos bélicos espalhados por todas as regiões ricas em hidrocarbonetos deste planeta.

Vamos por partes

Todos os dados consultados são oficiais e estão publicados pela EIA—Energie Information Administration. Algumas das contas são da minha responsabilidade.

  • Reservas reconhecidas de crude em território dos EUA: 36.500.000.000 de barris.
  • Consumo anual de produtos petrolíferos em barris de crude equivalente (bce), descontados o GTL (gas-to-liquids) e os biodieseis da equação: 5.150.000.000 barris.
  • Importações de crude e produtos petrolíferos em 2014: 3.365.489.000 bce.
  • Exportações de crude em 2014: 126.290.000 barris.
  • Saldo entre exportações e importações de crude e produtos petrolíferos: -3.239.199.000 bce (est.)
  • Produção (excecional) de crude em 2014: 3.168.200.000 barris.
  • Consumo de reservas próprias em 2014: 1.910.901.000 barris (est.)

Os 100 principais reservatórios de petróleo americano
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Desta relação de dados conclui-se o seguinte:
  1. sem importação de crude e produtos petrolíferos, e permanecendo constante o consumo anual registado em 2014, as reservas comprovadas de crude americano durariam apenas sete anos.
  2. mantendo constantes a produção, o consumo, a exportação e as importações de 2014, as reservas comprovadas de crude esgotar-se-iam ao longo dos próximos dezanove anos, ou seja, por volta de 2033.
A gravidade deste panorama é de uma dimensão difícil de interiorizar. Tão assustadora que se torna extremamente difícil abordar o tema na praça pública. As alternativas ditas sustentáveis, baseadas nas chamadas energias renováveis, são risíveis perante a dimensão do fenómeno conhecido como Pico do Petróleo (Peak Oil). A aposta no regresso ao uso intensivo do carvão, que aliás nunca perdeu protagonismo, levada a cabo pela China, revelou-se um desastre ambiental de proporções dantescas. Resta-nos tentar mitigar estes impactos catastróficos recorrendo ao uso generalizado do gás natural. É em volta deste recurso energético relativamente abundante que a humanidade espera agora poder ganhar tempo para transitar de uma sociedade baseada no uso intensivo de energia barata para algo que ninguém consegue ainda imaginar o que seja, ou possa ser.

Entretanto, o circo macabro das guerras e das atrocidades sem nome já começou nas regiões onde as principais reservas de gás natural se situam.


POST SCRIPTUM


The downturn in US oil production?
By Kjell Aleklett. Posted on April 4, 2015

Since November the number of active drilling rigs in the USA has declined dramatically. Baker Hughes Rig Count has just reported that, in the last 6 days, a further 20 rigs have terminated their activity. Since the peak at 1,600 active rigs in November, the number has now dropped to only 802. (...)

Those of us who know that production from fracking wells declines quite rapidly have been waiting for a decline in the USA’s oil production and now the USA’s Energy Information Administration (EIA) has reported a production decline of 36,000 barrels in the last week of March.

Atualização: 11/4/2015, 01:05 WET


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sexta-feira, abril 03, 2015

Angola exit

Aproximamo-nos doutro Momento Minsky?
Clique na imagem para ampliar. Ver gráfico dinâmico Plus500

A corrida ao ouro negro angolano pode ter chegado ao fim


“Atendendo à particularidade da situação que muitos grupos portugueses vivem em Angola, nomeadamente Pequenas e Médias Empresas (PME), o Governo tomou a decisão de operacionalizar uma linha de crédito de apoio à tesouraria e fundo de maneio das empresas com uma dimensão de 500 milhões de euros, com prazo máximo de dois anos e carência de um ano”, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros.

O ministro da Economia, Pires de Lima, explicou que cada empresa pode fazer uma utilização máxima de 1,5 milhões de euros para não ser considerada «uma ajuda de Estado», explicando que o objetivo é dar uma «almofada financeira» para as empresas poderem gerir o período que se vive em Angola, resultante da descida do preço do petróleo — in TVI24, 2 abril 2015, 13:04.

Só a TAP pode estar a ser prejudicada, na difícil reconversão de kwanzas em euros, em 40 a 96 milhões de euros por ano (1) desde que o petróleo caiu abaixo da barreira dos 75 dólares por barril e as divisas começaram a escassear em Angola.

Podemos multiplicar a repercussão desta seca de divisas por quase dez mil empresas a operar em ou com Angola, entre as quais haverá que destacar as construtoras e os gabinetes de engenharia e arquitetura portugueses que fugiram da pré-bancarrota precipitada pelos que agora querem regressar alegremente ao poder.

A linha de crédito lançada in extremis pelo governo é um sinal de alarme a que convém dar a devida atenção. Pode estar em causa o colapso de centenas de empresas portuguesas, e dificuldades acrescidas em algumas das grandes empresas e bancos do regime. Convém, pois, saber quais as empresas que recorrerão a esta corda de salvação, e como.

