sábado, julho 30, 2016

Oito meses depois da geringonça e da caranguejola


O velho Bloco Central morreu, viva o novo Bloco Central!


“Basta ter ouvido o que disseram os partidos e parceiros à saída das audiências para terem percebido que não há crise política e não vai haver crise política. (...) “Daquilo que ouvi dos partidos que apoiam o Governo não ouvi nenhum falar em qualquer hipótese de retirar o apoio ou de haver qualquer cenário, mesmo vago, de crise,”afirmou o Chefe de Estado esta quinta-feira, 28 de Julho, aos jornalistas, numa referência às reuniões que teve no início desta semana com os líderes partidários, patrões e sindicatos.

As perspetivas económico-financeiras e sociais da presente legislatura (2015-2019) são más. Ou seja, é previsível uma degradação da base social e eleitoral de apoio ao regime, e uma erosão progressiva da maioria que suporta o governo minoritário do PS.

Na verdade, não há condições para evitar a tão famigerada austeridade.

As dívidas —privada, pública e externa— não só continuam em patamares insustentáveis, que impedem por si sós o investimento e o crescimento, como, pelo menos um destes desequilíbrios —a dívida pública— continua a agravar-se e poderá empurrar o país para um novo resgate.

Se os juros da dívida voltarem a ultrapassar o limiar dos 7%. Se a crise bancária que atinge neste momento praticamente todo o nosso sistema bancário não for rapidamente estancada, nomeadamente através de restruturações drásticas e de fusões, e sobretudo do redesenho institucional da Caixa Geral de Depósitos. Se o Plano B, entretanto revelado na carta que o Governo endereçou à Comissão Europeia para evitar uma multa por défice excessivo, não for suficiente para impedir possíveis cortes nos fundos comunitários, estagnando então de vez o investimento e empurrando o país para uma mais do que certa recessão. Se tudo isto acabar por levar a DBRS a baixar a notação da dívida soberana portuguesa. Então, um novo resgate será praticamente inevitável.

Nestas circunstâncias, a pergunta de mil milhões de euros é esta: como irão comportar-se o PCP e o Bloco, partidos de que António Costa depende para ser primeiro ministro e o PS governo, à medida que a austeridade de esquerda se revelar em toda a sua dimensão? Manterão o apoio a António Costa explicando diariamente que a culpa da sua impotência é da Direita, da União Europeia e dos alemães, e que será sempre preferível viabilizar um governo do PS, mesmo que agravando a austeridade em curso? Ou acabarão por fazer cair o governo, forçando uma clarificação eleitoral?

No primeiro caso, PCP e Bloco acabarão por se confundir com o PS sem daí retirar quaisquer vantagens políticas, ideológicas ou eleitorais. Antes pelo contrário! Ou seja, se esta hipótese for a escolhida por Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, então terão mesmo que exigir a entrada do PCP e do Bloco no governo, assumindo então por inteiro as suas responsabilidades, mas também o necessário poder que agora não têm.

No segundo, isto é, em caso de uma crise política provocada pelo PCP, pelo Bloco, ou até por António Costa, que acabaria necessariamente em eleições antecipadas, com forte possibilidade do regresso de Passos Coelho ao poder, toda a 'geringonça' sairia a perder, e a perder por muitos anos!

Entretanto, enquanto o futuro imediato não chega, Marcelo Rebelo de Sousa será o protagonista principal e o bombeiro de uma espécie de Grande Bloco Central, onde cada opinião partidária conta, mas onde a bissetriz vai sendo traçada de modo cada vez mais claro e indiscutível por essa espécie de Bonaparte afetuoso que é o atual presidente da república, eleito à esquerda e à direita por uma maioria eleitoral de que nenhum dos partidos sentados no parlamento goza.

terça-feira, julho 26, 2016

O barómetro




O barómetro regista a melhor marca do PS desde as legislativas: 39% 
Jornal i, 25/07/2016 
Está a causar agitação nos meios políticos o barómetro de Julho da Aximage, feito para o Jornal de Negócios e o Correio da Manhã, que mostra o PS a subir e o PSD a descer na intenções de voto. Os dados mostram que junta a esquerda soma 55,8% das preferências dos portugueses – muito acima dos 50,76% conseguidos por PS, BE e CDU em outubro. Mas se as eleições fossem agora, António Costa já podia estar perto de dispensar os comunistas e fazer uma aliança só com o BE.

