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sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Hiper-Keynes à beira do precipício. PIGS fora do euro?

Wolfgang Schäuble - ministro das finanças alemão

Goste-se ou não de Schäuble, o homem fala a mais pura das verdades 


Schäuble: política expansionista está a criar “economias-zombies” 
Negócios, 26 Fevereiro 2016, 09:41 
“O modelo de crescimento baseado na dívida atingiu os seus limites. Está mesmo a causar novos problemas, aumentando o endividamento, gerando bolhas e riscos excessivos, tornando a economia ‘zombie’”, afirmou Schäuble na madrugada desta sexta-feira, 26 de Fevereiro na reunião de banqueiros centrais e ministros das Finanças das 20 maiores economias do mundo, em Xangai, China. 

De facto, Portugal nunca esteve tão perto de se tornar uma economia zombie. Com boa parte do tecido industrial destroçado ou exaurido em dívidas, atrasado e falho de competitividade, com os principais grupos rendeiros falidos e em saldos desde que voltámos a ajoelhar perante os credores (2011-...), com a banca insolvente e nas unhas de espanhóis, catalães, chineses e angolanos (nomeadamente por efeito da sua excessiva exposição à bolha imobiliária, ao Estado social-populista e suas EPs artificialmente colocadas fora do perímetro orçamental, aos rendeiros do regime e à fuga em frente destes para os países emergentes), com os grupos privados de comunicação social falidos, e uma TAP a caminho do desastre, Portugal, ou se reforma de uma vez por todas, começando por ajustar a dimensão do estado e da despesa pública aos seus rendimentos reais, ou acabará por se deparar um dia destes com as portas do crédito internacional fechadas. A solidariedade fiscal da UE chegou aos seus próprios limites, como a crise dos refugiados tem vindo a demonstrar.

Mas para quem ainda acredita em rosas, foices e martelos, a discussão em curso, sotto voce, sobre o sugerido mecanismo de insolvência soberana, aplicável aos euro-países cujos graus de endividamento atingiram pontos de não retorno, colocando cada vez mais prementemente na ordem do dia a necessidade de uma mutualização das suas dívidas, ou o referido mecanismo de insolvência soberana, sob pena de ocorrerem danos irreparáveis na Zona Euro, é a que mais deve importar a todos nós. Não estou, porém, nada seguro, que a saída de Portugal da zona euro seja melhor do que pôr as contas públicas, os rendeiros e os piratas do regime na ordem.

«Mecanismo de Insolvência Soberana»: Merkel propõe-se impedir-nos o Acesso ao Mercado financeiro >>> O Governo das Esquerdas, o PSD e o CDS/PP apoiam-na? 
O Economista Português. Posted on Fevereiro 25, 2016
Portugal, Itália e Espanha «correm o risco de serem atingidos por uma séria crise de confiança», afirma o Professor Bofinger. 
[...]
O Sr. Primeiro Ministro, no debate do Orçamento, referiu a reestruturação da nossa dívida por acordo com os credores. Ninguém valorizou financeiramente a fórmula, que passou por um simples  puxão de orelhas ao financeiro Centeno,  mas ela não parece ingénua. O Dr. António Costa parece estar ao corrente do plano da Srª Merkel, não terá dito nada aos seus concidadãos e prepara-se para o aprovar, se é que não o aprovou já?  O novo plano da Srª Merkel é com efeito apresentável como uma reestruturação da dívida alcançada por acordo com os nossos credores – e à custa dos portugueses, a exemplo de tantas outras maravilhas recentes do federalismo europeu, adoradas acriticamente pela nossa classe política, como o fundo de resolução bancária. O Economista Português gostaria também de conhecer a opinião sobre o assunto dos outros partidos políticos da situação: o PSD, o CDS/PP – além dos que apoiam o governo, o PS, do PCP e do Bloco de Esquerda.

German ‘bail-in’ plan for government bonds risks blowing up the euro 
‘If I were a politician in Italy, I’d want my own currency as fast as possible: that is the only way to avoid going bankrupt,’ said German ‘Wise Man’ 
Telegraph. By Ambrose Evans-Pritchard | 7:27PM GMT 15 Feb 2016 

A new German plan to impose “haircuts” on holders of eurozone sovereign debt risks igniting an unstoppable European bond crisis and could force Italy and Spain to restore their own currencies, a top adviser to the German government has warned. 
“It is the fastest way to break up the eurozone,” said Professor Peter Bofinger, one of the five “Wise Men” on the German Council of Economic Advisers. 
“A speculative attack could come very fast. If I were a politician in Italy and I was confronted by this sort of insolvency risk I would want to go back to my own currency as fast as possible, because that is the only way to avoid going bankrupt,” he told The Telegraph. 
The German Council has called for a “sovereign insolvency mechanism” even though this overturns the financial principles of the post-war order in Europe, deeming such a move necessary to restore the credibility of the “no-bailout” clause in the Maastricht Treaty. Prof Bofinger issued a vehement dissent. 
The plan has the backing of the Bundesbank and most recently the German finance minister, Wolfgang Schauble, who usually succeeds in imposing his will in the eurozone. Sensitive talks are under way in key European capitals, causing shudders in Rome, Madrid and Lisbon. 
Under the scheme, bondholders would suffer losses in any future sovereign debt crisis before there can be any rescue by the eurozone bail-out fund (ESM). “It is asking for trouble,” said Lorenzo Codogno, former chief economist for the Italian Treasury and now at LC Macro Advisors. 
This sovereign “bail-in” matches the contentious “bail-in” rule for bank bondholders, which came into force in January and has contributed to the drastic sell-off in eurozone bank assets this year. 
Prof Bofinger wrote a separate opinion warning that the plan could become self-fulfilling all too quickly, setting off a “bond run” as investors dump their holdings to avoid a haircut. 
Italy, Portugal and Spain would be powerless to defend themselves since they no longer have their own monetary instruments. “These countries risk being hit by a dangerous confidence crisis,” he said. 
[...] 
... Portugal is already in the eye of the storm, facing a slowing economy and a clash with Brussels over austerity. 
The risk spread on Portugal’s 10-year debt surged to 410 basis points over German Bunds last week, pushing borrowing costs back to unsustainable levels in real terms. Portugal’s public debt is 132pc of GDP. Total debt is 341pc, the highest in Europe. The country is in a debt-deflation trap and requires years of high growth to escape.

quinta-feira, julho 23, 2015

Ler antes de votar

PIETRA, António Onofre Schiappa, fl. ca 1830
Marquez de Pombal : nasceo em Lisboa a 13 de Maio de 1699... / Schiappa. - [S.l. : s.n., entre 1830 e 1852] ([Lisboa] : : Off. Lithog. de Santos). - 1 gravura : litografia, p&b ; 16,3x12,1 cm (imagem com letra); pormenor. BNP.


Precisamos de uma maioria reforçada na próxima legislatura


O Presidente da República foi muito claro no discurso desta noite: o próximo Governo tem de ter uma maioria estável, porque senão não conseguirá resolver os problemas do país. Não o disse explicitamente, mas deu a entender que não aceitará um Governo sem maioria.
Jornal de Negócios, 22 Julho 2015, 21:37 por Bruno Simões

Tenho zero simpatia pelo senhor Silva, mas a verdade é que Cavaco tem andado bem no fim de um mandato que ainda vai dar muito que falar. Definiu uma posição estratégica correta face à Grécia; respondeu de modo certeiro ao beijoqueiro Jean-Claude; e exige, bem, uma maioria reforçada na próxima legislatura. É que sem revisão constitucional, ou sem uma nova Constituição, e sem uma maioria bem atada, não será possível conduzir a casca de noz portuguesa no mar cada vez mais encapelado que aí vem. A próxima coligação de governo terá que ser não só maioritária, como gozar da maioria qualificada para uma revisão inadiável do presente texto constitucional.

Portugal tem uma dívida pública, privada e externa colossal, gerada em grande medida pela corrupção endémica do país, e pelo populismo genético da democracia saída Revolução de Abril.

Salvo se reduzirmos o estado às suas funções essenciais, eliminando as redundâncias e entregando à sociedade o que esta pode fazer melhor e mais barato, salvo se reduzirmos o poder de bloqueio corporativo das agremiações rendeiras e devoristas do país —dos sindicatos dos funcionários públicos e equiparados, ao exército partidário que proliferou como uma praga, passando pelos banqueiros e industriais a soldo do orçamento de estado e dos subsídios comunitários—, salvo se libertarmos a iniciativa dos cidadãos e das suas empresas e associações livres, da canga burocrática que os reprime e esfola em sede fiscal, salvo se aprendermos a criar e proteger instituições democráticas sólidas, contra o nepotismo, a partidocracia e a predominância de uma aristocracia nova que herdou a iniquidade e repete os mesmos vícios de sucessivas gerações, pelo menos desde 1640, atirando e mantendo ainda hoje Portugal na cauda do mundo, o que nos espera é um enorme buraco negro, muito semelhante ao da Grécia, onde, se não pararmos um momento para pensar antes de votar, cairemos miseravelmente e sem retorno.

A aliança tipicamente provinciana e reacionária entre Francisco Louçã e João Ferreira do Amaral é a imagem mais fiel das resistências indígenas que teremos que vencer se quisermos finalmente criar um país civilizado, produtivo e justo.

Cá, como na Grécia, as velhas elites caricatas e obscurantistas, economicamente retrógradas e politicamente autoritárias, unem-se por conveniência oportunista a uma esquerda radical zombie cujo realejo disléxico há muito alienado da realidade é incapaz de apresentar uma ideia prática que se veja. Não precisamos de passar pelo suplício de ver um dia o senhor Louçã num ministério. O pesadelo proporcionado pelo Syriza aos gregos, e o senhor Varoufakis, chegam e sobram!

Não sei se os economistas (nomeadamente os sábios de António Costa) e os jornalistas da nossa ilustrada praça leram Trade and Power—Informal Colonialism in Anglo-Portuguese Relations, de Sandro Sideri, publicado em 1970. Se não leram, está na altura de lerem.

