As suas finanças!

Siren (2006) — escultura em ouro de Marc Quinn. Modelo: Kate Moss. Peso: 50Kg. Ouro: 18 Quilates.

Podemos sobreviver à instabilidade?

Livre-se das dívidas de longo prazo se os ativos a que correspondem estão sobreavaliados.

As famílias tradicionalmente ricas da Europa têm sempre dinheiro metálico disponível, em várias notas e moedas e em vários cofres e contas bancárias dispersas pelo mundo. Mantêm, mais ou menos, a seguinte diversificação na riqueza física acumulada: 30/30/30 
  • 30% em ouro (e prata, platina, etc.)
  • 30% em terras (férteis, com água, boas vistas e bem localizadas)
  • 30% em arte (jóias, pintura, escultura, obras de arquitetura, etc.) 
Presume-se que os restantes 10% servem sobretudo para investimentos de capital.


Principais aplicações para as suas poupanças


"…in inflation, there are winners and there are losers. The winners are people who can see it coming, who understand what you and I and hopefully the listeners are talking about and hedge their position by getting gold or silver or land or fine art or investing in railroads as Warren Buffett is doing, some kind of hard asset play. The losers, those are savers, people with insurance policies, annuities, pensions, retirement plans – anything denominative dollars that are not going to go up when the inflation kicks in."

James Rickards, author of the recent bestseller Currency Wars: The Making of the Next Global Crisis.


  1. Habitação própria — se contraiu um empréstimo para comprar a sua casa, o ideal é livrar-se tão cedo quanto possível da hipoteca. Livre-se de encargos que possam prejudicar a posse do bem em consequência de uma subida imprevista e empinada das taxas de juro e dos preços de bens essenciais como a energia, a água e a saúde. E não se esqueça que o valor das casas está a cair e vai continuar a cair!

    NOTA (31/01/2015): o programa de compra maciça de dívida lançado pelo BCE previsto para começar em  março de 2015 irá baralhar, no curto prazo, o que cremos serem tendências de longo prazo. Assim, a destruição das taxas de juro até valores negativos destina-se sobretudo a ensopar o endividamento excessivo dos países, do sistema bancário e financeiro, e também das famílias. Os resultados são incertos, embora possamos antever uma espécie de reflação induzida, nomeadamente nos preços de alguns bens duradouros e ativos. Dada a instabilidade financeira, em caso de obtenção de créditos de médio e longo prazo, é sempre preferível negociar taxas de juro fixas.

    A médio-longo prazo (10—20 anos) o euro irá perder valor, os juros irão subir mais cedo ou mais tarde, e os salários, pensões de reforma e outros subsídios verão diminuir significativamente o respectivo poder de compra nos próximos anos.

    Se formos forçados a sair do sistema monetário europeu, haverá uma desvalorização quase instantânea do nosso poder de compra na ordem dos 30-50%, mas não das dívidas que foram contraídas em euros!


    Faça um somatório de todos os encargos que tem com a sua casa (hipoteca, consumos de energia, água e telecomunicações, condomínio e manutenção geral, e ainda despesas de saúde) e simule o impacto que poderá ter nas suas despesas uma inflação real na ordem dos 10% ao ano.

    A libra inglesa, por exemplo, tendo o ouro como padrão de referência, perdeu 400% do seu valor desde 1971 (Why I keep buying Silver and Gold, by Bengt Saelensminde, in MONEY WEEK).
  2. Trabalho — é um bem cada vez mais escasso, e enquanto a tecnologia for alimentada por energia barata não haverá criação de novos empregos, bem remunerados, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, é preciso ter em conta que a era do petróleo barato acabou. A energia cara vai pois substituir progressivamente a energia barata. Preservar o pouco trabalho que há, ainda que auferindo menos dinheiro pela sua realização, vai tornar-se um questão cada vez mais crítica para as economias pessoais e familiares.
  3. Ouro — o valor deste metal, e dos demais metais preciosos, tem vindo a subir (ver gráficos) continuamente ao longo desta década (de $280 a onça em 2000, para $1.889,70 em Agosto de 2011, $1.587,10 em 20 de Maio de 2012, e $1.596,50 no dia de hoje, 29 de março de 2013).