A procura agregada mundial começou a declinar depois de um período de redistribuição (BRICS), e responde cada vez menos aos estímulos da oferta (deflação e monetização das dívidas). Parte importante dos petrodólares e dos petroeuros terão que regressar aos respetivos países produtores de petróleo, gás natural, soja, etc. (daí a repressão dos movimentos de conversão cambial e correspondente exportação de rendimentos de trabalho e de capital), sob pena de as revoluções sociais e as guerras entre vizinhos estalarem em catadupa, varrendo boa parte das nomenclaturas que nos habituámos a considerar estáveis. Não me admiraria nada que os Estados Unidos reativassem a guerrilha em Cabinda.


NOTAS
  1. TAP condiciona venda de bilhetes em Angola
    Negócios, 27 Janeiro 2015, 16:14 por Wilson Ledo

    "A TAP realiza um voo diário entre Lisboa e Luanda. Uma viagem ida e volta entre as duas cidades, em classe turística, ronda os 1.150 euros. O ano passado, nesta rota, a companhia transportou mais de 140 mil passageiros".


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sábado, janeiro 24, 2015

Petrobras: pré-sal ou lixo?

Dívida líquida da Petrobras supera os 100 mil milhões de dólares


Uma bolha que vai rebentar, mesmo antes de provar o famoso petroleo do pré-sal.

Muito cuidado com os negócios no Brasil, já para não mencionar a Venezuela, Angola e Moçambique, entre outros, com particular destaque para os contratos mediados pelos respetivos governos e empresas estatais. Todos estes países, exportadores de petróleo, gás natural e outras matérias primas, dependem criticamente de preços do barril de crude acima dos 80 ou mesmo acima dos 100 dólares. Dependem, também, da estabilidade cambial e de um dólar barato. Tudo, em suma, o que foram perdendo nos últimos meses. Os petrodólares regressam a casa, para acudir às necessidades de financiamento interno das economias, e para travar a contestação social que tenderá a crescer à medida em que os governos se endividam para além da sustentabilidade.

O preço do petróleo caiu 50% e não voltará aos >100 dólares (promessa de sua Alteza Real Bin Talal, da Arábia Saudita). Na opinião do grande exportador saudita, que considera haver mais de 100 milhões de barris de petróleo iraniano à espera de entrar no mercado, o preço do crude deverá estabilizar algures entre os 45-50 dólares e os <100 dólares. Por outro lado, preços na casa dos 45 dólares rebentarão com o fracking e com outras explorações anti-económicas (pré-sal, etc.) Para termos uma ideia, a produção do petróleo das areias betuminosas do Canadá custa sensivelmente 80 dólares o barril, mas o preço de venda chegou a cair até aos $38!

O grande problema que agravará a situação económica, política e social em muitos BRICS é que quase todos estes países são governados por cleptocracias, revestidas de regimes democráticos mais formais do que reais. A corrupção é pandémica e as decisões de comando raramente obedecem à racionalidade, nomeadamente à racionalidade capitalista liberal. O perigo de acumulação de dívidas impagáveis e de colapso financeiro nestes países tenderá, pois, a agravar-se.

Foi também por não conhecer esta realidade, nomeadamente em Angola, que o pirata-mor do BES arruinou o banco e o grupo financeiro. Menos mal que Pedro Queiroz Pereira (Semapa) viu-as vir e sacou a tempo as empresas produtivas do nosso Titanic financeiro.

Brazilian state-run oil giant Petrobras faces threat of default on US$54-billion in debt

RIO DE JANEIRO — Petrobras, Brazil’s state-run oil company, could be declared in technical default on some of its foreign debt as early as Tuesday if bondholders pursue efforts to force it to speed up its assessment of losses in a giant corruption scandal.

The push, led by New York-based Aurelius Capital, applies to US$54 billion of Petrobras bonds governed by U.S. law in New York state. Aurelius, a “distressed debt” fund, is asking investors to put the company into default as “a precautionary step,” according to a Dec. 29 letter from the firm reviewed by Reuters. 
Oil Dinosaurs Face Extinction: State Oil Companies and the Meteor-Strike of Low Oil Prices 
Charles Hugh Smith: State-owned oil companies that don't slash expenses to align with revenues and boost critical investment in the infrastructure needed to maintain production will suffer financial extinction.

Domestic and international energy companies are responding to the 50% decline in the price of oil by doing what's necessary to remain in business: they're slashing payroll, postponing capital investments, delaying new projects and soliciting price cuts from suppliers and subcontractors.

This is the discipline of profit-driven capitalism: if expenses exceed revenues, profits vanish, losses pile up, capital contracts and eventually the company runs out of cash (and access to credit) and closes down.

Unfortunately for state-owned oil companies, the feedback of expenses, losses and access to credit are superceded by the need to feed hordes of parasites: the state-owned company exists not to generate profits but to fund large payrolls and support state officials and cronies.

Stripped of the discipline of markets and profits, state-oil companies exist to serve the interests of the state's Elites and their cronies and favored constituents. As a result, critical infrastructure has fallen into obsolescence, capital investments have been hollowed out and the expertise needed to maintain production has eroded.