Duas citações apenas de um livro que vale cada vírgula, para o debate que deveria haver entre os beatos do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda, e o famoso liberalismo de Passos Coelho. O primeiro ministro, apesar de contaminado pela pressão dos poderosos fregueses que o rodeiam, percebeu o essencial: endividados até ao tutano não iremos a parte alguma. Ou melhor, estando onde estamos, se não travarmos a fundo a despesa pública e o endividamento privado, se não libertarmos o estado de quem dele se serve sobretudo para proveito próprio e da casta, se voltarmos a ser governados por quem pensa que a obsessão do défice é uma doença, então sim, iremos àquela parte. Tal como foi a Grécia. E não será nada agradável de ver, menos ainda de viver.

...the potential contribution of capital to development is minimal without the necessary ‘institutions’ to really take advantage of it.

[...]

“In fact the partial success that Pombal did achieve with his commercial policies and the reduction of the trade deficit with Britain, encouraged him to move into a vast programme of industrialization. He could not fail to realize that without a strong manufacturing sector, his country’s dependence on the old ally might be somewhat lessened, but certainly not eliminated. Commercial measures alone could not substantially improve the Portuguese economic situation; if her destiny was to rest in Portuguese hands, and if a modern nation was to be reborn from what had become a colony then they had to be part of a large plan geared to the development of manufactures. Thus, it was necessary to redress the situation that had been created by the previous Anglo-Portuguese commercial treaties and which had forced the country into such a specialization that in the middle of the 18th century ‘two-third of her physical necessities were supplied by England’. This situation could not have been changed without breaking the regulations on which such a dependence was based. It is this emphasis on national interests, without war as the final aim of his development strategy, that makes Pombal more a forerunner of F. List [Friedrich List] than the last mercantilist, especially of the Colbert type.

There is another element in Pombal’s development strategy that reminds us of List’s industrial education, namely his constant effort to strengthen the young and  small bourgeoisie and gain its participation in the economic process. It was through his efforts that some of the most successful merchants and industrialists were made noblemen; this introduced a new mentality and outlook into the old ultra-conservative Portuguese nobility whose parasitic role had been increasing during the first half of the 18th century.”

(S. Sideri, 1970)

sexta-feira, agosto 08, 2014

Será a resolução bancária sistémica uma alternativa?

Queimar as dívidas? Não é fácil, mas está a suceder!

Bail-out—Bail-in à moda de Louçã e do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra 


“...esta é a minha proposta”, escreve o antigo líder do Bloco de Esquerda, não se sabe bem se na qualidade de co-autor, ou se reclamando para si a exclusividade da ideia de uma ‘resolução bancária sistémica’ alternativa ao Mecanismo Único de Resolução (SRM) aprovado pelo parlamento europeu em maio-julho de 2014, e posto claramente à prova no resgate punitivo do BES levado a cabo pelo BCE e pelo Banco de Portugal, em evidente articulação com a Comissão Europeia e o governo português, e que, como se sabe, levou ao repúdio parcial das responsabilidades do terceiro maior banco português para com os seus acionistas, clientes, credores e especuladores, em nome da salvação dos depósitos, da carteira de clientes não financeiros, e da estabilidade do sistema financeiro em Portugal e na Eurolândia.

O artigo publicado hoje (8/8/2014) por Francisco Louçã na sua habitual coluna no Público, não deixa de ser um desafio oportuno, até por nos ter conduzido ao documento do IPP, “Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa”. Do artigo citado destaco dois momentos extraordinários, um pela flagrante contradição do ideário do trotsquita-bloquista com o seu pensamento mais recente, e o outro, pelo escusado narcisismo autoral.

Escreve Louçã:

“...a nossa proposta cumpre a lei sem artifícios (ao contrário do que se estará a passar agora com o BES) e evita o custo de uma nacionalização directa (que é sempre o último recurso legal, mas que tem o inconveniente de passar todo o passivo para o Estado). Essa resolução bancária sistémica [que Louçã e o IPP propõem...] segue o modelo utilizado nos Estados Unidos pela instituição responsável, o FDIC, que o aplicou entre 2007 e 2013 em 505 bancos.”

E conclui:

“Precisamos mesmo de uma solução. O controlo público do sistema financeiro é a alternativa que dá o poder e a responsabilidade à democracia. Como é preciso correr o risco da resposta concreta no debate nacional, aqui está, esta é a minha proposta.” 

in Francisco Louçã, “Faltam respostas no debate sobre a crise bancária. A solução alternativa concreta é o controlo público”. Público, 8 de Agosto de 2014, 10:05 WET.

“Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa” (8 Jul 2014) é um importante documento estratégico da autoria coletiva de Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, cuja publicação esteve a cargo do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra (IPP), um think-tank presidido por Paulo Trigo Pereira.

Apenas tivemos tempo de o ler na diagonal. O bastante, porém, para recomendá-lo como um contributo relevante e oportuno no preciso momento em que uma proposta diferente, mas nem por isso menos restruturacionista, passou da teoria à prática. Refiro-me, claro está, ao golpe de coelho dado ao BES com o sado-masoquista Mecanismo Único de Resolução.

A demonstração da insustentabilidade da dívida portuguesa, que é como todos sabemos, pública e privada, interna e sobretudo externa, é elegante e vale a pena segui-la. No entanto, falta sublinhar que a realidade não é apenas indígena, mas praticamente universal, ainda que com maior gravidade nos países maduros e sobreendividados do Ocidente — aqueles que há décadas consomem mais do que produzem, e geram mais dívida, economia virtual e especulação do que poupança e bons hábitos.

A medida do sobreendividamento dos Estados Unidos, do Reino Unido e da União Europeia, por exemplo, pode ser imaginada apenas a partir de um dado: a exposição da Goldman Sachs aos derivados financeiros OTC, onde boa parte dos contratos de especulação com as dívidas privadas e públicas residem: $44.192.000.000.000 (44,192 biliões de dólares). O PIB mundial anda nos 73 biliões... Mas o valor nocional global destes contratos era, no fim de 2013, de acordo com o BIS, qualquer coisa como 693 biliões de dólares, ou seja, mais de 9x o PIB mundial.

Não há alternativa a um Jubileu assimétrico e brutal do sobreendividamento do Ocidente. Resta saber quem irá ficar na situação dos acionsitas do BES, dos obrigacionistas do BES, dos hospitais do BES, dos incautos do BES, dos especuladores do BES.

Pensar que é a riqueza pública que está ou que vai resgatar o BES é um embuste teórico. O que vai resolver o BES será tão só mais uma dose de liquidez gerada pelo Banco Central Europeu, a qual estacionará durante algum tempo na dívida soberana portuguesa, até que o empréstimo desta dívida ao Fundo e Resolução que financiará o Novo Banco seja cobrado com juros suficientes para os credores públicos e privados que intervierem na operação.

É desta forma que o mecanismo de reestruturação da dívida pública e privada vai fazendo o caminho das pedras, forçando os bancos a processos de reestruturação implícitos, que conduzem a menos financiamento da economia que, por sua vez, provoca mais falências de empresas e pessoas, mais desemprego, menos procura, menos salários, em suma, mais dívidas incobráveis, imparidades e a extinção forçada das mesmas. No éter das transações digitais serão então perdidos alguns milhares de milhões de euros dessa mesma dívida pública que alimentou o BES, os donos do BES e a especulação bolsista em geral naquilo que tem sido a ilusão do crescimento diariamente vendida pelas bolsas mundiais. Na realidade, o que o colapso do BES nos revela é que o capitalismo está de novo sob a pata da economia-política, de que os bancos centrais são a ferramenta técnica.

A crise financeira não é o resultado apenas da ganância dos especuladores e dos banqueiros, mas a consequência de um modelo social de acumulação e distribuição capitalistas de valor cujos pressupostos energéticos, materiais e demográficos desapareceram, ou estão em vias de extinção.

Poderá haver uma resolução bancária sistémica em Portugal?
Não.
Porquê?
Porque Portugal não tem a dimensão dos Estados Unidos, da China, da Índia, ou da Rússia.
Porque já não tem dimensão, nem economia que lhe permitam ser autónomo.
Porque faz parte de um sistema monetário com mais dezassete estados.
Porque não tem nem pode ter moeda própria sem afogar-se de vez na sua dependência face aos demais países, a começar pela Espanha.
Porque não pode impor ao resto da Europa o que acabou de impor ao BES. E neste particular é preciso dizer que o Banco de Portugal e o governo português apenas puderam impor ao BES a solução que já todos conhecemos porque a mesma foi desenhada e em última instância aplicada pelo BCE e demais instâncias comunitárias.

Seja como for, vale a pensa ler com tempo a proposta elaborada por Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, sobre uma possível, mas improvável, estratégia de repúdio ordenado e parcial da nossa descomunal dívida. Até porque o tema será cada vez mais atual e premente!

Aqui ficam alguns extratos para abrir o apetite ;)
[...]

7. Para o concretizar, atuando nas duas componentes mais importantes, propomos a reestruturação da dívida bruta não consolidada das administrações públicas e um processo de resolução bancária, que resultarão na redução de dívida necessária para assegurar a auto-sustentabilidade (financeira) do país.

8. Um programa desta natureza pode recorrer a vários tipos de instrumentos para alcançar o mesmo objetivo: nomeadamente, pode incluir um corte elevado no stock da dívida e uma redução menor dos juros, ou uma combinação de um adiamento da amortização da dívida com uma redução mais substancial dos juros. Neste exercício é apresentada a simulação do segundo processo. Note-se que para assegurar que o país seja capaz de se autofinanciar autonomamente o fundamental é reduzir a despesa com juros e alongar as maturidades da dívida existente.

9. As principais medidas deste programa são então: (i) a negociação para a redução do valor presente da dívida (reestruturação de dívida), através da alteração de juros e prazos; (ii) o saneamento dos passivos bancários, para garantir a solvabilidade e estabilidade da banca; e (iii) a modernização fiscal para pôr as contas do Estado em ordem e tornar sustentável, numa perspetiva macroeconómica, a recuperação económica e o crescimento económico futuro.

10. Através da redução de juros e da extensão de prazos da dívida das Administrações Públicas e da reestruturação do passivo do sector bancário, seria possível conseguir uma diminuição anual do défice da balança de rendimentos que se estima em cerca de 4,7 mM€, traduzindo-se num efeito equivalente a uma redução do valor presente da dívida externa líquida de 103% no final de 2013 para cerca de 24% do PIB. De facto, o nível de dívida externa do país é tal que uma reestruturação de dívida de dimensão inferior não conseguiria assegurar que a dívida externa de Portugal se tornaria sustentável.

