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sábado, setembro 19, 2015

O que resta da Esquerda

Yanis Varoufakis, Sydney, 1993

Como estará a esquerda europeia daqui a um ano?


Varoufakis anuncia apoio aos dissidentes do Syriza nas eleições
Lusa, 18 setembro 2015

O ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis anunciou hoje que apoia a Unidade Popular (LAE), o partido proveniente da cisão no Syriza em agosto e que se apresenta às legislativas antecipadas de domingo.


A apropriação oportunista do marxismo iniciada por Lenine criou um cisma insuperável na chamada esquerda intelectual. Esta, ou é infantil, ou autoritária. O seu erro fundamental reside no paternalismo com que sempre encarou a classe operária e, em geral, quem trabalha. O narcisismo vanguardista da esquerda marxista degenerada, traduzido na pressuposta superioridade intelectual e moral das elites socialistas e comunistas diante do Capital e das massas populares, não poderia ter melhor representante que Yanis Varoufakis. Depois da desagregação interna da União Soviética, parece ser agora a vez de assistirmos à implosão da esquerda pequeno-burguesa e chique europeia.

Talvez seja a condição necessária de uma nova utopia.

Varoufakis — finest media moments
By Cynthia Kroet
Politico, 7/6/15, 3:01 PM CET / Updated 7/6/15, 4:34 PM CET

Yanis Varoufakis, who resigned as finance minister Monday to facilitate any attempt by the left-wing government to keep Greece in the eurozone, cut a dash on the international stage with his casual dress and incendiary remarks that were seen as symptoms of a lack of seriousness by Greece’s international creditors and the often critical international media.

With his resignation, the Syriza-led coalition government loses one of its most controversial figures. Here are some of his most memorable moments on camera:

“I happen to be conservative”

RESPOSTA A UM AMIGO
Meu caro Armando Ramalho,

A metamorfose das democracias degeneradas que existem no mundo é um processo que já começou, mas vai atravessar ainda algumas fases cuja natureza e momento desconhecemos. Para já, o medo de regressarmos ao tempo dos piratas sem vergonha (do Loureiro ao Pinóquio) vai determinar a maioria de dia 4 de outubro. Pelo que vou vendo, lendo e estudando, o PaF é bem capaz de renovar a maioria. A esquerda populista e fandanga, que no caso do Bloco chegou a surpreender pela positiva, vai piorando dia a dia, sobretudo quando lhes perguntamos como faria se estivesse no lugar de Passos Coelho e Paulo Portas. Na frente da desgraça esquerdinofrénica, claro, o radicalismo crescente e suicida do sargento-ajudante Costa. Aceitei ser candidato em Lisboa pelo Nós, Cidadãos pois desejo ardentemente que algo mude naquela sacristia sórdida e bafienta a que chamam Assembleia da República.

Atualização: 19/9/2015 16:54 WET

quarta-feira, julho 01, 2015

Et in Arcadia ego

Nicolas Poussin. Et in Arcadia est (1637-38)

Estou no Paraíso, ou morto?


Islândia, Chipre, Grécia, e em dramas mais sofríveis, Irlanda, Espanha e Portugal, a que se foram juntando as aflições de italianos, franceses e britânicos, são peças de um dominó em metamorfose.

Este dominó chama-se ocaso da abundância capitalista.

Abundância, porque houve durante meio século, sobretudo na Europa ocidental, nos Estados Unidos da América e no Canadá, sociedades humanas muito produtivas, com elevados padrões de consumo e onde se desenvolveram e instalaram sistemas de segurança social extremamente baratos, representando uma fração exígua na poupança individual e coletiva gerada por uma produtividade económica que teve a sua origem na emergência de várias indutores historicamente excecionais (ao longo dos séculos 19 e 20), tais como a energia barata proveniente do carvão, e depois do petróleo e do gás natural, ou ainda da fissão nuclear, usada na forma de vapor motriz, eletricidade e explosão de gases sob pressão.

Esta enorme capacidade de produzir barato e em grandes quantidades (quantidades industriais) teve na energia abundante, barata e transportável, a sua condição necessária, mas não suficiente. Para que os excedentes que deram lugar à poupança e ao bem estar social pudessem ter existido foram necessários ainda duas condições essenciais: a tecnologia oriunda das primeiras sociedades de conhecimento organizado e capitalizado, e a disponibilidade colonial de matérias primas e contingentes de quase escravos obtidos pela via de um desenvolvimento económico, social, cultural e político desigual. Não podemos, pois, imaginar a extraordinária dimensão e complexidade das infraestruturas materiais e imateriais, e o bem estar do Ocidente e das suas classes médias, nem a ociosidade cultural de franjas significativas e crescentes das suas populações, e muito menos o aumento espetacular da longevidade das gentes destes paraísos que ainda hoje atraem migrações gigantescas, sem pressupormos a conjugação provavelmente irrepetível das circunstâncias descritas.

À medida que esta conjugação de recursos e interações dinâmicas se expandiu por todos os continentes, ao mesmo tempo que se produzia uma equalização tímida entre o primeiro mundo (Estados Unidos e seus aliados desenvolvidos) e os segundo (União Soviética e seus aliados) e terceiro (os países neutros e não-alinhados—em geral, subdesenvolvidos) cresceu, por um lado, a população mundial e diminuiu, por outro, o ritmo de crescimento da riqueza média individual, ao mesmo tempo que os recursos naturais foram sendo submetidos a uma pressão ecológica cada vez mais destrutiva, e aumentaram os custos totais de cada unidade de PIB produzido no planeta.

Capitalista, porque o modo como toda esta explosão produtiva ocorreu e se desenvolveu é um fruto genuíno das sociedades capitalistas nascidas e desenvolvidas na Europa ao longo dos séculos 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

As sociedades capitalistas comerciais e a luta pela criação de instituições laicas e democráticas foram determinantes nos séculos 15, 16, 17 e 18, as sociedades comerciais e industriais empurraram os séculos 19 e 20 para a era do crescimento rápido e da modernidade urbana e internacional, finalmente as sociedades comerciais, industriais e financeiras do século 20 expandiram exponencialmente o novo modelo de sociedade afluente e cosmopolita, através de guerras e revoluções brutais. Por fim, o início do século 21 marca o pico e provável ocaso de uma era de crescimento rápido inflacionista, e o início de uma nova era de crescimento moderado: deflação, queda dos rendimentos médios per capita, e absoluta necessidade de um renascimento científico e cultural suficientemente forte para nos convencer de que a felicidade não está no consumo conspícuo, nem no desperdício, nem muito menos na destruição dos ecossistemas, mas numa nova aventura por vir.

O fim do socialismo como o conhecemos

Os movimentos socialistas, nomeadamente sob influência do marxismo, serviram sobretudo o desejo do proletariado industrial e dos povos mais atrasados e submetidos a formas de exploração e despotismo pré-modernos, de se aproximarem da abundância e da liberdade inerentes ao capitalismo criativo. O maniqueísmo e messianismo judaicos de que vinham impregnados, nomeadamente sob a forma da teleologia hegeliano-marxista, foi e continua a ser para muitos um modo de fé travestido de pseudo cientismo dialético. Daí, aliás, a sua extrema fraqueza pragmática e incapacidade crescente de olhar para a realidade sem o véu da fantasia, da hipocrisia e do oportunismo.

A falência das esquerdas tem pois uma origem que não é apenas conjuntural à crise das democracias do bem-estar, nem sequer apenas um fruto podre do desaparecimento do proletariado industrial entretanto substituído por máquinas inteligentes, ou da emigração do trabalho produtivo para as antigas colónias dos antigos impérios europeus e americano. A falência das burocracias sociais-democratas e socialistas, a falência dos cadáveres adiados do estalinismo e das novas eflorescências geneticamente modificadas da esquerda radical, são uma espécie de resto da História em movimento. Daí o estilo populista e de farsa que as suas encenações cada vez mais exibem.

Os novos revolucionários são, como sempre foram, terroristas. A sua emergência explosiva e suicida no início deste século denota uma realidade, só por distração, inesperada, que precisa de ser estudada e entendida. O desespero que indivíduos, tribos do deserto e urbanas, sociedades inteiras, amanhã países, transportam sob o manto de uma ressurreição religiosa é real e é profundo. Não percamos tempo com os motards do Syriza!

