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domingo, fevereiro 13, 2011

2030: end-of-the game

Onde não há petróleo...

Telegramas diplomáticos confidenciais divulgados pelo WikiLeaks revelam a incapacidade da Arábia Saudita de impedir a subida dos preços do petróleo, e o declínio a curto prazo da sua produção.
WikiLeaks cables: Saudi Arabia cannot pump enough oil to keep a lid on prices
US diplomat convinced by Saudi expert that reserves of world's biggest oil exporter have been overstated by nearly 40%

(…) According to the cables, which date between 2007-09, Husseini said Saudi Arabia might reach an output of 12m barrels a day in 10 years but before then – possibly as early as 2012 – global oil production would have hit its highest point. This crunch point is known as "peak oil".

Husseini said that at that point Aramco would not be able to stop the rise of global oil prices because the Saudi energy industry had overstated its recoverable reserves to spur foreign investment. He argued that Aramco had badly underestimated the time needed to bring new oil on tap.

"(…) Aramco's reserves are overstated by as much as 300bn barrels. In his view once 50% of original proven reserves has been reached … a steady output in decline will ensue and no amount of effort will be able to stop it. He believes that what will result is a plateau in total output that will last approximately 15 years followed by decreasing output" — Guardian, Tueaday 8 Feburary 2011.

Uma das consequências da revolução democrática que varre a margem sul do Mediterrâneo, com fortes possibilidades de se estender à Arábia Saudita, Iémen e vários outros países africanos populosos e jovens, será um maior consumo mundial de petróleo e gás natural. António Costa Silva adianta em artigo publicado no Expresso desta semana que este acréscimo será da ordem dos 30% nas próximas três décadas — se houver disponibilidade de produto, e quem possa pagar por ele, claro (acrescento eu). Ou seja, à pressão exercida pelo crescimento dos chamados países emergentes, entre os quais se incluem o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, mas também a Turquia, o Vietname, a Tailândia e a Argentina, que crescem três a quatro vezes mais depressa do que os Estados Unidos e a União Europeia (ver quadro), virão somar-se ao longo desta e da próxima década uma série de vizinhos de longa data da Europa, onde o passado de colónias submissas poderá ter sido definitivamente enterrado no dia em que Hosni Mubarak foi apeado do poder.

Esta tendência para o equilíbrio mundial irá, no entanto, provocar uma tensão enorme nos mercados de matérias primas, dos alimentos básicos, e da energia. Pão, arroz, mas também todos os produtos industriais e serviços serão apanhados por uma onda prolongada e crescente de inflação, cuja origem primordial é, precisamente, a escassez progressiva do petróleo e a correspondente e imparável subida de preço. Nada do que se conhece tem o poder e a dimensão suficientes para substituir o petróleo e o gás natural na alimentação do estilo de vida e bem-estar criados pelo homem nos últimos duzentos anos.

As consequências deste facto, que um número crescente de indícios diplomáticos, relatórios oficiais e estatísticas comprovam, são praticamente inimagináveis. Desde 1972 que o relatório The Limits to Growth, encomendado aos cientistas Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III, pelo Clube de Roma, previu o iminente colapso da civilização humana moderna em resultado de uma confluência galopante entre crescimento demográfico e exaustão das reservas potenciais de matérias-primas e alimentos. No vários cenários de The Limits to Growth, tal como no estudo pioneiro de 1956, desenvolvido por Hubbert M. King, "Nuclear Energy and the Fossil Fuels 'Drilling and Production Practice'" (PDF), o período compreendido entre 2030 e 2050 é apresentado como a barreira inultrapassável do actual paradigma energético do nosso crescimento como espécie. Sabe-se hoje que a energia nuclear não pode ser a salvação. E sabe-se que a única grande reserva energética disponível cuja capacidade de resposta se aproxima do petróleo e do gás natural é o carvão — depois de liquefeito. Acontece, porém, que esta operação é muito cara. Conclusão: o actual paradigma de desenvolvimento da espécie humana está irremediavelmente condenado — e a curto prazo! Se soubermos decrescer com graça, talvez nos safemos. Se não... a extinção parcial da espécie será a funesta herança que deixaremos aos nossos netos.