11. A proposta apresenta as seguintes condições para a troca da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas e do Sector Empresarial do Estado por Novas Obrigações do Tesouro (NOT) com o mesmo valor facial: (1) esses títulos terão um cupão de 1%, e (2) vencerão, em parcelas idênticas, entre 2045 e 2054, havendo um período de carência de juros em 2015. Com estas condições, o valor presente da dívida pública na óptica de Maastricht passaria a ser de 74% do PIB (63% do PIB, líquida de depósitos),3 já após a recapitalização da Segurança Social e de diversos fundos do Estado. O valor presente da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas passaria a representar 82% do PIB (face aos atuais 173% do PIB).

12. Garante-se assim uma margem de manobra suficiente para relançar o investimento e a criação de emprego, bem como para estimular a procura interna fazendo funcionar os estabilizadores automáticos e assegurando a proteção dos salários, pensões e prestações sociais contra a pobreza.

13. A sustentabilidade da dívida externa portuguesa exigirá ainda um processo de resolução bancária especial, que deve proteger a estabilidade do sistema bancário, salvaguardando os seus rácios de capital e solvabilidade, seguindo as melhores práticas internacionais (e.g., FDIC). Esse processo conduzirá a uma redução da dívida bancária de cerca de 24% dos passivos bancários (excluindo capitais próprios) no final de 2013, de que resultará uma redução da dívida externa líquida do sector (direta) estimada em cerca de 30% do PIB.

14. A negociação da reestruturação da dívida externa portuguesa deveria ser conduzida de modo a que a Lei do Orçamento de Estado para 2015 consagrasse todos os instrumentos jurídicos necessários para a viabilidade destas medidas.

sexta-feira, julho 04, 2014

Renegociar as dívidas soberanas, disse ela...


A esquerda piedosa é uma esquerda de burocratas oportunistas


Nunca a 'esquerda' foi tão oportunista e objetivamente acólita do odiado FMI como hoje. Tudo o que Louçã, Jerónimo de Sousa, Seguro e Costa reclamam como medidas justas e populares faz parte do programa de ação em curso e protagonizado por Christine Lagarde. A expropriação dos fundos de pensões, da poupança, do fruto do trabalho e dos rendimentos do capital caminha alegremente para uma espécie de fascismo fiscal cujo fim será inevitavelmente trágico. O casulo do monstro e do novo fascismo por vir chama-se taxas de juro negativas e prolongamento perpétuo das maturidades das dívidas soberanas. O principal beneficiário deste holocausto financeiro é a burocracia e os seus partidos.

“Socialism is no longer to help the poor against the rich, but to help the government against the people”— Martin Amstrong.

A agenda comunista e socialista no que toca aos ataques à propriedade privada e às poupanças perdeu oportunidade para a própria lógica dos grandes monstros que são os estados. Estando estes falidos até ao tutano, a alternativa que têm é sempre a mesma, roubar um estado vizinho, e quando não conseguem fazê-lo, assaltar os próprios súbditos, comer os próprios filhos! Daí que Louçã, Jerónimo de Sousa e António José Seguro estejam, desta vez, um passo ou dois atrás da realidade.

É por isto mesmo que Victor Bento e Passos Coelho puderam ontem explicar aos restantes conselheiros de estado que a famosa reestruturação da dívida, reclamada pelo quadrado Louçã, pelo simpático Jerónimo e pelo atordoado Seguro, antes de ser uma reivindicação da esquerda populista indígena, é um dictat do FMI!

Já escrevemos várias vezes sobre isto, mas é preciso insistir...

“The distinction between external debt and domestic debt can be quite important. Domestic debt issued in domestic currency typically offers a far wider range of partial default options than does foreign currency–denominated external debt. Financial repression has already been mentioned; governments can stuff debt into local pension funds and insurance companies, forcing them through regulation to accept far lower rates of return than they might otherwise demand.”

id/Page 8 (IMF-Sovereign-Debt-Crisis)
[...]

In January 2014, the Bundesbank joined the IMF project focusing on a “wealth tax”. In its monthly report they had announced: “In the exceptional situation of an imminent state bankruptcy a one-time capital levy could but cheaper cut than the then still relevant options” if higher taxes or drastic limitations of government spending did not meet or could not be implemented.

In the latest June 2014 working paper of the IMF, they have set forth yet another scheme – extending maturity. So you bought a 2 year note? Well, the IMF possible solution would be to simply extend the maturity. Your 2 year note now become 20 year bond. They do not default, you just can never redeem.
Possible remedy. The preliminary ideas in this paper would introduce greater flexibility  into the 2002 framework by providing the Fund with a broader range of potential policy responses in the context of sovereign debt distress, while addressing the concerns that  motivated the 2002 framework. Specifically, in circumstances where a member has lost  market access and debt is considered sustainable, but not with high probability, the Fund would be able to provide exceptional access on the basis of a debt operation that involves an extension of maturities (normally without any reduction of principal or interest). Such a “reprofiling” operation, coupled with the implementation of a credible adjustment program, would be designed to improve the prospect of securing sustainability and regaining market access, without having to meet the criterion of restoring debt sustainability with high probability.

(THE FUND’S LENDING FRAMEWORK AND SOVEREIGN June 2014)

in “Christine Lagarde – The Most Dangerous Woman in the World – IMF Advocates Taking Pensions & Extending Maturities of Gov’t Debt to Prevent Redemption”.
By Martin Armstrong, June 28, 2014, Precious Metals.

A intenção incialmente declarada pela chefe do FMI visava sobretudo atacar o monstro dos derivados e a especulaçao financeira fora de controlo. Por isso apoiámos a sua candidatura ao cargo. Mas volvidos três anos de dura e interminável crise, registamos esta deriva burocrática extremamente perigosa por parte de sucessivos estudos da instituição.

Em Portugal a deriva autoritária do ministério das finanças —forçada em parte pelos partidos, pela burocracia de estado e pelo pseudo tribunal constitucional— já aponta na direção destes estudos do FMI. Enquanto houver um cinto de segurança chamado BCE, a coisa talvez se aguente, apesar das injustiças e do sofrimento causado. Mas quando o BCE se vir abraços com grandes problemas de insolvência, por exemplo, em França, ou numa cascata de falências de estado na banda oriental do UE, e deixar de poder atender ao caso português, a probabilidade de vermos irromper uma guerra civil no nosso país é maior do que muitos creem.

Post scriptum

O FMI recomendou sempre que Portugal renegociasse os ruinosos contratos PPP, e que reduzisse as rendas excessivas, nomeadmente dos piratas da EDP (que andaram a fazer inside trading com o Ricardinho do BES e os homens da mala do PSD!) Nisto, coincidimos sempre com a posição do FMI na Troika. Mas a crise das dívidas soberanas parece estar fora de controlo. Daí a ideia, ventilada pelos gabinetes de estudo do FMI, de uma taxa única de 10% sobre a riqueza das pessoas e empresas europeias (ou até de todo o mundo que faz parte da OMC e do FMI). Aparentemente é uma coisa boa e  justa, mas a verdade é que, a ser aplicada universalmente, em vez de outras especificamente dirigidas à especulação ociosa dos hedge funds, aos contratos de derivados especulativos OTC, e ao despesismo das burocracias alimenntadas por impostos, uma tal medida acabaria por transformar-se numa expropriação em massa das poupanças e rendimentos legítimos das pessoas e das empresas não escondidas em paraísos fiscais, a somar à expropriação fiscal fascista já em curso em vários países, beneficiando outra vez as burocracias partidárias instaladas e os 1% de sempre. A ideia é, como se vê, péssima! Em vez desta expropriação, que condenamos e contra a qual devemos lutar, é necessário e urgente estudar um mecanismo de eliminação recíproca das dívidas à escala global, condicionando porém esta espécie de Jubileu das dívidas a profundas reformas das administrações e orçamentos públicos, sistemas bancários e financeiros, e instaurando uma política de preços, rendimentos e concorrência justa e equilibrada, à escala regional e global. O mundo é só um. Os paradigmas da mentira sistémica deixaram de funcionar. Ou mudamos, ou entramos todos numa corrida de lémures em direção ao precipício.

Atualização: 5/6/2014, 10:39

sábado, abril 05, 2014

A deflação não é um perigo, a dívida imparável e a inflação, sim!

Se a procura de capacidade cai, a economia não cresce.

 

O que Seguro pede, já foi e continuará a ser dado pelo BCE, e não é bom... 

 

“...we do not exclude further monetary policy easing and we firmly reiterate that we continue to expect the key ECB interest rates to remain at present or lower levels for an extended period of time” — Mario Draghi.
“The first obstacle is… the emerging risk of what I call “low-flation,” particularly in the Euro Area. A potentially prolonged period of low inflation can suppress demand and output—and suppress growth and jobs. More monetary easing, including through unconventional measures, is needed in the Euro Area to raise the prospects of achieving the ECB’s price stability objective. The Bank of Japan also should persist with its quantitative easing policy” — Christine Lagarde (in Stockman’s Corner).
The fear of deflation serves as the theoretical justification of every inflationary action taken by the Federal Reserve and central banks around the world. It is why the Federal Reserve targets a price inflation rate of 2 percent, and not 0 percent. It is in large part why the Federal Reserve has more than quadrupled the money supply since August 2008. And it is, remarkably, a great myth, for there is nothing inherently dangerous or damaging about deflation.

Deflation is feared not only by the followers of Milton Friedman (those from the so-called Monetarist or Chicago School of economics), but by Keynesian economists as well. Leading Keynesian Paul Krugman, in a 2010 New York Times article titled “Why Deflation is Bad,” cited deflation as the cause of falling aggregate demand since “when people expect falling prices, they become less willing to spend, and in particular less willing to borrow” — in Deflating the Deflation Myth - Chris Casey - Mises Daily
Wednesday, April 02, 2014, by Chris Casey.

O medo de deflação é irracional e infundado, segundo a Escola Austríaca. Baixar os juros e aumentar mais ainda a emissão de moeda e portanto a massa monetária é o que está em curso, tanto nos EUA, como na UE, como na... China, supostamente para afastar o demónio da deflação. E no entanto os preços e a atividade económica continuam estagnados. Basta reparar nos últimos gráficos do Baltic Dry Index. Nem a criação artificial de liquidez, nem a destruição dos juros chegam à economia, e muito menos às famílias que se vêm atingidas pelo desemprego estrutural causado pelo colapso das empresas, seja por efeito do excesso de capacidade destas, seja por terem o acesso ao crédito bancário bloqueado.

