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segunda-feira, março 25, 2013

O rapto de Chipre

O Nascimento de Vénus, por Adolphe Bouguereau, 1879.

A Alemanha quer, a Rússia espreita, e a Europa, que fará?

Cronos, que na mitologia romana corresponde ao divino Saturno, era filho de Gaia, a Terra, e de Urano, o Céu estrelado. Este titã, divindade suprema da segunda geração de deuses da mitologia grega, viria a ser pai de Zeus. Um dia, a pedido de sua mãe, Gaia, Cronos cortou os genitais de seu pai, Urano, usando para tal uma foice, e arremessou-os ao mar. Da espuma (aphros) formada pelo contato do esperma de Urano com a água salgada ergueu-se aquela que viria a ser a deusa do amor e do erotismo, Afrodite.

Sempre núbil, Afrodite foi transportada numa concha de vieira até Pafos, uma praia e um porto que durante muitos anos foi a capital de Chipre.

A Ilha de Chipre, que se parece a uma chave entre três continentes —Europa, África e Ásia— é um lugar carregado de história, disputado há milhares de anos por todo e qualquer império e poder que se preze: Assírios, Persas, Egípcios, Gregos, Romanos, Árabes, Ricardo Coração de Leão, Templários, Venezianos, Turcos Otomanos, e até pela Coroa Britânica, último colonizador da ilha, antes da bronca alemã presentemente em curso!

O episódio das chamadas Doações de Alexandria, protagonizado por Marco António e Cleópatra, de que a restituição de Chipre ao Egipto fora uma das decisões atrevidas e fatais do estouvado Marco António, revela até que ponto, desde tempos muito antigos, a ilha que acaba de atrair uma Europa mal governada a um possível beco sem saída, foi, a vários títulos, uma das chaves mestras do mundo civilizado.

Chipre sempre foi um paraíso, pelo menos na nossa imaginação. Mas foi e continua a ser também uma armadilha e um calvário recorrente para os seus habitantes. O paraíso fiscal serviu a gregos, italianos, portugueses, ingleses, russos e alemães, até ao dia em que a paulatina retirada de fundos especulativos alojados na ilha começaram a fazer perigar o sistema financeiro daquele pequeno país da União Europeia.

A obrigação da Europa era ter agido em tempo, e não quando a gangrena já exigia o corte de pelo menos uma das pernas! A Alemanha agravou em Chipre um comportamento de rapina já exibido noutros países da União, por mais que os governos destes países —Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Itália— tenham tido comportamentos levianos e até criminosos. Angela Merkel e o Bundesbank confundem o euro com o marco, e pretendem uma vez mais germanizar a Europa. Mas assim, só obterão um ricochete cada vez mais desagradável da sua cada vez mais desastrosa gestão do sonho europeu.

A Alemanha nunca foi império. Pelo que vamos vendo, nunca o será, pois não aprende nada com a História :(


ÚLTIMA HORA

Chipre: o grosso dos depósitos bancários, nomeadamente russos, poderão saído da ilha ao longo da semana passada.

Reuters: “German Finance Minister Wolfgang Schaeuble said the bank closure had limited capital flight but that the ECB was looking closely at the issue. He declined to provide figures.” — “Money fled Cyprus as president fumbled bailout”. Reuters, Mar 25, 2013 2.58pm EDT.

O grosso da massa depositada nos dois principais bancos cipriotas (boa parte da qual com origem criminosa ou especulativa) pode ter voado para Londres e para a Rússia antes do Eurogrupo ter anunciado a sua decisão final. Se assim foi, significa que os principais prejudicados serão os depósitos das vulgares empresas locais e as poupanças de muitos cidadãos. Se foi assim, estaremos perante um verdadeiro rapto de Chipre e da destruição financeira e económica de um pequeno país, em nome de uma certa cobiça alemã :(


Última atualização: 25 mar 2013, 22:55 WET