Em Portugal não se ganham eleições, perdem-se. É por isto mesmo que a direita só voltará ao poder quando a geringonça se desfizer. Eventualmente, na sequência de uma qualquer crise política provocada por um qualquer aperto externo. Por exemplo, na sequência, apesar de tudo provável, de uma descida abrupta da notação que a DBRS tem dado a Portugal—por ora, um nível acima de lixo.

Quanto ao resto, houve uma mudança histórica à esquerda do PS, se é que ainda há alguém que não se deu conta. Uma vez que quase tudo o que verdadeiramente importa depende dos credores, do BCE e de Bruxelas, comunistas, maoistas e trotsquistas perceberam finalmente que estão bem melhor perto do Orçamento, do que longe dele!

No entanto, não deixa de ser divertido observar como é que a Frente Popular pós-moderna que temos vai continuar a gerir a austeridade, agora que a mesma já é evidente para todos nós.

Haja ou não haja sanções.

segunda-feira, julho 25, 2016

Três leituras de verão



A temperatura política vai manter-se alta neste outono


Com mais ou menos sanções, por mais ou menos pesadas que estas venham a ser, ou mesmo sem as ditas, o que aí vem —a fatura até há pouco escondida do OE2016, e o OE2017— é mais austeridade, continuação de uma gravíssima crise no sistema financeiro, crispação político-partidária que baste, mais pobreza, mais emigração, menos crescimento e, portanto, mais nevoeiro sobre as coisas que verdadeiramente nos deveriam preocupar.

Para aproveitarmos bem as digestões deste verão tórrido, mais do que a barulheira partidária, com os escândalos que não deixarão de alimentar o imaginário da nossa deceção, recomendo três leituras: a deliciosa entrevista de Teodora Cardoso ao Expresso desta semana, um livrinho impresso, mas cheio de gráficos online, intitulado The Next Economic Disaster—Why It's Coming and How to Avoid It (2014), escrito por Richard Vague, e ainda a leitura de uma obra que vai mudar a nossa percepção dos últimos 200 anos de marxismo: The Structure of World History—From Modes of Production to Modes of Exchange (2014), escrito por um pensador japonês supreendente chamado Kojin Karatani.

Segundo Teodora Cardoso, as empresas portuguesas estavam já em 2011 demasiado endividadas para poderem responder ao Governo quando este propôs uma agenda de crescimento baseada no consumo e no investimento. “Para haver investimento tem de haver capital nacional, e o capital nacional foi praticamente todo para o imobiliário”, assestou Teodora Cardoso ao Expresso.

Apêndices do livro de Richard Vague (PDF)

Para Richard Vague e Ricahd Keen, o grande problema de uma crise que já leva uma década não começa nas dívidas públicas das grandes economias, mas na explosão das suas dívidas privadas, resultantes de maus empréstimos que acabariam por tolher o crescimento ao fazerem disparar os créditos insustentáveis das empresas, das famílias e dos especuladores, que por sua vez incharam como bolhas até rebentaram sob a forma de eventos  de crédito, falências, desemprego em massa e queda na criação de novos empregos. É a crise financeira e social daqui decorrente que induz depois —e enquanto os governos aguentarem— o incremento acelerado das dívidas públicas e a sua subsequente monetização burocrática.

Desde 2008, este atalho burocrático conduziu à destruição sucessiva das taxas de juro e às emissões imparáveis de dívida soberana. Perante esta destruição do mecanismo das taxas de juro, num ambiente económico estagnado ou mesmo recessivo, a especulação financeira acabaria por desviar-se da economia e das aplicações em derivados financeiros especulativos (OTC), apostando também ela nos instrumentos criados pelos governos assustados com mais esta crise sistémica do capitalismo.

As gigantescas bolhas soberanas têm vindo a rebentar e a fazer implodir países inteiros (Grécia, Venezuela, Angola, Brasil...). Talvez por isto Richard Vague, depois de muitos e ilustrativos gráficos, acabe por recomendar uma vigilância muito maior sobre o crédito privado, e recomende a sua restruturação, apelando à memória coletiva dos Jubileus das dívidas ao longo da História.


A reversão segundo a Síntese da Execução Orçamental, Junho 2016 (pdf)


Kojin Karatanim, por sua vez, vai bem mais fundo na análise dos problemas contemporâneos, propondo-nos uma viagem fantástica aos fundamentos históricos da nossa civilização.