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Esqueçam o crescimento em 2015!

Foto: Reuters

Petróleo barato e dólares caros: uma combinação explosiva para 2015


Segundo o BoA, a suspensão do QE em dólares será compensada apenas em 30% pela soma dos estímulos previstos no Japão e UE. Consequência: um maremoto financeiro global com epicentro nos países emergentes: Rússia, Turquia, Brasil, Indonésia, Angola, Letónia, Peru, etc...

A subida sustentada do dólar arrastará perdas de rendimento gigantescas nas moedas locais em que muita da dívida dos países emergentes foi negociada. Exemplo: investimentos de fundos de pensões americanos e europeus nos países emergentes, em busca de taxas acima dos 1%! Exemplo: empréstimos bancários em dólares a empresas angolanas de construção que vendem os imóveis e os serviços associados em kwanzas.

A fuga dos atoleiros financeiros em que os países emergentes, que representam já 50% da economia mundial, se poderão transformar a curto prazo já começou, mas o impacto só será sentido, e de que maneira, a partir de 2015.

O regresso dos euros vai encontrar um continente a nadar em EQE, a próxima moeda virtual da UE. Taxas de juro: menos de zero!

Haverá, por causa deste cenário mais do que provável, uma procura em massa da moeda americana que, depois de ter suspendido o QE, se afastará progressivamente do ZIRP (Zero Interest Rate Policy)?

Irá o dólar valorizar e ultrapassar em breve o euro?

Crescimento? Quem falou de crescimento? Só se foi o Costa das Caravelas.

UM SANTO NATAL, mas com os cintos de segurança bem apertados!


fx-rate

Fed calls time on $5.7 trillion of emerging market dollar debt

World finance is rotating on its axis. The stronger the US boom, the worse it will be for those countries on the wrong side of the dollar

The US Federal Reserve has pulled the trigger. Emerging markets must now brace for their ordeal by fire.

They have collectively borrowed $5.7 trillion in US dollars, a currency they cannot print and do not control. This hard-currency debt has tripled in a decade, split between $3.1 trillion in bank loans and $2.6 trillion in bonds. It is comparable in scale and ratio-terms to any of the biggest cross-border lending sprees of the past two centuries.

Much of the debt was taken out at real interest rates of 1pc on the implicit assumption that the Fed would continue to flood the world with liquidity for years to come. The borrowers are "short dollars", in trading parlance. They now face the margin call from Hell as the global monetary hegemon pivots.

By Ambrose Evans-Pritchard
The Telegraph, 9:27PM GMT 17 Dec 2014

quinta-feira, dezembro 18, 2014

A bolha de xisto já rebentou!

A ilusão petrolífera americana foi mais uma bolha especulativa


A voz corrente confundiu, uma vez mais, o desejo com a realidade.

O desejo é que haja abundância eterna de petróleo fino na crosta terrestre. A realidade é que o petróleo só poderia continuar a servir a era de crescimento rápido que a Humanidade conheceu nos últimos duzentos anos se os custos da produção deste, bem como a produção do carvão e do petróleo de carvão, do GTL e de outras fontes móveis e imóveis (eólicas, paineis solares e barragens, por exemplo) de energia não tornar as operações comercialmente impossíveis, o que já está a ocorrer por toda a parte. Não se pode gastar mais na produção de um bem do que o preço máximo pelo qual o poderemos vender!

The Fracturing Energy Bubble Is the New Housing Crash
Submitted by Tyler Durden on 12/17/2014 18:10 -0500
Zero Hedge
The graph below which shows that every net job created in the US during the last seven years is attributable to the shale states will be one of the first to morph into a less happy shape.




But there is something else even more significant. The global oil price collapse now unfolding is not putting a single dime into the pockets of American households - the CNBC talking heads to the contrary notwithstanding.  What is happening is the vast flood of mispriced debt and capital, which flowed into the energy sector owning to the Fed’s lunatic ZIRP and QE policies, is now rapidly deflating.

That will reduce bubble spending and investment, not add to economic growth. It’s the housing bust all over again.
"It's A Huge Crisis" - The UK Oil Industry Is "Close To Collapse"
Submitted by Tyler Durden on 12/18/2014 23:21 -0500
Zero Hedge
"Almost no new projects in the North Sea are profitable with oil below $60 a barrel, he claims. 'Everyone is retreating'"

Comstock Suspends Drilling In Eagle Ford Due To Plunging Oil Prices
Submitted by Tyler Durden on 12/18/2014 16:26 -0500
Zero Hedge

Shale 0 - Saudi Arabia 1

Following one after another major and shale company announcing plans to trim capex (even as they miraculously still get to keep their revenue and EPS projections intact, for now), the latest victory handed to Saudi Arabia on a silver platter comes courtesy of Comstock Resources (Total Debt/EBITDA 2.4x, EBITDA $421MM, CapEx $674MM) Comstock Resources said earlier today that in response to low oil prices, plans to suspend oil directed drilling activity in its Eagle Ford shale properties and in Tuscaloosa Marine shale.

