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sábado, agosto 29, 2009

Portugal 121

Regresso a Tormes


Pousada da Juventude de Vilarinho das Furnas, Campo do Gerês.
Foto OAM (Moto U9).


"Eu possuo preciosamente um amigo (o seu nome é Jacinto), que nasceu num palácio, com quarenta contos de renda em pingues terras de pão, azeite e gado.

... Eu, três vezes, com energia, ataquei aquele caldo: foi Jacinto que rapou a sopeira. Mas já, arredando a broa, arredando a vela, o bom Zé Brás pousara na mesa uma travessa vidrada, que transbordava de arroz com favas. ora, apesar de a fava (que os Gregos chamavam «ciboria») pertencer às épocas superiores da civilização, e promover tanto a sapiência que havia em Sício, na Galácia, um templo dedicado a Minerva Ciboriana - Jacinto sempre detestara favas. Tentou todavia uma garfada tímida. De novo os seus olhos, alargados pelo assombro, procuraram os meus. Outra garfada, outra concentração... E eis que o meu dificílimo amigo exclama: «Está ótimo!» Eram os picantes ares da serra? Era a arte deliciosa daquelas mulheres que em baixo remexiam as panelas, cantando o Vira, meu bem? Não sei: mas os louvores de Jacinto a cada travessa foram ganhando em amplidão e firmeza. E diante do frango louro, assado no espeto de pau, terminou por bradar: «Está divino!» — Eça de Queiroz, in Civilização. (PDF)

Ao contrário do que o nome indica, as Pousadas da Juventude não são apenas para os adoradores imberbes do telemóvel. Sobretudo as de quatro e cinco estrelas (sim, há umas mais iguais que outras!) são cada vez mais assediadas por jovens de espírito como eu, que levam já um quarto de século em cada perna, ou mais, e também não dispensam, mas sem estarem propriamente agarrados, o iPhone, a magnífico Flip e o absolutamente indispensável TomTom, este último, depois de lhe substituirmos as terríveis vozes portuguesas, por prestações tão geniais como as de Homer Simpson, John Cleese ou Dennis Hopper. Sobretudo num momento em que o horizonte parece irremediavelmente tempestuoso, aproveitar o melhor que a tecnologia tem, para revisitar o que de adorável existe no atraso do meu país, no conforto e deleite de algumas das excelentes pousadas que a voragem neoliberal não teve tempo de privatizar, é um privilégio ímpar.

Se as pousadas de Foz Côa e Ponte de Lima deixam algo a desejar no desenho, na robustez e na climatização inconveniente, em grande medida por causa dos levianos arquitectos que as desenharam, e dos irresponsáveis empreiteiros que as construíram, outro tanto não sucede ao recém-recuperado complexo de Vilarinho das Furnas (no espectacular Chão do Gerês), ou às novas pousadas de Alijó e de Melgaço (um luxo, jovens!)

Deixar Lisboa por uns dias e respirar o que o nosso atraso felizmente poupou à voragem da modernidade é um dos mais tonificantes antídotos que posso tomar para depois suportar a guerra civil das palavras onde me meti desde que lancei este já longo "António Maria".

Desta vez, o prazer organizado pela minha adorável mulher, na companhia da minha idolatrada filha (que acaba de somar à sua raíz lisboeta a nacionalidade espanhola!), passou por terras inesquecíveis de boas, como Ponte de Lima (ah grande Queijo Limiano!), Castro Laboreiro, Monção e Melgaço. Nestas duas últimas admiráveis vilas bebi os melhores Alvarinhos do mundo inteiro (e há-os bem bons na Galiza, na Califórnia, Argentina, Austrália e Nova Zelândia). São surpreendentes e divinos os Alvarinhos Soalheiros de Melgaço, como sólidos são os Alvarinhos de Rebouça e o Quinta da Pedra, de Monção. Até o Torre de Menagem, um vinho verde branco da casa Quintas de Melgaço, e o bem amanhado tinto verde da Adega Cooperativa de Monção (difícil de encontrar em Lisboa, como os demais citados...), deixaram saudades do irresistível cabrito do monte que o restaurante Adega Regional Sabino, situado em Melgaço, sacrifica diariamente e diariamente assa, com a simplicidade que tema tão sagrado exige, para êxtase gastronómico de quem não se passou ainda definitivamente para a dieta "veg".