O mundo e a história humana não resultam, como imaginou Karl Marx, das mutações sociais resultantes da sucessão dos modos de produção (nem muito menos da luta de classes), mas antes de uma evolução nos modos de troca de que os modos de produção, as tecnologias e as organizações humanas, entre as quais as formas de poder e a política, são epifenómenos e não causas eficientes e duradouras de tudo, como a generalidade da Esquerda ainda hoje, para mal das soluções que tardam, ainda pensa.

quinta-feira, julho 21, 2016

Orgulhosamente sós!

O que a UE desenhou, e os indigentes políticos locais rejeitaram, quebrando um contrato escrito.

Enquanto os trabalhadores da Soares da Costa choram, PSD, CDS/PP e PS deitam dinheiro à rua e isolam cada vez mais o país da Europa


Estado condenado a indemnizar consórcio do TGV em 150 milhões
NEGÓCIOS | 21 Julho 2016, 08:51
O Governo vai recorrer da decisão do tribunal arbitral que deu razão ao Elos, o consórcio constituído pela Soares da Costa e a Brisa que ia construir a linha de TGV que em 2012 foi suspensa por Pedro Passos Coelho. Além do recurso, o ministério liderado por Pedro Marques pede ainda o afastamento de um dos árbitros, por considerar que tem conflitos de interesses.
O novo troço Poceirão-Caia estava projetado para ser uma via dupla de bitola europeia (distância entre carris), onde na mesma linha iriam circular comboios de mercadorias, a 100 Km/h, durante noite, e de passageiros, circulando durante o dia. O que estava projetado incluía ainda um novo sistema de sinalização e prevenção de acidentes, e um regime de eletrificação distinto do existente. Na realidade, a integração da rede ferroviária portuguesa e espanhola na rede europeia exige a adoção de uma norma mundial denominada pela sigla UIC—União Internacional dos Caminhos de Ferro). Ver uic.org

O projetado troço Poceirão-Caia faria parte do novo Corredor Ferroviário do Atlântico (representado a amarelo na imagem). Este é um dos corredores ferroviários europeus atualmente em fase adiantada de construção, nomeadamente em Espanha, obedecendo às ditas características UIC (ou standard).

Nesta nova rede europeia não poderão circular comboios com rodados destinados à chamada bitola ibérica. Como toda a rede ferroviária portuguesa destinada a comboios assenta na bitola ibética, nenhum deles, sobretudo os de mercadorias, poderão circular em redes de bitola europeia. Como, por outro lado, muito em breve, todas as linhas espanholas que terminam na fronteira entre os dois países obedecerão à bitola europeia, os comboios portugueses serão impedidos de ir além de Valença, Vilar formoso, ou Elvas. Daqui a metáfora da ilha ferroviária e do regresso ao orgulhosamente sós!

Tal como os aeroportos, que obedecem a normas e funcionam como nós de uma rede mundial, acessíveis a qualquer companhia aérea, também a rede ferroviária europeia está desde há alguns anos num processo acelerado de convergência de normas, permitindo que um comboio de passageiros, ou de mercadorias, possa circular entre Pequim e Xangai e, por exemplo, Moscovo, Berlim, Londres, Madrid e Lisboa, ou Porto-Aveiro. As duas linhas ferroviárias portuguesas que ligam Porto-Aveiro, e Lisboa-Setúbal-Sines à rede espanhola UIC, que por sua vez se liga à rede francesa e por aí adiante, fazem parte da futura rede europeia de mobilidade e transportes, tendo contado até aqui com fundos específicos da União Europeia e empréstimos do BEI.


FACTOS E CRONOLOGIA DE MAIS UM DESASTRE ANUNCIADO

Custo total do projeto e obra da linha ferroviária Poceirão-Caia: 1200 milhões de euros.
Financiamento em 2012

  • 600 M€ da UE a fundo perdido, do quadro comunitário 2007-2013
  • 600 M€ de um empréstimo do BEI com uma taxa de juro de 2,6 %. 

Se alguém invocou falta de recursos públicos, mentiu. Houve 16 mil milhões de euros para barragens inúteis, ruinosas e destruidoras do ambiente (nomeadamente o Património Mundial do Douro Vinhateiro), houve mais de 20 mil M€ para derreter na banca que andou a especular com o imobiliário, mas não houve 600M€ para ligar a região de Lisboa à região de Madrid e resto de Espanha, bem como às fronteiras entre Espanha e França. Um verdadeiro caso de polícia.

