quinta-feira, julho 31, 2008

Portugal 36



2009: visão, lucidez e coragem - precisam-se!


"In December 2005, the Government [of Sweden] appointed a commission to draw up a comprehensive programme to reduce Sweden's dependence on oil. There were several reasons for this. The price of oil affects Sweden's growth and employment. Oil still plays a major role for peace and security throughout the world. There is a great potential for Swedish raw materials as alternatives to oil. But, above all, the extensive burning of fossil fuels threatens the living conditions of future generations. Climate change is a fact which we politicians must face. Broad and long-term political efforts are needed. -- Stockholm, 28 June 2006. Göran Persson, prime-minister, Commission on Oil Independence (Wikipedia).

O bloco central do betão, a preguiçosa, incompetente e corrupta burguesia de Estado, e sobretudo a nomenclatura partidário-corporativa que temos, alimentados todos pela generosidade adolescente da democracia portuguesa, levaram o país à ruína e a sociedade de volta à emigração. Por mais incrível que pareça, em vez de prendermos duas dúzias destas prejudiciais criaturas, toleramos alegremente que andem por aí exibindo sem vergonha os sinais exteriores de uma riqueza injustificável, como se fossem senadores de uma Roma debochada no fim dos seus dias. E são!

Os dados económicos miseráveis de Portugal são sobejamente conhecidos e nada têm que ver com a crise internacional, ao contrário do que arengam os vendedores governamentais e a laia de falsos jornalistas que tudo escrevem e dizem para manter o emprego. A catastrófica crise financeira internacional (1), que é sobretudo um sinal evidente da subalternização dos Estados Unidos, do Reino, da Austrália, da Nova Zelândia e da Zona Euro -- ou seja, dos países de consumidores ineficientes, pouco produtivos e sem recursos -- face aos países que produzem e/ou têm recursos, apenas veio precipitar a falência do nosso desmiolado e corrupto modelo económico.

A China por si só é responsável por 40% do recente acréscimo anual do consumo mundial de petróleo (2), pelo que depois das Olimpíadas veremos o preço do crude a subir de novo. Os países emergentes não dependem criticamente das exportações para manterem os seus elevados ritmos de crescimento, ao contrário do que alguns foram levados a crer. As suas demografias são mais do que suficientes para garantir taxas de crescimento anuais na ordem dos 6-10%. Tem pois absoluta razão Manuela Ferreira Leite quando avisa os portugueses que um Estado falido, tal como uma família falida, ou uma pessoa falida, não pode continuar a encomendar marisco como se nada se passasse. José Sócrates anda literalmente de mão estendida por esse mundo fora, mendigando liquidez: liquidez para o BCP, liquidez para a TAP (3), liquidez para o QREN!

Não o critico por isso, mas apenas por tal personagem ser cada vez menos primeiro ministro de Portugal, e cada vez mais o boneco atarantado da conspiração de ventríloquos apostados apenas em salvar-se a si próprios, afundando, se preciso for, o país. Note-se que esta conspiração promovida pelo bloco central dos interesses apenas estará ao lado de José Sócrates enquanto ele cumprir o guião histriónico que diariamente lhe põem nas mãos. No dia em que o actual primeiro ministro pensar um minuto na figura triste que anda a fazer, e der um murro na mesa em nome das aspirações socialistas que diz defender, verá como a turma cobarde que hoje move as baterias assassinas contra a sua adversária, Manuela Ferreira Leite, se voltará também contra si, sem dó nem piedade.

E no entanto, a aposta na prestidigitação política, como se a função de um primeiro ministro se pudesse confundir com a de um mero mestre de cerimónias, ou de um vendedor de produtos tecnológicos de duvidosa qualidade, vai levá-lo à derrota certa nas próximas eleições, apesar das sondagens actuais. Na apresentação do "Magalhães" -- um computador low cost da Intel, embrulhado em Portugal --, José Sócrates até imitou o Steve Jobs -- repararam? Ao que isto chegou!

As eleições de 2009 irão ser disputadas num ambiente de crise económica e instabilidade social grave ou muito grave. Quem falar verdade, sem subterfúgios, explicando claramente a causa das coisas, terá vantagem sobre quem quer que tenha andado com fantasias, não tendo por isso tomado as medidas apropriadas para mitigar os efeitos da crise. Mas tão importante como falar verdade, olhos nos olhos com os portugueses, é demonstrar coragem e firmeza na estancagem das pressões egoístas que atrofiam o país, contrapondo ao mesmo tempo uma visão para Portugal nos próximos 10 a 20 anos, sem ceder às métricas eleitorais, nem aos inúteis jogos florais em que o nosso inútil parlamento se especializou.

O que estava previsto fazer há três, cinco ou seis anos atrás viu caducar o prazo de validade, por razões óbvias:
  1. Portugal tem uma dívida pública e privada insustentável que inviabiliza a possibilidade de continuar a endividar-se em pseudo Parcerias Público Privadas, de que os negócios da Ponte Vasco da Gama e autoestradas SCUT são exemplos tristemente célebres;
  2. O alargamento da União Europeia veio enfraquecer a generosidade dos Fundos Comunitários, pelo que nenhuma das grandes obras públicas de que tanto se tem falado pode esperar de Bruxelas um apoio mais do que simbólico para a sua execução (não havendo, por outro lado, liquidez nos mercados financeiros para aventuras keynesianas improvisadas);
  3. O petróleo barato acabou de vez;
  4. A transição do paradigma energético vai ser longa, cara e dolorosa;
  5. A crise financeira internacional, que afecta sobretudo o Ocidente, é uma crise profunda e duradoura (20 anos, pelo menos...), tendo por origem um longo ciclo de energia e créditos baratos, do qual resultaram várias bolhas especulativas (algumas delas ainda por rebentar) e um extraordinario endividamento de países tão influentes como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália e a Espanha;
  6. O mundo está, por causa desta gravíssima situação, à beira de uma III Guerra Mundial. Se tiver juízo, evitá-la-à in extremis, por meio (proponho eu) de um Novo Tratado de Tordesilhas, através do qual o globo terrestre será dividido em duas metades com fronteiras aduaneiras claras, e a criação de zonas francas especiais como a Suiça, o Médio Oriente e os mares.
  7. Finalmente, as alterações climáticas exigem acção imediata e uma mudança radical de comportamentos económicos, sociais e culturais. Ver neste desafio inadiável uma oportunidade é seguramente uma forma positiva de ver os imensos problemas pelas frente, e de mobilizar as consciências, os recursos e a acção (4).



NOTAS
  1. New York Region - Governor Calls For Session On Fiscal Crisis
    By DANNY HAKIM. Published: July 30, 2008

    Gov. David A. Paterson of New York called on the Legislature to return next month to grapple with a budget deficit that will grow to $26.2 billion over the next three years.

    ... In his speech, the governor said taxes collected on 16 of the state's largest banks fell 97 percent between June 2007 and June 2008, to $5 million from $173 million. -- The New York Times.

    Australia faces worse crisis than America

    By Ambrose Evans-Pritchard, International Business Editor
    Last Updated: 6:39pm BST 29/07/2008

    The world's financial storm has swept through Australia and New Zealand this week amid mounting signs of contagion across the Pacific region.

    Australia now faces a worse crisis than America
    Many fear the economic party in Australia will end badly

    Financial shares were pummelled in Sydney on Tuesday after investor flight forced National Australia Bank (NAB) to slash a £400m bond sale by two thirds.

    The retreat comes days after the Melbourne lender shocked the markets by announcing a 90pc write-down on its £550m holdings of US mortgage debt, an admission that it AAA-rated securities are virtually worthless.

    In New Zealand, Guardian Trust said it was suspending withdrawals from its mortgage fund owing to "liquidity difficulties in the market".

    ... Hanover Finance - the country' third biggest operator - last week froze repayments to investors. The company said its "industry model has collapsed" as the housing market goes into a nose dive. Some 23 finance companies have gone bankrupt in New Zealand over the last year.

    It is now clear that the Antipodes are tipping into a serious downturn. Australia's NAB business confidence index fell to its lowest level in seventeen years in June. New Zealand's central bank began to cut interest rates last week on fears that the economy may have contracted in the second quarter, and is now entering recession. Housing starts slumped 20pc in June to the lowest since 1986. -- Telegraph.co .

    Merrill shocks Wall Street with $8.5bn share sale
    By Stephen Foley in New York
    Tuesday, 29 July 2008

    Merrill Lynch, the investment banking giant that has lost more than $40bn (£20.1bn) on its mortgage investments since the start of the credit crisis, shocked Wall Street last night with plans to raise $8.5bn in new shares.

    As part of a sweeping financial restructuring, the company is dumping most of its remaining holdings in risky mortgage derivatives and tapping the Singapore government for an emergency $3.4bn cash infusion.

    ... A portfolio of mortgage derivatives known as collateralised debt obligations (CDOs) that Merrill had valued at $11.1bn as recently as a fortnight ago, were offloaded last night for $6.7bn. Before the credit crisis struck, that portfolio had been worth $30bn. -- The Independent.

    Cortefiel's LBO Loans Signal European Retail Defaults

    If there is any doubt European shoppers are following their U.S. counterparts into a recession, look no further than retailers' debt.

    Chain stores, led by Madrid-based Cortefiel SA and Fat Face Ltd. in London, are the worst performers among the region's 140 billion euros ($220 billion) of leveraged-buyout loans, according to Markit Group Ltd. and Standard & Poor's data. The Spanish company's 1.4 billion euros of loans are trading at less than half of face value, the lowest for a European company that hasn't defaulted, data from Frankfurt-based Dresdner Kleinwort show. -- Bloomberg.

    Sovereign funds cut exposure to weak dollar
    By Henny Sender in New York
    Published: July 16 2008 22:35 | Last updated: July 16 2008 23:24

    Some of the world’s largest sovereign wealth funds are seeking to scale back their exposure to the US dollar in a sign of global concern about the currency.

    One big sovereign fund in the Gulf has cut its dollar-denominated holdings from more than 80 per cent a year ago to less than 60 per cent, while China's State Administration of Foreign Exchange (SAFE) has been looking to strike deals with private equity firms in Europe as a part of a strategy to reduce its dollar holdings. -- Finantial Times.

