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segunda-feira, novembro 04, 2013

Quem tem medo de quem?

Elisabeth Taylor e Richard Burton em “Quem tem medo de Virgínia Woolf?” (1966)

O alto preço da exposição mediática

O que é um crime público?

Segundo o Ministério Público, “é um crime para cujo procedimento basta a sua notícia pelas autoridades judiciárias ou policiais, bem como a denúncia facultativa de qualquer pessoa.

As entidades policiais e funcionários públicos são obrigados a denunciar os crimes de que tenham conhecimento no exercício de funções.

Nos crimes públicos o processo corre mesmo contra a vontade do titular dos interesses ofendidos.”

Esta é a quinta vez (1, 2, 3, 4) que escrevo sobre Manuel Maria Carrilho, pessoa que conheço como político polémico e a quem vi inúmeras vezes tomar posições corajosas, embora para muitos tais atitudes agressivas não fossem mais do que a prova reiterada do seu mau feitio e mau perder.

Conheci Manuel Maria Carrilho quando o 'soarismo' apodrecia e Sampaio e Guterres conspiravam para comandarem o próximo ciclo 'socialista'. Alguns jovens intelectuais e artistas andavam então preocupados com o provincianismo e a miséria cultural do país. Eu era um deles, Carrilho era um deles, o saudoso Pedro Miguel Frade era um deles, Ricardo Pais, outro, etc., etc.

Em 1995, Guterres chamou Manuel Maria Carrilho para ministro da cultura. Contam-se várias peripécias sobre este episódio, mas o certo é que se o inesperado ministro correspondeu às expectativas dos artistas e da generalidade dos agentes culturais, já na comunicação social as baterias foram sendo assestadas na sua direção. O segundo governo de António Guterres começou mal (sem maioria) e acabou pessimamente, dois anos depois, por demissão do próprio primeiro ministro. Carrilho já tinha batido com a porta, antevendo o famoso 'pântano' de que mais tarde se lamentaria Guterres e onde o regime invariavelmente cai quando não há maioria absoluta no parlamento.

Carrilho nunca foi, não é, nem será um homem de partido, como por exemplo foi e é José Sócrates e são muitos outros dirigentes e governantes do PS. Talvez por isso a sua vida depois de abandonar o governo, que menos de dois anos depois cairia, tivesse sofrido uma guinada imprevista em direção a Bárbara Guimarães, filha de um escultor obscuro, à época uma das mais celebradas Barbies da TV portuguesa, e aparentemente casada em 1997 com alguém de quem teve que se divorciar para poder voltar a casar, em 2002, desta vez com um ex-ministro.

Nunca me interessei por revistas cor-de-rosa, nem nunca li a Gente, ou a Caras. Só agora, perante esta hecatombe matrimonial, fui obrigado a chafurdar na literatura mais vendida no país.

Os divórcios são frequentemente coisas horríveis, onde chovem as acusações e os insultos mais despudorados. No caso, Manuel Maria Carrilho, ao ver-se subitamente impedido de entrar na sua própria casa, sem que para tal houvesse qualquer interdição judicial, e ao ver-se no mesmo dia, ou dia seguinte, acusado de espancar Bárbara Guimarães, sua esposa, estava realmente em muito maus lençóis. Talvez por isso a sua resposta fosse um contra-ataque violentíssimo ao suposto alcoolismo e à suposta decadência de Bárbara Guimarães, mãe de dois dos seus três, ou quatro filhos. É que a provarem-se os factos de que é acusado pela ainda sua esposa, se não houver fortes atenuantes, Manuel Maria Carrilho ficará numa situação pessoal gravíssima. O melhor mesmo é chegarem a uma separação negociada.

Não sei, e ninguém sabe, por enquanto, o que é verdade, o que é mentira, e o que são meias verdades e meias mentiras em toda esta história vulgar da imprensa cor-de-rosa. É que para além da tragédia que se abateu sobre os visados, e em especial sobre os filhos de ambos, tudo isto é banal e sórdido ao mesmo tempo. Prefiro mil vezes rever Who's Afraid of Virginia Woolf.

Perdeu-se um político, provavelmente há muito mais tempo do que ele próprio quis crer. Os próximos meses dirão se Bárbara Guimarães não terá também que buscar outra profissão. Para Barbie realmente já não serve!

ÚLTIMA HORA (7 nov 2013, 15:07)

Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães chegaram a acordo sobre o divórcio
, estão divorciados e o mais importante agora são os dois filhos que há que proteger de um tempo que jamais esquecerão. Fico feliz por ambos terem evitado prolongar um situação que, doutro modo, seria fatal para ambos. All's well that ends well!

quarta-feira, maio 24, 2006

Carrilho 2

Bárbara Guimarães em seus verdes anos.
Payola: pela boca morre o peixe 

“Such as it is, the press has become the greatest power within the Western World, more powerful than the legislature, the executive and judiciary. One would like to ask: by whom has it been elected, and to whom is it responsible?”

