sábado, fevereiro 17, 2018

Capitalismo indígena


O Bloco Central é uma espécie de ecologia encontrada para a convivência entre a burocracia e a sociedade civil. Quanto ao capitalismo indígena, percebemos hoje claramente que não passa de uma espécie em vias de extinção.


A alternância entre o PSD e o PS há muito que não depende das criaturas que em cada momento protagonizam estes dois partidos. O rotativismo indígena é a ecologia do regime que temos, e move-se em sintonia com os ciclos económicos, as recessões, e sobretudo os preços do petróleo (1), do dólar e do dinheiro. Ao fim de três pré-bancarrotas, Portugal depende, antes de mais, dos seus credores: BCE, FMI, UE, dos especuladores financeiros, e ainda de quem tem vindo a comprar os mais valiosos ativos do país: China, Angola e Espanha.

O facto de a Fundação Calouste Gulbenkian ter iniciado a venda de 100% da Partex aos chineses da CEFC (que em dezembro passado compraram o controlo da companhia de seguros da Montepio Associação Mutualista), preparando-se assim para alienar a pedra angular sobre a qual assentou a criação da enorme fortuna do fundador e a prosperidade de uma fundação entretanto tomada de assalto pela voragem partidária local, revela até onde os figurões que temos elegido para dirigir o país têm dado tão má conta do recado.

Quando falam de crescimento mentem com todos os dentes que têm.

REN propõe corte de 30% no investimento na rede elétrica 
Na sua proposta, a REN assume que a procura de eletricidade em Portugal ao longo da próxima década terá um crescimento médio anual de 0,25%. No anterior plano, a gestora da rede elétrica projetava um crescimento médio anual de 0,91%—Expresso, 15.02.2018.
Esta é a verdadeira dimensão, objetiva, do crescimento real do país. O resto é propaganda populista e uma caminhada de zombies para sítio nenhum. Consumimos cada vez menos eletricidade, ou seja, mal crescemos, mas os lucros da EDP continuam em alta, nomeadamente à custa das rendas excessivas denunciadas pela Troika, mas que nem o PCP contesta! Não admira, pois, que a chinesa que controla a REN decida cortar 30% no investimento.

A indigência a que chegámos é de tal ordem e gravidade, que é bem possível vermos o PCP e o Bloco transformarem-se numa espécie de PEV bicéfalo do PS. Se tal vier a ocorrer, só uma renovação radical na direita permitirá o regresso à alternância democrática e, portanto, o regresso do centro-direita ao poder. Rui Rio não é a pessoa certa para esta metamorfose. Assunção Cristas é.

NOTAS

  1. Publiquei este gráfico anotado por mim há já alguns meses. Mas vale a pena recordá-lo.

2 comentários:

Daniel Polónia disse...

E o que me diz às afirmações efetuadas ontem pelo primeiro vice presidente do PSD sobre a questão das rendas da EDP?

António Maria disse...

Ganda vice! Se Costa quer, e Rio também, os patins para o cabotino Mexia, já foram certamente encomendados. A China, como costuma afirmar, não se mete com a política interna dos outros países. Logo, Mexia, rua! Nada mais divertido do que ver o velho Bloco Central a baralhar e dar de novo, com os pobres marxistas degenerados a roerem-se de inveja, revelando a sua, afinal, insignificância.