    European Banks May Need EU90 Billion, Goldman Says
    By Alexis Xydias and Ambereen Choudhury

    July 4 (Bloomberg) -- European banks may need to raise as much as 90 billion euros ($141 billion) to restore their capital after the U.S. subprime mortgage collapse caused credit markets to seize up, according to Goldman Sachs Group Inc.

    ... The European banks Goldman tracks have lost $900 billion of their market value since the credit crisis began last year. Anshu Jain, head of global markets at Deutsche Bank AG, said this week that that contagion is "by no means over," and Europe's banks have lagged behind the U.S. in raising money from investors.

    ... Goldman's analysts said in their report that "access to liquidity, capital adequacy and post-crisis profitability are the key areas of near to medium-term uncertainty" for European banks.

    Global financial stocks have led declines that wiped about $11 trillion from equity markets worldwide this year. Credit-related losses, surging oil prices and rising inflation have also stoked concern policy makers will have to raise borrowing costs as the global economy slows.

    LBO Defaults May Rise as About $500 Billion Comes Due
    By Neil Unmack

    July 4 (Bloomberg) -- Leveraged-buyout loan defaults may be "significantly higher" than ratings companies' estimates as about $500 billion of debt used to fund the takeovers comes due, the Bank for International Settlements said.

    Companies bought by private-equity firms worldwide must repay the high-risk, high-yield loans and bonds by 2010, the Basel, Switzerland-based bank said in a report today, citing Fitch Ratings data. They may find it hard to raise the cash because of a slump in demand for collateralized debt obligations that pool the loans, BIS said.

  2. China's Cars, Accelerating A Global Demand for Fuel

    "In China, size matters," says Zhang, the 44-year-old founder of a media and graphic design company. "People want to have a car that shows off their status in society. No one wants to buy small." -- 27-07-2008, Washington Post.

  3. British Airways and Iberia bow to economic and strategic necessity

    THERE is nothing like high oil prices, it would seem, to free a European airline from protective national sentiment. Late last year British Airways (BA) backed away from a bid it had made with four private-equity firms for Iberia, Spain's flag carrier, after Caja Madrid, a Spanish bank with government connections, bought a large defensive stake. On Tuesday July 29th, with the price of oil up 25% and BA and Iberia shares down 25% and 37% respectively, the two firms said they were in talks about an all-share merger. Both companies’ boards support the deal, as does Caja Madrid.

    ... In July Martin Broughton, BA's chairman, said the firm faced "perhaps the biggest crisis the aviation industry has ever known". As well as soaring fuel costs, airlines are bracing themselves for weakening consumer demand. Cost savings and revenue gains from a merger will help BA and Iberia mitigate the pain. -- Economist.

    Comentário: a TAP não tem condições para sobreviver à crise petrolífera, sobretudo depois da inconclusiva viagem da José Sócrates a Luanda, de onde Fernando Pinto não conseguiu, ao que parece, nem emprego! A solução da TAP passará irremediavelmente por uma fusão com outras companhias de aviação. Falhada a hipótese de promover uma companhia intercontinental de média dimensão, com um perfil estratégico claramente atlantista, i.e envolvendo países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Brasil e Venezuela, por exemplo, parece-me que a única direcção consistente a tomar é a de bater à porta da BA e da Ibéria. O timing para uma decisão vantajosa está rapidamente a esgotar-se. Não creio que possa ir além do próximo Inverno.

    Ler a propósito: "A TAP e as Low Cost", de Rui Rodrigues: "A única forma de dar vantagens competitivas à TAP seria através da utilização de uma base para as Low Cost fora da Portela; caso contrário, a situação económica da transportadora nacional agravar-se-á ainda mais, pois já teve um prejuízo de 123 milhões de euros, no primeiro semestre de 2008." -- Público.

  4. The case for investing in energy productivity
    McKinsey Global Institute, February 2008

    Unless there is a shift in world energy policies, global energy demand is set to accelerate, putting increasing strain on the world economy and the environment. Yet additional annual investments in energy productivity of $170 billion through 2020 could cut global energy demand growth by at least half--the equivalent of 64 million barrels of oil a day or almost one and a half times today's entire U.S. energy consumption.

    MGI research suggests that the economics of investing in energy productivity--the level of output we achieve from the energy we consume--are very attractive. With an average internal rate of return of 17 percent, such investments would generate energy savings ramping up to $900 billion annually by 2020. Energy productivity is also the most cost-effective way to reduce global emissions of greenhouse gases (GHG). Capturing the energy productivity opportunity could deliver up to half of the abatement of global GHG required to cap the long-term concentration of GHG in the atmosphere to 450--550 parts per million--a level experts say will be necessary to prevent the mean temperature from increasing by more than two degrees centigrade. Moreover, the opportunities to boost energy productivity use existing technologies that pay for themselves and therefore free up resources for investment or consumption elsewhere.

    ... The International Energy Agency (IEA) estimates that on average, an additional $1 spent on more efficient electrical equipment, appliances, and buildings avoids more than $2 in investment in ekectricity supply. As Chevron CEO David O'Reilly recently pointed out, energy efficiency is the cheapest form of new energy we have."


    Will Soaring Transport Costs Reverse Globalization?
    By Jeff Rubin and Benjamin Tal, CIBC World Markets Inc. (PDF)

    While there remains a strong imperative in the world economy to arbitrage wage costs, the arbitrage will increasingly take place within the constraints imposed by soaring transport costs. Instead of finding cheap labor half-way around the world, the key will be to find the cheapest labor force within reasonable shipping distance to your market.

    Compare, for example, how relative transport costs have recently changed between the Pacific Rim and Mexico. If in 2000 American importers paid 90% more to ship goods from East Asia to the US east coast, today they pay 150% more, and when oil prices reach $200 per barrel, they will pay three times the amount it costs to ship the same container from Mexico. To put things in perspective, today's extra shipping cost from East Asia is the equivalent of imposing a 9% tariff on East Asian goods entering the US. And at oil prices of $200, the tariff-equivalent rate will rise to 15%.


    CREATE3S

    Short-sea shipping volumes are expected to increase by 50% between 2000 and 2020. Since 40% of the current fleet is older than 25 years, short-sea shipping needs a new generation of innovative ships to meet this potential market. These ships need enhanced economic, safety and ecological performance, fitting into future innovative logistic chains and providing a major role for EU shipbuilders. -- Transport Research.


OAM 400 31-07-2008 03:40

domingo, julho 27, 2008

China 7

Pequim. Estádio Olímpico. Junho, 2008.
Foto@OAM
O Novo Século Chinês

A China duplicará o PIB dos EUA em 2050 (Albert Keidel)

09-07-2008. China's economy will surpass that of the United States by 2035 and be twice its size by midcentury, a new report by Albert Keidel concludes. China's rapid growth is driven by domestic demand--not exports--and will sustain high single-digit growth rates well into this century.

In China's Economic Rise--Fact and Fiction, Keidel examines China's likely economic trajectory and its implications for global commercial, institutional, and military leadership.

Key Conclusions:
  • Potential stumbling blocks to sustained Chinese growth--export concerns, domestic economic instability, inequality and poverty, pollution, social unrest, or even corruption and slow political reform--are unlikely to undermine China's long-term success.
  • China's financial system, rather than a shortcoming that compromises growth potential, is one of the strengths of what the report calls "China's money-making machine," in part because of its ability to support the financing of infrastructure and other public investments necessary for sustained rapid growth.
  • A Chinese economy that eclipses the U.S. by midcentury has both commercial and potential military implications. China will be the preeminent world commercial influence. China's military capabilities are a small fraction of the United States' today, so there is time to prepare for a very different world in fifty years, says the report.
  • American policy makers should take this opportunity to enact wide-ranging domestic reforms and rethink their concepts of global order.

"China's economic performance clearly is no flash in the pan. Its growth this decade has averaged more than 10 percent a year and is still going strong in the first half of 2008. Because its success in recent decades has not been export-led but driven by domestic demand, its rapid growth can continue well into the twenty-first century, unfettered by world market limitation. China's likely continued success will eventually bring an end to America's global economic preeminence, requiring strategic reassessment by all major economies--especially the United States, the European Union, Japan, and even China itself."

-- Carnegie Endowment for International Peace, Washington DC -- FORA.tv .


Cabo Verde será sede de la Zona Económica Especial de China en África


22-07-2008. El primer ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, anunció, en una reunión con empresarios locales, la existencia de negociaciones con el Gobierno de China para convertir la isla caboverdiana de São Vicente en sede de la Zona Económica Especial de China en África.

Según José Maria Neves, los dos gobiernos están discutiendo la reestructuración de los astilleros de la empresa privada Cabnave para que sirvan de base para apoyar la enorme flota marítima de China en sus actuaciones con África. -- Afrol News.

O relatório do economista e alto funcionário com larga experiência asiática, Albert Keidel, apresentado pelo próprio e discutido num seminário organizado pelo Carnegie Endowment for International Peace, parece-me de uma extrema importância para se perceber como a política imperial norte-americana irá começar a mudar de forma muito significativa após a eleição de Barak Obama.