Todos queremos pagar menos, e não mais!

No entanto, a aposta dos bancos centrais, e do PS, e do Bloco de Esquerda, vai sempre ter com a inflação. Ora, como o emprego não cresce e o desemprego aumenta, esta inflação invisível (os tais 2% que são bem mais...) estimulada pelos bancos centrais e pelos partidos de esquerda só pode ser uma receita para o desastre: expropriação generalizada das classes médias, através da expropriação financeira e fiscal das suas poupanças e rendimentos, a qual resulta da redução das taxas de juro para valores negativos (sim, negativos...) e da destruição do crédito à economia produtiva (aquilo que eufemisticamente os banqueiros centrais chamam 'mecanismos de transmissão monetária' e 'fragmentação').

Na realidade, estamos a caminho de uma expropriação em massa da riqueza privada através dos bancos centrais, em nome, não da emancipação de um qualquer proletariado, que já não existe, mas do fortalecimento, enriquecimento e centralização de uma classe financeira global e globalmente servida por uma tropa de choque burocrática sem vergonha, de que a generalidade dos partidos sentados nos parlamentos são parte integrante.

Ou seja, os rendimentos de capital caiem, os rendimentos do trabalho caiem, mas os preços das matérias primas, da energia e os impostos continuam a subir acima da inflação declarada, tal como o preço a pagar pelas dívidas soberanas que são alimentadas pela demagogia populista instalada com recurso à criação imparável de massa monetária fictícia, i.e. de dívida pública e privada — o que, por sua vez, dará aos novos soberanos financeiros pretexto e fundamento legal para a mencionada expropriação da riqueza produzida, bem como da poupança de mais de duas gerações! Veja-se a venda de ativos públicos ao desbarato e sem prudência contratual por parte dos governos de José Sócrates (PS) e Passos Coelho (PSD-CDS/PP). O Estado não tem outra forma de pagar o banquete que encomendou e papou ao longo das últimas duas décadas!

Quando o tótó Seguro pede mais tempo e menos juros esquece, porque na realidade não sabe, e apenas repete o que o economista cor-de-rosa de turno lhe diz, que é precisamente isso que tem sido feito desde que o BCE entendeu que o problema financeiro da UE deixara de ser um problema circunscrito à periferia e se deslocara para o coração do... euro!

Enquanto não deixarmos cair os bancos, e sobretudo não tratarmos da saúde aos especuladores e aos rendeiros sistémicos do capitalismo burocrático, assistiremos à continuada destruição das classes médias, ao empobrecimento geral das economias, à desagregação social dos países e ao perigo de novas guerras e revoluções. Só que desta vez o sangue correrá sem prémio no fim :(

Curiosamente, a democracia populista, devorista e rendeira que temos começa a morder perigosamente a própria cauda.

POST SCRIPTUM
Introductory statement to the press conference (with Q&A)
Mario Draghi, President of the ECB,
Frankfurt am Main, 3 April 2014
(transcript)

Atualizado: 6/4/2014, 02:06 WET

sexta-feira, junho 29, 2012

Descoberta tardia

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Foto © ?

Um homem afável, mas de que planeta?

Carlos Costa disse hoje na AR que em 2010 descobriu que havia um sério problema de dívida externa no país. Em 2010?! Mas este homem não me lê?! Acusei os nossos economistas de andarem a dormir na forma a este respeito... em 2008! E em outubro de 2005 já tinha avisado que haveria um crash imobiliário muito antes de o embuste da Ota começar a caminhar... (1)

Um trotskysta alemão, nos idos de abril de 1975, confessou-me desiludido: "Vocês nunca conseguirão fazer a Revolução". Mas porquê, perguntou o jovem trotskysta heterodoxo que então era. Respondeu-me o camarada turista, arregalando os seus olhos muito azuis: "porque andam sempre meia hora atrasados!"

Pois este governador anda, no mínimo, dois anos atrás dos acontecimentos, o que sendo quem é, não pode deixar de ser muito preocupante.

Eu não sei ainda se a zona euro sofrerá, ou não, a breve trecho, uma cisão, dando lugar a uma banda de euro-marcos de um lado, e outra, de euro-PIIGS. Continuo a pensar no que há mais de um ano escrevi: será a própria Alemanha que, uma vez esgotada a paciência, baterá com a porta, dizendo Auf Wiedersehen às economias toxicodependentes em dívida soberana e populismo democrático, preparando entretanto com a China o mesmo tipo de FOREX que a China tem vindo a estabelecer com a Rússia, Japão, Índia, Irão, Brasil, Chile, etc....

Se não avançarmos rapidamente para uma federação económico-financeira, política e militar, que comece depois deste fim-de-semana a dar passos firmes nesta direção, por forma a garantir que a Europa será mesmo uma União antes de 2020, o sonho do pós-guerra morrerá uma vez mais, mergulhando a Europa em mais uma Idade Média, ainda que tecnológica. A América e a Inglaterra não ganharão nada com este desfecho, mas acreditam que destruindo o euro, poderão salvar as quimeras monetárias em que transformaram as suas moedas. Não podem!

A China e a Rússia apoiam a Europa e o euro. Mas se ambos ruírem, mais rápida e selvagem será a penetração da China nos mercados europeus. Alemanha será sempre o seu principal parceiro, e os restantes países afundar-se-ão paulatinamente nas armadilhas do endividamento público, privado e externo em que caíram e de onde parece não quererem sair.

There was just one relevant phrase uttered in all of last night's bluster, and ironically it came from Italy's own Mario Monti who said that there are "no plans for boosting bailout funds." This really is all that matters. Why? The Bridgewater chart that we presented before once again explains it all. ZeroHedge.


Os bancos recapitalizam-se à custa de recursos claramente limitados quando comparados com a escala gigantesca dos endividamentos soberanos. A dita recapitalização não chega à economia se não parcialmente, isto é, apenas serve para alimentar as burocracias incuráveis das democracias populistas da Europa e para remunerar fundos de investimento e credores, boa parte dos quais está presa no fundo do Buraco Negro dos Derivados criado pelos piratas de Wall Street e da City londrina. Numa palavra, o alívio deste fim de semana é temporário. O mal continua a corroer o sistema financeiro ocidental.

A janela de oportunidade agora entreaberta não nos liberta da responsabilidade de corrigir a democracia. Se em vez de apostarmos na transparência, na eficiência e na ampliação e diversificação dos modos de formação da vontade democrática, continuarmos a alimentar um regime capturado por piratas e oportunistas, o colapso social será brutal e rápido.

Um exemplo de que quase nada mudou nos centros de poder, apesar da crise gravíssima que atravessamos desde 2009, está bem patente em processos como o da privatização da TAP. A quem serve a privatização: ao país, ou ao grupo BES? Quem opina neste processo: o Estado, ou o BES? Outro exemplo do escandaloso atraso da reforma política que urge fazer, é o modo arrogante como a EDP prossegue o assassinato do Vale do Douro em nome de coisa nenhuma, a não ser da arrogância e da corrupção.


NOTAS
  1.  2005
    A antecipação criminosa da estratégia da Ota

    Se as obras de terraplanagem algum dia vierem a ter início, de uma coisa deveremos desde já estar seguros: o dito Aeroporto Internacional da Ota jamais será concluído. Muito antes das datas previstas, nos cenários pró-Ota, para a sua inauguração --2017-2018--, Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (ou melhor dito, de sobrevivência). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (...) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário.

    OAM 30-10-2005.


    2008
    A cenoura e o pau do Bloco Central

    Em duzentas e três economias consideradas no World Factbook da CIA, Portugal tinha, em 2007, a 20ª maior dívida externa do mundo (200% do nosso PIB!), acima, em valor absoluto, de países como a China, a Rússia, o Brasil, a Argentina ou os Emiratos Árabes Unidos. Acresce ainda que a dívida pública, i.e. a dívida do Estado (juros incluídos) já chegou aos 64% do PIB, enquanto a balança de transacções correntes é também deficitária em cerca de 10% do Produto Interno Bruto. Ou seja, no momento em que ocorre o maior eclipse de liquidez monetária de que há memória, anunciando em todo o seu dramatismo o início de um colapso financeiro e uma depressão prolongada nas principais economias ocidentais, a banca portuguesa está virtualmente falida e sem credibilidade suficiente para contrair os vultuosos empréstimos de que necessita para sobreviver e ajudar a financiar o pântano deficitário em que todos nos estamos afundando -- públicos e privados. Pior não podia ser!

    OAM, 1-11-2008.


    O garrote da dívida externa portuguesa


        Gross External Debt Position*
        2007 - $461.200.000.000 (CIA Factbook, 31 December 2007)
        2008 - 335 136 000 000 euros (BdP, Março 2008)
        2008 - 343 966 000 000 euros (BdP, Junho 2008)

        PIB nominal
        2007 - 163 082 900 000 euros
        2008 - 168 356 400 000 euros (previsão do OE 2009)

        Dívida Externa
        2007 = PIB x 1,985
        2008 = PIB x 2,043

        in Banco de Portugal, Setembro, 30, 2008

    A dívida externa portuguesa supera os 200% do PIB! E não os 100% que não sei quantos economistas vêm lançando para o ar mediático nas últimas semanas, depois de terem tolerado durante anos a conversa fiada dos 3% em volta do défice orçamental, como se este fosse o maior problema estrutural do país. Não é!

    O Estado português até poderia absorver 5% e mais do PIB, sem que daí mal algum viesse ao Zé Povinho, na condição de esse dinheiro ser bem empregue. Por exemplo, na recuperação da nossa vocação atlântica em todas as suas pesadas frentes e dimensões orçamentais. Por exemplo, na criação de facto de um Estado livre, solidário, participativo e eficiente. Por exemplo, na criação e desenvolvimento acelerado de uma política linguística e de informação global tecnologicamente avançada. Para tudo isto, dando de barato que pelo caminho poríamos de facto as corporações profissionais e sindicais na ordem, gastar 5% do PIB em políticas estruturais e estratégicas de Estado, seria mais do que aceitável, mesmo correndo o risco de ouvir berros de Bruxelas.