Propagar, pela via da demagogia que reduz e vitupera, anamorfoses ilusionistas da complexidade do momento que vivemos é um erro que poderemos pagar caro. O abrandamento do crescimento mundial é um fenómeno complexo, mas inexorável. Acontece numa fase da humanidade em que as desigualdades económicas entre pessoas, cidades, países e regiões estratégicas continuam muito acentuadas, acontece num momento em que a aproximação dos rendimentos entre os continentes, e sobretudo entre os países mais populosos do planeta e o Ocidente rico, propiciado pelo desenvolvimento rápido dos chamados países emergentes, começa a abrandar. Se não forem a Europa, os Estados Unidos, a Rússia, a China, o Canadá e a Austrália a promoverem novas estratégias partilhadas de equidade económica, social e cultural, quem será?

Houve uma fuga em frente quando nos deparámos nos idos anos 70 do século passado com os limites do crescimento. Essa fuga acabaria por traduzir-se num endividamento astronómico dos governos, das empresas e das pessoas, sobretudo no Ocidente desenvolvido. À queda permanente dos rendimentos do trabalho, mas também do capital, respondeu-se com derivados especulativos sobre o futuro, transformando o imobiliário, as obras públicas injustificadas e insustentáveis, a hipertrofia dos governos e das burocracias, o automóvel, a educação, e a especulação com taxas de juro e moedas, em fichas viciadas dum casino global. As bolhas incharam, são muitas e gigantescas, e estão a rebentar desde 2007.

É por isso que as imagens do sofrimento e da aflição das pessoas, pungentes nos casos das crianças e dos idosos, seja em Nova Iorque, Atenas, no Cairo, Damasco, Lampedusa, ou amanhã em Lisboa, devem servir-nos para pensar e não atiçar os demónios do maniqueísmo partidário e religioso.

Os governos gregos fizeram pouco até hoje para emendar o seu estilo de vida insustentável, uma vez percebido que o mundo mudou. Aos eurocratas e aos burocratas do FMI, por sua vez, faltou melhor comunicação com as populações e com as elites gregas. A senhora Merkel, por fim, talvez tenha razão, mas enquanto não cuidar dos piratas do Deutsche Bank ninguém lhe dará ouvidos!

A bancarrota grega não chega para abalar os mercados de capitais de forma decisiva. Este foi o erro de cálculo de Varoufakis, Tsipras e Putin, e que custou aos pobres pensionistas e desempregados gregos um agravamento brutal do seu dia a dia.

A bancarrota grega vai marcar uma viragem na Europa, e provavelmente no mundo ocidental. Vamos todos perceber até ao fim deste ano que o mundo está mesmo a mudar, e que precisamos de o reinventar.

domingo, junho 28, 2015

Grécia fora do euro no dia 1 de julho

Greece’s Prime Minister Alexis Tsipras delivers a speech to the lawmakers during an emergency Parliament session tonight. Photograph: Petros Karadjias/AP

O referendo anunciado por Tsipras e aprovado pelo parlamento grego morreu antes de nascer, por efeito deste simples mas irremediável comunicado emitido pelo Eurogrupo na tarde de 27 de junho de 2015:


Since the 20 February 2015 agreement of the Eurogroup on the extension of the current financial assistance arrangement, intensive negotiations have taken place between the institutions and the Greek authorities to achieve a successful conclusion of the review. Given the prolonged deadlock in negotiations and the urgency of the situation, institutions have put forward a comprehensive proposal on policy conditionality, making use of the given flexibility within the current arrangement.
Regrettably, despite efforts at all levels and full support of the Eurogroup, this proposal has been rejected by the Greek authorities who broke off the programme negotiations late on the 26 June unilaterally. The Eurogroup recalls the significant financial transfers and support provided to Greece over the last years. The Eurogroup has been open until the very last moment to further support the Greek people through a continued growth-oriented programme.

The Eurogroup takes note of the decision of the Greek government to put forward a proposal to call for a referendum, which is expected to take place on Sunday July 5, which is after the expiration of the programme period. The current financial assistance arrangement with Greece will expire on 30 June 2015, as well as all agreements related to the current Greek programme including  the transfer by euro area Member States of SMP and ANFA equivalent profits.

The euro area authorities stand ready to do whatever is necessary to ensure financial stability of the euro area.

[1] Supported by all members of the Eurogroup except the Greek member.

Já na manhã de sábado Tyler Durden escrevia:

"... moments ago Varoufakis was quoted as saying he would ask the Eurogroup for a bailout extension of a few weeks to accommodate the referendum. 

And the punchline: if the Eurogroup says "Oxi", then the entire Greek gambit, which has been a bet that to Europe the opportunity cost of a Grexit is higher than folding to Greek demands, collapses.

If the Eurogroup declines Varoufakis' request, there simply can not be a referendum, as the "institutions proposal" will no longer be on the table. As such, the only question is whether the ECB will also end the ELA at midnight on June 30, adding insult to injury, and causing the collapse of the Greek banking system days ahead of a referendum whose purpose would now be moot."

in Zero Hedge, 27/6/2015

Poderá haver ainda um volte-face?

Espera-se que o BCE aguente os bancos gregos até dia 5 de julho, mas não depois desta data se o resultado do referendo grego for não às condições exigidas pelos credores. Se for sim, então poderá haver uma regresso in extremis à mesa das negociações que, entretanto, deixará oficialmente de existir no dia 30 deste mês.

Mas neste caso em que posição ficará o governo de Tsipras? E o Syriza?

Que peso terão a Rússia e a China nesta fase do campeonato? A situação caminha rapidamente para uma zona perigosa, onde não perder a face, de ambos os lados do conflito, é cada vez mais difícil.

Assim começam todas as guerras :(


POST SCRIPTUM

Dois artigos de leitura obrigatória: "Como resolver a crise grega?", de Paul De Grauwe, e "Dias de Big Bang europeu", de Maria João Rodrigues, ambos no Expresso desta semana. Recomendação: a tradução do artigo de Paul De Grauwe publicada no Expresso, além de truncada, é má. Logo recomendo a leitura do original.

Sabia que a dívida pública efetiva da Grécia poderá estar abaixo dos 90% do PIB, e que os juros pagos pela mesma representam um esforço orçamental inferior ao da Espanha, ao de Portugal e mesmo aos da Bélgica e França? Sabia que a dívida portuguesa efetiva deve andar pelos 165% do PIB (130% reconhecidos no perímetro orçamental + 35% de PPP)? Cuidado, pois, com a situação grega, nomeadamente pelo ricochete que poderá fazer em breve sobre Portugal. Não se endivide!

Por outro lado, quer Merkel e o Eurogrupo consigam conservar a Grécia na Zona Euro, quer a façam regressar ao dracma, a União Europeia será uma nova realidade depois deste verão, e não será nada favorável aos populistas profissionais da esquerda, os quais sempre souberam gastar dinheiro, mas não sabem nem o que é o dinheiro, nem como de cria.

Atualizado em 28/6/2015 13:13

segunda-feira, março 16, 2015

O dedo de Varoufakis

Yanis Varoufakis numa palestra em 2013 sobre o futuro da Grécia.
O dedo no ar é um efeito especial ;)

O Syriza aposta no colapso do euro


Tudo o que é preciso saber sobre o que Varoufakis pensa da Alemanha e do euro.
Vale a pena ver este vídeo. O novo governo grego aposta no colapso do euro, e não no colapso da Grécia, pois esta já colapsou :(

Ou seja, o governo grego vai continuar a manter a batata quente ao colo do Schäuble, e do BCE.

Muda-se a terminologia, o BCE diz que não envia mais, mas envia mais dinheiro, e em maio saberemos todos quantos atores participam nesta farsa a caminho da tragédia.

Varoufakis' Latest Fiasco: FinMin Claims "Middle Finger To Germany" Clip Fake; Germany Disagrees
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 03/16/2015 11:46 -0400

It was a tough weekend (again) for Greece's embattled FinMin Yanis Varoufakis. After walking out on a CNBC interview when asked if he was a liability (after his photo shoot caused a storm in Greece), a video surfaced showing the outspoken minister giving the middle finger to Germany saying "solve the problem yourself." He has come out swinging this morning, as The Telegraph reports, Varoufakis exclaims, "That video was doctored. I've never given the finger, I've never given the middle finger ever." However, the user who uploaded it to YouTube denied it was a fake and, based on The Telegraph's poll, 67% believe Varoufakis did it. Furthemore, the German talk-show that aired the clip has confirmed "no evidence of manipulation or falsification," and, for the first time, a majority of Germans now want Greece out of the union.

O dedo no ar é falso!