Em vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, com um candidato presidencial que promete salvar o país da bancarrota, do medo paranóico artificialmente estimulado e do isolacionismo sem precedentes em que caiu, os Estados Unidos (e a Europa), estão finalmente a perceber três coisas fundamentais:
  1. que a actual crise financeira mundial atinge e atingirá ainda mais profundamente, até 2010-2012, os Estados Unidos, o Japão, a Europa e os países especialmente dependentes de recursos energéticos, alimentares e financeiros;
  2. que o estouro das bolhas imobiliárias e o buraco negro do endividamento infinito criado pela especulação dos mercados financeiros virtuais (Derivatives, Forex, LBO, etc.) afectarão menos substancialmente a China do que os seus concorrentes; pelo que a China manterá o seu PIB a crescer na casa dos 9%, enquanto a Europa e os Estados Unidos dificilmente voltarão, ao longo de presente década, aos 3-3,5% a que se habituaram;
  3. que o corolário desta conjuntura catastrófica será a ultrapassagem dos Estados Unidos e da União Europeia pela China, mais cedo do que se previa.
Entre as advertências da comunicação de Albert Keidel, disponibilizada online pela FORA.tv, e que vale a pena ouvir com atenção (assim como a discussão que se lhe segue), traduzo alguns pontos acima citados.
  • Os factores potencialmente impeditivos de um crescimento sustentado da China -- quebra do volume de exportações, instabilidade económica interna, desigualdade e pobreza, poluição, agitação social, ou até a corrupção e a lentidão das reformas políticas do sistema -- dificilmente porão em causa o sucesso chinês a longo prazo.
  • O sistema financeiro chinês é, segundo Albert Keidel, uma verdadeira "máquina de fazer dinheiro", em parte devido à sua capacidade de financiar as infraestruturas e outros investimentos públicos necessários a um crescimento rápido e sustentado do país.
  • Uma economia capaz de eclipsar os E.U.A. em meados deste século terá implicações nos planos comercial e militar. A China passará a ter uma influência decisiva no comércio mundial, e embora a sua capacidade militar seja hoje uma pequena fracção do potencial bélico dos E.U.A., haverá tempo e recursos de sobra para alterar uma tal desvantagem nos próximos 50 anos (1).
  • Os responsáveis pela política americana deveriam aproveitar esta oportunidade para desencadear profundas reformas internas e repensar os seus conceitos de 'ordem global'.
A insegurança resultante das guerras e tensões que atingem o Médio Oriente, se não for encontrada rapidamente uma forma de transformar aquela zona do globo numa espécie de Suiça do petróleo, neutral, politicamente autónoma e em paz, transformará o Atlântico numa nova zona de disputa global. É por isso que a corrida económica, política e militar em direcção a este novo Mare Nostrum já começou, e com paradas muito fortes. Dois sinais evidentes: a criação em 2007 do novo United States African Command (AFRICOM), e o anúncio este mês da criação pela China da sua Zona Económica Especial de África, com provável sede na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Como é evidente, o papel de países como o Brasil, Venezuela, Angola e Portugal (na qualidade de país especialista da área e membro da União Europeia), será crucial nas disputas que se avizinham. Se olharmos para aquela região marítima, percebemos imediatamente que há dois grandes porta-aviões naturais ali residentes, de uma importância estratégica decisiva: um é o arquipélago dos Açores, o outro é o arquipélago de Cabo Verde. Igualmente importantes, mas não decisivos, são ainda os arquipélagos das Canárias e da Madeira (de que fazem parte as famosas Ilhas Selvagens.) A Europa perdeu demasiado tempo relativamente a Cabo Verde, atrasando-se na sua natural inclusão na União Europeia -- como tem vindo a propor insistentemente Adriano Moreira, por razões obviamente históricas. No que toca aos Açores, temos que explicar aos cronistas ao serviço de Washington que os Açores se tornaram demasiado importantes para continuarem livremente ao dispor do Pentágono e da CIA.

O lógico é que os aeroportos e portos dos Açores possam servir os interesses da aliança atlântica, mas primeiro esta terá que ser reequilibrada à luz da nova repartição do mundo em curso. A China poderá cumprir o seu sonho, mesmo vendo ir por água abaixo o valor dos biliões de dólares acumulados (que por sinal chegam para comprar a General Motors e centenas de outras empresas americanas); poderá continuar a crescer apesar de uma quebra das suas exportações para os Estados Unidos e para a Europa; só não poderá superar o Ocidente se lhe forem cortados os acessos marítimos ao Golfo Pérsico e ao Atlântico: Estreito de Malaca, Estreito de Ormuz, Porto de Aden, Cabo da Boa Esperança, Canal do Panamá, Estreito de Magalhães ou a prometida Passagem do Noroeste. Se estes pontos de passagem obrigatória algum dia forem bloqueados, a China deixará de ter petróleo e muitas outras matérias primas essenciais ao seu crescimento, como deixará também de ter acesso aos produtos alimentares que hoje adquire sob contrato a países africanos e americanos e de que tanto necessitará para responder ao seu previsto crescimento demográfico. O cenário é improvável, mas adivinham-se as tensões.

As cartas estão pois lançadas, e Portugal vai ter outra vez muito que fazer!



NOTAS
  1. Este relatório --China's Economic Rise--Fact and Fiction--, em linha aliás com outras previsões, aponta para a possibilidade efectiva de a China ultrapassar o potencial militar dos Estados Unidos entre 2023 e 2024. Não se consegue, porém, prever qual será o padrão dessa superioridade. Sabe-se apenas que os recursos financeiros, tecnológicos e humanos existem e continuarão a crescer mais depressa do que em qualquer outra parte do planeta. Na China formam-se anualmente 4 vezes mais licenciados do que nos EUA. Por outro lado, os sérios problemas ambientais e de recursos naturais da China, parecem estar a fazer germinar uma verdadeira "economia do conhecimento" naquele país. Uma denominação alternativa, mas igualmente sugestiva para esta mutação genética da ideologia do crescimento e do progresso, é "scientific development".


OAM 399 27-07-2008 20:20

sexta-feira, julho 25, 2008

Madeleine McCann 4

Allgarve Killer Site

Quem cometeu o crime? E que crime?

A reconstituição da noite em que Maddy sumiu foi boicotada. Porquê?


Depois das mortes de Diana Spencer e do microbiologista David Kelly, este é o exemplo mais sórdido de aparente e inexplicável intromissão política em casos de polícia (ainda que os dois primeiros, com óbvias origens políticas). O livro escrito por Gonçalo Amaral, inspector saneado da investigação sobre o desaparecimento de Madeleine McCann, e que viria a abandonar a sua carreira profissional, para poder procurar a verdade que alguns querem sepultar sob o manto de uma fantasia construída por profissionais de propaganda, é inconclusivo. Todavia, pela indecorosa interferência de que foi alvo todo o processo policial até ao seu vergonhoso arquivamento, este é um livro de leitura obrigatória e merece que o compremos. Quanto mais não seja, para que o mistério não caia no esquecimento pretendido pelos teóricos do ataque pedófilo à Praia da Luz.
Ex-inspetor do caso Madeleine acusa os McCann em livro

Em um relato pormenorizado dos fatos e da investigação policial ao longo de 216 páginas e 8 folhas de anexos, Amaral diz que a menina morreu ao cair acidentalmente de um sofá do apartamento onde estava de férias com seus pais, imóvel no qual foram detectados vestígios de seu sangue e marcas de seu cadáver.

(...) Ao longo de seu relato, Amaral descreve a frieza e muitos detalhes aparentemente comprometedores que mostraram os pais durante a investigação, assim como as contradições entre seus testemunhos e os de seus amigos na noite do episódio.

Inclusive assegura que outro casal de médicos britânicos de seu mesmo circulo informou à Polícia britânica de um comportamento estranho, durante férias em Mallorca, do pai de Madeleine e de seu amigo David Payne em relação a Madeleine e de outra menina.

Payne, que segundo Amaral organizou também as férias do grupo no Algarve, e Jane Tanner, cujo testemunho de ter visto o suposto raptor de Madeleine considera falso, aparecem no livro como os amigos mais suspeitos dos McCann. -- Globo.com .

Madeleine: Declarações de Gonçalo Amaral merecem "reflexão", diz António Cluny

Gonçalo Amaral recusou adiantar mais pormenores sobre uma questão que levanta no livro, segundo a qual o seu afastamento da liderança operacional do inquérito teria sido moeda de troca para o Reino Unido assinar o Tratado de Lisboa, coincidindo na data a demissão do polícia e o anúncio da aceitação do documento por parte do Governo inglês. -- FC/AMN. Lusa.

Eu já tinha escrito sobre isto mesmo! Mas falta provar, claro. Seja como for, o importante é que o caso se mantenha aberto, depois de o incapaz Ministério Público que temos o ter encerrado, por manifesta falta de provas e sobretudo de tino. É essa a vontade, certamente, de Alex Woolfall, do Bell Portinger Group, de Sheree Dodd, Clarence Mitchell e John Buck, bem como, evidentemente, dos pais de Maddy. Eu sugiro mesmo que se abra uma conta nacional para apoiar o ex-inspector no seu esforço de investigação, agora privada, deste tenebroso crime. A conta dos McCann continua aberta!

PS: há uma coisa de que o Sr. Mitchell e mais alguns ingleses da mesma laia têm que começar a perceber: as ameaças só são credíveis quando têm origem em impérios que mandam, não quando escorregam languidamente de um bordel decadente e desdentado.

OAM 398 24-07-2008 23:52
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segunda-feira, julho 21, 2008

Escolarizar 2

Ainda a polémica Matemática

Recebi este email do Professor António Brotas, que transcrevo e comento.
A educação e os críticos

O Problema da Educação em Portugal não está só nos erros e insuficiências de quem governa, mas também na quase absoluta falta de propostas (e muitas vezes ignorância) dos seus habituais e quase direi encartados críticos.

Tomemos o exemplo do crescimento anómalo este ano das notas de Matemática do Secundário, em que o Ministério quis ver o resultado das medidas que recentemente tomou para melhorar o ensino da disciplina. Um senhor permitiu-se mesmo aparecer na Televisão a dizer que os pontos tinham sido elaborados segundo critérios científicos. Contra esta risível opinião a Doutora Filomena Mónica emitiu uma violentíssima critica largamente referida na Comunicação Social, em que afirmou que para melhorar o ensino da Matemática era necessário formar professores e melhorar o ambiente das escolas.

FM teve certamente razão no que disse, mas ignorou que temos actualmente (e sempre tivemos) muitos professores capazes de ensinar bem Matemática. O problema da melhoria do nosso ensino da Matemática não é, assim, um problema a resolver a prazo. É, fundamentalmente, o problema de sermos capazes de utilizar os nossos melhores professores (do Secundário e do Superior) para definirem os programas, elaborarem os pontos, reciclarem os maus professores e, naturalmente, formarem científica e pedagogicamente os professores do futuro.