    Agora o que não é tolerável é contrair alegremente dívidas no estrangeiro ao longo de décadas, e atrair à toa investimentos especulativos, até termos chegado à linda situação de sermos, entre 203 países e economias regionais consideradas, aquele que tem, em valores absolutos (!), a 20ª maior dívida externa do planeta!!

    OAM 19 nov 2008.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Reversão colonial

 Negócios da China? Privatizações? A terminologia da imprensa económica está errada!
O estado chinês avança rapidamente sobre os próprios recursos petrolíferos do Canadá!
“U.S. and Canadian companies have dominated Alberta's oil sands for decades. Now, though, Chinese firms are rushing to snap up Canadian oil sands resources and invest in ongoing projects - to the tune of $15 billion in the past 18 months in Alberta alone” — in China invests billions in Canada oil sands. By JENNIFER A. DLOUHY, HOUSTON CHRONICLE.

EDP, REN, privatizações? Quais privatizações?! É preciso corrigir a terminologia!

Não há nenhuma privatização parcial da REN a favor da State Grid, mas uma transferência de ativos soberanos de um país para outro — obviamente para pagar antecipadamente dívidas da República Portuguesa à China, com algo que se possa tocar! O Economist deste mês escreveu algo (que ainda não li) sobre esta confusão terminológica oportunista... Na realidade, os grandes credores do Ocidente, cujos cofres estão a abarrotar de conversa fiada e quimeras soberanas cada vez mais ilusórias, decidiram duas coisas muito preocupantes para os EUA e para a Europa:
  1. desfazerem-se paulatinamente dos excessos de reservas em dólares, passando a usar o yuan, o iene, o rublo, e o rial, entre outras moedas nacionais, nas trocas comerciais bilaterais, e
  2. trocarem uma parte do excesso de títulos de dívida soberana, que têm recebido para poderem continuar a exportar, por activos materiais efectivos — nomeadamente através da tomada de posições firmes em empresas estratégicas de recursos energéticos e alimentares, sistemas de transportes, e ouro.  
É a versão suave de uma reversão colonial!

sexta-feira, janeiro 06, 2012

A morte prematura do euro?

Imagem retirada do sítio The Ignorant Fishermen
2012 poderá ser o ano do Armagedão, e até o ano do fim do mundo, mas não o ano da morte do euro!

O euro permanece “muito forte” e uma queda maior ajudaria as exportações, defendeu o governador do Banco de França, Christian Noyer — in Jornal de Negócios online, 6 jan 2012.

Através da desvalorização deslizante do dólar, Washington procura diminuir o preço da sua descomunal dívida externa, refreando ao mesmo tempo o consumismo interno, uma vez que a parte das importações na economia dos EUA é cada vez mais pesada, a começar no petróleo importado, até quase tudo o que é mercadoria manufaturada: carros, computadores, telemóveis, mobiliário, roupa e calçado, brinquedos, etc.

Esta desvalorização da moeda americana (que é uma moeda de reserva mundial), a par de um política de destruição sem precedentes das taxas de juro interbancárias e do crédito a retalho, principais agentes da própria desvalorização do dólar, visa sobretudo equilibrar a balança comercial americana com a China, Japão e com os seus principais fornecedores de petróleo: Canadá, Arábia Saudita e México.

A desvalorização da moeda americana induziu, por sua vez, uma valorização excessiva do euro, segunda moeda de reserva mundial. E a consequência desta apreciação foi a perda acentuada de competitividade das economias europeias, sobretudo daquelas com menor produtividade tecnológica e menor sofisticação de produtos. Esta apreciação tornou as importações muito competitivas e atraentes, pelo seu baixo preço. O Forex especulativo com as subavaliadas moedas japonesa e americana (yen carry-trade e dollar carry-trade), por sua vez, forçou uma queda progressiva do preço do dinheiro na própria Europa, tornando o acesso ao crédito cada vez mais irresistível, e o trabalho produtivo local cada vez mais caro e desinteressante por comparação com as novas economias financeiras assentes no endividamento barato, na especulação bolsista e sobretudo cambial, e na importação de bens e serviços faturados em moedas sub-avaliadas: iene, yuan e sobretudo a moeda em que são cotadas as principais matérias primas energéticas, minerais e alimentares: o US Dollar.

O endividamento europeu não é apenas, nem sobretudo, público.

O endividamento privado é muito superior, e ambos confluíram para a presente e gravíssima crise de liquidez e de insolvência que aflige pessoas, empresas e governos. Os excessos terão que ser forçosamente corrigidos, assim como, e principalmente, o modelo de crescimento económico baseado na especulação financeira que tudo incha e depois liquida.

Neste contexto, uma desvalorização competitiva do euro, até aos 1,20 dólares, será provavelmente aconselhável, a par de uma revisão sábia do modelo social europeu, e de uma revolução no modo de produção tecnológico em curso, que terá que sofrer uma viragem de 180 graus — do consumismo desmiolado e da produção fictícia, para a sustentabilidade económica efectiva e uma nova cultura de criatividade e partilha social.

O ponto de partida para esta revolução não poderá deixar de corresponder a uma profunda alteração das atuais democracias representativas e seus sistemas de poder. A América caminha perigosamente para uma nova espécie de estado concentracionário, de exceção permanente e de ditadura, cada vez pior disfarçado pelo sofisticado sistema de propaganda desenvolvido desde 1914 (nomeadamente a partir das ideias do duplo sobrinho de Sigmund Freud, Edward Bernays). Não é este o caminho de que precisamos! A Europa tem, também por causa desta degradação cultural americana, uma grande responsabilidade na refundação democrática das sociedades globais e tecnológicas do futuro.

Uma solução militar para a actual crise global seria um desastre completo. No entanto, e infelizmente, é mais provável o fecho do Estreito de Ormuz do que a implosão do euro em 2012.

Por fim, esta previsão não significa que alguns países da zona euro, mais debilitados e prisioneiros de lógicas demo-populistas, consigam evitar um afastamento temporário da Eurolândia. Tal quarentena, porém, onde poderão cair a Grécia e Portugal, não implicará uma expulsão do Sistema Monetário Europeu, e muito menos da União Europeia. Faço figas, no entanto, para que a atual coligação que governa Portugal, e a Oposição, incluindo os sindicatos, percebam a tempo e horas os custos de uma aventura contra a inexorável correção dos nossos próprios desvarios. Isto é: a saída de Portugal do euro!


act.: 7-12-2012 19:09

sexta-feira, dezembro 31, 2010

Com estes economistas...

Milhões, bilhões, milhares de milhões e biliões
A propósito dos "biliões" de Daniel Bessa



A dívida externa portuguesa supera os 200% do PIB! E não os 100% que não sei quantos economistas vêm lançando para o ar mediático nas últimas semanas, depois de terem tolerado durante anos a conversa fiada dos 3% em volta do défice orçamental, como se este fosse o maior problema estrutural do país. Não é! — in O garrote da dívida externa portuguesa, O António Maria (19-11-2008).

Uma das possíveis causas da nossa desgraça económica deriva do simples mas inacreditável facto de a esmagadora maioria dos economistas portugueses não perceberem patavina de energia, agricultura, pescas, pecuária, transportes, e mal saberem o que é uma empresa, quanto mais pagar salários da sua imaginação e suor! Outro aspecto igualmente grave da sua cada vez mais evidente ignorância, é a falta de conhecimento histórico analítico das crises cíclicas do Capitalismo (ao que parece História, Cultura e Arte são disciplinas que nunca viram ao longo das suas burocráticas vidas). Mas pior ainda: sofrem, quase todos, de uma escandalosa iliteracia terminológica! Dois exemplos:
  1. Apesar de aqui termos chamado a atenção para a dimensão real e gravidade da dívida externa portuguesa em 4 de Novembro de 2008 (A cenoura e o pau do Bloco Central), 19 de Novembro de 2008 (O garrote da dívida externa portuguesa), e no dia 10 de Dezembro do mesmo ano (Economistas lentos), chamando a atenção para a falácia da chamada "dívida externa líquida", só agora, no suplemento de economia do Expresso de ontem, o reputado economista Daniel Bessa reconhece que, afinal, o que importa reter é mesmo a dimensão colossal da nossa dívida externa bruta — a qual, segundo números do Banco de Portugal que consultou recentemente, e que se referem a 30 de Setembro último, apontam para qualquer coisa como 294% do PIB. Quando chamei a atenção para esta catástrofe iminente, em 19 de Novembro de 2008, a percentagem era de 200% — ou seja, em apenas dois anos (entre Junho de 2008 e Setembro de 2010) a dívida externa portuguesa passou de 200 para 294% do PIB. A isto chama-se crescimento exponencial. Sabem o que é? Ora vejam o vídeo que incluí acima, do excelente crash course de Chris Martenson.
  2. Como se esta manifestação de iliteracia económica não fosse já de si inadmissível, acresce a confusão que Daniel Bessa e uma parte substancial de economistas, comentadores económicos, ministros e jornalistas, continuam a fazer entre milhares de milhões, bilhões e biliões!

    Na coluna citada do Expresso desta semana Daniel Bessa confunde sistematicamente milhares de milhões de euros com biliões de euros. A confusão é grave. Pois um bilião de euros são um milhão de milhões de euros, i.e. 10E12€, ou 10^12€, ou 1 000 000 000 000€, quer dizer, mil milhões + novecentos mil milhões de euros! Já agora aproveito para recomendar um pequeno artigo sobre esta confusão, publicado recentemente pelo Jornal de Negócios.

    Colocando os números no sítio certo, é então assim:
    1. devemos ao exterior 505 mil milhões de euros (294% do PIB), entre dívidas comerciais, empréstimos contraídos no estrangeiro e investimento estrangeiro realizado no nosso país (por exemplo, espanhol e alemão), que espera naturalmente retorno e ganho;
    2. o estrangeiro, por sua vez, deve-nos, entre dívida comercial, empréstimos contraídos em Portugal e investimento português no estrangeiro (por exemplo na falida Irlanda), 325 mil milhões de euros;
    3. a posição líquida da dívida externa portuguesa é assim de 180 mil milhões de euros, ou seja, 105% do PIB (na realidade, se contarmos com as dívidas do sector empresarial do Estado, empresas regionais e municipais, e um longo etc., será bem maior!)
Este exemplo de dupla iliteracia, de que padece também Luís Campos e Cunha, que se passou recentemente com armas e bagagens do rosa socratinta para a laranjada cavaquista, não pode deixar de preocupar seriamente o vulgar cidadão, como eu, que tende a pensar apenas na corrupção como causa de todos os nossos males, esquecendo que, afinal, a ignorância oceânica dos nossos economistas pode ser uma causa bem maior do próximo grande colapso da Lusitânia.

    quarta-feira, abril 28, 2010

    Portugal 183

    Do optimismo à bancarrota?

