terça-feira, dezembro 28, 2010

Finanças Pessoais

2011-2020: poupar, proteger, diversificar
principais aplicações para as auas poupanças
  1. Habitação própria — se contraiu um empréstimo para comprar a sua casa, o ideal é livrar-se tão cedo quanto possível da hipoteca. Livre-se de encargos prescindíveis e de hipotecas que possam afectar a posse do bem em consequência de uma subida empinada das taxas de juro e dos preços de bens essenciais como a energia e a água. A médio-longo prazo (10—20 anos) o Euro irá perder paulatinamente valor, os juros irão subir, e as pensões de reforma e outros subsídios verão diminuir significativamente o respectivo poder de compra. Faça um somatório de todos os encargos que tem com a sua casa (hipoteca, consumos de energia, água e telecomunicações, condomínio e manutenção geral) e simule os impactos que poderão ter nas suas receitas uma inflação real de preços e juros sobre empréstimos na ordem dos 10% ao ano. Não se esqueça que uma moeda como a Libra inglesa, por exemplo, tendo o ouro como padrão de referência, perdeu 400% do seu valor desde 1971 (Why I keep buying Silver and Gold, by Bengt Saelensminde, in MONEY WEEK).
  2. Trabalho — é um bem cada vez mais raro, e enquanto a tecnologia for alimentada por energia fóssil barata, não haverá regresso em massa ao trabalho, isto é, ao trabalho das nossas mãos, braços, pernas e cérebros. Esta realidade é ainda mais séria no Ocidente, cujas indústrias têm emigrado a ritmo acelerado para a China, a nova fábrica do mundo. No entanto, é preciso ter em conta que a energia fóssil barata está à beira do fim. Depois, só energia cara, muito cara mesmo. Preservar o pouco trabalho que há, ainda que auferindo menos dinheiro pela sua realização, vai tornar-se um questão cada vez mais crítica para as economias pessoais e familiares.
  3. Ouro e prata — o valor destes metais não pára de subir e é de crer que continuará a ser uma das melhores aplicações para a poupança que formos conseguindo. Habitue-se a fazer pequenas poupanças semanais, sobretudo nos consumos supérfluos, aplicando-as em pequenas moedas de ouro e prata. Para uma introdução ao investimento em metais preciosos, leia-se este actualizado A beginner's guide to investing in gold, publicado pelo MONEY WEEK. Não é sem motivo que a Índia comprou duzentas toneladas de ouro ao FMI em Novembro de 2009 (in The Prudent Investor).
  4. Terra — as necessidades alimentares que hoje são preenchidas com produtos variados e a preços razoáveis, sobretudo nos países ricos do Ocidente, poderão deparar-se em breve, no prazo de uma década, com falhas de abastecimento inimagináveis nos dias que correm, e uma inflação galopante. Quando esta escassez, motivada pela carestia do petróleo e do gás natural, ocorrer, ou antes, quando esta escassez inevitável se tornar visível no horizonte, a corrida às terra ricas em nutrientes, aptas a gerar alimentos, atingirá proporções nunca vistas —nem nas grandes corridas ao ouro. O momento para investir em terrenos com potencial agrícola, sobretudo nas zonas próximas dos grandes centros urbanos, é agora! 
  5. Amizade — as tensões sociais tendem a agravar-se à medida que a escassez energética aumenta, provocando a inflação e o endividamento geral dos indivíduos, famílias, nações e estados. A tentação dos governos, depois das democracias ocidentais terem degenerado em aparelhos burocráticos, populistas e minoritários, cada vez mais musculados (os estados de excepção, sob a forma de leis anti-terroristas, ou de estados de alarma, regressaram ao nosso quotidiano), é apropriarem-se, por via de leis arbitrárias (ainda que sufragada por parlamentos e dirigentes políticos cada vez mais corruptos), ou à força, da riqueza alheia. Fazem-no já sob a forma de um verdadeiro terrorismo fiscal, da desvalorização do dinheiro, do ataque directo ao Estado Social que os impostos já não conseguem suportar, e preparam-se mesmo para desencadear no futuro operações em massa de expropriação directa da propriedade privada, alegadamente em nome do interesse público. O anúncio pelo actual ministro da agricultura português, rapidamente abafado, da expropriação de terrenos florestais para posterior entrega a empresas privadas "especializadas", foi um balão atirado para o ar para estudar reacções. Mas a verdade é que o assunto estava, está e estará em cima da mesa das burocracias democráticas que, não tenho dúvidas, se preparam para a eventualidade de uma estatização forçada da riqueza, nomeadamente agrícola e florestal. É este tipo de desestruturação social, que em breve poderá tomar conta das economias a braços com a tragédia de um bem comum exausto (o petróleo e o gás natural baratos), que as sociedades civis de todos os países terão que enfrentar. Os povos que souberem criar rapidamente laços de amizade e cooperação, baseados na proximidade e na organização em rede, poderão talvez conseguir travar a barbárie, e reconduzir as nações a um novo ponto de equilíbrio. Daí a importância de promover, desde já, a acumulação dessa nova riqueza imprescindível ao futuro da humanidade: a amizade.

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