SITUAÇÃO A QUE SE CHEGOU
  1. Perderam-se as verbas a fundo perdido do quadro 2007-2013. 
  2. O empréstimo do BEI foi desviado para a Parpública (para pagar faturas da TAP?) 
  3. Deixará em breve de haver ligação direta de Portugal à Rede Transeuropeia de Transportes Ferroviários.
  4. O Estado vai ter que pagar 150 milhões à ELOS, se a lei vingar. Para já, o espetáculo dado pelo Estado Português no tribunal arbitral não é o de uma pessoa de bem, mas o de um indigente coletivo. 
  5. De imediato, a Região de Lisboa e o Porto de Sines, Autoeuropa, etc., ficarão mais longe da Europa, e desde logo, mais longe de um mercado de 50 milhões de pessoas — a Espanha, por sinal, o nosso principal cliente comercial!
  6. Em vez de dar trabalho às empresas portuguesas que ganharam o concurso público, e de promover o investimento publico virtuoso, a nomenclatura que nos tem governado prefere destruir a economia e as pessoas.

Conclusão: a decisão do Governo de Passos de Coelho e Sérgio Monteiro, tomada em 2012, com base numa decisão idiota do Tribunal de Contas, e reiterada pelo imprestável ministro Pedro Marques, que serve sem alma, nem cabeça, a geringonça montada pelo PS, PCP e Bloco, está a transformar-se em mais uma tragédia para Portugal.

O país será em breve ma ilha ferroviária insustentável e falida. Basta reparar no estado de decrepitude em que se encontram as infraestruturas ferroviárias do país, e a sua não menos desmiolada bilhética e sistemas de acesso às plataformas de passageiros.

O novo governo das esquerdas não fez nada para corrigir este desastre.

Pelo contrário, continua a ocultar dos portugueses o verdadeiro isolamento ferroviário para que Portugal caminha com as suas opções absurdas, para não dizer, corrompidas por clientelas partidárias e de rentistas sem emenda.

quarta-feira, julho 20, 2016

Sem petróleo barato nada cresce


O shale não passou de uma manobra de diversão caríssima


O aumento da produção petrolífera americana deveu-se a um forte recurso à especulação financeira e a preços muito altos pagos pelo barril de crude. Na realidade, o Pico do Petróleo já chegou—há um ano, mais precisamente, em julho de 2015. E traduz-se assim: a procura agregada mundial não suporta preços muito acima dos 60 USD/b, mas abaixo deste valor a produção deixa de ser rentável para boa parte dos produtores. Ou seja, o fim do petróleo barato projeta o fim do petróleo caro. E assim, a grande crise começou, larvar, com as suas guerras proxi e a propagação do terrorismo organizado ou espontâneo. O sobre endividamento privado das economias, e o sobre endividamento público dos países, assinalam sintomaticamente o declinar de uma era de 200 anos assente nos combustíveis fósseis, com destaque especial para o carvão, o petróleo e o gás natural. Vamos ter que aprender rapidamente a viver com menos intensidade energética, ou perecer sob sucessivos e cada vez mais violentos conflitos pela posse do último barril de petróleo.



Gráficos in "The Peak Oil Paradox -Revisited" by Euan Mearns.

segunda-feira, julho 18, 2016

A Carta


Foto original: Miguel Baltazar/Negócios (recortada e editada/ OAM)

Os célebres 600 milhões


Lembram-se do famoso corte de 600M€ que PS, PCP e Bloco acusaram Passos Coelho de ter previsto, mas escondido a sete chaves, para o OE2016? Aí está, na carta hoje enviada por Mário Centeno a Bruxelas: 597M€ (cativações e reservas) + 97M€ (reposição de vencimentos na FP que afinal não vai ocorrer) = 694M€! Só que no esperanto da geringonça estes cortes ('cuts' é a expressão empregue pelo governo na carta que enviou em inglês) não são cortes, pronto. Na realidade, o PCP e o Bloco compraram gato por lebre quando assinaram as famosas posições comuns. Ou talvez tivessem mesmo, para ser mais preciso, comprado gato sabendo que iam comer gato.

As célebres 35 horas

Afinal, no que conta para o orçamento deste ano, as 35 horas são só para menos de 60% dos funcionários públicos, e só durante os últimos 6 meses de 2016. E só trará custos acrescidos (horas extraordinárias) para 15% dos funcionários públicos. E ainda: as horas extraordinárias terão que ser compensadas com cortes nas despesas correntes dos organismos que as implementem!!!