    Se os títulos do BCP, BES e BPI afundarem hoje como ontem e anteontem, um deles irá muito provavelmente à falência e Portugal caminhará provavelmente para a bancarrota. Se resistirmos até meados de Maio, talvez escapemos ao pior, por os holofotes estarem então concentrados na dívida inglesa. Mas seja como for, nada impedirá um aperto dramático no nosso estilo de vida e uma profunda depressão na nossa economia, que poderá prolongar-se até 2015. A saída do euro antes do fim deste ano será então um cenário mais plausível do que hoje parece. Quase tudo dependerá do que a Alemanha decidir fazer com esta crise. Para já, Angela Merkel quer ganhar a guerra do euro contra a libra e o dólar. No entanto, a dimensão que tiver o rebentamento da gigantesca bolha especulativa que se formou no mercado das dívidas soberanas vai ser o factor porventura decisivo.

    Em dois dias os principais bancos portugueses perderam, cada um deles, mais de 10% do seu valor em bolsa. E embora os meios de comunicação social e as agências de comunicação, que dependem totalmente dos ditos bancos, tenham passado uma esponja sobre esta espectacular destruição de valor, a verdade é que se percebeu, pela primeira vez, que a Caixa Geral de Depósitos deixou de acudir ao colapso, nomeadamente do BCP. Este é o sinal mais evidente de que amanhã poderá mesmo iniciar-se a contagem decrescente para mais de um dos bancos portugueses — mal preparados para sobreviver em mar alto e sem cinto de segurança. Quando lhes falta o Estado, afinal, esfumam-se!

    2006 crise mundial
        A crise aguda de civilização em que estamos metidos aconselha duas coisas: estar atento e evitar o pânico. A melhor receita para a sobrevivência passa por suprir o atraso e desinformação sistemáticos dos média corporativos com informação proveniente de outras fontes, independentes ou simplesmente distintas do ópio mediático disperso pelos média convencionais. Por outro lado, aconselha-se vivamente muito cuidado na tomada de decisões de investimento de médio e longo prazo. O mais provável é que bens como a terra fértil e as zonas habitacionais próximas dos nós de comunicações se venham a valorizar tremendamente nos próximos anos. Para já, o investimento em metais preciosos (como o ouro e a prata) são bem mais seguros do que quaisquer aplicações financeiras e planos de poupança/reforma e seguros de saúde. O mesmo ocorrerá infelizmente com todos os bens e serviços associados a emergências bélicas, sanitárias e sociais decorrentes do previsível agravamento da presente crise mundial. Num cenário de catástrofe financeira mundial, é de prever a falência de centenas de bancos e sociedades de investimento, já para não falar da falência de algumas dezenas de Estados (congelamentos de salários e pensões de reforma, despedimentos nas Administrações Públicas, subidas vertiginosas de impostos, derivas nacionalistas, etc.) Se a crise vier a ocorrer, como se teme, não será fácil evitar o pânico. Mas se estivermos alerta, poderemos evitar o pior, e prepararmo-nos com coragem para uma longa e dolorosa metamorfose. — in O António Maria, 2 de Março 2006.

    O Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB) anunciou em Fevereiro de 2006 que vinha aí uma crise sistémica. Semanas antes eu tinha estado em Paris numa reunião promovida por Franck Biancheri (fundador do GEAB e impulsionador do programa Erasmus), onde se falou da crise sistémica que se perfilava já então no horizonte, e da importância da investigação prospectiva.

    Desde 2 de Março de 2006 (DOIS MIL E SEIS) que comecei a alertar o meu país sobre este problema, lendo tudo o que pude agarrar de substantivo sobre a matéria, e obtendo uma crescente e preciosa ajuda de leitores, alguns dos quais são hoje meus amigos. Os economistas portugueses, no entanto, andaram quase todos a florear este assunto até 2007, 2008, ou mesmo até ao princípio deste ano, afirmando que a banca portuguesa era sólida e sofisticada, que os endividamentos público, externo e privado nacionais eram coisa de somenos, e mais recentemente, que Portugal não era a Grécia! Esta noite, finalmente, Luís Campos e Cunha estava verdadeiramente preocupado. Ora bolas! Eu sou artista e escritor, não um economista. Como foi então possível escrever neste blogue, desde 2006, que Portugal caminhava para o desastre, enquanto praticamente todos os economistas, empresários e políticos assobiavam para o ar e cantavam hinos aos grandes benefícios da nossa pertença à moeda única europeia?

    A queda abrupta do PSI 20, que hoje afundou para níveis historicamente preocupantes, revela duas coisas fatais: que o banco de Estado (a CGD) já não tem capacidade para acudir aos amigos e especuladores do burgo, e que, por outro lado, controlando Portugal pouco mais do que 15-17% da sua dívida pública (prova do grau miserável da nossa poupança), deixou de poder influenciar sequer os movimentos do PSI 20! Estamos pois completamente nas mãos dos fundos de investimento, dos investidores e dos especuladores estrangeiros. Se hoje, dia 28 de Abril, a venda ao desbarato dos principais títulos nacionais prosseguir, estamos fritos! Provavelmente alguém apagará as luzes a meio da sessão!

    O problema é simples: os principais bancos portugueses —CGD, BCP, BPI, BES, Montepio — e algumas das maiores empresas portuguesas —Mota-Engil, Teixeira Duarte, SONAE, Parpública (de que a TAP é um dos principais passivos!) REN e EDP, entre outras— precisam, como náufragos, de financiamento urgente e continuado, seja para aliviar os respectivos e descomunais níveis de endividamento, seja para se manterem em acção. Como tal financiamento já não pode vir de dentro, e os fundos de investimento estrangeiros estão a desertar, das duas uma: ou boa parte do tecido empresarial e financeiro nacional é objecto de operações de aquisição por parte de concorrentes de outro campeonato (como recentemente sucedeu à Cimpor), nomeadamente angolanos, brasileiros, árabes, norte-africanos e chineses, ou vai pura e simplesmente à falência.

    Os ingleses preparam-se já para cortar 5% nos vencimentos da função pública. E por cá, como vai ser?


    ÚLTIMA HORA: Braço de ferro entre o dólar (e libra) e o euro prossegue sem quartel. Principais bolsas mundiais afundam e euro valoriza face à moeda americana !

    Banca nacional tem 6,8 mil milhões em dívida grega

    Os bancos portugueses estão entre os que mais caem em bolsa na Europa, penalizados pela perspectiva de um aumento nos seus custos de financiamento. Um estudo divulgado ontem pelo Citigroup revela outro risco: a exposição à dívida pública da Grécia. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010).
    Pergunta: quanto deste dinheiro voou de fundos de pensões nacionais e da Caixa Geral de Depósitos para o buraco negro de Atenas?

    BCP afunda mais de 17% e BPI recua mais de 10% no arranque da bolsa

    As acções da banca estão a ser as mais castigadas pelos investidores na abertura da bolsa em forte baixa. Logo nos primeiros minutos de negociação, o BCP chegou a cair mais de 17% e o BPI a afundar mais de 10%. O BES já esteve a perder mais de 8%. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010).

    PSI-20 afunda quase 6% com todas as cotadas a descer mais de 2%

    A bolsa nacional está a afundar 5,96% para o nível mais baixo desde 30 de Abril, pressionada essencialmente pelo sector da banca que viu a Standard & Poor s reduzir o seu "rating", na sequência da revisão em baixa da qualidade de crédito portuguesa. — Jornal de Negócios Online (28 Abril 2010) .

    Stocks Fall, Asia Default Swaps Climb on Greece, Portugal Debt

    April 28 (Bloomberg) -- Stocks slid for a second day and the cost to insure against bond losses rose after credit-rating downgrades of Greece and Portugal fueled concern about sovereign defaults. Greek two-year note yields soared to 21.4 percent. The euro strengthened from a one-year low against the dollar. — Bloomberg (28/4/2010) .


    REFERÊNCIAS

    Republic of Portugal Ratings Lowered To 'A-/A-2' On Weak Macroeconomic Structure; Outlook Negative (Standard & Poor's)
    • Fiscal and economic structural weaknesses in our view leave the Republic of Portugal in a comparably weak position to address the significant deterioration in its public finances and expected lackluster economic growth prospects over the medium term.
    • We are lowering our long-term ratings on Portugal to 'A-' from 'A+' and the short-term ratings to 'A-2' from 'A-1'.
    • The negative outlook reflects our assessment of the risk of a further downgrade should fiscal consolidation fall short of expectations or should concerns over government liquidity mount.
    Portugal Suffering Greek Contagion Pressures EU Bonds

    April 27 (Bloomberg) -- Portugal risks becoming the new Greece.
    With a higher debt burden and a slower 10-year growth rate than Greece, Western Europe’s poorest country is being punished by investors as the sovereign debt crisis spreads. The risk premium on Portuguese bonds rose to more than double the past year’s average this month. Portugal’s credit default swaps show investors rank its debt as the world’s eighth-riskiest, worse than for Lebanon and Guatemala.

    O caso desesperado da Letónia


    In late 2008, Latvia agreed to what the IMF itself has called one of the most severe austerity programs since the 1970s. To accomplish it, Latvia has done everything from slashing public sector wages by 25 to 40 percent, increasing taxes, reducing unemployment and maternity benefits and cutting the defense budget. The crisis has already cost the Latvian prime minister his job and stoked social unrest. Despite all of that, the budget deficit has not budged much, remaining around eight percent of the GDP mark. Spending has been cut to the bone, but Latvia is simply too small of an economy to emerge from recession on its own.