Em Portugal os portugueses têm vindo a descobrir nos últimos tempos que a sua democracia, ainda jovem de 30 anos, saída de uma ditadura provinciana e paternalista, está a ser pasto devorável de uma corrupção endémica que penetra aparentemente todos os poros da sociedade. Nada escapa: há corrupção nas polícias, no futebol, entre os políticos, ao mais alto nível da nata empresarial, nas repartições de finanças, nos hospitais, e, pasme-se, nos meios de comunicação social. Sim, também os jornais e televisões, alimentados com estagiários à borla e custos mínimos em geral, retroalimentados em cadeia por agências noticiosas e de comunicação sem escrúpulos, surgem agora cavalgados pela fúria ética de um político caído em desgraça, depois de a sorte lhe ter um dia soprado inesperadamente de feição. O político, do Partido Socialista, chama-se Manuel Maria Carrilho e a sua queda decorre de duas causas e dois momentos crucais.

As causas da queda: Manuel Maria Carrilho, candidato favorito a umas eleições autárquicas em Lisboa, perde-as contra um lugar-tenente apagado do principal partido da oposição (o PSD). O agente principal deste resultado foi a incapacidade de o candidato convencer o seu eleitorado potencial, deixando que o número dois do ex-Presidente da Câmara de Lisboa e ex-Primeiro Ministro, Pedro Santana Lopes (homem tão mediático quanto volúvel, vaidoso e incapaz, cujo governo fora poucos meses antes demitido pelo Presidente da República), lhe levasse a palma.

Os momentos cruciais: o político, que um casamento controverso e mediático com uma conhecida e muito sexy estrela de televisão (Bárbara Guimarães), elevara inevitavelmente a uma instância de estrelato bicéfalo, aprova a inclusão da referida estrela de televisão, e do filho que a união entretanto gerara, num vídeo da sua campanha eleitoral. O bébé e a mãe, num diálogo digno do kitsch mais patético de uma qualquer telenovela sul-americana, balbuciam loas ao papá e putativo futuro presidente da edilidade lisboeta. A sorte do candidato-filósofo (não esqueçamos que repetidamente se apresentou sob este manto de integridade) ficaria traçada a partir deste incidente. O estratego da campanha, um brasileiro chamado Edson Athaíde, foi mais ou menos despedido, deixando os comandos da agit-prop nas mãos dum aguerrido assessor de imprensa. As sondagens, até aí favoráveis ao candidato do PS, iniciam uma tendência de queda. As presenças de Bárbara Guimarães em sucessivas acções de campanha não fazem mais do que piorar a situação, ao contrário do que Carrilho e o seu incompetente staff calcularam. O nervosismo espicaça Carrilho. Mal aconselhado, resolve enfrentar na televisão o seu principal adversário com uma agressividade desnecessária e inconsequente. À medida que o debate decisivo decorria só me apeteceu telefonar-lhe para dizer: despede o idiota que te aconselha! Ninguém por aí leu o Robert Axelrod? Ninguém daí conhece nada da pacata sensibilidade lusitana?! Em suma, como se pior fosse impossível, o pior aconteceu. Já depois do debate, quando os candidatos se deveriam despedir um do outro, Manuel Maria Carrilho resolve não cumprimentar o adversário. Não sabia que estava a ser registado? Ninguém acreditou e ninguem acredita em hipótese tão inverosímil. As eleições foram assim e naquele momento ganhas por Carmona Rodrigues.

Uns meses depois, o inconformado Carrilho resolve publicar um livro, responsabilizando em grande medida os média pela sua derrota. Afirma mesmo que houve um conluio entre uma agência de comunicação e interesses imobiliários para provocarem a sua derrota eleitoral. Ainda não li o livro nem sei se vou lê-lo. Mas os principais argumentos têm sido repetidos à saciedade e resumem-se nisto: os órgãos de informação manipulam a informação; incensam e depois massacram os pobres habitantes do limbo mediático; servem directamente interesses económicos e políticos inconfessáveis; não são escrutinados; dependem cada vez mais de umas instâncias mercenárias chamadas agências de comunicação, em suma, ele foi vítima, não da sua própria incompetência político-partidária e eleitoral, mas de uma conspiração mediática patrocinada pelos construtores civis. Não é verdade!

Tudo ou quase tudo o que Carrilho diz sobre a demissão e mesmo a corrupção jornalística actual é provavelmente verdade. Basta ver como os telejornais e os jornais de papel têm vindo a tratar a burla nuclear do Sr. Patrick Monteiro de Barros! Os média tradicionais, sobretudo em Portugal, não passam de pescadinhas de rabo na boca, sem qualquer profundidade jornalística, sem qualquer diversidade informativa, sem uma réstea de integridade ética, totalmente subservientes da publicidade e da imbecilidade consumista, entregues à mais confrangedora endogamia, plagiaristas sem vergonha, em suma, verdadeiros infocaptos. Estou de acordo, e basta ler o que Paul Graham escreveu sobre os submarinos mediáticos, ou a definição que a Wikipedia dá de Payola (se queres informação, paga-a...), para concordarmos com o desgraçado filósofo. Na guerra contra os mass media corruptos estarei ao seu lado sem reservas. Mas que a culpa da sua derrota autárquica é coisa do seu mau feitio e dos péssimos assessores que o rodeiam, disso não tenho também qualquer dúvida. As minhas suspeitas sobre tudo isto foram levantadas neste mesmo blogue e infelizmente confirmaram-se.

OAM #122 23 MAI 2006