domingo, abril 29, 2007

Partido Democrata Europeu 2


Uma luz ao fundo do túnel
Governistas se unem para formar Partido Democrata na Itália.
O segundo partido em importância da coalizão que governa a Itália, o centrista A Margarida, iniciou hoje o caminho rumo à formação do novo Partido Democrata (PD), junto com o ex-comunista Democratas de Esquerda (DS), a principal força da aliança governista. -- Agência EFE / ROMA -- JB Online
Estou há alguns dias em Espanha. Do que pude ler na web não parece existir qualquer referência na imprensa portuguesa à formação do novo Partido Democrata italiano, impulsionado por Romano Prodi e Francesco Rutelli, e para o qual convergem protagonistas e forças partidárias heteróclitas, de algum modo fartos da adiantada putrefacção e impotência, estratégica e governativa, dos sistemas partidários nacionais. A actual crise da União Europeia é sobretudo uma crise política. O absurdo projecto de Tratado Constitucional que os eleitores franceses e holandeses chumbaram foi o sinal de alarme de um bloqueio que urge ultrapassar, em nome do projecto europeu e do protagonismo do velho continente nas decisões globais, cruciais para lidar com os gravíssimos problemas que afectam a humanidade.

Hoje, no La Vanguardia, li uma oportuna e sintomática entrevista ao antigo alcaide de Barcelona e ex-presidente do governo catalão, Pascual Maragall. A substância da mesma é clara: o processo autonómico correu mal para as regiões e correu mal para Espanha (que acabou por impor o seu projecto radial, baseado na transformação de Madrid num gigantesco hub financeiro, rodoviário, aeroportuário e ferroviário); Catalunha deve redefinir as suas prioridades, mais em função da Europa, do que da intestina discussão autonómica; precisa, para tal, de uma ferramenta financeira estratégica (um banco euro-mediterrânico, à semelhança do Banco de Leste) e de ousar, por exemplo, fortalecer as suas velhas e fraternais relações com Portugal (chegou mesmo a desafiar Jorge Sampaio para o lançamento de uma Fundação Espanha-Portugal, presidida por ambos.) A entrevista serviu, porém, para lançar uma ideia estratégica particularmente oportuna: a formação de um Partido Democrata europeu. Uma tal força partidária situar-se-ia na importante zona centro-esquerda do espectro político europeu, uma zona politicamente activa e decisiva do ponto de vista eleitoral, e que está farta dos partidos convencionais de esquerda e de direita, onde há muito não existem ideias, nem escrúpulos, nem decência democrática, mas onde abunda tristemente a presunção, os pergaminhos usurpados, a mediocridade, o carreirismo e a corrupção.

Vale a pena ler esta passagem do artigo/entrevista do La Vanguardia:
Su receta es europea, propone el Partido Demócrata Europeo, homólogo del Partido Demócrata de EE. UU.: "¿En EE. UU. quién elige a los candidatos? La gente. ¿Se hacen listas cerradas? No. En cambio, aquí el aparato del partido decide que el número 1 es fulano y el número 2, mengano y si tú te portas bien, irás en el número 3, y tú, ojo con lo que dices o verás... Es un sistema cerrado y burocrático. Los demócratas norteamericanos pueden elegir entre el candidato Obama y la candidata Clinton. La relación entre representantes políticos y ciudadanos no es tan indirecta, hay más libertad".

La idea del Partido Demócrata ha cuajado en Italia. Romano Prodi y Francesco Rutelli la han puesto en práctica y han invitado a Maragall desde el primer día. "Yo fui sin saber exactamente dónde me metía y quedé fascinado..., el primer día estaban también François Bayrou y Josu Jon Imaz..., es el centroizquierda agrupado, una idea ganadora de los italianos...". Con ese nuevo partido que Maragall observa con tanto interés también ha mantenido interlocución Josep Antoni Duran Lleida ( "a diferencia de Imaz no he visto nunca a Duran", puntualiza, sin embargo, Maragall). De hecho, Unió Democràtica, el partido de los democristianos catalanes, y el PNV buscaron refugio en Italia cansados de la Internacional Democristiana cuando fue monopolizada por el PPE con Aznar como líder de referencia. Eso significa que en el nuevo partido que propone Maragall podrían coincidir rivales internos, pero el ex president no ve ningún inconveniente. "Mas tendría que decidirse por el centroderecha o el centroizquierda; porque la intención es establecer como en EE. UU. dos referencias políticas cuyos representantes surgirían de elecciones primarias".
O caso lusitano, face ao processo de liquefacção em curso nos principais partidos parlamentares (PS, PSD, PP, BE), encontra-se curiosamente maduro para a emergência de um Partido Democrata português, futuro membro de um futuro Partido Democrata europeu. Basta iniciar as hostilidades desde já, para que o processo comece a andar tão depressa quanto possível. Assim o exige a crise institucional do país, sobretudo depois dos escândalos que vêm afectando a credibilidade de várias presidências municipais e, agora, a própria presidência do governo, cujo Primeiro Ministro, insisto, deve demitir-se, em nome da transparência democrática, em nome da qual se pôs fim à ditadura Salazarista. Não creio que o novo partido deva nascer de um directório de personalidades oriundas de várias formações partidárias (PS, PSD, CDS, BE), mas não deixa de ser uma solução expedita, para começar...

O importante, por agora, é perceber que os problemas portugueses, e os problemas das várias nações europeias, têm que passar a ser pensados à escala europeia, não a partir de insuportáveis directórios eurocratas, não a partir de federações partidárias europeias oportunistas e de circunstância, mas a partir da formação de verdadeiros partidos europeus, seguindo regras muito radicais e transparentes de organização, representação e delegação de poderes. Só aqui chegados fará sentido um referendo europeu para aprovar uma Constituição Europeia, justa, lógica, clara e breve. Até lá, a única atitude inteligente é boicotar a manobra, actualmente em curso, de tentar aprovar na secretaria o que não se conseguiu fazer passar em eleições livres.

Estou firmemente convencido de que existem hoje milhares de militantes e simpatizantes dos vários partidos parlamentares, profundamente incomodados com a crescente falta de credibilidade e honestidade da acção dos partidos em cujos ideais acreditam. Não me refiro aos que, alegre ou inconscientemente se sentam à mesa do orçamento, e muito menos aos polvos que pilham os recursos nacionais sem dó nem piedade, sorrindo-nos semanalmente nos écrãs televisivos. Refiro-me, sim, aos militantes e simpatizantes de boa-fé, e refiro-me ainda mais aos milhões de eleitores do centro-esquerda, os quais sabem, tão bem como eu, que a actual situação é imoral e insustentável. São estes que, mais cedo ou mais tarde, exigirão e darão protagonismo à nova força política de que o país precisa, como de pão para a boca.

OAM #197 29 ABR 07

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