Tivemos, no início dos anos 70, uma excepcional experiência em termos europeus de ensino da Matemática: a das turmas experimentais do 11º ano orientada pelo Professor Sebastião e Silva (1), que, infelizmente, morreu pouco depois e não pôde dar continuidade a este seu trabalho, que deveria ter influenciado todo o ensino português. Da experiência dos anos 70 ficou um Compêndio policopiado que, depois do 25 de Abril, o Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério editou em livro, em tiragem de 20.000 exemplares, conjuntamente com um Guia para os professores. Estes livros não se encontram hoje à venda em parte alguma.

O Ministério daria um imediato e grande contributo para o ensino da Matemática se reeditasse este Guia de autoria do Professor Sebastião e Silva e o fizesse distribuir a todos os professores do Secundário. Muito em particular, podem nele encontrar conselhos muito úteis e oportunos sobre o tipo de perguntas que se devem fazer nos exames. (13/07/08)

António Brotas
Antigo Director do GEP do Ministério da Educação e Professor Jubilado do IST
Militante do PS

COMENTÁRIO

Caro Professor António Brotas,

A sua recomendação é seguramente importante. Subscrevo-a inteiramente e divulgo a sua mensagem, como pediu. Se o compêndio de Sebastião e Silva existe nalguma cave do Ministério da Educação, que o encontrem e ponham à disposição dos críticos e pedagogos!

Deixo porém e a propósito quatro observações em contra-corrente dos professores ofendidos.

Creio, como já escrevi, que há quatro problemas distintos na polémica em torno da "extrema facilidade dos exames de Matemática":

1) A necessidade político-institucional de melhorar as estatísticas nacionais em matéria de resultados escolares e grau de instrução dos portugueses, a qual justifica plenamente que os exames sejam ajustados à proficiência média expectável dos examinandos, e não provas de obstáculos potencialmente assassinas;

2) A necessidade de alterar a filosofia dos exames, os quais não passavam, e creio que não passam ainda de instrumentos de autoridade, de filtros políticos da hierarquização social, ou ainda, de intoleráveis persistências territoriais corporativas.

3) A necessidade de distinguir entre a eficiência dos sistemas pedagógicos -- na transmissão de conhecimentos, especialização e treino da memória e desenvolvimento das faculdades cognitivas -- e a abertura de vias para a selectividade intelectual e técnica por objectivos. São dois problemas distintos que merecem tratamentos separados.

4) O "darwinismo" pedagógico é tão falso e ilusório como a teoria geral de onde provem; precisamos, isso sim, de uma ideia de educação mais abrangente, menos formal e mais simbiótica, onde as escolas, mas também as famílias e as empresas joguem de novo o seu papel histórico imprescindível.

Não estou, como vê, totalmente em desacordo com a ministra socialista da educação.

Um abraço, OAM.



NOTAS
  1. Graças à sempre atenta e qualificada leitura da Maria de Fátima Biscaia recebi uma referência muito oportuna de um estudo sobre a obra pedagógica de José Sebastião e Silva -- O pensamento pedagógico de José Sebastião e Silva - uma primeira abordagem -- de que transcrevo as seguintes palavras do importante matemático português:
    "O que é preciso é não confundir cultura com erudição e sobretudo com o enciclopedismo desconexo, imensa manta de retalhos mal cerzidos, que vão desde as guerras púnicas até ao sistema nervoso da mosca. É esse, a bem dizer, o tipo de cultura que tende a produzir o ensino tradicional, baseado num sistema de exames que só permite apreciar memorizações e automatismos superficiais, mais ou menos próximos do psitacismo."

    "(...) a educação, na era científica, não pode continuar, de modo nenhum, a ser feita segundo os moldes do passado. Em todas as escolas o ensino das ciências tem que ser intensificado e remodelado desde as suas bases, não só quanto a programas mas ainda quanto a métodos. Uma vez quer a máquina vem substituir o homem progressivamente em trabalhos de rotina, não compete à escola produzir homens-máquinas mas, pelo contrário, formar seres pensantes, dotados de imaginação criadora e de capacidade de adaptação em grau cada vez mais elevado.

    "O que se pretende acima de tudo é levar o aluno a compreender o porquê dos processos matemáticos, em vez de lhe paralisar o espírito, automatizando-o desde logo. (...) No ensino tradicional o aluno é tratado, precisamente, como se fosse uma máquina, enquanto no ensino moderno se procura, por todos os meios, levá-lo a reflectir e a reencontrar por si as ideias fundamentais que estão na base da Matemática."


OAM 397 21-07-2008 00:29 (última actualização: 24-07-2008 00:23)

sábado, julho 19, 2008

Portugal 35

Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano

Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century


Há dois factos que não me saem da cabeça: um são os mapas de acessos a este blogue, invariavelmente distribuídos, ao longo dos últimos quatro anos, entre Portugal e o Brasil, verificando-se uma ainda fraca sensibilidade das antigas colónias portuguesas africanas a qualquer referência aqui feita; o outro é a facilidade com que ucranianos, russos e moldavos aprendem a língua portuguesa, ao ponto de em dois ou três anos falarem o nosso idioma melhor que muitos de nós e sem pronúncias estranhas, uma proeza difícil de alcançar pelos vizinhos espanhóis! Mas o facto de o Sitemeter raramente assinalar acessos de Espanha ao António Maria, ou então registar quotas na ordem dos 1%-2%, em grande medida da responsabilidade da minha filha, que vive em Madrid, deixa-me estarrecido!

Estes dois factos algo insólitos fizeram entretanto faísca depois de ler duas crónicas do Expresso desta semana.

Numa delas, Luísa Meireles chama a atenção para a atracção que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), exerce, não apenas e naturalmente sobre a Galiza, que é hoje uma comunidade autónoma da Espanha (e amanhã, quem sabe, um novo estado europeu independente), mas ainda sobre países que nem sequer falam o idioma de Pessoa: Marrocos, Ilhas Maurício, Guiné Equatorial, Ucrânia e Croácia! Por outro lado, a expansão do português brasileiro na América do Sul é crescente, especialmente no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Venezuela.

Na segunda crónica, assinada pelo pró-Yank Miguel Monjardino, transmite-se um recado: os americanos têm pressa na renovação do Acordo das Lajes, para lá colocar os F-22 Raptor e dar apoio firme à sua nova força de intervenção estratégica na África Ocidental, baptizada de Africom. Africom ou África Dot Com?

Para pressionar um bocadinho mais José Sócrates, o dito açoriano acrítico lá vai sugerindo que o socialista Carlos César, actual governador do arquipélago, também tem pressa e quer oferecer (ilusórias) boas-novas eleitorais em Outubro. Em suma, tudo muito bem engendrado e muito conveniente para todas as partes menos uma: Portugal!

O pensamento europeu mais lúcido defende há muito uma rápida diminuição da dependência estratégica europeia face aos Estados Unidos, e uma maior atenção ao potencial protagonismo da União Europeia como força de interposição estratégica global e veículo democrático de harmonização diplomática à escala mundial. Os Estados Unidos são claramente um império em declínio. E como todos os impérios declinantes, sofre a tentação do disparate bélico sem limites, desconhecendo que tais aventuras apenas apressam o indesejado declive.

Os sucessivos fiascos das guerras, invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque são a este título bem ilustrativos. Bush -- sobre quem o congressista democrata Dennis Kucinich desencadeou um processo de cassação de mandato (1) -- não ganhou nenhuma das guerras, levou o seu país à falência e está neste preciso momento a recuar atabalhoadamente do Médio Oriente, deixando a imprensa americana que o apoiou sem palavras. No fundo, a decisão vem de baixo, isto é, das empresas privadas a quem o clã Bush e o coiote Cheney encomendaram a guerra, em regime de bloody catering. Estas empresas privadas, que formam o vasto e complexo conglomerado bélico americano, aperceberam-se que o tsunami financeiro em curso se abaterá sobre elas sem piedade se não largarem o osso quanto antes. É o que estão a fazer! Daí as inesperadas e surpreendentes declarações do presidente americano. O maior fiasco americano desde a Guerra do Vietname chegou ao fim. Alguém que pague a factura! Estamos a pagar!!

As vantagens entretanto ganhas por países como a China, a Rússia e o Irão, ao oporem-se à tentativa americana de manter a todo o custo uma supremacia económica apoiada na sua evidente supremacia militar, são mais do que evidentes. O potencial produtivo do Ocidente, sobretudo o americano, emigrou para o Oriente. Depois emigraram o ouro e boa parte da liquidez mundial. Como se isso não bastasse, a China criou em 2001 uma resposta credível (cada vez mais credível) à NATO, chamada Shanghai Cooperation Organization (CSO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Casaquistão, o Quirguistão, o Tajaquistão e o Usbequistão. Entre os países observadores contam-se, o Irão, o Paquistão, a Índia e a Mongólia. E são ainda convidados a Commoenwealth of Independent States (CIS), a Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) e o Afeganistão. Ou seja, nada mais nada menos do que a metade oriental do mundo, a que falta tão só aderir o Japão, compreensivelmente receoso dos efeitos que a supremacia estratégica da China terá sobre os seus próprios graus de liberdade.

Os estados petrolíferos do Médio Oriente beneficiam obviamente do crescente e subtil protagonismo do chinês adormecido que agora desperta como obstáculo intransponível para quem, como americanos e ingleses, usufruiu de uma clara hegemonia nos direitos de acesso e exploração do petróleo ao longo de todo o século 20, e aparentemente persiste na ideia de prolongar, apesar de falido, os seus hábitos e arrogância imperiais.

A China e a Rússia (que a Europa dominada pelos piratas londrinos tão mal tratou desde a queda do Muro de Berlim) têm hoje dinheiro suficiente para comprar um novo Tratado de Tordesilhas, baseado numa neutralidade mutuamente assegurada aos principais países produtores de petróleo e na determinação dos meridianos que voltarão a dividir o planeta em duas grandes zonas económicas e culturais política e militarmente protegidas.

A alternativa credível a este cenário teria sido uma confrontação militar preventiva com carácter devastador. Foi essa a intuição dos trotskystas degenerados que teorizaram a aventura fracassada do chamado New American Century. O preço a pagar por tamanha ousadia foi o colapso financeiro do Ocidente (e do Japão) a que estamos assistindo incrédulos e assustados.