    Since the broader European economic recovery remains moribund at best, less government spending has translated directly to less growth. Less growth means less tax income, and less tax income means that the country' s budget deficit remains stubbornly high. Latvia has essentially become a ward of the IMF, and will remain so until either the broader European economic recovery is more robust or the Baltic state is fast-tracked into the eurozone itself. — in John F. Mauldin, "The Making of a Greek Tragedy".

    Is the Euro Doomed?
    The dreams of European union could die along with it.
    By Christopher Hitchens (Slate)

    Sometimes, sheer immodesty compels me to ask, of my long record of prescience, what did I know, and when and how did I know it? In the summer of 2005, Foreign Policy magazine asked its contributors to name one taken-for-granted thing that they thought was overrated or would not last. After a brief interval of reflection, I chose the euro.

    'Nothing Justifies Kicking Greece out of the Euro Zone'

    With Greece finally pleading for financial help from its European partners and the IMF, Germany is pushing to guarantee that the massive loan comes with strict preconditions. In Monday's newspapers, German commentators are divided over whether Greece's problems should force it out of the euro zone. — in Spiegel Online.

    Brutal choices over British deficit
    By Chris Giles, Alex Barker and Nicholas Timmins

    The next government  will have to cut public sector pay, freeze benefits, slash jobs, abolish a range of welfare entitlements and take the axe to programmes such as school building and road maintenance – or make a set of equally politically perilous choices, according to an analysis by the Financial Times.

    An online simulator, developed by the FT using government figures, suggests a saving of that scale would require all of the following: a 5 per cent cut in public sector pay; freezing benefits for a year; means-testing child benefit; abolishing winter fuel payments and free television licences; reducing prison numbers by a quarter; axing the two planned aircraft carriers; withdrawing free bus passes for pensioners; delaying Crossrail for three years; halving roads maintenance; stopping school building; halving the spending on teaching assistants and NHS dentistry; and cutting funding to Scotland and Wales by 10 per cent. — Published: April 25 2010 22:10 | Last updated: April 25 2010 22:10, in FT.com.

    OAM 690—28 Abril 2010 1:59 (última actualização: 9:59)

    domingo, julho 12, 2009

    Crise Global 69

    O tempo do esquilo cinzento



    E se um Estado da Zona Euro entrar em incumprimento, deixando de pagar as suas dívidas?

    Tratado de Lisboa, Artigo 122.º — 2. Sempre que um Estado-Membro se encontre em dificuldades ou sob grave ameaça de dificuldades devidas a calamidades naturais ou ocorrências excepcionais que não possa controlar, o Conselho, sob proposta da Comissão, pode, sob certas condições, conceder ajuda financeira da União ao Estado-Membro em questão. O Presidente do Conselho informará o Parlamento Europeu da decisão tomada.

    Eurozone Meltdown — The default of a member state, an event not at all implausible, is very frequently cited as the trigger mechanism for the euro zone to breakup. Credit Default Swaps (CDS) for euro zone government bonds have been on the rise since September 2009 as shown in the figure (...), especially for Greece and Ireland. Bond spreads rose less dramatically, but this is not necessarily a conforting sign. CDS were an early indicator for Iceland’s financial troubles well before bond spreads reflected this. A country in default is unable to raise money on the primary bond market. Investors simply refuse to finance the country’s public sector deficits, or they drive up interest rates to such horrific heights, that the country can no longer afford to raise new finance. An escalation of this situation would occur, if a country needed to refinance existing short-term loans, and was not in a position to do so because interest rates had risen to punitive levels. — in "Scenario 1: A default by a small member state", Eurozone Meltdown, Eight Scenarios how the unthinkable might happen. By Wolfgang Münchau and Susanne Mundschenk; Euro Intelligence (3-4-2009).

    Ao contrário das insistentes tentativas de exibir um sorriso confiante perante a actual crise sistémica e global do Capitalismo, os dados e os estudos continuam a mostrar que não há qualquer razão para optimismo. 2010 vai ser pior do que 2009, e depois teremos muito provavelmente pela frente (refiro-me sobretudo aos Estados Unidos e à Europa) uma década, ou mesmo vinte anos, de crescimento zero, com recessões e depressões abaixo de zero, e alguns breves períodos de crescimento medíocre, entre 1 e 2%. Não vale pois a pena deixar de discutir seriamente este enorme problema económico e financeiro, cujas consequências sociais, políticas e militares tenderão a ser cada vez mais explosivas. O aviso do moribundo Fidel sobre o que pode vir a ocorrer de novo na América Latina, ou a incontrolável questão muçulmana que ameaça lançar agora a China numa espiral de fragmentação nacionalista, ou ainda as bombas-relógio do Irão, da Coreia do Norte, mas também do Japão, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Portugal, etc., não são de molde a sossegar ninguém com dois neurónios activos na caixa craniana.

    O aspecto mais difícil de controlar da desencadeada crise sistémica global do Capitalismo é a sincronização inesperada, ou em que ninguém queria crer, de várias crises esperadas, cada uma das quais é, por si só, potencialmente catastrófica e de muito difícil resolução:
    • a crise do modelo económico: crescimento baseado no consumo e na destruição do trabalho humano em larga escala;
    • a crise do modelo financeiro, baseado no endividamento, na monetarização da economia e na especulação bolsista tecnologicamente assistida;
    • a crise energética, pela via da exaustão das energias fósseis baratas, que possibilitaram a extraordinária expansão da espécie humana, mas para a qual não existe nenhuma alternativa efectiva (estas, ou são insuficientes —energia eólica e energia solar—, ou são ambientalmente inviáveis — nuclear e carvão);
    • a crise ambiental: aquecimento global, exaustão dos recursos hídricos, eutrofização e contaminação química das águas potáveis (com a consequente contaminação das cadeias alimentares), desflorestação galopante, destruição dos solos (pedosfera), assassínio dos rios, esgotamento das reservas alimentares marinhas e fluviais, poluição e aquecimento oceânicos, contaminação e esgotamento dos aquíferos, e last but not least, o silencioso espermicídio em curso em numerosas espécies animais, humanos incluídos, pela dispersão assassina de quantidades intoleráveis de toxinas progressivamente infiltradas na biosfera pela acção inconsciente, ou criminosa, do homem;
    • a crise geo-estratégica: por um lado, os países que mais consomem e mais prejudicam os equilíbrios gerais da biosfera já não dispõem dos recursos necessários e suficientes para a prossecução dos respectivos hábitos de vida; por outro, os países menos desenvolvidos, parte dos quais concentra o que resta dos principais recursos energéticos, minerais, agro-alimentares, laborais e até financeiros, em condições de serem explorados, deixaram de estar disponíveis para alimentar o desperdício e os maus hábitos dos chamados "países ricos", não querem ver degradar mais as suas condições de vida, em nome do "progresso" e da "modernidade" de quem há séculos explora as suas fragilidades, e têm —facto esperado, mas novo— condições estratégicas, diplomáticas, e mesmo militares, para defender um reajustamento —que vai ser dramático e violento— das placas geo-estratégicas mundiais.
    Não é pois por acaso que o G8 teve que se abrir à China, à Índia, ao Brasil, ao México, à África do Sul, à Indonésia, ao Egipto, etc. Não é pois estranho que o G20 ganhe progressivamente importância face ao restrito clube dos países ricos falidos: EUA, Japão, Reino Unido, França, Itália, etc. Os ditos "países ricos" estão endividados muito para além das respectivas possibilidades, e da nossa imaginação!

    Segundo Sal L. Arnuk e Joseph Saluzzi (1) 70% do volume de negócios em bolsa tem origem em sistemas de processamento informático ultra-rápidos (high-frequency program trading) — o que torna os malandros do Subprime, um pouco menos malandros, e a Goldman Sachs e quejandos, bem mais responsáveis pelo incomensurável buraco negro da economia mundial, que dá pelo nome de Derivados (Derivatives), e cujo valor facial (notional value) ronda ou ultrapassa mesmo os 600 biliões de dólares, ou seja, 10 vezes o PIB mundial, ou dito doutro modo, quase duas vezes a riqueza total do planeta!

    Só nos Estados Unidos (2), os contratos de Derivados subiram 14% no último trimestre de 2008, atingindo o valor "nocional" de 200,4 biliões de dólares, i.e. 14 vezes o PIB americano! Sintomaticamente, 96% desta aterradora exposição ao risco concentra-se apenas em cinco bancos: JPMorgan, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC. A América de Barack Obama vai aliás ter que encontrar, por esse mundo fora e nos próximos anos, 5 biliões de dólares, ou seja 9% do PIB mundial, para financiar a sua dívida pública (3). Mas como?! Mas como vai consegui-lo, se o mundo está cheio de caloteiros?! A lista de devedores aflitos é interminável e não deixa lugar a dúvidas sobre a dimensão do problema: Japão, Itália, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Holanda, Irlanda, Suíça, Bélgica,... Portugal (4).

    Uma das discussões teóricas do momento incide sobre a possibilidade de um colapso da Zona Euro. Os casos irlandês, grego, belga, austríaco, português, italiano, mas sobretudo espanhol, e mesmo alemão, conferem verosimilhança ao cenário de um colapso do Euro, sobretudo se a China, o Brasil e os países Árabes avançarem para a criação de moedas de reserva regionais no decurso da próxima década. E já agora, os casos britânico, islandês e mais recentemente sueco (5), apesar das suas moedas soberanas, nem por isso deixam de poder levar o Euro à beira de um ataque de nervos. Para culminar este cenário sombrio, registe-se a recente deliberação do tribunal constitucional alemão (6) sobre a necessidade de colmatar o "défice democrático estrutural" existente na União Europeia, que o Tratado de Lisboa não acautela como devia.

    O mundo não está para brincadeiras, como vem insistindo Manuela Ferreira Leite, ou o insuspeito Príncipe Carlos de Inglaterra:

    Just 96 months to save world, says Prince Charles
    By Robert Verkaik; The Independent.

    Capitalism and consumerism have brought the world to the brink of economic and environmental collapse, the Prince of Wales has warned in a grandstand speech which set out his concerns for the future of the planet.

    The heir to the throne told an audience of industrialists and environmentalists at St James's Palace last night that he had calculated that we have just 96 months left to save the world.