Todo o audio do vídeo viral é verdadeiro, incluindo a frase "stick the finger to Germany", mas o gesto, esse resultou de uma trucagem genial realizada por um programa de humor do canal público de televisão alemão ZDF. Ver a revelação da fraude humorística nesta reportagem.

Jan Bohermann, host of satirical programme "Neo Magazin Royale" on public broadcaster ZDF, claimed he had been waiting since Sunday for someone to ask him if he had faked the controversial footage, but no one had questioned him.

"Sorry Mr Varoufakis, we won't do it again," he said, detailing how a production team had manipulated the video.

Atualização: 21/3/2015 23:59

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sexta-feira, fevereiro 20, 2015

No Grexit


Jornal cooperativo alemão —taz.de—ridiculariza teimosia de Schaueble.

Grécia—1, Alemanha—0


Rebatismos
  • "troika": "the institutions"
  • "current programme": "current arrangement"

A Alemanha acaba de engolir um sapo, cortesia do Syriza, do BCE, da Rússia, do Podemos, dos EUA, e da NATO. Que estranha constelação esta, aparentemente formada para prejudicar a estratégia alemã e a arrogância do neo-Nosferatu Schäuble.

O mínimo que se pode dizer é que a Troika no seu formato conhecido acabou.

A Grécia terá um período de carência de quatro meses, que lhe permitirá uma extensão, sem novo resgate, de famoso Programa, agora designado current agreement, da não menos famosa Troika, agora chamada the institutions.

Até final de abril muita água irá correr debaixo das pontes.

Pergunta cínica: em que posição ficam os indígenas do Governo de Lisboa e o traste de Belém depois disto?

A comparação entre as duas últimas versões do acordo entre a Grécia e o Eurogrupo são elucidativas.

A Grécia deixou uma pegada política provavelmente irreversível na instituição europeia.

O Eurogrupo deixou de ser uma coutada da Alemanha, por vontade da Grécia (seria feio atribuir o mérito a outros), por vontade do BCE (Goldman Sachs, etc.), por vontade dos Estados Unidos/NATO, e com a ajuda just in time da Rússia/Ucrânia.

Entretanto, a diarreira neo-neo-neo-keynesiana do BCE, conhecida por Expanded Asset Pucrchase Program, e muito saudada por alguma imprensa americana (The Wall Street Journal, por exemplo), vai ocupar as cachas dos média, e manter os especuladores, os rendeiros e os devoristas do buraco negro das finanças europeias nada preocupados com os senhores Yanis Varoufakis e Alexis Tsipas, salvo se for para lhes pedirem acesso VIP aos casinos de banhos de Atenas.

O Nosferatu de Friburgo terá em breve que expor ao resto da Europa a parte escondida do icebergue da dívida pública alemã. E ainda o buraco sem fundo que o Deutsche Bank (1) esconde nos seus livros de especulação com derivados. Apesar da sua arrogância, que deu da Alemanha, outra vez, uma péssima imagem, a terceira tentativa teutónica de dominar a Europa entrou hoje em mais uma rampa descendente.

Será bom para a União Europeia? Provavelmente não. Mas há uma coisa de que a Alemanha terá um dia que se convencer de vez: jamais dominará a Europa enquanto não aprender a usar a linguagem de uma forma civilizada.

POST SCRIPTUM — Grécia—1, Alemanha—0

A questão da derrota da Alemanha protagonizada ontem pela Grécia, que o resto dos PIIGS agradece entre protestos hipócritas de fidelidade ao dono alemão, é simples de equacionar:

— a Alemanha sempre disse que a Grécia só tinha um caminho:

1a) continuar a negociar com a Troika e
1b) negociar um novo resgate, ou seja, trocar dívida-lixo, impagável, por outra putativamente pagável, para assim safar a exposição da banca alemã e em particular do Deutsche Bank, que andaram a especular com o sofrimento alheio, dum bail-in.

Mais austeridade seria o corolário do ultimato alemão. Ora bem, o ultimato esvaziou-se, nomeadamente por imposição do BCE e dos Estados Unidos. O resto é ruído mediático para alegrar o povo que paga isto tudo com juros.

Sempre defendi a posição alemã em matéria de controlo da despesa pública. Mas não defendi nunca, não defendo e estarei sempre frontalmente contra os sonhos imperiais da Alemanha. Deram sempre, e darão sempre mau resultado.

NOTAS
  1. Enquanto revíamos este post chegou-nos (via Zero Hedge) mais uma notícia americana sobre o estado preocupante do maior e mais antigo banco alemão [e já agora, também, do Santander!):

    U.S. Units of Deutsche Bank, Santander Likely to Fail Fed Stress TestThe Wall Street Journal, 20-02-2015

    Large European banks including Deutsche Bank AG and Banco Santander SA are likely to fail the U.S. Federal Reserve’s stress test over shortcomings in how they measure and predict potential losses and risks, according to people familiar with the matter. Failing the stress tests would likely subject the U.S. units of Deutsche Bank and Banco Santander to restrictions on paying dividends to their European parent companies or other shareholders.


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segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Yanis Varoufakis, a esperança do momento

Gustave Moreau. Europa e o touro (c. 1869).

A Grécia é o centro da Europa!


Vivemos tempos simultaneamente épicos e medonhos. Há uma crise mundial, e certamente europeia, das dívidas—das dívidas soberanas, mas também das dívidas empresariais e familiares.

Estamos todos endividados até aos cabelos, mesmo quando não pecebemos que uma parte deste endividamento é invisível, e não parece, assim, ser coisa que nos diga respeito.

O grande buraco da dívida não seria um grande problema se as perspetivas de crescimento mundial, no modelo que conhecemos de há uns 200 ans para cá —muita energia e barata—, continuassem a ser expectáveis. Mas o problema é que o futuro reserva-nos uma era de menos energia, e de energia mais cara. Ora é este cenário —até hoje rejeitado pelos cegos da macro-economia— que tudo muda e exige uma nova abordagem dos problemas.

A crise grega, que tomou uma nova e radical direção depois da chegada do Syriza ao poder, veio confrontar a Europa inteira com as suas responsabilidades. O problema não é da Grécia, nem de Espanha, ou de Portugal, mas de todo o continente, mais precisamente, é um problema global, cuja negação apenas tornará os desenlaces locais, regionais e globais, muito mais ameaçadores e potencialmente catastróficos.

Nada melhor para começarmos a mudar a nossa percepção dos problemas de fundo, do que esta viragem radical na crise grega. E nada melhor do que ir escutando e lendo o que Yanis Varoufakis pensa sobre o seu país e sobre a Europa.

Yanis Varoufakis: No Time for Games in Europe
THE NEW YORK TIMES

By YANIS VAROUFAKISFEB. 16, 2015

ATHENS — I am writing this piece on the margins of a crucial negotiation with my country’s creditors — a negotiation the result of which may mark a generation, and even prove a turning point for Europe’s unfolding experiment with monetary union.

Game theorists analyze negotiations as if they were split-a-pie games involving selfish players. Because I spent many years during my previous life as an academic researching game theory, some commentators rushed to presume that as Greece’s new finance minister I was busily devising bluffs, stratagems and outside options, struggling to improve upon a weak hand.

Nothing could be further from the truth.

[...]

As finance minister of a small, fiscally stressed nation lacking its own central bank and seen by many of our partners as a problem debtor, I am convinced that we have one option only: to shun any temptation to treat this pivotal moment as an experiment in strategizing and, instead, to present honestly the facts concerning Greece’s social economy, table our proposals for regrowing Greece, explain why these are in Europe’s interest, and reveal the red lines beyond which logic and duty prevent us from going.

[...]

One may think that this retreat from game theory is motivated by some radical-left agenda. Not so. The major influence here is Immanuel Kant, the German philosopher who taught us that the rational and the free escape the empire of expediency by doing what is right.

domingo, fevereiro 15, 2015

Michael Pettis e a crise da dívida europeia

Bismarck e Napoleão III depois da Batalha de Sedan

Plano Varoufakis: trocar a dívida existente por obrigações indexadas ao crescimento (é melhor que nada!)


“Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate”— Michael Pettis.

Se nenhum partido do centro enfrentar a crise das dívidas europeias, nomeadamente em países da zona euro como a Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Itália e França, a extrema-esquerda, ou a extrema-direita, chegará ao poder com mandato popular para o fazer. Se serão ou não capazes de cumprir a missão, e com que consequências, é algo que iremos começar a perceber ao longo das próximas semanas e meses depois da vitória democrática do Syriza na Grécia. Algo parece já ter perturbado, como nada até agora o fizera, o status quo apodrecido da nomenclatura que mal tem dirigido os destinos económicos, financeiros, sociais e diplomáticos da União Europeia.