A célebre criação de emprego

O emprego público caiu 10%, o dobro do previsto no Programa de Ajustamento. Os custos nominais com pessoal serão em 2017 iguais aos de 2009, ou seja, os custos reais serão inferiores. Em suma, as promoções e carreiras estão congeladas desde 2006, e assim continuarão em 2016.

O célebre crescimento

Os cenários do crescimento têm vindo a encolher dia a dia, pelo que nem uma palavra sobre o assunto, salvo mais dinheiro público para a banca e para as empresas cotadas em bolsa!!!

Do Anexo à Carta (1)
Nonetheless, this year’s Budget Law introduced an extraordinary layer of
captives, a form of expenditure cuts that can become effective immediately. These additional captives are worth 346.2M€, approximately 0.2 p.p. of GDP.  
[...] 
Below, we will simulate a macroeconomic scenario with economic growth closer to the one forecasted by the European Commission, but incorporating 0.2 p.p. of expenditure cuts to compensate for potential revenue losses. 
[...] 
These additional appropriations were applied on public institutions with projected increases on their expenditures compared with 2015, which makes it credible that these appropriations can be kept frozen until the end of the year
[....] 
Overall, the 2016 budget has contingent measures in the amount of 542.8M€ (0.3 p.p. of GDP). 
[...] 
... when compared to 2015, the total amount of captives and reserves available is 597 million euros higher. The direct implication is that services have been forced to contain expenditure up to June. The Ministry of Finance will maintain this stance and reinforce it, should any expenditure slippage become evident. 
[...] 
The most recent estimates of the Budget General Directorate, revised down the cost of the gradual elimination of the wage cuts. The current estimates are 97 million euros lower than what was initially predicted in the Budget, which generates an extra buffer in the budgetary execution. 
A carta que o Governo escreveu à Comissão Europeia — Negócios | 18 Julho 2016, 12:50

NOTAS

  1. A carta endereçada pelo Governo à Comissão Europeia foi escrita em inglês, e continuava sem tradução oficial no dia em que acedi à agenda do ministro das finanças, o que não deixa de ser extraordinário e revelador do contorcionismo pouco transparente da geringonça.

Atualizado em 31/7/2016, 13:43

Depois do Brexit, o quê?

Eugen Von Böhm-Bawerkon. Bawerk.net
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Eugen Von Böhm-Bawerkon. Bawerk.net
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Três gráficos que explicam quase tudo 


Brexit or not, the pound will crash  
By Eugen Von Böhm-Bawerkon July 15, 2016. Bawerk.net 
It is no secret that short-term portfolio investments fund a large part of Brits excesses. These are mere claims on UK future production or assets. The immediate withdrawal form UK real estate funds, which has since been gated, is the dying canary signalling what will come; the current account deficit will no longer be funded by complacent foreigners. The pound will collapse thus forcing the long overdue correction the UK economy desperately need for long-term sustainable prosperity.
Nunca o aumento dos salários reais do Reino Unido caiu tanto numa só década (2005-2015), e é preciso recuar 100 anos para encontrar uma produtividade tão baixa. O défice, por sua vez, está nos 6% (não, não é abaixo dos 3%, é mesmo 6%). Logo, depois do Brexit, que será uma realidade formal em 2017, mas que se tornou uma realidade efetiva assim que foram conhecidos os resultados do referendo, a desvalorização da Libra é, segundo Eugen von Böhm-Bawerk, inevitável. Por sua vez, como boa parte do investimento especulativo e de curto prazo, sobretudo no imobiliário, começa a retirar-se, o impacto do Brexit nas contas públicas britânicas acabará por revelar a dimensão verdadeira dos problemas orçamentais do país, e em particular, do seu Welfare State. A pressão sobre os imigrantes residentes e os novos imigrantes só poderá aumentar à medida que a xenofobia se for tornando cada vez mais ameaçadora, sob o peso de uma austeridade inevitável.

Aliás, as unidades de fusões e aquisições das grandes empresas e fundos de investimentos globais começam a dar sinais claros do seu interesse por uma nova presa chamada Reino Unido. Cá como lá, vão-se os anéis, ficam os dedos.