O previsto ataque israelita ao Irão (que Condoleeza Rice provavelmente meteu na gaveta, a conselho de algum sábio) não mudaria nada, a não ser acelerar vertiginosamente a queda do Império Capitalista do Ocidente. Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century.

Nesta circunstância cada vez mais óbvia não faz nenhum sentido continuar a alimentar os sonhos de grandeza da América! Europeus e americanos terão que se acomodar e colaborar na gestão inteligente e humilde do seu "novo" mundo -- começando por regressar aos bons hábitos do trabalho, responsabilidade e ética.

Apesar de Barak Obama poder vir a ser o primeiro presidente mestiço dos Estados Unidos da América, a verdade é que as ligações privilegiadas com África tem-nas sobretudo a Europa, e em particular este cantinho à beira-mar plantado chamado Portugal. O Atlântico do nosso imediato futuro não pode ser transformado numa nova presa apetecível dos Estados Unidos. É esta a mensagem que um pequeno país, na sua missão de honest broker, deve transmitir. Não foi isto mesmo que Marrocos ou a Ucrânia entenderam ao ler os astros? O Mare Nostrum Atlântico terá que ser forçosamente um lugar de cooperação e contrapeso à Nova Ásia, onde a América (toda a América!), a Europa, de Lisboa aos Urais (se não até Vladivostoque) e a África, do Mediterrâneo até à Cidade do Cabo, possam estabelecer um lugar de partilha e não mais um teatro de rapina e humilhação. Chega de vampirismo!

É por tudo isto, que Portugal deverá dizer claramente a Washington que é à Europa que compete, em primeira linha, usar o potencial estratégico dos Açores, nomeadamente no enquadramento duma NATO renovada e menos agressiva. Havendo, porém, nove ilhas (todas com aeroporto ;-) não faltarão oportunidades para renegociar de forma ponderada a presença americana nas Lajes. Até porque um dia talvez faça sentido convidar o Brasil, Angola e a Rússia a disporem de facilidades logísticas em tão estratégico porta-aviões. Então, quando esse dia chegar, será uma verdadeira lotaria para o governador de turno de tão belo e aprazível arquipélago.


ÚLTIMA HORA
Equador notifica EUA para deixar Base Militar de Manta até Novembro

Quito, 30 Jul (Lusa) - O governo do Equador notificou oficialmente os Estados Unidos de que devem desalojar a Base Militar de Manta até Novembro, revelou terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Quito. -- MF./Lusa.
Iraque: Primeiro-ministro defende retirada militar norte-americana em 16 meses

Berlim, Sábado, 19 de Julho de 2008 23H58m (RTP/Lusa) - O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, afirmou a um jornal alemão que apoia o plano do candidato democrata Barack Obama para a retirada militar norte-americana em 16 meses.

"Julgamos que é um calendário acertado para a retirada das tropas de combate norte-americanas do Iraque, sob reserva de algumas mudanças", afirma Maliki em entrevista ao semanário Der Spiegel, cuja edição estará segunda-feira nas bancas.

As forças norte-americanas deverão deixar o Iraque "tão rápido quanto possível", acrescentou Maliki

Colômbia adere a Conselho de Defesa Sul-americano


BBC Brasil. 19 de julho, 2008 - 21h34 GMT (18h34 Brasília)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse neste sábado, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aceita ingressar no Conselho de Defesa Sul-americano.
Uribe disse que suas "dúvidas" foram esclarecidas após o encontro com Lula e um telefonema à presidente chilena, Michele Bachelet, que atualmente preside a União de Nações Sul-americana (Unasul).

Ultimatum de Washington ao Irão

WASHINGTON (Reuters) - Depois das conversas inconclusivas com o Irã, os Estados Unidos disseram no sábado que Teerã terá de escolher entre cooperação ou conflito. Washington acrescentou que as negociações só poderão começar se parte significativa do trabalho nuclear iraniano for suspenso. -- UOL, 19-07-2008 17:14




NOTAS
  1. US Congressional Panel Hears Testimony on Case for Bush Impeachment

    25-07-2008. A congressional committee has heard testimony about the case for impeachment of President Bush. VOA's Dan Robinson reports, while majority Democrats have ruled out formal impeachment efforts, they approved the public hearing to examine limitations on presidential powers and arguments about what constitute impeachable offenses.

    Critics say President Bush and Vice President Cheney should be impeached because of a range of alleged legal and constitutional abuses.

    The list includes administration justifications to Congress and Americans for the war in Iraq, authorization of secret electronic surveillance, approval of harsh interrogation techniques, and defiance of congressional subpoenas. -- Voice of America.

OAM 396 19-07-2008 19:27 (última actualização: 30-07-2008 11:53)

sexta-feira, julho 18, 2008

Portugal 34

Vagina dentata

Era uma vez um diabo que vivia dentro da vagina de uma bela moça. Por duas vezes a moça tentou casar. Mas de cada uma das tentativas o demónio castrou o noivo durante a ansiada noite de núpcias. Foi então que um ferreiro decidido e com imaginação resolveu enfrentar o diabo da vagina. Fundiu e moldou um grande pénis de aço. A primeira noite enfim chegou. Depois de penetrar com vagar e cuidado a nervosa e húmida concha da sua amada, ouviu-se um medonho grito de dor. Não não foi a noiva! Foi o diabo!!! O pénis de aço surtira efeito. Os dentes do demónio acabavam de ruir, salvando-se assim a vida do valente e arguto ferreiro.

Desde essa longínqua data que em muitos lugares da Terra se celebra a coragem daquele enorme e poderoso falos, a quem devemos o direito ao prazer e à procriação. Hoje, no conhecido Festival do Falos de Aço, que tem lugar na primeira semana de Abril numa pequena localidade japonesa, a celebração e parte das suas receitas são dirigidas para o combate ao flagelo da SIDA. Um bom exemplo de reciclagem cultural.

O velhíssimo mito da vagina castradora é um bom símbolo para os períodos de pânico que ciclicamente afligem os indivíduos e as sociedades. No que agora nos toca, o caso mental português, bem melhor seria que as Caldas da Rainha renovassem a sua indústria fálica, do que ouvirmos as patetices nucleares do bétinho a quem deram a poltrona do impotente Banco de Portugal!

A indústria cerâmica das Caldas, onde o Rafael Bordalo Pinheiro realizou algumas das mais extraordinárias peças da escultura portuguesa em barro cozido e vidrado, está a morrer. Não esperem pelo Constâncio! Renovem a vossa indústria cerâmica com um grande festival artístico de Verão, e dediquem a Primavera ao Amor! Façam da Arte e do Erotismo a vossa especialidade. Não confiem nos políticos. Chamem de volta os vossos artistas, que tanto sucesso vão fazendo em Barcelona e noutras paragens. Libertem a vossa escola de arte dos burocratas e dos gangs partidários. Despachem-se!

OAM 395 18-07-2008 13:02

quinta-feira, julho 17, 2008

Crise Global 16

Madrid, Cuatro Torres Business Area
Madrid, Cuatro Torres Business Area (2008)

Derrocada ibérica!

A explicação mais plausível para o tombo financeiro do PSI20 no dia 15 de Outubro de 2008 não vem de Nova Iorque, mas de Espanha.

BCP cai 8,33% para 1,04 euros, o valor mais baixo de sempre

Expresso online (13:17 | Terça-feira, 15 de Jul de 2008)

A bolsa de Lisboa está a viver de novo uma sessão negra, com o PSI20 a desvalorizar 4,62%, e a acumular uma perda anual próxima dos 40%. Mas as quebras já foram superiores hoje: o PSI20 já esteve a perder 6% e o BCP quase 10%.

A bolsa de Lisboa está a ser fortemente penalizada, com várias empresas a perder mais de cinco por cento, pressionada pelas más notícias sobre o agravar da crise mundial e as perdas da banca devido aos problemas desencadeados pelo crédito hipotecário de alto risco e pela acentuada desvalorização dos mercados accionistas.

A intervenção do estado norte-americano para "salvar" a empresas hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac veio afectar ainda mais a confiança dos investidores, e afastá-los dos mercados de capitais.

O PSI20 estava, às 13h00, a perder 4,62%, mas já esteve a cair quase 6%, com o BCP a liderar as quebras, com uma descida que roçou os 10%. As acções do maior banco privado português estão a 1,04 euros, ou seja, próximas do valor nominal, situação que os analistas consideram preocupante.

O banco já perdeu este ano em capitalização bolsista 7 mil milhões de euros e está agora a cotar-se no valor mais baixo de sempre, com uma desvalorização anual de 60,23%.

... Entre as maiores perdas está também o BPI (-6,81%), a Galp (-7,97%), a Portucel (-6,19%), a Teixeira Duarte (5,81%) e a Altri (-6,05%).


Large construction firm is first victim of Spain's slumping real estate market


International Herald Tribune / The Associated Press (Published: July 15, 2008)

MADRID: A crisis in Spain's once-booming real estate market has claimed its first big victim as Martinsa-Fadesa, one of the country's largest construction companies, filed for protection from creditors holding more than €5 billion, or $8 billion, in debt.

... Martinsa-Fadesa is one of the largest construction companies in Spain, with nearly €11 billion, or $17.4 billion, in assets.

It is now the first major victim of the crisis in Spain's real estate sector, which had been the main engine behind more than a decade of robust economic growth but is now in a free fall because of sharply higher interest rates and tighter lending conditions from banks.

Residental home sales are down 30 percent this year and housing prices are falling in some major cities like Madrid and Barcelona.


Bankruptcy fears hit Spanish building stocks

Martinsa-Fadesa's administration move highlights precarious state of market

MarketWatch (Last update: 6:47 a.m. EDT July 15, 2008)

LONDON (MarketWatch) - Companies connected to the Spanish property market fell sharply on Tuesday, with investors spooked by the sector's first likely high-profile bankruptcy.

Property developer Martinsa-Fadesa said on Monday that it would seek credit protection after it couldn't raise a 150 million euro loan.

Martinsa-Fadesa is one of the largest real estate companies in Spain, with assets of nearly 13 billion euros ($20.8 billion).

... Martinsa-Fadesa shares were suspended at 7.30 euros on Monday, after falling 48% on Friday when the firm said that it had requested more time to raise funds.