It was not immediately clear how many high-paying oilfield jobs would be promptly terminated as a result of this unambiguously good development.


Calculating The Breakeven Price For The Median Bakken Shale Well

Submitted by Tyler Durden on 12/19/2014 14:26 -0500
Zero Hedge

Authored by CEO of the SOFA,

A lot of data has been thrown around recently concerning the Bakken shale wells of North Dakota in an attempt to figure out the necessary oil price required to break even on the investment.  In order to get a clearer picture of the financial situation in Bakken, it is necessary to develop a financial model of the median Bakken well (attached). 

With a discount rate of 15%, the median well has a profitability index of 1.02 (after federal income tax) if $66 per barrel is used.   (A profitability index of 1.0 indicates a break even situation at the discount rate that was used in the model).  This means that at $66 per barrel, half the wells are uneconomic.  If oil prices settle out at this price it can be expected that the number of wells drilled should be reduced by about half.

If the current oil price of $55 per barrel is used, the initial production rate has to be increased to 800 BPD in order to break even.  According to the J.D. Hughes data, 25% of the wells have an initial production rate of 1000 BPD or more.  Accordingly, if oil prices settle out at the current price, the number of wells drilled will be about a quarter of the present number.


Oil Crash Exposes New Risks for U.S. Shale Drillers
By Asjylyn Loder Dec 19, 2014 8:19 PM GMT+0000
Bloomberg

Shares of oil companies are also dropping, with a 49 percent decline in the 76-member Bloomberg Intelligence North America E&P Valuation Peers index from this year’s peak in June. The drilling had been driven by high oil prices and low-cost financing. Companies spent $1.30 for every dollar earned selling oil and gas in the third quarter, according to data compiled by Bloomberg on 56 of the U.S.-listed companies in the E&P index.

Financing costs are now rising as prices sink. The average borrowing cost for energy companies in the U.S. high-yield debt market has almost doubled to 10.43 percent from an all-time low of 5.68 percent in June, Bank of America Merrill Lynch data show.

Atualização: 19 dez 2014 23:45 WET

quinta-feira, novembro 13, 2014

O incidente de Timor visto por Ramos-Horta

José Ramos-Horta, ex-presidente de Timor

Onde há petróleo há corrupção, e muita!


Não escrevemos nada sobre este assunto até hoje, por manifesta falta de informação. A agitação indígena sobre o ultraje sofrido por alguns portugueses expulsos de Timor pareceu-me exagerada e, como sempre, sem substância. Enquanto o caso não se esclarece, se é que algum dia será esclarecido totalmente, vale a pena ler o testemunho de um dos mais importantes embaixadores da causa timorense, antigo presidente de Timor e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, sobre este desagrável assunto.

OAM

David Vs Golias 
- Xanana Vs Conoco Philips & Co.

Hesitei em opinar sobre esta matéria pois não estava na posse de informações fidedignas embora há muito me chegavam rumores muito perturbadores com alegações gravosas nada abonatórias da Justiça em Timor-Leste.

A Justiça em Timor-Leste padece de muitas debilidades; mas o mesmo acontece com a maior parte da nossa Administração Pública. Obviamente cada setor tem o seu peso relativo e a Justiça pesa muito mais porque tem ramificações mais graves quando não funciona com competência profissional e integridade inquestionáveis.

A questão central para o Governo Timorense e para todos os Timorenses, de todos os quadrantes sociais e politicos, está no Tribunal de Díli: o embate entre David (Timor-Leste) e Golias (as famigeradas "Sete Irmãs", assim são conhecidas as sete mais poderosas empresas petrolíferas do mundo).

O Governo exibiu provas documentais, até agora não contestadas, de falhas gravosas de quem julgou o processo - Estado de Timor-Leste Vs Conocco Philips - lesando seriamente o Estado. Que haja então uma auditoria objetiva e aprofundada da Justiça em Timor-Leste.

Como Timorense fiquei muito entristecido e profundamente desiludido com as ofensas públicas e injuriosas contra o nosso Primeiro Ministro Xanana Gusmão.

Houve poucas vozes serenas. Saliento o Prof. Pedro Bacelar (Universidade do Minho) e o Irmão Guineense, Fernando Casimiro "Didinho" (http://www.didinho.org/) que revelaram honestidade e coragem intelectuais impares.

Não existe em Timor-Leste qualquer animosidade em relação aos Portugueses. E não poderia haver! Este imbróglio implica apenas uma parte, embora muito importante, da cooperação Portugal / Timor-Leste.

Fiquei consternado com a ordem de expulsão. Eu teria gerido a situação de uma outra maneira: teria convidado o Embaixador de Portugal para uma conversa íntima de amigos; ter-lhe-ia entregue o dossier acusatório; e face à documentação apresentada, os dois Governos amigos decidiriam em conjunto os passos seguintes.