SoftBank compra britânica ARM na sua maior aquisição de sempre 
Alexandra Machado | Jornal de Negócios | 18 Julho 2016, 07:46 
O grupo japonês SoftBank chegou a acordo para comprar a britânica empresa de chips ARM Holdings por 24,3 mil milhões de libras (29 mil milhões de euros), anunciou o grupo esta segunda-feira, 18 de Julho. 
Qatar inicia vaga de aquisições na Europa e não só 
Ana Margarida Pinheiro - Dinheiro Vivo - 18.07.2016 / 12:00 
No final de junho, a Qatar Airways admitiu a possibilidade de reforçar a sua posição no Grupo IAG, do qual já é a maior acionista, aumentando a sua fatia na dona da British Airways e Iberia de 15% para 20%. 

Será que o Reino Unido, tal como Portugal, se prepara para voltar as costas à Alemanha, e mesmo à União Europeia, buscando nas amizades e nos interesses que ficaram do seu antigo império, uma alavanca para a restruturação das saus dívidas menos autoritária e humilhante da que os quadrados alemães são capazes de oferecer?

Uma coisa é certa, a Alemanha está a ficar outra vez isolada, a leste, e pelos vistos, também a oeste. Longe vá o agoiro!

terça-feira, julho 12, 2016

Brexit e o fim da energia barata


Berlin (AFP/Getty Images)

Uma rebelião sem Norte, de Caracas e Dallas a Paris e Berlim


A queda do preço do barril de petróleo é fatal para a Venezuela, Rússia, Angola, ou Canadá, mas para a Inglaterra e a União Europeia, só esta queda permite empurrar com a barriga a causa dos problemas, monetizando por mais algum tempo as suas insustentáveis dívidas.

Não podemos pagar a energia de que precisamos para continuar a crescer sem nos endividarmos.

A capacidade de nos endividarmos, por sua vez, foi ultrapassada—da China ao Japão, de Nova Iorque a Berlim, passando por Atenas, Londres, Paris, Amesterdão, Roma, Madrid ou Lisboa. A chamada intensidade creditícia (1) que procurou alavancar a incapacidade das famílias, empresas e países de suportarem os verdadeiros custos da energia essencial às suas economias e vidas, empurrou as economias para bolhas de crédito especulativo cujo rebentamento atira pessoas, empresas e países inteiros para a insolvência, forçando humilhantes programas de resgate financeiro.

Tem-se tentado esconder este problema nas carteiras aparentemente sem fundo dos bancos centrais, com receitas várias experimentadas no Japão desde 1991, nos Estados Unidos desde 2008, e na Europa desde 2012, recorrendo em todos estes casos às medidas excecionais mais extraordinárias, tais como a introdução de taxas de juro negativas, a compra de dívida pública aos bancos privados que a tinham comprado antes aos governos, e a ulterior transformação desta em obrigações perpétuas com remuneração zero, nalguns casos só parcialmente resgatáveis.

Toda esta alquimia serve um único propósito: restaurar a capacidade de endividamento das empresas e dos consumidores, sem o que não há meio de promover o crescimento. Por sua vez, sem crescimento, a redistribuição da riqueza estanca e a base da pirâmicee social alarga-se e empobrece ao mesmo tempo. Por fim, a pobreza urbana é mais desesperada e mais explosiva do que a pobreza nas aldeias e campos.

Os resultados da monetização das dívidas são cada vez menos efetivos. Não é possível restaurar a capacidade aquisitva de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo depois de estas terem perdido os seus empregos, de as suas empresas terem falido, de os bancos colapsarem perante responsabilidades que deixaram de poder satisfazer, e de as dívidas soberanas dispararem perante a pressão crescente sobre os orçamentos públicos chamados ao mesmo tempo a financiarem os desempregados, os desesperados e os bancos demasiado grandes para falir.

O Brexit foi também um grito desesperado da imensa maioria encurralada por uma crise sistémica para a qual ninguém parece ter solução. As suas causas não tardarão a fazer-se sentir também por toda a Europa, e durante muitos anos.