Para os que se interessam por estas coisas, o post viral de Michael Pettis(1) sobre o pouco científico jogo de passa culpas entre os credores e os devedores europeus merece uma leitura atenta por parte de quem busque uma resposta ao que parece ser a quadratura do círculo: como resolver as gigantescas dívidas públicas e privadas que começaram a paralisar inúmeros países e economias, sem destruir os devedores, nem os credores?

Para efeitos de simplificação narrativa, os credofres são protagonizados pela Alemanha, e os devedores, pela Espanha. Ao longo do seu longo post Pettis explica como Wolfgang Schaeuble não teve nenhuma razão quando afirmou —logo papagueado pelos nossos infelizes PM e PR— que

“The reasons for Greece’s problems can be attributable only to Greece and not to actors outside the country, and certainly not in Germany.”
O artigo de Pettis recua até à Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, que deu a Bismarck uma grande oportunidade, ao vencer os franceses, de avançar decisivamente para a unificação alemã. A derrota da França, por sua vez, não só acabou com o regime decadente de Napoleão III, não só instaurou a III República francesa, como foi palco de uma das maiores indemnizações de guerra integralmente pagas de que há registo: cinco mil milhões de francos de ouro—23% do PIB francês(2).

O pedido inicial de indemnização teria sido de mil milhões, mas os alemães resolveram aumentar astronomicamente este valor nos termos finais do Tratado de Frankfurt, pretendendo assim colocar a França economicamente de rastos, sem fôlego para perturbar o caminho da jovem nação alemã. Para surpresa de todos, dos mercados, e certamente dos alemães, o prazo imposto para a liquidação da dívida —3 anos— foi antecipado em um ano pelo sucesso de duas emissões de dívida soberana francesa cuja procura largamente superou a oferta.

Mas o mais extraordinário é que o afluxo desta pipa de massa —para usar uma expressão recente de Durão Barroso a propósito do Acordo de Parceria 2014-2020— acabaria por lançar a Alemanha na sua primeira Grande Depressão (1873). Foi neste ano que nasceu o Deutsche Bank, o mesmo que hoje tem uma exposição aos derivados financeiros de 54,7 biliões de euros, quase 20x o PIB alemão, quase 6x o PIB da UE. Se apenas 10% desta exposição acabar em default, quem irá ensopar então um buraco de dívidas equivalente a duas vezes o PIB alemão?

De quem foi a culpa?

Dos franceses que pagaram as indemnizações de guerra, ou da Alemanha que usou o dinheiro como os PIIGS, em parte, desperdiçaram fundos comunitários e investimento estrangeiro em autoestradas para lado nenhum, barragens inúteis, rotundas idiotas e um Mercedes à porta de cada Câmara Municipal, ou ainda férias em praias exóticas, como se não tivessemos mais de 1800 Km de costa marítima?

O post de Michael Pettis vem na linha da sua tese de que as grandes crises de gestão dos défices e das dívidas têm frequentemente, pelo menos na sua fase inicial, causas externas. Neste sentido, quando as mesmas ficam fora de controlo, a melhor saída possível para devedores e credores pode exigir a anulação parcial das dívidas e a reestruturação.

Mas não é isto que o BCE tem vindo a fazer na Eurolândia salvando, desde logo, os bancos da famosa crise sistémica? Não tem havido abatimentos parciais, extensões de prazos e reduções sucessivas de juros nalgumas dívidas públicas? Sim, mas Pettis afirma que a fatura tem sido enviada sobretudo aos trabalhadores e à classe média, com prejuízos graves para um eventual regresso ao crescimento.

Defende, assim, que seria melhor uma ação de reestuturação clara das dívidas, em vez de prolongar as meias medidas, a indecisão, e sobretudo a agonia social que trava o regresso ao crescimento e, desde logo, a confiança dos mercados! 

Aviso final aos portugueses

Nas próximas eleições não podemos votar uma vez mais nos que criaram a crise. Ou não votamos, ou votamos em quem for capaz de, entretanto, trazer para a mesa da discussão democrática ideias claras sobre como levantar a canga da dívida que tem vindo a esmagar a nossa economia e as nossas vidas.

Os partidos do Bloco Central empurraram Portugal para o lixo, e não apresentaram até agora soluções credíveis para sairmos da escravidão da dívida. Enquanto não expurgarem de si mesmos os ativos tóxicos e a corrupção entranhada não serão capazes, nem de tirar o país da miséria para que caminha, nem sequer de participar em soluções que outros proponham aos portugueses e em quem o país confie para as aplicar.

Precisamos de imaginação e coragem para desenhar e adotar um mecanismo novo de resolução da dívida pública portuguesa, que não seja um grilhão inibidor do crescimento e do emprego, mas um compromisso social claro que trave a corrupção e garanta o controlo das contas públicas, a transparência e as condições de um crescimento sustentável.


Toulouse-Lautrec. O Fotógrafo, Place pigeon, 9 (1894)

Syriza and the French indemnity of 1871-73
By Michael Pettis · February 4, 2015
CHINA FINANCIAL MARKETS

“...the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history.
— extratos

[...]

“Except for Greece, in Europe the main political parties on both sides of the political spectrum have until now chosen to maintain the value of the currency and protect the interests of the creditors. It has been the extremist parties, either on the right or the left, who have attacked the currency union and the interests of the creditors. In many cases these parties are extreme nationalists and oppose the existence of the European Union. If they succeed in taking control of the debate, the European experiment will almost certainly collapse, and it will take decades, if ever, for a European union to revive.

But while distortions in the savings rate are at the root of the European crisis, many if not most analysts have failed to understand why. Until now, an awful lot of Europeans have understood the crisis primarily in terms of differences in national character, economic virtue, and as a moral struggle between prudence and irresponsibility. This interpretation is intuitively appealing but it is almost wholly incorrect, and because the cost of saving Europe is debt forgiveness, and Europe must decide if this is a cost worth paying (I think it is), to the extent that the European crisis is seen as a struggle between the prudent countries and the irresponsible countries, it is extremely unlikely that Europeans will be willing to pay the cost. As my regular readers know, I generally refer to the two different groups of creditor and debtor countries as “Germany” and “Spain”, the former for obvious reasons and the latter because I was born and grew up there, and it is the country I know best. I will continue to do so in this blog entry.”

[...]

“It is useful to remember this history when we confront the consequences of Greece’s recent elections. Syriza’s victory in Greece has reignited the name-calling and moralizing that has characterized much of the discussion on peripheral Europe’s unsustainable debt burden. I think it is pretty clear, and obvious to almost everyone, that Greece simply cannot repay its external obligations, and one way or another it is going to receive substantial debt forgiveness. There isn’t even much pretence at this point. This morning financial advisor Mish Shedlock, sent me (as a joke? as a sign of despair?) German newspaper Zeit‘s interview with Yanis Varoufakis entitled “I’m the Finance Minister of a Bankrupt Country”.

Even if the question of who is to “blame”, Greece or Germany, were an important one, the answer would not change the debt dynamics. It would take the equivalent of Ceausescu’s brutal austerity policies in Romania, which were imposed during the 1980s in order for the country fully to repay its external debt, to resolve the Greek debt burden without a write-down. Given that Ceausescu’s policies led directly to the 1989 revolution, which culminated in both Ceausescu and his wife being executed by firing squad, the reluctance in Athens to imitate Romania in the 1980s is probably not surprising.”

[...]

“If the restructuring is well designed, within a year of the restructuring I think we could easily see Greek growth surprise us with its vigor. I was delighted to see that Greece’s new Finance minister agrees. An article in Monday’s Financial Times starts with the claim that “Greece’s radical new government revealed proposals on Monday for ending the confrontation with its creditors by swapping outstanding debt for new growth-linked bonds, running a permanent budget surplus and targeting wealthy tax-evaders.” Today’s Financial Times has an article by Martin Wolf that mentions the benefits of “a growth linked bond”. In The Volatility Machine I spend chapters explaining how to create liability structures that minimize external shocks, align the interests of creditors and citizens, and improve the quality of payments for creditors, and I show why these make a restructuring much more successful for all parties concerned. This is just basic finance theory. Yanis Varoufakis should really take the lead in designing an entirely new form of sovereign debt restructuring, not just for Greece but for the many countries, in Europe and elsewhere, that will soon follow it into default.