Enquanto o ruído surdo do fim dos tempos parece aproximar-se da nossa espécie, mas nos dá ainda algum tempo de análise e acção, a prioridade das prioridades chama-se eficiência energética — um bem que escasseia flagrantemente no nosso país. Se não pusermos rapidamente na ordem os piratas que nos levaram à falência, seremos dos primeiros povos a sucumbir!

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Wikileaks

Não há democracia sem transparência

Wikileaks revela que Chávez pediu 1,1 mil milhões ao BES

A petrolífera estatal venezuela PDVSA pediu um empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) ao Banco Espírito Santo (BES), no início do ano, revela um telegrama da embaixada norte-americana em Caracas, divulgado pelo site Wikileaks. O empréstimo, que à data do telegrama - 4 de Fevereiro - não estava ainda acordado, foi solicitado numa altura de aperto financeiro para o regime de Caracas, adianta a mesma fonte.

O telegrama confidencial descreve um encontro entre um alto responsável da PDVSA e uma fonte não identificada do grupo japonês Mitsubishi, que terá passado a informação aos diplomatas norte-americanos. — in Económico (Filipe Alves, 10/12/10 00:05).

A publicação pelo Wikileaks de mais de 400 mil documentos secretos, confidenciais ou simplesmente reservados, do Pentágono e das embaixadas americanas por esse mundo fora, é um verdadeiro terramoto político à escala global.

Será que afinal os Estados Unidos da América não passam de uma potência terrorista, apesar da sua obsessiva retórica democrática? Vale a pena ver até ao fim o elucidativo vídeo da televisão pública sueca, SVT, sobre o Wikileaks, e sobre as entranhas sinistras dos falcões americanos da guerra.

E em Portugal, até onde podemos confiar no actual primeiro ministro, no seu governo e no partido a quem demos a maioria dos votos nas duas últimas eleições, depois de sabermos que uma das maiores campanhas populistas do governo Sócrates —a do Portugal Digital— se viu envolvida, primeiro, na adjudicação ilegal da empreitada do computador Magalhães à JP Sá Couto (LINK), depois na contratação de meninos-figurantes para fazerem coro ao lado do primeiro ministro nas acções promocionais dos quadros electrónicos (LINK) nas escolas portuguesas; e finalmente, hoje, com a revelação de que a compra de um milhão de computadores Magalhães anunciada por Hugo Chávez (LINK) foi financiada com dívida do BES, que agora o país inteiro paga com um programa de austeridade que ameaça destruir a economia e lançar na miséria e no desespero milhões de portugueses?

Esta revelação do Wikileaks seria suficiente para fazer cair o governo se vivêssemos de facto numa democracia transparente. Mas como estamos metidos num regime que naufraga, cada um tentando encontrar o melhor salva-vidas, nem que para isso tenha que matar a mãe, incendiar a companheira, ou afogar os filhos, vamos assistir a mais um festival de retórica populista no parlamento e nas televisões.

Precisamos urgentemente dum Wikileaks em Portugal, independente, responsável e tecnicamente imbatível. Estou disponível para participar na sua construção!

POST SCRIPTUM — Afinal o milhão de computadores que o senhor Hugo Chávez anunciou que iria comprar a Portugal é uma compra financiada com um empréstimo 1,1 mil milhões de euros pelos senhores do BES. Bom, mas isso significa que:
  1. o senhor Sócrates mentiu, uma vez mais, aos portugueses;
  2. a banca portuguesa endividou-se em mais 1,1 mil milhões de euros para financiar as próprias exportações do país;
  3. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto por quem?
  4. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto pela austeridade imposta a todos os portugueses que não roubam e pagam impostos!
O negócio é muito interessante para a Venezuela e para o BES. Se não vejamos: Chávez compra  computadores a crédito, pagando anos mais tarde, com menos barris de petróleo do que os que teria que dar aquando do contrato, pois o preço do ouro negro não pára de aumentar; o BES empresta a Chávez com juros de 5, 6, 7...8%, depois de se ter refinanciado no BCE a 1%. Só Portugal fica a arder, pois tudo isto acaba por se traduzir numa troca comercial desfavorável para Portugal e no agravamento da dívida externa portuguesa, cujo financiamento pelo BCE acarreta a imposição dum programa de austeridade muitíssimo violento para a generalidade dos portugueses. Se a classe média não acorda a tempo, desaparece!