Durante mais de uma década, fui apoiado no MNE (2001-2006), na Primatura (2006-2007) e na Presidência, (2007-2012) por assessores de países da CPLP e de muitas outras nacionalidades - e todos foram um exemplo de profissionalismo e dedicação, de todos guardo gratas recordações.

A cooperação Portugal / Timor-Leste tem sido exemplar, a todos os níveis. Um exemplo saliente de sucesso no setor de Educação é comprovado pelas longas filas de espera em todo o País, de pais ansiosos por ingressar os filhos na Escola Portuguesa de Díli assim como nas Escolas de Referência nos Distritos.

Ainda nesta área, temos o programa coordenado pela Fundação das Universidades Portuguesas na formação e gestão da Faculdade de Direito da UNTL, hoje bastante prestigiada, talvez a que se pode classificar de maior sucesso.

Na área de Defesa e Segurança: as relações desenvolvidas entre as duas forças são um modelo; a qualidade de formação administrada por instrutores Portugueses é visível; outro tanto tem sido a cooperação no setor de formação policial com o apoio da PSP.

A GNR deixou muito bom nome entre todos os Timorenses pelo seu profissionalismo e eficácia na actuação operacional, granjeando respeito mesmo junto dos gangues que gostavam de provocar e testar a GNR.

E não nos podemos esquecer da excelente e generosa cooperação das autarquias, Câmaras, ONGs, Igrejas Portuguesas etc, que trabalham diretamente com as populações em áreas esquecidas do nosso Pais.

O Maun Bot Xanana é um Amigo sincero e grato de Portugal; que ninguém duvide disto.

Depois do malogrado poeta Borja da Costa e do escritor Luís Cardoso (Takas), Xanana será o maior poeta e cultivador da Língua Portuguesa em toda a Ásia.

Graças a ele, a sua visão e coragem, apoiado por líderes como Francisco Lu-Olo Guterres e Mari Alkatiri, Mário e João Carrascalão, os nossos venerados Bispos, o Jesuíta Pe. Filomeno Jacob, a língua Portuguesa, moribunda em 1999-2000, com menos de 1% de falantes, ressuscitou, bem viva, falada ou entendida, por cerca de 30% da nossa população em apenas 10 anos, número que continua a crescer.

O incidente dos magistrados toldou com uma nuvem carregada as relações entre os nossos Países, mas estas relações históricas e humanas profundas deveriam sair reforçadas deste mau tempo. Tentemos colocar este episódio dos magistrados no passado e ao mesmo tempo investir mais seriamente no setor de Justiça, pilar indispensável do Estado democrático.


in
José Ramos-Horta, Facebook 

ÚLTIMA HORA

A confusão está de volta a Timor

Juízes timorenses “apavorados” pedem ajuda. Público, 12/11/2014

Foi precisamente esta quarta-feira que se assinalaram os 23 anos sobre o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Informações chegadas a Glória Alves dão conta de que na cerimónia que ali teve lugar, o primeiro-ministro Xanana Gusmão foi apupado e apelidado de corrupto. A procuradora pensa que o perigo que correm os seus colegas tem mais a ver com um eventual linchamento popular do que com aquilo que as autoridades lhes possam vir a fazer: “Em Timor é fácil criar focos de instabilidade popular e inflamar as massas, e já sucederam linchamentos no passado”.

Atualização: 13 nov 2014 14:02 WET

sexta-feira, novembro 07, 2014

Petróleo, gás, Síria e Estado Islâmico

Gasoduto do Nabucco: a resposta à chantagem de Putin

O dossier energético e a guerra na Síria: o caso do pipeline Irão-Iraque-Síria


Por José Manuel Castro Lousada

I - Primeiro as generalidades

De um lado temos o governo sírio, dirigido por um alauíta do partido Baath, xiitas, sunitas moderados, cristãos, ortodoxos, curdos e drusos. Assad é apoiado pela Rússia, Irão, Líbano, Hezbollah e palestinos. De outro lado, a oposição síria "livre" e grupos sunitas, alguns dos quais extremistas. EUA, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Qatar e Turquia apoiam de alguma forma os rebeldes, fornecendo armas e dando cobertura política.

No Médio Oriente a política e a religião estão interligadas. A guerra mexe com toda a região e com a temperatura internacional. A Síria tem um governo autoritário. Não obstante, desde há duas décadas e até ao início da revolta na rua em 2011, Assad conseguiu manter a unidade nacional, proporcionando à população educação e saúde gratuitas, garantindo às diferentes comunidades étnicas uma convivência pacífica. Os cristãos não eram perseguidos, apesar de não serem a maioria, mas na Síria não há maiorias expressivas.

Os EUA e seus aliados são acusados de apoiar directa ou indirectamente a Jablat Al Nusra e outras organizações jihadistas por intermédio do Exercito Sírio Livre e de outros "moderados", para destruir a Síria laica e independente. Invocaram que Assad é um tirano e que usou armas químicas contra o seu povo, mas a Rússia e a imprensa internacional mostraram armas químicas na posse da Al Nusra que, segundo alegado, foram fornecidas pelos norte-americanos e estados do Golfo. Israel está de atalaia.