Enough people seem to hate or fear Syriza that there will be little attempt to approach Greece’s problems with enough imagination to give either party what it needs, but in fact with the right cooperation, imagination, and intuitive understanding of how balance sheet structures change overall value creation, a Greek debt restructuring could leave both sides far better off than either side might imagine. Of course if done right this matters far more than for just its impact on the Greek economy. While everyone probably agrees that Greece simply cannot proceed without debt forgiveness, less widely agreed, but no less obvious in my opinion, is that there are a number of other European countries that also need debt forgiveness if they are to grow. Because I was born and grew up in Spain, and my French mother founded and ran a successful business there which my family and I still own, I am confident that I know the country well enough to say that even with some impressive reforms having been implemented under Mariano Rajoy, Spain is nonetheless one of these countries. I suspect that many other countries including Portugal, Italy, and maybe even France are too.

I also know, however, that Spanish debt prospects are an extremely sensitive and emotional topic, and I will be roundly condemned for saying this. Today’s Financial Times has a very worrying article explaining why Madrid wants to be seen among the hardliners in opposing a rational treatment for Greece: “when it comes to helping Greece, there will be no such thing as southern solidarity or peripheral patronage.” This is the reverse of what it should be doing. In an article for Politica Exterior in January 2012, I actually proposed, albeit without much hope, that Spain take the lead and organize the debtor countries to negotiate a sustainable agreement, but in its fear of Podemos, the Spanish equivalent of Syriza, and its determination to be one of the “virtuous” countries, it strikes me that Madrid is probably moving in the wrong direction economically. Ultimately, by tying itself even more tightly to the interests of the creditors, Rajoy and his associates are only making the electoral prospects for Podemos all the brighter.”

[...]

“1.  There is no question that a renegotiation of Spanish debt or of its status within the currency union would be accompanied by economic hardship and perhaps even a crisis. But compared to what? The Spanish economy is already in disastrous shape and there is compelling historical evidence that countries suffering under excessive debt burdens can never grow their way out of their debt no matter how radical and forceful the reforms.”

[...]

“Some economists argue the facts on the ground already contradict my pessimism. Last week Madrid announced excitedly that GDP grew by 1.7% last year, its fastest pace in seven years. The Financial Times pointed out that Spain was well-positioned in 2015 to continue to take advantage of lower energy costs, a weaker euro, and a cut in personal and corporate taxes, to which I would add lower metal prices, massive QE, and stronger than expected consumption. But even if these tailwinds are permanent, and they clearly are not, nominal GDP growth is still much lower than the growth in the debt burden. This is as good as it gets, in other words, and it is not good enough. As the debt burden continues to climb, and as social and political frustrations mount, Spain will slide inexorably backwards into the backward-country status it wants so badly to avoid.”

[...]

“Above all this is not a story about nations. Before the crisis German workers were forced to pay to inflate the Spanish bubble by accepting very low wage growth, even as the European economy boomed. After the crisis Spanish workers were forced to absorb the cost of deflating the bubble in the form of soaring unemployment. But the story doesn’t end there. Before the crisis, German and Spanish lenders eagerly sought out Spanish borrowers and offered them unlimited amounts of extremely cheap loans — somewhere in the fine print I suppose the lenders suggested that it would be better if these loans were used to fund only highly productive investments.

But many of them didn’t, and because they didn’t, German and Spanish banks — mainly the German banks who originally exported excess German savings — must take very large losses as these foolish investments, funded by foolish loans, fail to generate the necessary returns. It is no great secret that banking systems resolve losses with the cooperation of their governments by passing them on to middle class savers, either directly, in the form of failed deposits or higher taxes, or indirectly, in the form of financial repression. Both German and Spanish banks must be recapitalized in order that they can eventually recognize the inevitable losses, and this means either many years of artificially boosted profits on the back of middle class savers, or the direct transfer of losses onto the government balance sheets, with German and Spanish household taxpayers covering the debt repayments.”

“I am not rejecting the claim that “Spain” acted irresponsibly, in other words, only to place the blame on “German” irresponsibility. But it is absolutely wrong for Volker Kauder, the parliamentary caucus leader of German Chancellor Angela Merkel’s Christian Democrats, to say, according to an article in last week’s Bloomberg, that “Germany bears no responsibility for what happened in Greece. The new prime minister must recognize that.” There was indeed plenty of irresponsible behavior on both sides, during which time wealth was transferred from workers of both countries to create the boom and to absorb the subsequent bust, and wealth will be transferred again from middle class households of both countries to clean up the resulting debt debacle.”

Put differently, there is no national virtue or national vice here, and there is no reason for the European crisis to devolve into right-wing, nationalist extremism. The financial crisis in Europe, like all financial crises, is ultimately a struggle about how the costs of the adjustment will be allocated, either to workers and middle class savers or to bankers, owners of real and financial assets, and the business elite. Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate.”

[...]

“I think there are several points that those of us who want “Europe” to survive should be making.

1.  The euro crisis is a crisis of Europe, not of European countries. It is not a conflict between Germany and Spain (and I use these two countries to represent every European country on one side or the other of the boom) about who should be deemed irresponsible, and so should absorb the enormous costs of nearly a decade of mismanagement. There was plenty of irresponsible behavior in every country, and it is absurd to think that if German and Spanish banks were pouring nearly unlimited amounts of money into countries at extremely low or even negative real interest rates, especially once these initial inflows had set off stock market and real estate booms, that there was any chance that these countries would not respond in the way every country in history, including Germany in the 1870s and in the 1920s, had responded under similar conditions.

2.  The “losers” in this system have been German and Spanish workers, until now, and German and Spanish middle class savers and taxpayers in the future as European banks are directly or indirectly bailed out. The winners have been banks, owners of assets, and business owners, mainly in Germany, whose profits were much higher during the last decade than they could possibly have been otherwise

3.  In fact, the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history, in that it pits the interests of workers and small producers against the interests of bankers. The former want higher wages and rapid economic growth. The latter want to protect the value of the currency and the sanctity of debt.

4.  I am not smart enough to say with any confidence that one side or the other is right. There have been cases in history in which the bankers were probably right, and cases in which the workers were probably right. I can say, however, that the historical precedents suggest two very obvious things. First, as long as Spain suffers from its current debt burden, it does not matter how intelligently and forcefully it implements economic reforms. It will not be able to grow out of its debt burden and must choose between two paths. One path involves many, many more years of economic hell, as ordinary households are slowly forced to absorb the costs of debt — sometimes explicitly but usually implicitly in the form of financial repression, unemployment, and debt monetization.  The other path is a swift resolution of the debt as it is restructured and partially forgiven in a disruptive but short process, after which growth will return and almost certainly with vigor

5.  Second, it is the responsibility of the leading centrist parties to recognize the options explicitly. If they do not, extremist parties either of the right or the left will take control of the debate, and convert what is a conflict between different economic sectors into a nationalist conflict or a class conflict. If the former win, it will spell the end of the grand European experiment.”

NOTAS
  1. Michael Pettis é o autor dum famoso livro publicado em 2001 —The Volatility Machine: Emerging Economics and the Threat of Financial Collapse— onde pela primeira vez se procura demonstrar, a propósito das crises de endividamento ocorridas na Argentina, países asiáticos emergentes, Rússia, e em geral desde 1820, que a perda de controlo sobre a gestão das dívidas soberanas tem tido uma origem sobretudo externa.
  2. Para termos um termo de comparação que dá bem a ideia das enormidades cometidas pelo nosso, muito indígena, Bloco Central da Corrupção, as responsabilidades contraídas pelo estado português nos 120 contratos de Parcerias Público Privadas representam 35% do PIB. Parte dos 23% do PIB francês que voram para a jovem Alemanha regressariam sob a forma de investimento alemão, e muito dinheiro gasto no futuro Quartier Pigalle! Ou seja, o Capitalismo estava numa fase explosiva de crescimento, e as dívidas eram uma forma expedita de crescer rapidamente. Pelo contrário, quando Portugal se lançou na corrida do endividamento comunitário, os tempos já eram de fim de festa. Cada euro acrescentado à dívida pública e privada portuguesa seria um grilhão mais na cadeia que nos puxa cada vez o mais para o fundo do buraco.
Atualização: 15-02-2015 21:05 WET


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quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit?

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BCE tirou o tapete à Grécia, mas não é a primeira vez...