Analysts said that Martinsa-Fadesa's statement is likely the tip of the iceberg for bad news from the Spanish construction sector and the banks that have lent to them.

The institutions that are seen as most exposed to Martinsa-Fadesa's debt - which is around 5.2 billion euros ($8.3 billion) - are CajaMadrid, La Caixa, Banco Popular and Caixa Catalunya, Vega said.

(...) Other companies in the construction sector trading sharply lower included Sacyr-Vallehermoso, down 11.9%, Grupo Ferrovial, down 10.4%, ACS Actividades de Construccion, down 6.4%, and Inmobilia Colonial, down 7%.

(...) Martinsa's debt accounts for around 1.7% of the approximately 310 billion euros lent to Spanish developers.

Dominic Bryant, strategist at BNP Paribas, said: "With credit markets still stressed, access to funding could create issues for highly indebted companies. Generally, debt levels of the Spanish non-financial corporate sector are well above the euro-zone average. (...) "With such a huge adjustment ongoing in the Spanish construction and real estate sector, we should not be surprised if other companies were to fold," he added.

O abalo provocado pela falência do grande promotor espanhol é, de facto, o primeiro de uma série desconhecida mas certa de abalos financeiros que irá colocar as economias espanhola e portuguesa à beira de um ataque de nervos -- ou mesmo de um grande terramoto. O Subprime desembarcou, como toda a gente atenta previa, na Europa. Começou por atingir os sectores bancários da Alemanha, Suiça, França e Reino Unido, mas agora é a vez do grande especulador imobiliário europeu: a Espanha. Por tabela, levam a Itália e Portugal, e a crise chegará também aos novos aderentes da União Europeia vindos do Leste.

Poucos sabem que a Espanha tem o segundo pior resultado mundial em termos de Balança de Transacções Correntes, imediatamente antes dos Estados Unidos (onde a situação é pura e simplesmente catastrófica). O buraco da dívida externa espanhola já ultrapassa 150% do respectivo PIB, qualquer coisa como 1,45 biliões (1 450 000 000 000) de euros.
¿Es viable un país cuyos ciudadanos deben a los bancos el 130% de su renta disponible? O dicho en otros términos: ¿Qué se puede esperar de una nación que acumula una deuda externa equivalente al 150% de su PIB? Ítem más. ¿Son solventes las empresas españolas teniendo en cuenta que deben al conjunto del sistema financiero 962.333 millones de euros, de los cuales casi la mitad corresponde a empresas del 'ladrillo' (constructoras e inmobiliarias)? -- pergunta Carlos Sánchez - 16/07/2008 06:00h, no El Confidencial de 16-07-2008.

O dado que interessa relevar neste momento, sobretudo do ponto de vista das cautelas que deverão rodear a economia portuguesa, refere-se muito em particular ao impacto potencial da dimensão das responsabilidades contraídas pelo conjunto da indústria da construção e correspondente negócio imobiliário em Espanha. O descomunal endividamento externo espanhol pela via do betão vai ter um impacto enorme em toda a península. São 310 mil milhões de euros que estão a jogo (já meio perdido), ou seja, quase o dobro do PIB português!

O colapso da Martinsa-Fadesa significa, porém, apenas 1,7% do buraco negro em formação. Quando este começar a atrair para o seu inferno de destruição, 5%, 10%, 20%... do sector que mais construiu num só país europeu nos últimos 20 anos, que acontecerá a esta praia à beira-mar plantada, sem coqueiros, mas plena de gente leviana e políticos imbecis?

É também por esta razão que os Grandes Investimentos (sobretudo os embustes do Novo Aeroporto da Ota em Alcochete e da Ponte Chelas-Barreiro) vão ter que aguardar por melhores dias. É também por este motivo que temos que denunciar a atabalhoada decisão governamental (protagonizada pela tão ambiciosa quanto limitada e incompetente Ana Paula Vitorino) de lançar uma série de obras outrora suspensas por este mesmo governo, nomeadamente no sector ferroviário, por simples reflexo de desespero face à gravidade da situação económica actual. O pacote anunciado não contribui em nada para a melhoria, aliás urgente, da nossa rede ferroviária, onde as principais prioridades se situam na melhoria (electrificação e sinalização renovada) da Linha do Oeste e sua ligação à Linha do Norte, na finalização da modernização da Linha do Norte, na colocação de mais comboios na Ponte 25 de Abril, na modernização (consolidação, electrificação, sinalização renovada) da Linha do Douro e, finalmente, no ligação de Portugal à rede europeia de Velocidade Elevada/ Alta Velocidade.

É de prever que um ou dois bancos portugueses (BCP? e BPI?), mais alguma estrela do betão (depois da Construtora do Tâmega), venham a soçobrar no tsunami ibérico em formação. A TAP vai entrar muito rapidamente no vermelho. Mais uma razão para não dar ouvidos às sereias do Bloco Central do Betão. São o maior perigo que assola Portugal!

Post scriptum: ao contrário do que vêm sugerindo algumas araras académicas do regime, a receita Keynesiana não se aplica ao caso concreto da actual recessão das economias americana e europeia. E isto por uma única e simples razão: os países europeus (à excepção da Alemanha e poucos mais), bem como os Estados Unidos, têm vindo a endividar-se há décadas, tendo recorrido nomeadamente à privatização de fracções significativas dos respectivos recursos e activos estratégicos, como forma de garantir o afluxo de investimentos e empréstimos. Ou seja, daqui para a frente, Portugal, como muitos outros estados ocidentais já só podem refinanciar as suas dívidas e contrair novos empréstimos à custa de explosivas punções fiscais sobre a grande massa dos contribuintes, destruindo rapidamente as classes médias sobre as quais assentam as suas famosas democracias.

Não há pois alternativa à actual situação que não passe por colocar os juros acima da inflação, baixando ao mesmo tempo os impostos sobre os bens essenciais e a tributação oportunista sobre os recursos energéticos. Mas para isto dar algum resultado, será preciso proceder simultaneamente à redução drástica das despesas correntes não essenciais dos Estados, à implementação dum programa de eficiência energética radical, à metamorfose acelerada dos actuais paradigmas de transporte, mobilidade e consumo e, finalmente, à descentralização efectiva dos centros de decisão e organização social.

Do ponto de vista estratégico, temos que acabar com a globalização (i.e com a Organização Mundial de Comércio) e instaurar um Equilíbrio Global Diferenciado e Justo. Será preferível começarmos desde já a debater estes problemas sérios, do que recorrer a soluções expeditas quando, por exemplo, o Euro entrar numa crise estrutural irreversível.


ÚLTIMA HORA

Espanha: epicentro de um terramoto europeu...

A Europa pode já ter entrado na primeira recessão da era do Euro!

Alguns analistas prevêem que a coisa possa tornar-se muito feia a partir do fim deste Verão. Os mais cruéis apostam mesmo na hipótese de um colapso da moeda única antes de 2012, pois os países do Sul (nomeadamente Grécia, Itália, Espanha e Portugal), super endividados, não dispõem de margem de manobra, nem de recursos (garantias), para suportar a inevitável subida das taxas de juro que, pela mão estatutária e firme de Trichet, procurará desesperadamente impedir que a rampa inflacionista mundial (provocada sobretudo pelos EUA e pelo Japão) conduza a economia europeia à super inflação (olhem para o Zimbabwe!)

Os greenGo imprimem alegremente papel verde, deixaram de contar o montante da sua dívida infinita e caminham como zombies para a sua primeira (haverá segunda?) falência imperial. Mas a Europa não pode fazer o mesmo! Baixar os juros, como pretende o Bloco de Esquerda (que raio de economista é afinal o Louçã?!), seria precipitar um suicídio talvez evitável se aceitarmos mudar, com imaginação e tenacidade, o nosso insustentável estilo de vida.

As alternativas são infelizmente poucas e amargas: suportar uma forte recessão em 2009-2010, evitando assim a super inflação, ou deixar que o casino imprima toda a espécie de dívida para continuarmos a fingir que somos mais ricos do que os chineses, e batermos contra o muro da falência colectiva, provocando o regresso da Europa ao bordel nacionalista. A "esquerda" comunista e bloquista já fez a sua opção. A direita não existe. Falta pressionar o PS e o PSD para que comecem a trabalhar a sério pelo País e pela Europa!


European recession looms as Spain crumbles

Telegraph.co. 18-07-2008 1:08am -- (By Ambrose Evans-Pritchard) The eurozone is tipping into a deeper downturn than America itself despite the tremors in the US mortgage industry, and may already be in full recession for the first time since the launch of the single currency.

Spain drops reassuring gloss as crisis deepens

Telegraph.co. 18-07-2008 1:09am -- (By Ambrose Evans-Pritchard) -- Spain's finance minister Pedro Solbes has stunned the markets with an admission that his country faces the worst economic crisis in its history as the full effects of the property crash spread through the economy.

"This crisis is the most complex we have ever lived through given the plethora of factors on the table at the same time," he told Punto Radio in Madrid, breaking with past efforts to put a reassuring gloss on events.

Mr Solbes said the Madrid bourse had suffered an "earthquake", crashing 27pc since the start of June. He blamed the toxic cocktail of high oil prices, the global credit crisis and the sharp slowdown in the key export markets of North America and Germany.

Solbes reconoce que es la crisis "más compleja" de la historia

El Economista.es. 16-07-2008 18:21 -- El vicepresidente segundo del Gobierno y ministro de Economía y Hacienda, Pedro Solbes, no descartó hoy que la economía española pueda registrar crecimientos cero en algún trimestre determinado, al tiempo que reconoció que la actual crisis económica es la "más compleja" de la historia por la cantidad de factores que influyen en la misma.

... En cuanto al empleo, reconoció que el problema del paro es "el más grave" al que tiene que hacer frente la economía española, ya que una tasa de paro del 11% es totalmente "inaceptable" aunque recordó que el último Gobierno del PP dejó el paro en el 11,5% Y que el Ejecutivo está haciendo "muchas cosas" para reinsertar a los desempleados en otros sectores de actividad.



