quarta-feira, outubro 24, 2007

Aeroportos 38

Lisboa-Madrid by easyJet
Lisboa-Madrid-Lisboa via easyJet, por 34,98 euros! E agora Fernando Pinto?

TAP - Greve solidária

A greve, pelo mês em que ocorre (fim da época alta) e pelos dias e voos criteriosamente escolhidos, não pretende prejudicar a companhia. Pelo contrário: visa aliviá-la de mais prejuízos!

Mário Lino -- "Apelo ao Sindicato [Nacional dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC)] para que tenha bom senso suficiente, para que pare com a situação grevista, que é extremamente prejudicial para a TAP, para a economia portuguesa, para a imagem do país e para a qual não encontro razões neste momento", declarou o Mário Lino, à margem da Conferência "Auto-estradas do Mar e Logística", a decorrer em Lisboa no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia (UE). Sol, 24-10-2007.

Fernando Pinto -- "Rezo p'ra ela (a Ota) todos os dias."

O objectivo da TAP em 2007 é obter lucros no montante de 34 milhões de euros, parte dos quais serão distribuídos pelos trabalhadores. SIC NOTÍCIAS, 12-03-2007.

DINHEIRO -- As chamadas companhias low-cost estão prosperando. Elas são uma ameaça às grandes?

FERNANDO PINTO -- Não tanto. Eu diria que elas ajudaram as empresas tradicionais a serem mais competitivas. As empresas tradicionais já começam a absorver grande parte do contingente de passageiros das empresas menores. Estamos sabendo usar melhor a nossa rede de agências, que é maior e passa a ser mais interessante para o passageiro. Se ele, além de ter um serviço de bordo, ainda conta com tarifas competitivas, então não tem discussão: opta por nós. Eu diria mais. Hoje, nós é que estamos ameaçando as low-cost. -- Isto é Dinheiro, 16-02-2007.

Vamos por partes:
  1. Os pilotos, tal como muita gente portuguesa e dos demais países europeus, descontou ao longo de uma vida de trabalho esperando reformar-se aos 55, aos 60 ou aos 65 anos, com uma reforma equivalente à média das melhores remunerações obtidas ao longo dos últimos 10 anos da respectiva carreira contributiva (ou coisa semelhante.) Entretanto, o Estado Providência faliu nos poucos países onde existia, isto é, no norte da Europa Ocidental. As causas de tal falência são basicamente três: o aumento da esperança de vida das pessoas, a transferência massiva da capacidade produtiva de bens materiais dos países desenvolvidos da América e da Europa para a Ásia e, coisa sempre escamoteada, a inflacção real derivada do Pico Petrolífero e da depreciação capitalista sistemática do valor do trabalho (por mais especializado que este seja.)
  2. Neste contexto, a reivindicação dos pilotos é justa e inatendível ao mesmo tempo, como inviável é o resto da estrutura empresarial da TAP, que tem actualmente tantos trabalhadores, mordomos e boys ao seu serviço quanto a Air Berlin, a easyJet e a Ryanair juntas! Os pilotos, em vez de fazer esta greve, deveriam analisar friamente a situação e negociar um acordo de cavalheiros razoável com o governo, tendo nomeadamente em conta as reais dificuldades do país e, por outro lado, a sua capacidade profissional e corporativa de compensar por meios próprios a quebra de expectativas que o actual e os futuros governos irão irremediavelmente impor-nos.
  3. A greve, pelo mês em que ocorre (fim da época alta) e pelos dias e voos criteriosamente escolhidos, não pretende prejudicar a companhia. Pelo contrário: visa aliviá-la de mais prejuízos? De facto, os dias escolhidos para a paralização (Terças, Quintas e Sábados), as rotas canceladas (todas as que coincidem com a mole esmagadora das Low Cost, e praticamente nenhuma de Longo Curso) significa uma real poupança de euros para a TAP. Nestas datas, nestas rotas e neste iniciar da época fria, a taxa de ocupação dos voos da TAP-PGA passa rapidamente dos 80% para pouco mais de 60%, sendo que desta vez, o aumento em flecha do preço do petróleo e o incremento de novas rotas a inaugurar pelas Low Cost, tanto em Lisboa como no Porto e no Funchal, agravarão ainda mais dramaticamente a situação económica da companhia. Ou seja, fica mais barato manter em terra os aviões de médio curso não imprescindíveis aos voos de ligação intercontinentais do que mantê-los no ar! Portanto, obrigado Sindicato!
  4. Doutra forma, não se compreenderia como foi possível escutar, como temos vindo a escutar, as Relações Públicas da TAP a propagandearem literalmente a greve dos pilotos, convidando os seus clientes a dirigirem-se a outras companhias para garantir os seus voos sem mais incómodos!
  5. O Governo e o gaúcho que bem pago mal-dirige actualmente o funeral agendado da TAP preparam-se, estranhamente, para responsabilizar os pilotos como mais prováveis responsáveis pelos prejuízos da companhia. É um erro! Pois será fácil demonstrar que os prejuízos actuais e futuros da TAP derivam exclusivamente da falta de visão dos políticos imbecis que temos, da teimosia em prosseguir com o embuste da Ota e da cegueira perante a mudança radical do paradigma da fileira do transporte aéreo, causada pelo pico petrolífero, pela penalização crescente das actividades poluentes (sobretudo se contribuem para o sobreaquecimento do planeta), pela política de céu aberta instaurada na Europa e que em breve cruzará o Atlântico...e pelas Low Cost. As Low Cost, burro!
  6. Por este caminho a TAP terá tantas ou mais dificuldades que a Alitália em encontrar um noivo decente para a cerimónia da privatização. Só se for... a filha do José Eduardo dos Santos, depois de comprar a carcaça do BCP!
  7. A TAP, como está, não tem nenhuma solução. O seu futuro não deve, por isso, ter qualquer influência na decisão que vier a ser tomada sobre a política aeroportuária nacional. Quanto ao Menezes-Santana, que se cuide e estude mesmo bem o dossiê da Ota antes de dizer disparates.