Grexit? Aparentemente o BCE fez xeque-mate ao Syriza, i.e. a um governo democraticamente eleito, retirando-lhe o tapete de acesso às garantias até hoje dadas pelo BCE aos tomadores de dívida pública grega, i.e. os bancos e fundos privados gregos e de outros países. Será que o Syriza continuará em frente, ou vai desviar-se da colisão? Se não se desviar, quem sofrerá mais com a colisão? A Grécia, que já pouco tem a perder, ou a desnorteada e subserviente Europa, que se arrisca a ver uma desintegração do euro em menos de um ano?

BCE deixa de aceitar dívida pública grega como garantia nos empréstimos aos bancos
Observador

O Banco Central Europeu suspendeu hoje a dispensa das regras de rating mínimo no uso da dívida pública grega como garantia nos empréstimos do BCE à banca comercial, dizendo que “não é possivel esperar-se nesta altura que a revisão do programa seja concluída com sucesso”. A decisão faz com que os bancos que têm dívida grega deixem de a poder dar como garantia ao BCE quando lhe pedem dinheiro emprestado. Falta de financiamento dos bancos gregos terá agora de ser compensada pelo Banco Central da Grécia.

Será que Matthieu Pigasse (Lazard Bank), contratado por Yanis Varoufakis para desenhar soluções digeríveis para a bancarrota grega, falou, ou deixou falar, antes de tempo? Calculou mal a jogada? Ou será que a reação de Draghi e dos demais bancos centrais europeus constava dos seus cenários—aliás tornados públicos, nomeadamente, pela Bloomberg, no dia 1 de fevereiro? Amanhã saberemos.

What’s Going On with Greece and the ECB?
Bull Markethttps://medium.com/bull-market/whats-going-on-with-the-ecb-and-greece-3821de717625

Rules Require Cutting Off Greek Government Bonds?

[...]

“There will be no surprises if we find out that a country is below that rating and there’s no longer a program that that waiver disappears,” ECB Vice President Vitor Constancio said at an event in Cambridge, England, on Saturday.

If Vice President Constancio is referring to cutting off eligibility of specific bonds as collateral, that argues against the ECB’s’s current “official” approach being one of threatening a full cut-off of funds. Still, the idea of “junk-rated bonds are only eligible if a country is in a program” being part of “the ECB’s rules” is an over-statement. In truth, the ECB makes up these rules as it goes along and the “in again, out again” routine with Greek government bond eligibility is a long-standing one at this point.

Se repararmos bem no mapa dos gasodutos existentes, parcialmente construídos, ou em projeto, destinados a levar gás natural à Europa, perceberemos claramente que a Ucrânia e a Grécia são dois dos peões da estratégia de tensão em curso. A Alemanha, tal como a generalidade dos países do centro e norte da Europa, precisam de gás para não morrerem de frio no inverno.

Acontece que os Estados Unidos, seguindo a teoria estratégica de Halford Backinder, e do seu seguidor fiel, Zbigniew Brzeziński —consultor estratégico de Barak Obama—, consideram o controlo da Rússia essencial para impedir a supremacia da China, e de caminho também acham que quem controlar as reservas de petróleo e de gás natural, controla o mundo. Foi assim ao longo de todo o século 20. Será assim durante o século 21.

Depois da queda da União Soviética, os Estados Unidos montaram um apertado cerco militar à Rússia, através de alianças e da promoção de guerras regionais. A gota de água para a Rússia foi a tentativa de absorver a Ucrânia, berço da Rússia, na NATO. Perante a passividade dos europeus, e o oportunismo alemão, a Rússia respondeu à provocação, mostrando o que sucederia se o gás fornecido à Europa através da Ucrânia fosse interrompido. Daqui à escalada económico-financeira e militar foi um passo.

À medida que a Europa assustada procurava uma alternativa ao gás russo, lançando o fracassado projeto do gasoduto conhecido por Nabucco pipeline, que ficou no papel depois da desistência da Áustria, outros potenciais fornecedores de gás natural (Qatar-Irão, Iraque, Arábia Saudita, Israel, Turquemenistão) posicionaram-se no que passaria a ser uma corrida com implicações tremendas na região. O terrorismo, como exemplo típico de conflito assimétrico, a par de uma série de guerras vicariantes (proxy wars) em teatros localizados nas zonas de passagem dos vários potenciais gasodutos que querem concorrer com a Rússia no fornecimento de gás à Europa, passaram a entupir a paisagem mediática global com propaganda e imagens terríveis de ação psicológica.

Basta olhar para a importância que países como a Ucrânia e a Grécia têm nos acessos principais de gás natural à Europa para perceber que as discussões sobre as economias e os regimes políticos destes países não passam de pretextos que escondem jogos estratégicos fundamentais.

A recente descida abrupta do preço do petróleo esteve, afinal, relacionada com uma ofensiva dos Estados Unidos e da Arábia Saudita destinada a pressionar a Rússia a deixar cair Bashar al-Assad. Se Putin não ceder, arrisca-se a ver o seu país mergulhar numa crise financeira, económica e social que lhe pode ser fatal. Mas se ceder ao garrote dos preços baixos do petróleo, a quase exclusividade da Rússia no fornecimento de gás à Europa central, do norte e de leste, ficará comprometida.

A decisão do BCE, certamente determinada pela Alemanha, mas também pelos Estados Unidos, apesar das palavras carinhosas de Obama para com o novo poder grego, de aumentar a tensão na Grécia, tem mais que ver com a hipótese de uma aproximação entre a Grécia, a Turquia e a Rússia, do que com o problema da renegociação da dívida.


POST SCRITUM

É de notar que o mensageiro da decisão de o BCE tirar o tapete à Grécia foi o nosso querido e mui socialista Victor Constâncio. Que diz o sargento Costa e a nossa indigente Esquerda a isto?


RESPOSTA À PERGUNTA “TEM A CERTEZA QUE O EURO DESAPARECE?”

Não. Na realidade, o dólar quer apenas capturar o euro e fazer dele uma moeda subsidiária.

Ou seja, os Estados Unidos querem, compreensivelmente, manter a supremacia atlântica sobre a Eurásia, e para tal precisam de uma estratégia de pau e cenoura para com os alemães (euro sim, mas menos germanófilo).

Por exemplo, retirar à Rússia o monopólio de fornecimento de gás ao centro-norte-leste da União Europeia é um objetivo estratégico, que serve a Alemanha, a UE no seu conjunto, e os aliados da América no Médio Oriente: Arábia Saudita, Qatar, Israel...

No entanto, creio que os EUA querem mesmo enfraquecer a Rússia, para assim atingirem a China.

O perigo da situação vem daqui. E é neste sentido que a atuação do BCE e da senhora Merkel poderão, se o senhor Draghi não for pondo água na fervura, precipitar um choque frontal na Grécia (Grexit), de consequências imprevisíveis.

O colapso do euro, precedido de uma saída da Grécia, lançaria toda a Europa, a começar por Portugal, Espanha, Itália, França... numa situação particularmente complicada no que toca à reestruturação dissimulada (e em curso) das suas impagáveis dívidas (pública e privada).

Se em cima disto a Rússia, a Turquia e a China vierem em auxílio da Grécia, e em geral dos países europeus do Mediterâneo, teremos o caldo entornado.

Num cenário destes, a Rússia poderia mesmo fechar as torneiras à Ucrânia, i.e. à Alemanha; e poderia reforçar o apoio à Síria, bloqueando os gasodutos islâmico e árabe a favor dos gasodutos que vêm de Baku, do Turquemenistão e da Rússia, com passagem apenas pela Turquia, até chegar à Grécia.

A Europa precisará sempre de muito gás para se aquecer, não é verdade?

Resumindo, a questão financeira, e o problema grego, são muito mais do que o que aparentam.

As duas últimas guerras mundiais estiveram intimamente ligadas ao controlo das rotas do petróleo. A próxima grande guerra poderá acontecer por causa do controlo das rotas do gás.

A Alemanha já provou duas vezes que é incapaz de perceber os ventos da História, e que é suficientemente quadrada para se meter em armadilhas de onde depois não consegue sair.

É por isto que uma saída da Grécia do euro (Grexit), precipitada por comportamentos radicais do BCE e da Alemanaha, pode vir a rebentar com o euro, uma moeda demasiado atrelada ao invisível marco alemão!

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Atualização: 5/2/2015, 12:28 WET

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Guerra e Gás (3)


É o gás estúpida!