No regresso, visitámos a anémica, embora muito incensada Pousada de Terras do Bouro —um projecto tão pretensioso quanto pífio de Eduardo Souto de Moura. Jantámos mais tarde uma inigualável posta arouquesa n'O Meu Gatinho, em Cinfães do Douro, por dever de homenagem à terra do meu avô paterno e de uma longa linhagem de aventureiros e bons vivants. Finalmente Braga, terra da minha mulher, e Porto, antes de tomar a A1 pela madrugada fora. Na cidade dos curas e do Bacalhau à Zé do Pipo, encontrámos uma esplanada-jardim civilizada, digna dos melhores recantos da Europa do Norte, na célebre Casa dos Coimbras. O Bar dos Coimbras é um projecto dos arquitectos Amadeu Magalhães e Guilherme Sequeira, de visita e usufruto obrigatórios. Experimentem o delicioso chá de Mate gelado e perfumado com hortelã — uma salvação laica em terra de batinas, numa tarde de ananases — como diria o Eça.

Hoje, antes de começar esta crónica de regresso de férias, passei pelo mercado bio do Príncipe Real. A capital também tem coisas amáveis, inteligentes e boas. Antes de passar pelo celeiro em busca de algas e óleo de abóbora (próstata oblige!), entrei na igreja jesuíta de São Roque, ao Largo da Misericórdia. Lágrimas de amor e raiva escorreram sem travão possível sob a cortina escura dos meus óculos de Sol.

A jihad literária recomeça amanhã!


OAM 616 30-08-2009 20:41

sábado, agosto 01, 2009

Portugal 117

É preciso castigar o Bloco Central da Corrupção



Estamos em plena safra eleitoral. Sementeira séria, não houve. O actual sistema partidário, atacado até à medula pela ignorância, pelo nepotismo, pelo partidismo, pela insolência da nomenclatura dominante, pela corrupção impregnada a que os partidos se tornaram aliás insensíveis, e sobretudo pela falta de audácia e visão de futuro, pagará inevitavelmente um preço elevado por tanta irresponsabilidade. O ciclo de instabilidade política que se avizinha, ao contrário do que já berram os arautos bem instalados da desgraça, virá não dos pequenos partidos e movimentos de cidadania que felizmente crescem, mas dos mesmos energúmenos que há décadas deterioram a democracia portuguesa em nome de um verdadeiro Bloco Central da Corrupção.

Temos assistido nas últimas semanas a uma verdadeira feira de saldos eleitorais. Sobretudo o PS e o seu impagável papagaio, na habitual pose de vendedor de cobertores da Covilhã, isto é, de megafone ao peito e teleponto sempre em riste, prometem tudo: um cheque de 200 euros aos recém-nascidos (que na realidade, para além da demagogia, se destina a aumentar os activos do sector bancário); a electrificação da Linha do Douro; a extensão da linha de Metro até Loures (que bom que seria!); transformar o Seixal numa nova Expo e, claro está, um novo choque fiscal, desta vez dirigido ao património rústico e urbano, com a finalidade de continuar a financiar o festim da nomenclatura inconsciente que se apropriou do país, alimentar hipoteticamente o pseudo programa de expansão keynesiana das luminárias que escrevem o teleponto de José Sócrates, e sobretudo promover por intermédio de uma inaudita violência fiscal a ainda escassa concentração capitalista das propriedades rústica e urbana. Os corruptos bancos que temos, e o sibilino Victor Constâncio, agradecem a anunciada pilhagem "socialista". E o Bloco de Esquerda, que diz sobre isto? Somará os seus votos aos do PS e PSD quando as leis espoliadoras subirem ao néscio parlamento?

Precisamos de reactivar o caminho de ferro (comboios, metros subterrâneos e de superfície) para transportar mais pessoas mais rapidamente entre os principais centros urbanos e suburbanos do país, e entre Portugal e o resto da Europa (1). Precisamos, aliás, de um verdadeiro renascimento do transporte ferroviário no nosso país (em linhas de bitola europeia e em linhas de bitola estreita), tal como vem sucedendo em Espanha, para dar força ao sector exportador da nossa economia, seja para transportar o que produzimos por cá, seja para escoar nos dois sentidos as mercadorias que elegem a nossa rede de portos marítimos e fluviais como uma opção de futuro.