A rebelião popular de 2011 surgiu no quadro da Primavera Árabe. Para alguns analistas, especialmente iranianos e russos, houve um aproveitamento das primaveras árabes para orquestrar a queda de Assad. A revolução na rua terá sido incentivada pelos EUA, Reino Unido, Holanda e parceiros do clube Bilderberg. Argumentam que os operacionais da Al Nusra e organizações similares não falam siríaco mas sim árabe e que muitos rebeldes "moderados" não são sírios.

Em 2011 existiam dezenas de bancos na Síria, o que indiciava um razoável nível de liberdade económica. Haverá corrupção no governo ou em redor do governo, como em muitos outros países. Tem-se afirmado também que o regime não permite eleições livres, segundo um padrão ocidental. Mas qual é o país árabe onde existem eleições livres e democráticas? A Al Zajeera e a Al Arabia têm manipulado os media contra Assad e a comunidade internacional diabolizou-o a partir de 2003, quando recusou apoiar a guerra contra o Iraque. O que ainda mantém o regime são as instituições sírias, o povo e as forças armadas. E, evidentemente, o apoio da Rússia e do Irão.

É provável que se Assad cair a guerra civil sectária continue, numa senda de progressiva balcanização do território, sendo o poder ocupado por grupos islâmicos que não vão permitir a existência de outros credos. Cristãos, curdos, drusos, xiitas e alauítas, ou seja um total de 4 milhões de sírios, aguardarão o resultado da guerra para saber se podem continuar no país. Perspectivando soluções de governo: os sunitas são aproximadamente 65% da população e aspiraram exercer o poder. Olhando para o padrão da península arábica, o mais natural será o nascimento de um novo estado islâmico sob os auspícios da Irmandade Muçulmana. No que em particular interessa aos cristãos, a queda do regime de Damasco apressará o fim da história da Cristandade no Médio Oriente. Os maronitas do Líbano não conseguirão evitar a pressão dos islamitas sírios ou absorver a infindável chegada de refugiados.

O chamado Gasoduto Islâmico


II - A conexão entre a política energética e a guerra na Síria

O que estava errado num dos países mais democráticos e multi-culturais do Médio Oriente, a Síria, para chamar a atenção do Ocidente e concitar a oposição dos defensores da democracia, ao ponto de serem considerados "combatentes da liberdade" indivíduos que no Ocidente seriam tratados como terroristas?

Os problemas geopolíticos relacionados com a produção, transporte e uso do gás natural - eventualmente o principal combustível do século XXI - estão, talvez, mais do que qualquer outro tema, no radar dos estrategas ocidentais. F. William Engdahl, consultor em energia, diz que o gás natural é o ingrediente inflamável que alimenta a corrida à energia na região. A guerra em curso é sobre se os gasodutos que abastecerão a Europa, de leste para oeste, seguirão do Irão e do Iraque para a costa mediterrânea da Síria, ou se farão uma rota mais pelo norte, do Qatar e da Arábia Saudita, através da Síria e da Turquia. Tendo percebido que o fluxo do encalhado pipeline Nabucco (e de todo o Corredor Meridional) é abastecido apenas por reservas do Azerbaijão, e que não pode nunca igualar o fornecimento russo para a Europa ou impedir a construção do South Stream, o Ocidente está com pressa em recorrer ao Golfo Pérsico. A Síria, elo fundamental nesta cadeia, alinha com o Irão e a Rússia. Como tal, ter-se-á decidido nas capitais ocidentais que Assad tem de cair. A luta pela democracia é uma falsa bandeira exibida para encobrir objectivos não declarados.

Recorde-se que a rebelião na Síria teve início há três anos, quase ao mesmo tempo em que era assinado em Bushehr, no sul do Irão, em 25 de Junho de 2011, um memorando respeitante à construção de um novo gasoduto Irão-Iraque-Síria, para ligar 1.500 km desde Asaluyeh, no campo de gás natural de North Dome/South Pars (compartilhado pelo Qatar e pelo Irão), a Damasco. O gasoduto percorre 225 km em território iraniano, 500 km no iraquiano e 500-700 km em terra síria. Mais tarde, poderá prolongar-se pelo leito do Mediterrâneo até à Grécia. A possibilidade de fornecimento de gás liquefeito para a Europa através dos portos sírios no Mediterrâneo também está em cima da mesa. Os investimentos montam a 10 biliões de dólares.