Tsipras says Greece and Cyprus could be ‘EU bridge to Russia’
EurActiv, 3/2/2015

“Greece and Cyprus can become a bridge of peace and cooperation between the EU and Russia,” said Tsipras, as quoted by the Greek daily Ekathimerini.

Tsipras however denied seeking financial aid from Moscow. “We are in substantial negotiations with our partners in Europe and those we have borrowed from. We have obligations towards them,” he said in response to a journalist’s question. “Right now, there are no other thoughts on the table,” he added.

On Friday, Moscow suggested it would consider offering financial aid to Greece, a few days after Athens had voiced reservations over EU sanctions on Russia.

O inferno da Ucrânia —resultado do acosso americano apoiado pelos caniches europeus— terá como provável epílogo o fecho dos gasodutos que ligam a Rússia à UE através da Ucrânia.

Alternativas: os gasodutos do Sul:
  1. Azerbaijão (Cáspio)+Irão+Rússia-Turquia-Grécia-Albânia-norte da Europa
  2. Irão-Qatar-Iraque-Síria-Líbano-Grécia-norte da Europa (Israel também está nesta disputa...)
A Grécia está a jogar uma cartada que representa a possibilidade de ser a principal porta de entrada de dois gasodutos estratégicos para a Alemanha e os demais países europeus que, sem gás natural, morrerão de frio no inverno.

O jogo de cintura do senhor Alexis Tsipras é, pois, mais sério do que parece, e a conversa sobre quem paga as dívidas não passa de uma guerra vicariante (a proxy war of the many around), para entreter os mérdia.

Mas não se esqueçam, senhor Tsipras, e senhor Varoufakis, de contratar o Paulo Macedo para por a vossa casa em ordem!

NOTA AOS INVESTIDORES: altura para investir no país de Sócrates. Do verdadeiro Sócrates, claro!

Sobre este mesmo tema n'O António Maria

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Obama apoia Syriza

President Barack Obama, shown in December, said there are limits to how far European creditors can press Greece as the country tries to restructure its economy.

E Angela Merkel? Pedirá aos alemães para regresssarem ao marco?


Obama diz, sobre a Grécia, que não se pode continuar a espremer um país quando está no meio duma depressão. O jogo geoestratégico entre os EUA, Rússia e China soma e segue. Merkel e o resto dos lémures europeus limitam-se a guinchar, de vez em quando.
President Barack Obama expressed sympathy for the new Greek government as it seeks to rollback its strict bailout regime, saying there are limits to how far its European creditors can press Athens to repay its debts while restructuring the economy.

“You cannot keep on squeezing countries that are in the midst of depression. At some point there has to be a growth strategy in order for them to pay off their debts to eliminate some of their deficits,” Mr. Obama said in an interview with CNN’s Fareed Zakaria aired Sunday.

He said Athens needs to restructure its economy to boost its competitiveness, “but it’s very hard to initiate those changes if people’s standards of livings are dropping by 25%. Over time, eventually the political system, the society can’t sustain it.”

Mr. Obama expressed hope that an agreement would be reached so Greece can stay in the eurozone, saying, “I think that will require compromise on all sides.”

Mas há mais...


Hollande também apoia a Grécia, e Matthieu Pigasse —antigo administrador do ministério da economia francês e diretor-geral delegado do banco Lazard, entretanto contratado por Yanis Varoufakis— sugere a possibilidade de um corte de cabelo na dívida pública grega na casa dos 50%!  O dominó do euro parece cada vez mais inevitável. Convém começar a poupar feijões, pois talvez venham a servir como moeda pós-euro!

France Open to Easing Greek Debt Burden: Finance Minister

Bloomberg
by Helene Fouquet
1:44 PM WET
February 1, 2015

[...]

Varoufakis appointed Lazard Ltd. as adviser on issues related to public debt and fiscal management on Saturday.

“There is a range of possible solutions: extending the maturities, lowering interests rates, and the much more radical solution, the haircut,” Matthieu Pigasse, the head of Lazard’s Paris office who has advised Greece in the past, said in a Jan. 30 interview on BFM Business television. “If we could cut the debt by 50 percent” he said, “it would allow Greece to return to a reasonable debt to GDP ratio.”

He said Greece’s debt to public creditors was about 200 billion euros.

Sapin and Varoufakis plan to make a joint statement in Paris on Sunday evening.

Artigos relacionados:
  • O nó grego. Alemanha isolada? — O António Maria
  • The Tide Is Turning: Obama "Expresses Sympathy" For Greece; Lazard Says 50% Greek Haircut "Reasonable"— Zero Hedge.

domingo, fevereiro 01, 2015

Grécia manda Troika bugiar

Presidente do Eurogrupo e o novo ministro das finanças grego

Dijsselbloem para Varoufakis: “You Just Killed The Troika”


E agora, Tia Merkel? E agora, Grécia? Será que a Rússia, os chineses e o resto dos BRICS propuseram a Tsipras um Plano B? Obama e Cameron abriram, aposto um G'Vine, várias garrafas de Champagne por esta inesperada, ou talvez não, derrota alemã. Mas o calvário continua... e as ondas de choque, em breve, varrerão a pacatez lusitana que tem aturado uma democracia capturada por gente imprópria.

O novo ministro grego das finanças, professor universitário e um blogger dos quatro costados, esclareceu mais tarde a BBC sobre o grande burburinho que se levantou depois da pedrada no charco que foi a conferência de imprensa que reuniu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e o novo ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, e onde o primeiro teria confessado, entre dentes, ao segundo, quando ambos abandonavam a conferência de imprensa: “You Just Killed The Troika!” Ao que Varoufakis teria replicado: “Wow!”

Neste esclarecimento (YouTube) o ministro teve a preocupação de explicar que a Troika, na sua qualidade de mandatária da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, deixou de ser uma interlocutora útil para a Grécia, como para qualquer outro país da União Europeia, na medida em que as receitas prescritas e em boa parte seguidas pelos países sob programa de resgate não deram os resultados prometidos. Os países da União têm assim que dialogar diretamente com os credores, e sobretudo com as instituições europeias de que são membros de parte inteira, sobre a crise sistémica em curso e novas estratégias para lhe fazer frente.

O que começou por ser um problema da periferia disfuncional, burocrática e corrupta da UE, progrediu entretanto em direção a norte: França, Bélgica, Reino Unido, Áustria, Holanda e Alemanha. A Alemanha, por exemplo, infrige há algum tempo o limite de 60% do PIB imposto pela UE em matéria de dívida pública. Em 2013, segundo The World Factbook, a sua dívida pública era de 79,9% do respetivo PIB.

Mas regressando à entrevista dada à BBC por Yanis Varoufakis, convém ressalvar que o mesmo reconheceu relativamente à Grécia que o país precisa de uma verdadeira reforma estrutural e de uma repressão fiscal a sério. O que houve, por obra da direita e dos especuladores agora derrotados nas urnas, foram 1) deformas estruturais e 2) transferências fiscais maciças, dos mais pobres e da classe média, para os mais ricos e para os fariseus da Troika. Ou seja, há que ir ao fundo dos problemas, e rejeitar liminarmente a ideologia austeritária do banksterismo dominante e suas subservientes burocracias. Não por estas palavras, mas foi o que disse.

Aparentemente, mesmo antes de ser eleito, o Syriza levou a Carta a Garcia, neste caso a Mario Draghi, para que o hegemonismo quadrado dos alemães fosse decisivamente contrariado.

É pos isto mesmo que a frase de Jeroen Dijsselbloem para Yanis Varoufakis (Keep Talking Greece) — Acabastate de matar a Troika—é mais consequente do que parece.

terça-feira, janeiro 27, 2015

Socialistas afundaram Grécia e Portugal

Sem fiança possível

BCE antecipou-se à vitória do Syriza (para não perder a face)


Como se escreveu neste blogue, o BCE, para não perder a face, já avançou para taxas de juro negativas (NIRP), mais radical ainda do que a proposta do recém empossado ministro grego das finanças, Yanis Varoufakis (1), que, em 2013, defendia taxas de juro zero, sem maturidade.
 

Hoje, 27 de janeiro de 2015, a Espanha foi aos mercados e obteve dinheiro a juros de 0,018% e 0,137%. Capiche?

