sexta-feira, março 13, 2009

Energia 4

Mexia para a rua, já!

Contas da EDP levam auditor a demitir-se

Público - 13.03.2009, Cristina Ferreira e Ana Brito

Vítor Franco saiu contra as regras contabilísticas utilizadas pela EDP nas contas de 2008. A CMVM está a acompanhar o assunto

Na origem da demissão, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, estão divergências de fundo quanto o modo como a operadora registou nas contas de 2008 os ganhos de 405 milhões de euros obtidos com a dispersão em bolsa de 25 por cento do capital das EDP Renováveis, em Junho do ano passado.

Aquele montante foi contabilizado como "ganho na alienação de activos financeiros" e, por isso, foi incorporado nos resultados líquidos do ano passado, que atingiram o montante recorde de 1091,9 milhões de euros.

Esta opção é contestada pelo facto de a EDP Renováveis ser uma empresa estratégica, onde a EDP possui o controlo do capital. Por isso, e porque a operação de dispersão em bolsa foi feita através de um aumento de capital com um prémio de emissão de acções (que foram vendidas acima do seu valor nominal), esta linha defende que aquele montante deveria ter sido contabilizado nos capitais próprios, sem reflexo nos lucros do ano. As acções da EDP Renováveis foram vendidas a oito euros cada uma, contra um valor nominal de cinco euros.

Este critério contabilístico faria descer os lucros dos 1091,9 milhões de euros apresentados para 686,9 milhões. Neste caso, Mexia teria apresentado uma queda de 24 por cento.

A EDP vende os anéis, mais concretamente, 1/4 da EDP Renováveis, e aldraba os balanços com retórica contabilística.
  • Objectivo 1: esconder o óbvio, i.e. que a rentabilidade efectiva da empresa, apesar das ventoinhas espalhadas pelo país (ou precisamente por causa delas!) é menor do que o prometido ou espectável;
  • Objectivo 2: esconder do mercado accionista a situação real da empresa, não reflectindo devidamente o significado da venda de 25% da EDP-R: nos próximos anos a receita extraordinária da dispersão em bolsa da EDP-R, já não se registará... (o esquema das receitas extraordinárias à custa do património tornou-se aliás uma tradição desde que Manuela Ferreira Leite foi ministra das finanças);
  • Objectivo 3: proporcionar lautos vencimentos aos administradores de uma empresa estratégica nacional, onde o Estado é accionista — mas onde deveria voltar a ser o principal e maioritário accionista, contra os falhados neoliberais de Bruxelas!
Eu escrevi já várias vezes sobre este tema, sem saber, claro, da engenharia financeira barata em curso. Volto a repetir: a EDP quer construir 10 novas barragens para:
  1. disfarçar o fiasco da produtividade prometida das eólicas, pondo as eólicas a trabalhar para as barragens e estas, por sua vez, a cobrir o défice produtivo das ventoinhas;
  2. confiscar paulatinamente as bacias hidrográficas do país (Douro, Tejo, Guadiana, Mondego, Vouga, etc.) e controlar o acesso à preciosa água potável dos rios!!
Este escândalo contabilístico é muito mais importante do que parece. E mereceria uma boa agitação parlamentar, se os partidos que temos e a respectiva clientela não formassem, como formam, uma burocracia indolente e corrupta. O Louçã e o Vasco Pulido Valente escandalizam-se com o cleptómano José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, mas nunca os ouvi falar seriamente desse escândalo maior que é termos em funções um primeiro ministro suspeito das maiores trafulhices e ilegalidades que dão cadeia — apesar de o prazo de validade do pinóquio da tríade de Macau já ter terminado! O Louçã, ainda vá, que não sabe nada da história de Portugal, e sempre teve um raciocínio quadrado, agora o Vasco, caramba! Então o homem não é historiador? Ou também é daqueles que escreve história ao sabor de quem o protege?

O PSD das PME e das Autarquias tem aqui uma excelente oportunidade para mostrar o que vale. Mas tem que fazê-lo a partir da sua actual direcção, pois os autarcas das populações atingidas pelo assalto planeado pela EDP estão virtualmente todos comprados.


Referências neste blogue:


OAM 554 13-03-2009 23:06

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