    Pequenas poupanças semanais, sobretudo nos consumos supérfluos, aplicados em moedas de ouro e prata é uma forma de realizar uma poupança segura.
  4. Terra — as necessidades alimentares que hoje são preenchidas com produtos variados e a preços razoáveis, sobretudo nos países ricos do Ocidente, poderão deparar-se num futuro próximo com falhas de abastecimento inimagináveis nos dias que correm, e uma inflação galopante. Quando esta escassez, motivada pela carestia do petróleo e do gás natural, ocorrer, ou antes, quando esta escassez inevitável se tornar visível no horizonte, a corrida às terra ricas em água e nutrientes, aptas a gerar alimentos, atingirá proporções nunca vistas —nem nas grandes corridas ao ouro. O momento para investir em terrenos com potencial agrícola, sobretudo nas zonas próximas dos grandes centros urbanos, é agora!
  5. Fundos de pensões — muita atenção a estes fundos, pois alguns deles, apesar da sua dimensão, poderão perder parte do seu valor e capacidade de atender às suas responsabilidades. A armadilha foi esta: como os estados financiaram as burocracias e o investimento não produtivo criando dívida em quantidades astronómicas, a receita foi esta: baixar, baixar e baixar os juros! Resultado: os fundos de poupança viram-se expropriados do seu valor por este verdadeiro assalto político, e na tentativa de minorar os estragos, muitos fundos de investimento aparentemente sérios, e sobretudo muitos fundos de pensões resolveram apostar na compra de dívida pública e, tão mau ou pior ainda, em produtos derivados ditos complexos, ou seja, lixo financeiro cujo potencial de destruição ronda 10x o PIB mundial!
  6. Bolsa — fuja deste buraco onde tudo se perde e já nada se ganha! A desilusão completa que foi a colocação do Facebook no mercado de ações é a prova cabal da falência de Wall Street. Os bancos centrais e os governos continuam a alimentar artificialmente os casinos financeiros, como Wall Street, mas o game over está ao virar da esquina! Os lucros anunciados em 2012 correspondem a ganhos obtidos sobretudo pelos grandes jogadores financeiros (hedge funds, etc.), e não pelos pequenos e médios investidores.
  7. Amizade — as tensões sociais tendem a agravar-se à medida que a escassez energética aumenta, provocando a inflação e o endividamento geral dos indivíduos, famílias, nações e estados.

    A tentação dos governos, depois das democracias ocidentais terem degenerado em aparelhos burocráticos, populistas e minoritários, cada vez mais musculados (os estados de exceção, sob a forma de leis anti-terroristas, ou de estados de alarma, regressaram ao nosso quotidiano), é apropriarem-se, por via de leis arbitrárias (ainda que sufragadas por parlamentos e dirigentes políticos cada vez mais corruptos), ou à força, da riqueza alheia. Fazem-no já sob a forma de um verdadeiro terrorismo fiscal, da desvalorização do dinheiro, do ataque directo ao Estado Social que os impostos já não conseguem suportar, e preparam-se mesmo para desencadear no futuro operações em massa de expropriação directa da propriedade privada, alegadamente em nome do interesse público. Escrevemos isto em 20 de maio de 2012; veja-se o que veio a ocorrer em Chipre, com o colapso das suas finanças, em março de 2013.

    O anúncio feio por um ministro da agricultura português, rapidamente abafado, da expropriação de terrenos florestais para posterior entrega a empresas privadas "especializadas", foi um balão atirado para o ar para estudar reações. Mas a verdade é que o assunto estava, está e estará em cima da mesa das burocracias que, não tenho dúvidas, se preparam para a eventualidade de uma estatização forçada da riqueza, nomeadamente agrícola e florestal — supostamente em nome do bem comum.

    As recentes medidas da ministra "popular" Assunção Cristas, sobre o arrendamento de terras do Estado vão no mesmo sentido. É este tipo de desestruturação social, que em breve poderá tomar conta das economias atingidas pela chamada tragédia dos comuns… escassez de energia, terra e matérias-primas baratas.

    Os povos que souberem criar rapidamente laços de amizade e cooperação, baseados na proximidade e na organização em rede, poderão talvez conseguir travar a barbárie, e reconduzir as nações a um novo ponto de equilíbrio. Daí a importância de promover, desde já, a acumulação dessa nova riqueza imprescindível ao futuro da humanidade: a amizade.

of two minds / charles hugh smith
A Reader Asks: How to Find Shelter from the Coming Storms?
(July 11, 2014) 


Em 2006 escrevíamos...
2006 crise mundial
A crise aguda de civilização em que estamos metidos aconselha duas coisas: estar atento e evitar o pânico. A melhor receita para a sobrevivência passa por suprir o atraso e desinformação sistemáticos dos média corporativos com informação proveniente de outras fontes, independentes ou simplesmente distintas do ópio disperso pelos média convencionais. Por outro lado, aconselha-se vivamente muito cuidado na tomada de decisões de investimento de médio e longo prazo. O mais provável é que bens como a terra fértil e as zonas habitacionais próximas dos nós de comunicações se venham a valorizar tremendamente nos próximos anos. Para já, o investimento em metais preciosos (como o ouro e a prata) são bem mais seguros do que quaisquer aplicações financeiras e planos de poupança/reforma e seguros de saúde. O mesmo ocorrerá infelizmente com todos os bens e serviços associados a emergências bélicas, sanitárias e sociais decorrentes do previsível agravamento da presente crise mundial. Num cenário de catástrofe financeira mundial, é de prever a falência de centenas de bancos e sociedades de investimento, já para não falar da falência de algumas dezenas de Estados (congelamento de salários e pensões de reforma, despedimentos nas Administrações Públicas, subidas vertiginosas de impostos, derivas nacionalistas, etc.) Se a crise vier a ocorrer, como se teme, não será fácil evitar o pânico. Mas se estivermos alerta, poderemos evitar o pior, e prepararmo-nos com coragem para uma longa e dolorosa metamorfose.

in OAM 2 mar 2006

atualização: 11/02/2015
citação: 20 Fevereiro 2012