Energy limits: Why we see rising wealth disparity and low pricesPosted on July 6, 2016 by Gail Tverberg @ Our Finite World

The Brexit vote may be related to falling energy per capita in the UK. Given that this problem occurs in many countries, it may be increasingly difficult to keep the Eurozone and other similar international organizations together.
[...]
The need for debt greatly increases when an economy begins using fossil fuels, because the use of fossil fuels allows a step-up in lifestyle.
[...]
Debt needs are low when the cost (really energy cost) of producing energy products is low. Much more debt is needed when the cost of energy extraction is high. The reason more debt is needed is because fossil fuels and other types of energy products tend to leverage human labor, making human labor more productive, as mentioned previously.
[...]
As the required price for energy-products rises, it takes ever-more debt to finance a similar amount of energy product, plus the higher cost of homes, cars, factories, and roads using the higher-cost energy. In fact, with higher energy costs, capital goods of all kinds will tend to be more expensive. This is a major reason why the ratio of debt to GDP tends to rise as the cost of producing energy products rises. At this point, in the United States it takes approximately $3 of additional debt to increase GDP by $1 (author’s calculation).
In a dissipative structure, both communication and stored information are important. Stored information, which is very close to technology, becomes very important when food is hard to find or energy is high cost to extract. When energy is low-cost to extract, practically anyone can find and make use of energy, so technology is less important.
Communication in an economy is done in various ways, including through the use of money and debt. Few people understand the extent to which debt can give false signals about future availability of energy flows. Thus, it is possible for an economy to build up to a very large size, with few realizing that this approach to building an economy is very similar to a Ponzi Scheme. It can continue only as long as energy costs are extremely low, or debt is being rapidly added.
The Brexit vote may be related to falling energy per capita in the UK. Given that this problem occurs in many countries, it may be increasingly difficult to keep the Eurozone and other similar international organizations together.
[...]
The need for debt greatly increases when an economy begins using fossil fuels, because the use of fossil fuels allows a step-up in lifestyle.
[...]
Once a dissipative structure is past its critical point, Roddier says that what is likely to bring it down is an avalanche of bifurcations. In the case of an economy, these might be debt defaults.
[...]
If the economy collapses, it will collapse down to a lower sustainable level. Much of the world’s infrastructure was built when oil could be extracted for $20 per barrel. That time is long gone. So, it looks like the world will need to collapse back to a level before fossil fuels–perhaps much before fossil fuels.
[...]

NOTAS

  1. Vague, Richard. The Next Economic Disaster (2014)

domingo, julho 10, 2016

Deutsche Bank, o próximo Momento Minsky




Atenção! Vai haver dinheiro do BCE para recapitalizar a Caixa


Folkerts-Landau : “A Europa está muito doente”.

Porquê? Porque o Deutsche Bank está cada vez mais próximo do Lehman Brothers... Perdeu mais de 60% do seu valor desde julho do ano passado, regista uma exposição aos derivados especulativos próxima do PIB nominal do planeta, e hoje, domingo, o seu economista chefe, David Folkerts-Landau, a pretexto da gravíssima crise bancária italiana, transmitiu ao Welt que são precisos 150 mil milhões de euros para impedir um colapso bancário e financeiro na Europa. E disse ainda que as regras da União Bancária terão que ser suspensas neste caso. Em vez de um ‘bail-in’, insuportável pelos bancos e capaz de provocar uma corrida europeia aos depósitos (o Banif foi mais uma cobaia, como agora se vê), há que avançar rapidamente para a um ‘bail-out’, ou seja, para um resgate público em larga escala da banca europeia atulhada de incobráveis, imparidades e exposição especulativa aos derivados financeiros OTC. Só não disse, o economista-chefe do Deutsche Bank, que a grande bomba pronta a explodir se chama, precisamente, Deutsche Bank. 

Ora aqui está uma notícia sumamente indigesta para Wolfgang Schauble, e em breve, para o resto dos europeus. Só António Costa terá razões para sorrir.

Por fim, segundo o mesmo Folkerts-Landau, a equação da desgraça é esta: 

fraco crescimento + endividamento elevado + deflação = crise


Já sabíamos!

ANEXO: alguns gráficos que ajudam a perceber o problema...









Minsky Moment (Wikipedia)

A Minsky moment is a sudden major collapse of asset values which is part of the credit cycle or business cycle. Such moments occur because long periods of prosperity and increasing value of investments lead to increasing speculation using borrowed money. The spiraling debt incurred in financing speculative investments leads to cash flow problems for investors. The cash generated by their assets no longer is sufficient to pay off the debt they took on to acquire them. Losses on such speculative assets prompt lenders to call in their loans. This is likely to lead to a collapse of asset values. Meanwhile, the over-indebted investors are forced to sell even their less-speculative positions to make good on their loans. However, at this point no counterparty can be found to bid at the high asking prices previously quoted. This starts a major sell-off, leading to a sudden and precipitous collapse in market-clearing asset prices, a sharp drop in market liquidity, and a severe demand for cash.

terça-feira, julho 05, 2016

Rota da Seda Ferroviária


Mas crescer, como? Se não fazem nada por isso?