    As fábricas e os entrepostos comerciais de automóveis têm todos os seus parques de estacionamento a abarrotar. O petróleo fica nos navios, esgotada que está a capacidade de armazenamento instalada junto às refinarias. As refinarias, por sua vez, param, como vimos há dias a Repsol fazer em Sines. Os grandes transitários, como o gigante Evergreen, acaba de anunciar a venda de navios e a entrega de barcos em leasing aos seus donos (7). Os aviões em terra da Ibéria rumam ao deserto de Ciudad Real, o grande hub aeroportuário privado recém-inaugurado... mas vazio! Os aviões parados da TAP atravancam as placas de estacionamento da Portela, e não tardarão a ser clientes inesperados do aeromoscas de Beja, um dos caricatos elefantes brancos da era socratina. Vamos ver como se sairão as companhias de aviação Low Cost na competição com a Alta Velocidade ferroviária assim que as companhia de bandeira —às moscas— deixarem os slots vazios à Ryanair, easyJet e demais companhia de voos baratos. Para já, o principal responsável pela manutenção dos fluxos turísticos no nosso país, apesar da estagnação económica em curso, não é nenhuma decisão ou iniciativa governamental, e muito menos as faraónicas obras públicas anunciadas, mas tão simplesmente a possibilidade de realizar voos baratos de e para Portugal, sobretudo na grande circunferência europeia. O Porto está cheio de turistas, tal como Lisboa, Faro menos, porque a easyJet e a Ryanair elegeram as cidades de Lisboa, Porto, Faro e Funchal como destinos rentáveis, apesar das tropelias às boas regras da livre concorrência desencadeadas pelo gaúcho da TAP e pelo inenarrável dromedário das Obras Públicas.

    Não tenho nada de princípio contra a tentativa da Orey Antunes salvar o BPP (8), ainda que na minha modesta opinião, seja de evitar mais envolvimento do Estado neste caso de polícia, a não ser, precisamente, pelo lado da Justiça, contra as donas brancas do pseudo banco. Assim como até acho muito bem que a Mota-Engil tente desesperadamente atrair os chineses a Lisboa, em vez de insistir em cidades aeroportuárias e novas autoestradas. Mas já agora, uma pergunta a propósito: que lhes exigimos em troca do privilégio de desfrutarem dos nossos magníficos estuários? Nada? Mal, senhor Coelho! Muito mal, senhor Vitorino! É preciso negociar como deve ser, e não como pedintes! Eu exigiria, no mínimo, que pagassem, em troca duma posição privilegiada nos nossos portos atlânticos, a completa substituição da nossa decadente rede ferroviária de bitola ibérica, por uma ferrovia de bitola europeia, completamente electrificada. Por menos do que isto, nada!

    O mundo está endividado. E num mundo sem dinheiro vivo, todos pretendem encontrar e servir-se da pouca liquidez disponível, procurando-a desesperadamente para si. Só que não é fácil. E o recurso à guerra de pilhagem, também já foi mais fácil! Assim sendo, resta-nos negociar com muito jeitinho.

    Com o medo da escassez de bens e de dinheiro, vem uma natural tendência para poupar e amealhar, como fazem os esquilos antes do Inverno. Só que há dois tipos de esquilo: o vermelho, e o cinzento (10). O esquilo vermelho armazena sem cessar avelãs e bolotas no alto das árvores, onde parte dos frutos acaba por apodrecer e, pior do que isso, ameaça a reprodução das aveleiras, dos carvalhos, das azinheiras e dos sobreiros. Pelo contrário, o distraído esquilo cinzento também colecciona e armazena os seus alimentos para o Inverno, distribuindo-os pelo solo húmido (de modo a manter os frutos tenros), mas de maneira tão dispersa que se esquece onde deixou boa parte deles, a qual, por via desta distracção criativa, acaba por germinar, assegurando assim a sobrevivência do seu próprio habitat.

    Tal como o esquilo faz, também todos nós temos que saber poupar e armazenar para o nosso futuro, para o futuro dos nossos filhos e para o futuro do planeta que habitamos e partilhamos com milhões de outros seres vivos, dos quais dependemos para muito mais do que imaginamos. O tempo do touro enraivecido da especulação e do gasto terminou. Mas não é caso para hibernar, como faz o urso, nem para cair em depressão. Precisamos de agir como o esquilo, ou melhor como o esquilo cinzento: coleccionar, poupar, acumular, mas de uma forma criativa e alegre, dispersando as acções e descentralizando a autoridade e a iniciativa — em nome dos nossos próprios interesses, que só serão bem defendidos quando alcançarem também, ainda que inconsciente e distraidamente, os interesses de toda a comunidade.



    NOTAS
    1. Toxic Equity Trading Order Flow on Wall Street
      The Real Force Behind the Explosion in Volume and Volatility
      By Sal L. Arnuk and Joseph Saluzzi.

      Retail and institutional investors have been stunned at recent stock market volatility. The general thinking is that everything is related to the global financial crisis, starting, for the most part, in August 2007, when the Volatility Index, or VIX, started to climb. We believe, however, that there are more fundamental reasons behind the explosion in trading volume and the speed at which stock prices and indexes are changing. It has to do with the way electronic trading, the new for-profit exchanges and ECNs, the NYSE Hybrid and the SEC’s Regulation NMS have all come together in unexpected ways, starting, coincidently, in late summer of 2007. (ler PDF integral).

    2. Ler este esclarecedor PDF: "OCC's Quaterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities, Fourth Quarter 2008".

    3. Buddy, Can You Spare $5 Trillion?
      in John Mauldin's Thoughts from the Frontline (10-07-2009).

      There is no doubt that the US is in financial trouble. Those talking of a strong recovery are just not dealing with reality. But the US is in better shape than a lot of countries. This week, we begin by looking at Japan. I have written for years about how large their debt-to-GDP ratio is, yet they keep on issuing more debt and seemingly getting away with it. But now, several factors are conspiring to create real problems for the Land of the Rising Sun. They may soon run into a very serious-sized wall. And it is not just Japan. Where will the world find $5 trillion to finance (US) government debt? We look at some very worrisome graphs. Those in the US who think that what happens in the rest of the world doesn't matter just don't get it.

      Sobre o Japão, John Mauldin escreve ainda:

      Over the last ten years, the (Japanese) government has seen the level of debt-to-GDP rise from 99% to over 170%, not including local governments. They ran those deficits to try and pull themselves out of the doldrums of their Lost Decade of the '90s, following the crash of their real estate and stock markets, starting in 1989. They built bridges and roads to nowhere, all sorts of programs, quantitative easing, etc. Sound familiar?

    4. Vale a pena comparar os valores das dívidas públicas e externas dos principais devedores no World Fact Book da CIA.

    5. The Riksbank said the economy had worsened further since its previous meeting, in April, and it expected the repo rate to remain at 0.25 percent until autumn 2010.

      ... The deposit rates are actually negative now. In some sense they are creating a money machine for banks.— in Forex Yard (3-7-2009)

      Negative Global Interest Rates, Sweden Cuts Deposit Rate to NEGATIVE .25%
      Jul 03, 2009 - 03:48 AM. By: Mike_Shedlock

      There has been a lot of ludicrous recommendations recently to combat deflation by making deposit rates negative. I did not think any central bank would be dumb enough to try it. I thought wrong.

      ... The global economy is in a mess because of the lack of savings not because of an excess of it. People spent money they did not have, pushing asset prices to ridiculous levels. Banks, in belief that asset prices would keep rising exponentially, increased leverage. Now consumers everywhere are retrenching in the wake of the collapse, a much needed phenomenon.

      In light of the above, punishing savers with negative deposit rates is the height of stupidity.

      It would be fitting if there was an immediate run on deposits. And if that happens what will Sweden do? Halt deposits? Sweden risks (and deserves) a currency collapse and bank runs for this insane effort. Look for capital flight in Sweden. — in Negative Global Interest Rates, Sweden Cuts Deposit Rate to NEGATIVE .25%; by Mike_Shedlock; The Market Oracle.

    6. O Tribunal Constitucional considera que existe “um défice democrático estrutural” a nível da União Europeia e que, por esta razão, os direitos de co-decisão do Parlamento alemão devem ser claramente inscritos numa lei, adianta a AFP. Isto para “garantir a eficácia do direito de voto” dos cidadãos alemães, e velar para que a UE “não ultrapasse as competências que lhe foram outorgadas”. — in Público (30-06-2009)

    7. Evergreen quer desfazer-se de 31 porta-contentores

      A Evergreen propõe-se devolver aos donos ou desmantelar 31 navios porta-contentores, que representam cerca de um sexto da sua frota, anunciou a companhia de Taiwan.

      ... A companhia de Taiwan é quarta no ranking mundial de transporte marítimo de contentores, com uma capacidade de 600 mil TEU, que representam 4,5% do mercado. — in Transportes & Negócios (10-07-2009).

    8. Acções da Orey Antunes sobem 15 por cento desde início de Julho

      Em termos de ilustração, refira-se que na sessão em que tocou nos mínimos do ano, a Orey Antunes só negociou 130 papéis, e que antes de anunciar o interesse no banco agora liderado por Adão da Fonseca a liquidez da empresa era muito reduzida, passando inúmeras sessões sem serem movimentados quaisquer títulos. in Público/Por Lusa (10-7-2009).

    9. Mota assina acordo com o grupo chinês Nam Kwon para Poceirão

      A Mota-Engil vai assinar amanhã com o grupo chinês Nam Kwon um acordo para a utilização da plataforma logística do Poceirão como “hub” atlântico para empresas chinesas, anunciou hoje a empresa liderada por Jorge Coelho e que está a executar este projecto.

      A assinatura, que vai decorrer durante o Fórum de Cooperação Económica e Comercial China-Portugal. “A parceria entre a Mota-Engil e o grupo Nam Kwong iniciou-se com um acordo de parceria para os estudos de uma plataforma logística atlântica em Portugal celebrado em Janeiro de 2007”, durante a visita de José Sócrates à China. — in Jornal de Negócios (10-07-2009).

    10. Squirrel invasion sows seeds of change for future forests

      WEST LAFAYETTE, Ind. - As squirrels gather nuts for winter, they also plant the seeds of future forests - but the different ways squirrel species hoard nuts, coupled with changes in squirrel populations, may significantly alter the course of forest regeneration, according to a Purdue University study. — in Science Blog.


    OAM 600 12-07-2009 17:50