Post scriptum -- o sindicato dos pilotos cancelou entretanto a greve prevista para Quinta Feira e Sábado desta semana, na sequência dos apelos do Mário Lino, e depois, estou seguro, de lerem o meu post. A blogosfera (que alimenta boa parte do escrevo) está de parabéns, na sua primeira mediação subtil de um conflito laboral :-)

Última hora
25-10-2007, 20:19. A MANOBRA VERGONHOSA DO BURRO DO MOPTC (ASSESSORADA PELOS MCO FALIDOS QUE TEMOS)

A entrevista dada à meia-noite de ontem na SIC-N pelo Lino, significa q a marosca de atirar com os prejuízos para cima dos pilotos falhou, apesar da colaboração vergonhosa dos média pagos pelo governo (chamam-se avenças publicitárias...) na dita.

A marosca era esta: contabilizar os 6 dias de greves anunciados pelos pilotos como prejuízos da TAP, responsabilizando-os pela gravíssima crise que ameaça seriamente o futuro da empresa e a prometida privatização da companhia. Tal como sucedeu à também governamental Alitalia, a TAP corre o risco de ir para os SALDOS das privatizações mundiais!

Como escrevi ontem, a greve coincide com o início a época baixa, e com o ataque em força das LC à TAP, pelo q, em princípio, os aviões da TAP vão parar por outros motivos... i.e., falta de clientes!

Cancelaram-se cerca de 60-65 voos no dia da greve (deixando-se, porém, voar tudo o q dava dinheiro!), mas hoje, q não há greve, a TAP já cancelou ONZE voos, dos que andam vazios (claro!), por causa da concorrência imbatível das LC -- e vai piorar!

Então como é? Quem causa prejuízos à TAP? Os pilotos, ou a completa falta de estratégia e más gestão do governo e do gaúcho Pinto?

A greve não causou prejuízos mas poupança! Basta fazer as contas bem feitas...
Aviões vazios ou com taxas de ocupação inferiores a 60% (um panorama cada vez mais comum no Médio Curso da TAP nas rotas atacadas pelas LC), quando deixam de voar, não dão prejuízo; poupam, e muito, dinheiro!

Com o petróleo a US$90,45 o barril calculem lá o que não se poupa deixando de comprar umas 800 toneladas de FUEL por cada dia de greve com 65 voos cancelados... E os custos de manutenção das aeronaves?! E os salários q deixam de ser pagos?! E o "cattering"?!

Ou seja, o sindicato dos pilotos, responsavelmente, pretendeu fazer uma greve q n só minimizasse os prejuízos, como até pudesse poupar uns milhões de euros à companhia, para q a dita distribuísse, como prometeu, dividendos aos seus trabalhadores!

Descoberta a manobra suja do governo e da administração da TAP, os pilotos, que tinham reafirmado a programação da sua luta às 19h30 de ontem, cancelaram inopinadamente a greve às 22h30. O ministro, desesperado, conseguiu aparecer nos estúdios da SIC-N uma hora e meia depois, para imputar responsabilidades aos pilotos pela crise da TAP. Só há uma explicação para esta celeridade: o MOPTC tem um estúdio de "maquillage" no gabinete do ministro!


OAM 267, 24-10-2007, 15:28

1 comentário:

Anónimo disse...

Desses cento e tal milhões de euros à "conta do combustível", quantos estão enterrados na VEM? As mentiras não duram uma eternidade. Descarte-se o problema ao estilo de "só não gol compra a gente pô".