Com conhecimento para o senhor primeiro ministro, António Costa, ministro das infraestruturas, Pedro Marques, e secretária de estado dos transportes, Ana Paula Vitorino:

“O carregamento partiu de Taichung (Taiwan) para Xiamen (China) por mar, e aí iniciou a viagem ferroviária que passou por Chengdu (China) até chegar a Lodz (Polónia). A partir daí, foi enviado para o centro de operações da MEDION, na Alemanha.
De acordo com a DHL, este serviço multimodal de base ferroviária reduz o tempo de trânsito para metade e os custos em dois terços em relação às operações marítimo-aéreas antes usadas.” Transportes&Negócios

Como é bom de ver, a prisão de ventre que a classe política, financeira e industrial indígena tem revelado face à renovação da nossa rede ferroviária, a qual exige sem ambiguidade a mudança progressiva da infraestrutura baseada na bitola ibérica por uma infraestrutura UIC —vulgo, bitola europeia— está a transformar Portugal num ilhéu ferroviário sem saída e sem recursos próprios suficientes para a manutenção e mesmo a operação em segurança do que existe em estado avançado de decrepitude.

segunda-feira, julho 04, 2016

O ilhéu ferroviário português



Europa não alimenta burros a Pão de Ló


A linha Aveiro-Mangualde é a primeira baixa no plano de investimentos ferroviários que o Governo apresentou em Fevereiro. Segundo adiantou o Público, o projecto, no valor de 675,3 milhões de euros, candidatou-se a uma verba de 404,8 milhões em fundos comunitários. Mas, no âmbito do fundo Connecting Europe Facility (CEF) foi chumbado por Bruxelas porque a análise custo-benefício era negativa. Negócios, 4/7/2016

E não há consequências? Há muito que é pública a ausência de uma estratégia ferroviária portuguesa convergente com o programa comunitário de redes de transportes interoperáveis. Foram já atiradas ao lixo muitas centenas de milhões de euros comunitários à conta desta bravura de piratas, cozinhada em nome da lutra 'contra o TGV'. Tudo o que os irresponsáveis e aldrabões que nos governam propõem a Bruxelas para ser financiado é o isolamento ferroviário português. Bruxelas já deu para estes peditórios do nacionalismo indigente, e não irá mais em cantorias mal amanhadas, mintam o que mentirem os governantes às suas populações.

Os políticos do Bloco Central, e agora também da geringonça, têm insistido numa via ferroviária orgulhosamente só e falida, defendendo, sem o assumirem, a transformação da rede ferroviária portuguesa num ilhéu ferroviário. A bitola ibérica deixará em breve de existir em todas as linhas ferroviárias espanholas que chegam à fronteira portuguesa. Logo, os comboios que circulam em Portugal, agarrados à sacrossanta mania do monopólio e das rendas de estado, deixarão em breve de ir além da fronteira com Espanha. É, aliás, prevendo que a estupidez do Terreiro do Paço e de São Bento dure mais uma década, que os espanhóis lançaram ao longo da raia uma série de portos secos para aí se procederem às transferências das mercadorias das composições vindas de Sines, Setúbal, Lisboa, Aveiro e Porto-Matosinhos, para os combóios europeus.

O lóbi dos transitários tem feito muita pressão para que o transporte rodoviário pesado continue a dominar o país. Mas os ventos não sopram a seu favor. O preço do petróleo e as taxas verdes pesarão cada vez mais sobre este modo ineficiente de transporte, tornando as mercadorias oriundas da aldeia lusitana cada vez menos competitivas, e as importações cada vez mais caras. Onde estão os famosos economistas-políticos deste país? Na bicha das comissões de serviço e das encomendas de estudos—onde sempre estiveram—, presumo.

Sabem qual é a origem desta monstruosidade? Eu repito: o lóbi do NAL da Ota em Alcochete, que, pelos vistos, ainda mexe.

Será que o invertebrado ministro do pseudo planeamento e da ruína das infraestruturas que temos, Pedro Marques, sabe porque tem feito tanto disparate desde que entrou neste governo? Provavelmente não.