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terça-feira, fevereiro 16, 2010

Portugal 164

Aproveitemos a crise!


Se não houver atrasos, o Porto terá em 2011 o seu terminal de cruzeiros, em Leixões, ligado por Eléctrico à Praia de Matosinhos e à Foz do Douro, e por Metro, à grande cidade e ao aeroporto Sá Carneiro. Uma boa notícia para uma urbe onde o impulso da Capital Europeia da Cultura permitiu desencadear um rápido processo de requalificação à escala metropolitana.

Dos cais de Gaia e da Ribeira até à Foz, Castelo do Queijo e praia de Matosinhos, o Grande Porto tem vindo a ganhar uma escala metropolitana, estruturada, atarefada, orgulhosa dos seus excelentes equipamentos culturais e da sua inexcedível sabedoria gastronómica. O caos e as assimetrias ferozes que exibe, não raramente como cicatrizes de uma cidade comedida, que nunca mereceu a sobranceria com que por vezes é olhada desde Lisboa, e a que recentemente Peter Cook se referiu no seu estilo invariavelmente cómico, são de facto o sal puro de uma cidade antiga e actual que, como Lisboa e Coimbra, fazem de Portugal um cantinho recheado de urbanidades ímpares, apesar das mazelas que aqui tão insistentemente invectivo.

Vou com alguma frequência ao Porto e noto que tem mudado bem e depressa. Desde que a Ryanair começou a usar o aeroporto da Maia, a cidade mudou! Ouve-se falar italiano nas tascas da Sé, irlandês e holandês na espectacular esplanada Lais de Guia (ponto de romagem obrigatória para engolir lentamente um Tanqueray com tónica enquanto o Sol se derrete no horizonte), francês e inglês nos jardins e exposições de Serralves, espanhol por todo o lado. Quando conto a familiares e amigos que é isto o que vejo e ouço, sorriem desconfiados, como se a realidade fosse apenas o desaire mediático que diariamente nos entra pela casa e computadores adentro. Mea culpa!

Enquanto o projecto do novo porto de cruzeiros avança, anuncia-se a construção em Aveiro do primeiro navio-hotel para a empresa Douto Azul, grande agitadora e promotora da inclusão da extraordinária e difícil região do Douro no topo das referências turísticas mundiais.

Cargo (15-02-2010) A Navalria, a última da outrora florescente indústria de construção naval aveirense, onde pontificou, entre outros, o internacionalmente reconhecido Mestre Mónica, viu ser-lhe adjudicado o navio-hotel Douro Azul. A assinatura do contrato está agendada para quinta-feira, em Aveiro, numa cerimónia que contará com a presença do ministro da Economia.

“Este projeto foi classificado de Interesse para o Turismo e faz parte de uma candidatura submetida ao sistema de incentivos SI Inovação do Ministério da Economia, no valor global de 12,4 milhões de euros, e que já recebeu do Turismo de Portugal a respectiva aprovação prévia”, garante a Douro Azul, em comunicado.

O novo navio, que deverá estar pronto na primavera do próximo ano, destina-se ao mercado internacional, estando já integralmente vendida a sua ocupação para clientes estrangeiros entre 2011 e 2015 e que irá operar cruzeiros de uma semana no rio Douro. Com 80 metros de comprimento e 11,4 metros de largura, o barco-hotel será composto por 65 quartos duplos, com uma capacidade para 130 pessoas, e irá criar 36 novos postos de trabalho directos.

A NavalRia é hoje pertença da Martifer.
E a Martifer é um grupo de que a Mota-Engil faz parte integrante. Como a Martifer escreve: "A estrutura accionista é formada pelos sócios fundadores, através da I’M SGPS, S.A., e pelo Grupo Mota-Engil, juntos controlam quase 80% do capital da empresa"(Martifer).

Como tenho insistido, e estas notícias confirmam, há mais vida para além das auto-estradas e das barragens. Se a Mota-Engil e a Martifer começarem a construir portos, plataformas submarinas de investigação e prospecção, barcos, submarinos científicos, comboios e sistemas inteligentes de transportes colectivos, retirarei todas as acusações que dirigi à Mota-Engil e a Jorge Coelho, pois nunca foram as pessoas que me incomodaram, nem nunca me moveu qualquer sentimento de inveja económica, mas apenas o asco ao comportamento preguiçoso e falta de imaginação de uma certa burguesia sempre refastelada ao colo do Orçamento, como se fosse a única pagadora de impostos. Eu também pago!

Mais auto-estradas apenas prometem encargos futuros irresponsáveis. Mais dez ou doze barragens, para aumentar 3% na produção eléctrica nacional, é um caso de serial killer à solta que tem que ser imediatamente travado, antes que destrua, por exemplo, todo o esforço que agora começa a ser dedicado às regiões do Douro e Trás-os-Montes, com a dignidade e o respeito que lhes são devidos. As verdadeiras jóias ecológicas que o tempo e o atraso miraculosamente preservaram da fúria especuladora dos homens, não pode agora morrer às mãos de uma dupla de assassinos ambientais — a dupla Sócrates-Mexia.

Eu sei que os nossos economistas ainda não entenderam o problema das barragens. Precisamos por isso de insistir, como antes insistimos sobre a Ota, e também sobre os perigos do endividamento exponencial. Há que levá-los pela mão aos lugares. São pessoas inteligentes e sensíveis que infelizmente lêem demasiados jornais e revistas e saem pouco dos gabinetes. Há que convidá-los para almoçar!

A Câmara Municipal de Amarante acaba de rejeitar a ideia de construir a barragem do Fridão, que é, sob todos os aspectos, uma bestialidade sem nome, destinada apenas, como de resto a do Baixo Sabor e a do Tua, a aumentar os activos da EDP por razões de mero oportunismo financeiro, i.e. para diminuir o grau de exposição deste gigante com pés de barro ao seu descomunal endividamento: 14 mil milhões de euros!

Estive há mês e meio em Arouca, no Verão passado em Amarante, Ponte de Lima, Chão do Gerês e Monção. Não poderiam ter sido passeios mais gratificantes. Temos que respeitar e dar condições ao poder local, que com pouco sabe, por vezes, realizar verdadeiros milagres. Repito: precisamos de criar as comunidades autónomas de Lisboa e do Porto — as duas grandes cidades-região do país, que precisam de um governo regional eleito —, e precisamos também de encaminhar um enorme esforço financeiro, económico e de inteligência e solidariedade criativas para as mais pequenas e indefesas formas de organização política do nosso edifício constitucional: as freguesias. Os municípios contíguos das grandes manchas urbanas e suburbanas devem agregar-se, dando lugar a redes administrativas mais concentradas. Pelo contrário, as freguesias devem ser salvas até ao limite, da grande cidade-região ao habitat mais disperso. Aproveitemos a crise para arrumar a casa!


OAM 686— 16 Fev 2010 03:15