A renegociação das dívidas europeias está em curso há vários anos, sobretudo através de programas de estímulo sucessivamente anunciados pelo BCE (2). É por esta razão que seria conveniente separar o ruído ideológico das inúteis cagarras partidárias, e as táticas negociais dos governos e bancos centrais, do sumo da questão. E o sumo da questão é este: a Alemanha e a França são os maiores credores na teia de endividamento europeu (ver gráfico publicado pelo The New York Times em 2010), mas todos devem algo a alguém. Ou seja, um incumprimento total por parte da Grécia, ou de Portugal, Chipre, Espanha, etc., é impraticável, e mesmo impensável, porque desencadearia um imparável efeito de dominó. Há, aliás, países da Eurolândia em situação potencialmente mais dramática do que a da Grécia. Basta olhar para os três gráficos seguintes (clique para ampliar).

O endividamento público relativamente ao PIB é uma coisa...

O endividamento privado é outra...

E o endividamento público, empresarial e das famílias, 'per capita', outra!


Corrupção é uma coisa, acusar os povos de preguiça, outra bem diferente! 


É certo que a corrupção instalada, nomeadamente na Grécia, Espanha, Itália, ou Portugal, pelos níveis e descaramento atingidos, acabou por contrariar e fazer implodir a esperada convergência entre os países menos desenvovlidos da União Económica Monetária (zona euro) e os seus parceiros mais ricos. Ou seja, houve claramente países que perderam, mais do que ganharam, com a moeda única, enquanto outros claramente ganharam em quase todas as frentes.

Esta realidade, que os seguintes gráficos demonstram, não desculpa, porém, as elites corruptas que decisivamente contribuiram para o colapso financeiro e económico-social dos PIIGS. É neste sentido que os povos do sul da Europa devem dar aos partidos que os afundaram o mesmo tratamento que as eleições gregas acabam de dar ao PASOK, o cabotino e corrupto partido socialista  grego.

Antes do euro, o crescimento da Grécia era claramente mais acelerado do que o da Alemanha

A Alemanha beneficiou claramente com a moeda única


EMAIL RECEBIDO

Acrescento, a propósito da discussão grega, um apanhado de notas de Rui Rodrigues sobre o caso português.

O BCE salvou Portugal do pior em junho e agosto de 2014

A decisão do BCE de comprar dívida pública em 2015 vai criar mais confiança na economia portuguesa, por uma razão simples: o nosso país já não irá passar por um novo resgate, em 2015. 
  • Foi o BCE que salvou Portugal do 2º resgate, que poderia ter ocorrido em Junho. 
  • Foi o BCE que permitiu que Portugal, Grécia, Espanha e Itália voltassem aos mercados. 
  • Foi o BCE que salvou Portugal do colapso financeiro no mês de Agosto (dia 4 Agosto) ao resolver o colapso do BES

BCE inova com resolução do BES

A resolução do BES foi adoptada na Europa pela 1ª vez.

A solução aplicada em Chipre correu muito mal, sobretudo por se ter optado por forçar os depositantes pagar a crise dos bancos. Clientes com mais de 100 mil euros ficaram sem 60% dos depósitos. Devido a este erro, muitas pessoas ricas passaram a colocar parte do seu dinheiro em cofres.

Assim, e por intervenção do BCE, o BES foi dividido em Banco Mau e Banco Bom (o Novo Banco—sem dívidas).
O BCE decidiu ainda que a lista de interessados na compra do Novo Banco teria que ser apresentada até 31 de Dezembro deste ano.

É muito provável que sejam os chineses a comprar o Novo Banco.
Se este problema ficar resolvido no 2º trimestre de 2015, será uma grande vitória para o BCE.

Objetivos do Quatitative Easing à moda do BCE

Antes de descrever esta nova realidade convém saber algumas noções de economia.
A economia pode estar em expansão (crescimento) e no oposto existem 3 fases de decrescimento: 
  • Recessão - oposto ao crescimento. 
  • Deflação - É uma fase perigosa em que os preços começam a cair. Os consumidores podem adiar ainda mais tempo nas suas compras  na esperança dos preços caírem ainda mais. Existe o sério risco dos produtores irem à falência por não conseguirem vender os seus produtos e por consequência o desemprego por disparar. 
  • Depressão - Esta é a fase mais grave de todas. Os Estados Unidos já viveram essa tragédia em 1929 quando tiveram a grande depressão económica que provocou a falência de grande parte dos bancos e de empresas e o desemprego foi o mais alto de sempre.
A Europa está em deflação—crescimento quase nulo e inflação próxima do zero.

O objectivo do BCE é claro: aumentar a inflação para um valor abaixo dos 2%, mas próximo deste valor. 
PAra provocar este efeito, o BCE irá comprar 60 mil milhões de euros de dívida pública por mês, de Março a Setembro. A intervenção pode prolongar-se, caso os valores da inflação não venham a ser atingidos. 
O BCE vai comprar títulos de dívida aos bancos com a intenção de colocar e fazer circular mais dinheiro na economia. 
A objectivo final é fazer crescer a economia e evitar o perigo de deflação.


Alemanha e França financiam os PIIGS

Em Portugal os maiores devedores são as empresas, depois o Estado, e por fim as famílias. 
A empresa com a maior dívida é a EDP: mais de 18 mil milhões de euros e juros de 600 milhões de euros por ano. 
Segundo opinião do Deutsche Bank, a Espanha, Irlanda e Itália vão resolver os problemas das suas dívidas.
A Irlanda tem a dívida empresarial mais elevada mas chegou a esta situação porque os seus bancos se "meteram de cabeça" nos derivados tóxicos.

Irlanda, Espanha e Itália têm economias mais fortes, o que ajudará estes países a pagarem as dívidas. 
Os casos de Portugal e Grécia são semelhantes. Crescimento baseado no endividamento.

O Deutsche Bank já sugeriu uma possível solução para a Grécia: ficar de quarentena durante uns anos até melhorar a sua economia. Nesse intervalo passariam a ter duas moedas:
  • o Drakma para operações internas 
  • o Euro para as trocas externas

Quem tivesse euros no banco mantê-los-ia e as poupanças seriam assim protegidas.


Consequências da decisão do BCE


Uma das consequências da decisão do BCE é a desvalorização o euro relativamente ao dólar

Esta opção poderá aumentar as exportações da Europa e consequentemente o emprego.

Os Estados Unidos, através da Fed, e a Inglaterra, através do Banco de Inglaterra, conseguiram aumentar o emprego e passaram a ter crescimento económico depois de terem optado pela compra maciça de dívida pública.

Aqueles que são contra a decisão do BCE dizem que o sucesso dos Estados Unidos e Inglaterra ocorreram em condições diferentes e em alturas diferentes das actuais. Nos EUA foi em Novembro de 2008. Em Inglaterra foi há 6 anos. Por estas razões julgam que o êxito do BCE pode ser bem mais limitado que nos EUA e Inglaterra.

NOTAS
  1. Yanis Varoufakis: 'We are going to destroy the Greek oligarchy system' (Channel 4—vídeo)

    Novo ministro das Finanças grego defendia em 2013 taxas de juro zero e empréstimos sem maturidade
    27 Janeiro 2015, 12:12 por Jornal de Negócios
  2. Draghi’s Introductory Remarks at ECB Press Conference: Text
    Bloomberg. Jan 22, 2015 1:52 PM GMT+0000

    Based on our regular economic and monetary analyses, we conducted a thorough reassessment of the outlook for price developments and of the monetary stimulus achieved. As a result, the Governing Council took the following decisions:

    First, it decided to launch an expanded asset purchase programme, encompassing the existing purchase programmes for asset-backed securities and covered bonds. Under this expanded programme, the combined monthly purchases of public and private sector securities will amount to €60 billion. They are intended to be carried out until end-September 2016 and will in any case be conducted until we see a sustained adjustment in the path of inflation which is consistent with our aim of achieving inflation rates below, but close to, 2% over the medium term. In March 2015 the Eurosystem will start to purchase euro-denominated investment-grade securities issued by euro area governments and agencies and European institutions in the secondary market. The purchases of securities issued by euro area governments and agencies will be based on the Eurosystem NCBs’ shares in the ECB’s capital key. Some additional eligibility criteria will be applied in the case of countries under an EU/IMF adjustment programme.

    Second, the Governing Council decided to change the pricing of the six remaining targeted longer-term refinancing operations (TLTROs). Accordingly , the interest rate applicable to future TLTRO operations will be equal to the rate on the Eurosystem’s main refinancing operations prevailing at the time when each TLTRO is conducted, thereby removing the 10 basis point spread over the MRO rate that applied to the first two TLTROs.

    Third, in line with our forward guidance, we decided to keep the key ECB interest rates unchanged. 
Atualização: 27/01/2015, 20:38 WET