O projecto, conhecido por "gasoduto islâmico", deveria entrar em operação entre 2014 e 2016. A capacidade projectada é de 110 milhões de metros cúbicos de gás por dia (40 biliões de m3/ano). Iraque, Síria e Líbano já assumiram que necessitam do gás iraniano (25-30 milhões de m3/dia para o Iraque, 20-25 milhões de m3 para a Síria e 5-7 milhões de m3 para o Líbano até 2020). Uma parte será fornecida através do sistema de transporte de gás árabe para a Jordânia. O projecto concorreria com o Nabucco, promovido pela União Europeia (capacidade estimada de 30 bilhões de m3 de gás/ano), que não tem reservas suficientes. Planeou-se o trajecto do Nabucco pelo Iraque, Azerbaijão, Turcomenistão e Turquia. Após a assinatura do memorando sobre o Pipeline Islâmico, o director da Companhia Nacional de Gás Iraniano (NIGC), Javad Oji, afirmou que o South Pars, com reservas de 16 triliões de m3, é uma "fonte confiável de gás e um pré-requisito para a construção de um gasoduto com uma capacidade que o Nabucco não tem". Cerca de 20 biliões de m3/ano seguiriam para a Europa, concorrendo com os 30 biliões do Nabucco, mas não com os 63 biliões do South Stream russo.

Um gasoduto do Irão seria altamente rentável para a Síria. A Europa também beneficiaria com a construção, mas no Ocidente há outras ideias. Os parceiros fornecedores de gás do Golfo Pérsico não estavam satisfeitos com a concorrência, nem era suposto estarem, nem sequer o transportador número um, a Turquia, que ficaria fora de jogo. A "Unholy Alliance" constituída para o negócio declarou ter por objectivo "proteger os valores democráticos" no Médio Oriente, ao arrepio da forma como as monarquias do Golfo lidam com tais valores.

Os estados sunitas percepcionam o Pipeline Islâmico segundo contradições interconfessionais, considerando-o um "gasoduto xiita do Irão xiita, através do território do Iraque com a sua maioria xiita e para o território do amigo xiita-alauíta Assad". Como refere F. William Engdahl, este drama geopolítico é intensificado pelo facto de o campo de Pars Sul se encontrar no Golfo Pérsico, directamente na fronteira entre o Irão xiita e o Qatar sunita que, não sendo adversário para o Irão, faz uso activo das suas ligações à presença militar dos EUA e britânica no Golfo Pérsico. No território do Qatar está um nó do “Pentagon’s Central Command of the U.S. Armed Forces”, o quartel-general do “Head Command of the U.S. Air Force”, o “N.º 83 Expeditionary Air Group of the British Air Force” e a “379th Air Expeditionary Wing of the U.S. Air Force”. O Qatar, escreve Engdahl, tem outros planos para o Pars Sul, é avesso a esforços conjuntos com o Irão, Síria e Iraque, e fará o possível para impedir a construção do pipeline, incluindo armar os "rebeldes", muitos deles sauditas, paquistaneses e líbios.

A determinação do Qatar é ainda alimentada pela descoberta, em 2011, de uma área de produção de gás na grande Síria, perto da fronteira com o Líbano, não muito longe do porto mediterrâneo de Tartus, arrendado à Rússia, e pela detecção de um importante campo de gás perto de Homs. Segundo estimativas preliminares, tais descobertas devem aumentar substancialmente as reservas de gás do país, que já ascendiam a 284 biliões m3. A perspectiva da exportação de gás sírio ou iraniano para a Europa através de Tartus joga contra os interesses do emirado e dos seus patronos ocidentais.

Segundo a Global Research, o jornal árabe Al-Akhbar revelou informações sobre um plano aprovado pela administração norte-americana destinado à construção de um gasoduto Qatar-Europa, envolvendo a Turquia e Israel. A capacidade não é mencionada, mas, considerando os recursos do Golfo Pérsico e do Mediterrâneo oriental, poderia ultrapassar tanto a do Pipeline Islâmico como a do Nabucco, fazendo frente ao South Stream russo. O principal encarregado do projecto é Frederick Hoff, "responsável pelas questões de gás no Levante" e membro do "Comité norte-americano para a crise síria". O pipeline teria origem no Qatar, atravessaria território saudita e jordano, contornando o Iraque xiita, até chegar à Síria. Perto de Homs, o gasoduto ramificar-se-ia em três: para Latakia, Trípoli, no norte do Líbano, e Turquia. Homs, onde existem reservas de hidrocarbonetos, é o "principal entroncamento do projecto". Nas proximidades da cidade e do ponto-chave Al-Qusayr travam-se algumas das batalhas mais ferozes e é o sector onde o futuro da Síria se joga: os locais onde os rebeldes operaram com o apoio dos EUA, Qatar e Turquia, ou seja a norte, Homs e arredores de Damasco, coincidem com a rota prevista para o gasoduto, em direcção ao Líbano e à Turquia. Um cotejo entre o mapa dos combates e o mapa da rota do pipeline Qatar-Europa indicia uma ligação entre a guerra e a necessidade de controle territorial. São três os objectivos a atingir: "quebrar o monopólio de gás natural da Rússia na Europa; libertar a Turquia da dependência do gás iraniano; e dar a Israel a oportunidade de exportar o seu gás para a Europa por terra, com menos custos". Pepe Escobar, analista do Asia Times, afirmou que o emir do Qatar fez, aparentemente, um acordo com a Irmandade Muçulmana, apoiando a sua expansão internacional em troca de um pacto de paz no Emirado. A Irmandade Muçulmana na Jordânia e na Síria alteraria abruptamente todo o mercado geopolítico mundial do gás natural - decididamente a favor do Emirado e em detrimento da Rússia, Síria, Irão e Iraque. Seria também um duro golpe para a China.