OAM 394 17-07-2008 03:14 (última actualização: 18-07-2008 22:01)

segunda-feira, julho 14, 2008

TAP 3

Xeque-mate à TAP

Alberto João =1, Sócrates=0

A easyJet voa de Madrid e Lisboa para o Funchal a preços de arrasar! É o afundamento da política aeroportuária deste governo e da tríade de Macau. A easyJet poderia hoje ter a sua base no Montijo. Pois não! Tem-na em Barajas! Adivinhem quantos postos de trabalho preciosos se perderam e que poderiam ter ajudado a acomodar a inadiável reestruturação da insustentável TAP. Agora, é emigrar para a capital espanhola.. e votar com os pés!

"... se a TAP não existir ou restringir fortemente a sua actividade, que sentido faz construir um novo aeroporto?" -- Nicolau Santos, Expresso (14-07-2008).

EasyJet liga Funchal a Lisboa por 52 euros!
A "Easy" distribuiu hoje um Comunicado de Imprensa, intitulado "easyJet lança hoje voos de Lisboa para a Madeira e quadruplica viagens à Ilha", no qual refere: "Segundo estatísticas internas da companhia, o transporte aéreo para a Ilha quadruplicará graças aos preços low cost e à democratização da oferta. A easyJet põe hoje à venda os bilhetes Lisboa-Funchal a partir de 25,99 euros por trajecto, começando a voar em Outubro". -- in Ultraperiferias (14-07-2008).

"Neste momento, tendo em conta o grande potencial que este mercado apresenta, pensamos que até ao final do ano, ou seja de Outubro a Dezembro, o número de passageiros transportados pela easyJet se situe nos 25 mil", afirmou a responsável, acrescentando que "em Outubro de 2009, com um ano completo de operações nesta rota, as perspectivas apontam para que o valor total de passageiros transportados pela easyJet atinja os cerca de 152.000". - Lusa (14-07-2008 19:47)

Tudo isto tem vindo a confirmar as observações e intuições da blogosfera mais cedo do que esta esperava. Provou-se assim que o caos das bagagens é mera incompetência dos actores que operam e administram o aeroporto da Portela. Provou-se que não há falta de slots no aeroporto da Portela, e que portanto a sua anunciada saturação é um consenso fabricado. Provou-se que a TAP causa propositadamente incómodos aos seus passageiros, obrigando-os a andar pelo meio das pistas e placas de estacionamento das aeronaves, quando dispõe de mangas vazias para o efeito, que só não usa por sovinice e provocação (ler comentário em Linha da Frente). Provou-se que a transferência dos voos de e para as regiões autónomas, para os novos apeadeiros improvisados, não tem qualquer justificação logística séria e acaba apenas por acentuar a ilusão de que a Portela está saturada, procurando-se assim atrair uma parte substancial dos passageiros da TAP para a "Ota em Alcochete" (como lhe chama Rui Santos, no seu habitual registo cáustico). Provou-se que a maior ameaça à sobrevivência da TAP é a concorrência fortíssima que lhe é movida pelas companhias Low Cost, com particular relevo para a easyJet, a Ryanair e a Vueling, dotadas de aviões mais eficientes, menos custos de pessoal, ligações ponto-a-ponto sem estadia, métodos de gestão pioneiros no sector, estratégias de comunicação e marketing radicalmente inovadores e uma aura sexy -- tudo o que a TAP não tem, nem fez qualquer esforço para ter desde que o novo panorama da concorrência no sector se tornou óbvio. Provou-se, sobretudo, que o consenso fabricado em volta da Portela teve um único fim: fechar este estratégico complexo aeroportuário e vender os respectivos terrenos a patacas; dar de comer aos imbecis do betão que subsidiam o Bloco Central e apostar em mais especulação imobiliária, na fantástica "cidade aeroportuária" do ignaro PS boy Augusto Mateus.

A TAP fez tudo ao contrário, não apenas com o beneplácito do actual governo, mas empurrado por este. Foi assim que comprou a PGA ao Grupo BES por 144 milhões de euros, numa operação que deveria ser investigada, pois desde logo se trata, e foi à época denunciada como tal, uma operação ruinosa para o Estado português. Foi assim que defendeu a OTA, mentindo sucessivamente sobre factos relevantes relativos às reais condições e potencialidades da Portela. Foi assim que boicotou tanto quanto pôde o crescimento das operações no renovado Aeroporto Sá Carneiro. Foi assim que boicotou o desenvolvimento turístico da Madeira, mantendo um monopólio caro e indecoroso contra a lógica e as directivas comunitárias. E foi assim que reteve artificialmente, contra qualquer lógica de gestão saudável, slots e rotas com load factors miseráveis, transformando uma prometida redistribuição extraordinária de lucros numa rampa de prejuízos sem fim à vista!

O anúncio da suspensão de 61 frequências de voos a partir de Outubro, depois do gaúcho que "dirige" a companhia anunciar prejuízos superiores a 100 milhões de euros(1), foi o sinal público de que algo atingiu, provavelmente de forma irreversível e fatal, a transportadora aérea nacional. A TAP irá cancelar não apenas frequências de voos na Europa, o que era previsível, pois não tem quaisquer condições para sustar a ofensiva das Low Cost, mas também nas rotas para os Estados Unidos e para o Brasil -- para onde e de onde, em plena época alta, os charters da Air Atlantic andam a meio gás e os A330 da TAP cabotam ao longo das costas de Vera Cruz!

A caricata manobra de prestidigitação em volta dos novos voos para a Guiné-Bissau e para Angola, não convence ninguém, nem já os tontos que compram diariamente informação aos gurus da contra-informação mediática. Que rentabilidade poderá ter uma rota para o narco-Estado da Guiné-Bissau? A não ser que sirva para transportar droga, ou os resultados do respectivo comércio! Do que se sabe até ao momento, é que se houver uma avaria no local, vão ser os pilotos e as hospedeiras a ter que reparar os aviões (efectivamente!)

Quanto a Angola, admite-se que o tráfego possa aumentar. Mas quem garante que a aliança em formação entre a Ibéria, a British Airways e a American Airlines não venha a desfazer este género de improvisos por parte de uma presa que emite sinais evidentes de ter sido ferida de morte por uma administração desastrosa ao serviço de uma nomenclatura político-partidária que a sugou até ao tutano?

A menos que a "filha do EDU", como é conhecida na gíria blogosférica, compre a TAP, no rescaldo da desesperada viagem de José Sócrates a Luanda, não vejo como possa a TAP safar-se da falência que se antevê no horizonte carregado da actual crise financeira mundial. Uma operação do tipo Alitalia será porventura possível, se houver fundos soberanos que queiram a TAP. E mesmo assim, a empresa poderá ter que falir primeiro, como ocorreu com a Suissair, para renascer depois, muito mais magra, subdividida em mais de uma companhia.

Uma profunda reestruturação do Grupo TAP poderia dar lugar a novos operadores segmentados por continentes: TAP Eurásia, TAP África, TAP Américas. Russos, chineses, árabes poderiam até interessar-se pelos novos petiscos. Conjecturas, em suma, para uma empresa atropelada pela história e pela incúria dos governantes que temos.


Última hora
-- Deputado Manuel Alegre disparata sobre comboios e aeroportos.

O poeta e político socialista disse à SIC Notícias (Jornal das Nove, 15-07-2008) que era preciso um NAL em Alcochete. Quem lhe encomendou o sermão? Gostava de saber!

No entanto, sobre "o TGV" disse nada, pois não entende o assunto -- disse. Não entende?! Mas não é pago por todos nós para, precisamente, estudar, entender e opinar? OLHE, caro poeta e político socialista, sou artista, mas não sou pago pelo erário público, e no entanto dei-me ao trabalho de ler, estudar e escrever mais de meia centena de artigos sobre aeroportos (Ota, Montijo, Alcochete), comboios (linha do Norte, bitola europeia, TGV) e aviões (TAP, ANA, Low Cost), precisamente porque cheguei à conclusão, entre os finais de 2004 e a Primavera de 2005, que o actual paradigma energético do Capitalismo, da Democracia Ocidental e do Progresso chegara ao fim e iria dar enormes dores de cabeça a todos nós.

Privatizar os terrenos da Portela e a ANA para alimentar a voragem corrupta do Bloco Central do Betão (muito bem representado pelos passarões Jorge Coelho e Dias Loureiro) foi e é a única justificação "técnica" para a cidade aeroportuária "imaginada" pelo Grão-Mestre do Aeromoscas de Beja -- Augusto Mateus. Mas hoje, com a precipitação síncrona das crises petrolífera, financeira, climática e alimentar mundiais, o embuste premeditado do Bloco Central do Betão morreu. Por outro lado, nem a privatização dos terrenos da Portela seria alguma vez trigo limpo, apesar do bispo entretanto colocado na autarquia da capital, nem a malta do Norte e da Madeira alguma vez permitiria a prevista instrumentalização da ANA para rentabilizar o inviável NAL.

Por fim -- tome nota Manuel Alegre--, precisamos de encontrar uma solução imediata para a TAP (força Sócrates!), ou esta irá parar à falência depois do Natal! E se tal ocorrer, bem pode o poeta cantar Alcochete, que Alcochete não passará de uma miragem marroquina. Outro Alcácer Quibir, meu caro camoniano, que V. terá que poetar!

Você, Manuel Alegre, anda agora muito preocupado com os ricos. Deixe-se de populismo barato. Não lhe assenta bem. Como muito bem sabe, o problema não vem dos ricos, mas daqueles que pouco ou nada fazem, e sobretudo daqueles que em nome do Povo muito palram, cobrando fora e dentro do orçamento de Estado, sem cuidar de facto do que lhes sai boca fora. Começam, como sabemos, por não estudar os assuntos, e adoram emprenhar pelos ouvidos. Que lástima!

Quem esperava um grito de esperança seu, foi enganado. Está visto que V. está neste preciso momento a escorregar para dentro da sopa de letras da tríade de Macau. No fundo, adora o José Sócrates, apesar do rapaz às vezes mijar fora do penico. Você vai pugnar pela renovação da maioria, não vai? Eu aposto que sim! É caso para dizer: PIOR A EMENDA QUE O SONETO! --


OAM, 16-07-2008 18:37



Post scriptum
-- Não posso deixar de transcrever (parcialmente) esta mensagem à blogosfera do Rui Santos, um dos mais atentos e mordazes observadores do sector lusitano de transportes, sobre o afundamento da TAP:
"E é assim, está finalmente anunciado o início da operação por parte da easy para o Funchal a partir de 27 de Outubro do corrente.

