sexta-feira, abril 30, 2010

Portugal 186

I love this girl!

Actualmente, 74% da dívida pública portuguesa é detida por não-residentes; mas, nem sempre foi assim. Pergunta-se: se os portugueses (que podem) não compram dívida pública portuguesa, porque hão-de comprá-la os estrangeiros? — Cristina Casalinho, Jornal de Negócios Online.

Cristina Casalinho escreveu com a precisão e elegância que a caracteriza o que aqui temos escrito e rescrito há uns meses a esta parte. Parabéns!

Aqui vão os pontos de vista coincidentes:
  1. A dívida pública portuguesa deixou de ser controlada por nós, e quem detêm 75% ou mais da dita, não vai deixar de exigir o seu pagamento a tempo e horas, e com juros e prémios de risco ajustados a uma nova e mais minuciosa percepção do estado calamitoso da nossa economia e das nossas finanças públicas; a bolha das dívidas soberanas rebentou, reparar os imensos estragos vai ser tarefa árdua, para toda uma década, e os elos mais fracos da cadeia especulativa mundial serão os primeiros a partir;
  2. Finalmente começou a falar-se de Dívida Externa Bruta, em vez da ficção do Banco de Portugal
. A dita "posição externa líquida", ou "dívida externa", como costumam chamar-lhe erradamente os nossos sempre aluados economistas mediáticos, é uma falácia, pois se os angolanos não pagarem às nossas empresas, a nossa dívida aos alemães não desaparece por milagre! Alertámos vezes sem conta, nos últimos três anos, para o facto de as referências mediáticas que insistiam invariavelmente no défice público, esquecendo sempre o problema da Dívida Externa, ser o erro mais crasso da avaliação "profissional" e "política" da nossa real situação económico-financeira;
  3. A subida do IVA é inevitável e já deveria ter ocorrido. Os suecos pagam 25% —pagam mesmo—, e não se queixam; antes pelo contrário, gozam de uma excelente rede de segurança social, que precisamente revela todo o seu potencial positivo em crises agudas como a actual;
  4.  O nosso Estado engordou devido ao eleitoralismo, incompetência, endogamia e corrupção da nomenclatura partidária que há 35 anos despedaça a poupança portuguesa conseguida à paulada pela ditadura. E agora? Será que os idiotas da actual democracia ainda acreditam que esta pode sobreviver sem poupança interna? Ainda defenderão a aberração teórica (a la Keynes) do crescimento do PIB pela via prioritária e sem portagem do consumo? Acham os distintos professores de economia (que infelizmente não estudam História) que os portugueses podem continuar a encomendar Mercedes, BMWs e Audis, brincar nas praias de Cancun, e encher os Shoppings do Belmiro, à custa da poupança alheia, nomeadamente chinesa e alemã? Pois não — não podem!

    A solução aqui proposta há mais de dois meses, e agora elegantemente sugerida por Cristina Casalinho —transformar os subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos (ou pelo menos, parte destes subsídios) em certificados de aforro, durante alguns anos (até 2014, ou mesmo 2015)— seria uma medida justa e proporcionada, atendendo nomeadamente ao facto de que têm sido até agora os trabalhadores do sector privado que têm suportado o grosso da crise — seja porque perderam e perdem todos os dias os seus empregos (e casas!), seja porque vêm renegociadas as suas condições de trabalho de forma prepotente e humilhante (chegando a perder mais de metade dos honorários, ou em opção, permitindo que o seu posto vá parar a alguém mais jovem ou financeiramente desesperado, como sucedeu recentemente no Museu de Serralves — um exemplo que me foi relatado há algumas semanas atrás.)
Faltou a Cristina Casalinho acrescentar a importância de controlar também os prémios dos altos executivos das grandes empresas, e uma mais agressiva taxação dos dividendos e dos lucros. Os primeiros devem ser sujeitos a um plafond imposto pelo Estado, e a segunda deve ser imposta onde não exista, e aumentada onde já exista. Só assim haverá equidade na Política. Mas devo aceitar que seria exigir demais de uma jovem e distinta economista ao serviço do BPI.


POST SCRIPTUM — Não percebo porque nem o PCP, nem o Bloco, querem discutir a sério como vão os funcionários públicos portugueses partilhar parte do custo da actual crise financeira.

Transformar, por exemplo, 50% dos subsídios de férias e de Natal de 2010, 2011, 2012 e 2013 em certificados de aforro, com maturidades de 3 anos, seria ou não mais inteligente, mais solidário e menos gravoso, do que recusar toda e qualquer medida viável, em nome da mais sórdida demagogia eleitoralista, tendo como consequência inevitável a continuação do ataque actualmente em curso e irreversível aos benefícios sociais adquiridos?

O ataque sem precedentes que neste momento o governo de piratas do Bloco Central desencadeou contra os trabalhadores desempregados (que raramente são funcionários públicos) e contra os reformados é também da responsabilidade conivente do PCP e do dito Bloco de Esquerda. Não tentem, pois, fingir que não contribuem para este problema. Sois igualmente responsáveis!

Tal como os partidos do Bloco Central, também o PCP e o BE olham apenas para o peso eleitoral do funcionalismo público, do onde aliás, em boa medida, provêem!


OAM 693—30 Abril 2010 19:13

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