Entre outros objectivos, a guerra na Síria permitirá impulsionar o projecto do pipeline Qatar-Europa e desmantelar o acordo celebrado entre Teerão, Bagdad e Damasco. A implementação deste foi interrompida várias vezes devido à acção militar, mas em Fevereiro de 2013 o Iraque mostrou disponibilidade para assinar um acordo-quadro que permitiria a construção do gasoduto. Pouco depois, novos grupos xiitas iraquianos manifestaram-se em apoio de Assad. As participações no "jogo de eliminação" sobre o Pipeline Islâmico iniciadas na Síria pelo Ocidente continuarão a crescer. O fim do embargo da União Europeia ao armamento dos rebeldes sírios, que segundo a BBC mereceu a oposição inicial da maioria dos estados-membros, poderá não chegar para ajudar os rebeldes.

Quanto à civilização e à justiça, quando o lucro está em causa, os sentimentos não contam. O que importa é não jogar a carta errada neste jogo que cheira a sangue e a gás.

O pipelina que liga Síria ao Qatar

Fonte da parte II deste texto, correspondendo à sua quase tradução integral:

The Geopolitics of Gas and the Syrian Crisis: Syrian “Opposition” Armed to Thwart Construction of Iran-Iraq-Syria Gas Pipeline
By Dmitry Minin
Global Research, September 19, 2014/ Strategic Culture Foundation 31 May 2013 


NOTA (O António Maria)

Ainda a propósito dos contornos desta espécie de Cruzada pós-moderna contra países muçulmanos, cuja origam principal é, desde 1917, a decisão ocidental de controlar a principal região petrolífera do planeta, vale a pena ler este texto de Glenn Greenwald

Glenn Greenwald. ¿Cuántos países musulmanes ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980?

 Barack Obama, en su conferencia de ayer posterior a la elección, anunció que pedirá una Autorización para el Uso de Fuerza Militar (AUMF, por sus siglas en inglés) del nuevo Congreso, que autorice su campaña de bombardeo en Iraq y Siria – que comenzó hace tres meses. Si uno fuera generoso, diría que pedir autorización del Congreso para una guerra que comenzó hace meses es por lo menos mejor que librar una guerra incluso después que el Congreso rechazara explícitamente su autorización, como lo hizo Obama ilegalmente en el ahora colapsado país de Libia.

Cuando Obama comenzó a bombardear objetivos dentro de Siria en noviembre, señalé que era el séptimo país con preponderancia musulmana que había sido bombardeado por EE.UU. durante su presidencia (lo que no incluía el bombardeo por Obama de la minoría musulmana en las Filipinas). También señalé previamente que esta nueva campaña de bombardeo significa que Obama se ha convertido en el cuarto Presidente consecutivo de EE.UU. que ordenó que se lanzaran bombas sobre Iraq. Considerados por sí solos, ambos hechos son sorprendentemente reveladores. La violencia es tan corriente y continua que ya apenas nos damos cuenta. Precisamente esta semana, un drone estadounidense lanzó un misil que mató a 10 personas en Yemen, y los muertos fueron rápidamente calificados de “presuntos militantes” (lo que en realidad significa solo que son “varones en edad militar”); esos asesinatos apenas merecieron ser mencionados.

Para obtener una visión total de la violencia estadounidense en el mundo, vale la pena formular una pregunta más amplia: ¿cuántos países en el mundo islámico ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980? La respuesta fue suministrada en un reciente artículo de opinión en el Washington Post del historiador militar y ex coronel del ejército de EE.UU.,

Andrew Bacevich:

“Mientras los esfuerzos de EE.UU. por “degradar y finalmente destruir” a los combatientes del Estado Islámico se extienden a Siria, la III Guerra de Iraq se ha transformado discretamente en el Campo de Batalla XIV del Gran Medio Oriente. Es decir, Siria se ha convertido en por lo menos el 14º país en el mundo islámico que fuerzas estadounidenses han invadido, ocupado o bombardeado, y en los cuales soldados estadounidenses han matado o han sido muertos. Y eso es solo desde 1980.

Enumerémoslos: Irán (1980, 1987-1988), Libia (1981, 1986, 1989, 2011), Líbano (1983), Kuwait (1991), Iraq (1991-2011, 2014-), Somalia (1992-1993, 2007-), Bosnia (1995), Arabia Saudí(1991, 1996), Afganistán (1998, 2001-), Sudán (1998), Kosovo (1999), Yemen (2000, 2002-), Pakistán (2004-) y ahora Siria. ¡Vaya!.

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Atualização: 8 nov 2014, 16:28 WET