Pelo que foi possível apurar, a produção dos voos resulta do aproveitamento dos voos da easy com origem em Madrid, uma vez que (ainda) não há interesse por parte da easy em fazer de Lisboa um dos seus Hubs. Está em Barajas pagando taxas bastante inferiores aquelas que paga na Portela, tal não é o nível de competitividade da "nossa" gestão dos aeroportos -- o mesmo não se pode dizer da capacidade em betonar.

Podia-se ter ganho muito mais caso fossem dadas outras condições à easy, encontrando-se desta forma solução para os trabalhadores da TAP e PGA.

Como há cerca de um ano se escreveu ("Entreguem o aeroporto do Montijo à easy"), essa seria uma solução que potenciava o turismo não só em Lisboa, como em toda a região, beneficiando por exemplo o investimento que a SONAE está a realizar em Tróia - Setúbal, isto para além de potenciar ainda mais o emprego num "novo" aeroporto, colocando Badajoz "em sentido", sendo a solução Alta Velocidade Madrid / Lisboa (Pinhal Novo) um potenciador da aposta na Portela + Montijo, e isto sem gastar mais um cêntimo num novo aeroporto (Ota em Alcochete)

Por outro lado, é inegável que o "deslocamento" das Low Cost para o Montijo por via de taxas inferiores às da Portela (dado que não querem ouvir falar de Beja), atribuía indirectamente vantagens competitivas à TAP (um balão de oxigénio)

Fica de qualquer forma o ónus para a liderança da TAP explicar aos utentes dos voos Lisboa - Funchal, o porquê de serem aplicadas até 26 de Outubro preços bem acima dos praticados pelas Low Cost, quando o nível de serviços de bordo não é "factor diferenciador" dada a duração de voo.

A Madeira que se prepare pois para mais turismo, e mais madrilenos." -- Rui Santos.



NOTAS
  1. TAP registou prejuízos de 123 ME no primeiro semestre (2008), mais 55 ME que o orçamentado.

    "Só em Junho, a TAP gastou mais 21 milhões de euros do que o que estava orçamentado", disse à Lusa fonte oficial da transportadora liderada por Fernando Pinto, recordando que até Maio a companhia aérea já tinha acumulado prejuízos de 102 milhões de euros devido ao aumento do preço dos combustíveis. -- RTP/Lusa, 17.07.2008.

    Comentário: Fazendo as contas é fácil extrapolar o valor desta dívida até a Outubro. Fim de Julho: 142 milhões; fim de Agosto: 163 milhões; fim de Setembro: 184 milhões... Ou seja, mais de 200 milhões de euros no fim do ano! Quem vai pagar? Será a GALP, através do pagamento por conta do IRC que potencialmente decorre dos seus stocks de crude, pomposamente apelidada de Taxa Robin dos Bosques? - OAM


OAM 393 14-07-2008 22:56

Portugal 33



As respostas espanhola e portuguesa à crise: que diferença!

El futuro vuelve en tren en septiembre
San Vicente de Alcántara vibra estos días al ritmo de la maquinaria que retira las viejas vías y que instalará una nueva línea que lo conectará con la modernidad.

13-07-2008. Perdidos. Sudorosos y ya morenos por el sol, caminan por la vieja vía con sus chalecos amarillos. Unos jóvenes topógrafos buscaban esta semana un punto exacto en mitad de la sierra de San Pedro para realizar unas mediciones del terreno, y aunque la belleza del paisaje que les rodea era arrebatadora, hacía mucho calor, y ellos no estaban para poesía.

La zona es muy visitada por turistas y amantes de la naturaleza que quieren disfrutar del paisaje o hacerse con alguna de las mejores piezas de caza que abundan por la sierra, pero ellos tenían que medir los desniveles del terreno en la línea ferroviaria Madrid y Lisboa, en el tramo entre Herreruela-San Vicente de Alcántara, y aún les quedaba mucho trabajo por delante. Todo el verano, como mínimo.

La línea está ahora cortada. Desde el último descarrilamiento del 'Lusitania' (Madrid-Lisboa) que ocurrió en la zona, el 19 de enero de este año, ningún tren ha vuelto vuelto a circular por la vía.

Pero el silencio impuesto se ha roto esta semana al comenzar las obras de renovación de la línea entre las estaciones de Herreruela y Valencia de Alcántara. -- Celia Herrera, Hoy.es.

Vale a pena ler na íntegra a edição número 15 de A Verdade, dedicada a sublinhar as diferenças entre as estatísticas e as respostas políticas governamentais de Portugal e Espanha. São chocantes! A administração da coisa pública espanhola revela a existência de rumo e consistência, apesar da rotação do poder se fazer em torno de dois partidos muito mais afastados ideologicamente entre si do que os manos incestuosos do nosso Bloco Central. No caso lusitano, fica claramente à mostra o cretinismo político que nos desgoverna há décadas.

Entretanto, a nossa crise, que só em parte deriva da importação dos males dos outros, soma e segue a caminho do abismo. Realço em seguida alguns tópicos mais recentes, e finalizo com um cardápio de sugestões gratuitas ao Governo.
  • Primeiro problema: os bancos privados (BPI, BCP, etc.) caminham rapidamente para uma gravíssima crise de liquidez, as quais podem facilmente terminar em falência. Os anúncios dos prejuízos de exploração vêm aí!

    A tríade de Macau prepara-se para atalhar este problema recomendado ao Executivo o mesmo embuste descortinado pelo FED para fazer desaguar os custos do buraco negro financeiro americano no resto do mundo , i.e.: "nacionalizar" os bancos em fase de implosão irreversível, por forma a transferir os buracos e as dívidas dos especuladores privados para as costas dos contribuintes!!

  • Segundo problema: estamos a caminho de uma paragem cardíaca do sistema financeiro.

    É que diminuindo drasticamente a circulação monetária, efeito da catastrófica queda do valor especulativo das empresas (incluindo os bancos) e do aumento do endividamento (provocado pela subida das taxas de juro e dos spread, bem pelo atraso acumulado dos incumprimentos financeiros das dívidas públicas e privadas), ocorre um efeito de dominó sobre toda a economia: falências empresariais e pessoais, desemprego e grave crise institucional.

    O Governo português está desesperado e procura uma solução qualquer, nomeadamente sob a pressão monumental da banca, dos donos do betão e dos especuladores profissionais, conhecidos financiadores da actividade partidária.

  • Terceiro problema: a polémica em volta das Grandes Obras e o atraso do peditório nacional chamado QREN, estão a desencadear fugas em frente avulsas e desmioladas por parte da incompetente Ana Paula Vitorino (o Dromedário-Mor já só deve estar a pensar para onde irá a seguir...)

    Em vez de modernizar criteriosamente a linha férrea convencional, nomeadamente finalizando, com pés e cabeça, a modernização da Linha do Norte(1), e interligando esta última com a Linha do Oeste, que por sua vez precisa de ser electrificada e ver modernizado o seu sistema de sinalização), enquanto a Alta Velocidade espera por melhores dias, o MOPCT decide construir novas sedes para a CP e fazer ramais, variantes e anéis ferroviários inúteis, satisfazendo os imbecis do betão e os ávidos autarcas, em plena sintonia com as estratégias da tríade para a campanha eleitoral de 2009. A SEDES teve absoluta razão no diagnóstico publicado!

10 Conselhos (gratuitos) ao Governo:
  1. forme-se um gabinete de crise (energética, económica e ambiental), encarregado de eleger e supervisionar a aplicação de um conjunto limitado e bem estudado de medidas, que os ministérios deverão executar sob vigilância apertada do PM e do Gabinete de Crise;
  2. dê-se prioridade aos projectos estruturantes e evitem-se fugas em frente, caras, irresponsáveis, e eleitoralistas;
  3. aposte-se na recuperação inteligente da rede ferroviária convencional, tendo presente que a prioridade deve ir para as linhas estruturantes da rede: Linha do Norte, Linha do Oeste e Linha do Douro;
  4. aposte-se nas ligações de Alta Velocidade/ Velocidade Elevada entre Lisboa e Madrid (turismo e negócios), entre a Galiza e o Porto (consolidação da capital nortenha como cabeça do Noroeste Peninsular) e entre Aveiro e Salamanca (exportações!)
  5. reserve-se Alcochete para melhores dias e aposte-se imediatamente na modernização efectiva da Portela (não a balbúrdia e acumulação de erros recentes), bem como na activação urgente da Base Aérea do Montijo para as companhias de Low Cost, salvando-se assim a TAP e o potencial aeroportuário estratégico de Lisboa!
  6. defina-se o transporte marítimo de longo curso e de cabotagem como prioridade estratégica nacional, com tudo o que isso implica de novos e grandes investimentos na renovação dos portos portugueses e respectivas acessibilidades, bem como no renascimento de uma indústria naval à altura das nossas necessidades e capacidades (este é um dos raros sectores onde Portugal tem uma vantagem competitiva potencial relativamente à Espanha);
  7. ataque-se sem dó nem piedade as mais nocivas corporações do país: juízes, advogados e médicos;
  8. ponham-se os sindicatos na ordem, criando-se regras claras e intransigentes de relacionamento;
  9. alargue-se o princípio da limitação de mandatos aos deputados e a todos os órgãos eleitos em entidades consideradas ou a considerar de interesse público: sindicatos, ordens, associações académicas e culturais, empresas cotadas em bolsa, etc....
  10. preparem-se medidas especiais de apoio à insolvência pessoal e das PMEs (neste caso, por exemplo, sob a forma de programas de incentivos à reconversão e eficiência energéticas).
Quem avisa...


NOTAS
  1. Ler a este propósito dois documentos oportunos de Rui Rodrigues: A Encruzilhada da Linha do Norte (2002) e Mudar Bitola na Linha do Norte (2004).

OAM 392 14-07-2008 19:13 (última actualização: 15-07-2008 10:36)