Mas para tal, não podemos alimentar as propostas assassinas do aventureiro que há anos dirige a EDP —António Mexia.

A EDP é hoje a empresa mais endividada de Portugal. A sua dívida ultrapassa os 13 mil milhões de euros! Bastará uma pequena subida nas taxas de juro em 2010, para que o resultado do logro expansionista do senhor Mexia possa colocar a principal empresa energética do país à beira dum processo de alienação a favor de uma qualquer ave de rapina interessada nesta bela presa. Os voos altos de uma possível OPA sobre a EDP adivinham-se nas borras da dívida acumulada por António Mexia.

A EDP comprou ao governo "socialista" a ideia assassina de construir uma dúzia de novas barragens hidroeléctricas, com o argumento espúrio de que fazem falta para guardar água potável e produzir energia limpa (aqui anda Pimenta...)

Mas a verdade é que, no seu conjunto, tais centrais não poderão acrescentar mais do que 3% à energia eléctrica produzida actualmente em Portugal. A verdade é que tal construção serve apenas para cumprir três objectivos que, devidamente escrutinados, chegariam não só para demitir o actual CEO da EDP, mas talvez mesmo para metê-lo na cadeia — por administração dolosa e tentativa de violação do direito público da água.

Os objectivos criminais que presumo são estes:
  1. disfarçar o prejuízo estrutural de exploração do sector eólico nacional;
  2. aumentar artificialmente os activos desta empresa privada com participação minoritária do Estado e de outras entidades públicas portuguesas;
  3. criar condições para um futuro monopólio da água!
Será que os nossos políticos indolentes já se deram conta da manobra? Ou já só temos corruptos no baralho da actual partidocracia?

A rede de envolvimento e tráfico de influências lançada pela EDP sobre as autarquias do Alto Douro —uma região que deveria cobrar ao resto do país, e sobretudo das empresas energéticas, um clara percentagem pela exploração da sua maior riqueza, ali produzida diariamente, i.e., quase 80% da energia hidroeléctrica produzida em Portugal, e que consumimos maioritariamente nas regiões de Lisboa e Porto — é um crime e visa um crime ainda maior.

É pois urgente impedir o plano de barragens em curso — sobretudo aquelas que ameaçam destruir o rio Sabor, a linha férrea e o vale do Tua, ou submergir, em caso de desastre (a zona onde querem construir a barragem do Fridão poderá ser fortemente afectada num sismo futuro), a cidade de Amarante!

Não nos iludamos com a propaganda de Verão.

Nas próximas eleições legislativas vou votar no Bloco de Esquerda, única e exclusivamente para diminuir a influência excessiva do PS na vida portuguesa. Vou depois votar na coligação disfarçada actualmente em curso entre o PS de António Costa, Cidadãos por Lisboa, e Independentes (onde me incluo), para derrotar simultaneamente o pesadelo Santanista e o entrismo governamental nos assuntos da capital.

Post scriptum: como outros, tive absoluta razão na denúncia que fiz da tentativa partidário-oportunista de perverter o Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores.

Radar: a causa da Linha do Tua na blogosfera (a propósito da reportagem da SIC, "Fim de Linha") cresce dia a dia. Ainda bem. A blogosfera acabará por acordar este adorável país!

Última hora!A quem pertence o grupo Lena? A José Sócrates?!

Acaba de chegar à minha caixa de correio informação fidedigna sobre a LENA Construções S.A.: pertence, ao que parece, a José Sócrates! Tem, naturalmente, um testa de ferro à frente.

O Grupo LENA tem a encomenda da barragem do Baixo Sabor nas unhas, e é proprietária dos jornais "i", "Grande Porto" e vária imprensa regional...

O "i", embora não tenha leitores, consegue, sabe-se lá como, obter à borla tempo de antena diário nas principais televisões do Bloco Central: SIC e RTP.

Um país a saque!!


NOTAS
  1. Erro Estratégico na Nova Rede Ferroviária, Por Rui Rodrigues. Ler PDF certeiro e ilustrativo da leviandade governamental portuguesa. Vale a pena conhecer também o ponto de vista espanhol sobre o assunto...


OAM 610 01-08-2009 16:39