sábado, setembro 09, 2006

9/11

crateras num campo de testes de bombas nucleares B61
Nevada (EUA) - campos de testes com crateras de bombas nucleares tácticas B61, incluídas no plano de guerra nuclear preventiva aprovado por Georges W. Bush, e tendo o Irão - um país sem armamento nuclear - na mira da sua próxima agressão em larga escala.

11 de Setembro: que aconteceu realmente?


Power tends to corrupt; absolute power corrupts absolutely” — Lord Acton (historiador inglês)


No início dos anos 60, altos comandos militares dos Estados Unidos elaboraram planos para matar pessoas inocentes e cometer actos de terrorismo em cidades dos EU com a finalidade de levar o público a apoiar uma guerra contra Cuba. Este plano, aprovado pelo Comando Chefe do Pentágono, teve o nome de código Operation Northwoods, e chegou a propor a sabotagem de um navio estado-unidense e o desvio de aviões comerciais como pretextos falsos para uma guerra. O presidente de então, John F. Kennedy, reprovou o plano e demitiu o seu autor. Acima dos interesses estratégicos imediatos da América estavam a superioridade moral da sua democracia e os valores constitucionais. Colocar este património em risco seria assassinar a imagem de farol da liberdade exibido pela nova potência imperial nascida do rescaldo da barbárie civilizacional de 39-45.

Foi esta imagem ética que desapareceu em 11 de Setembro de 2001. Aquilo que naquela data, ainda tão perto de todos nós, ocorreu, temo-nos vindo a aperceber desde então, foi muito menos uma operação brilhante do terrorismo islâmico do que uma provocação sadicamente montada e gerida pelos novos senhores da guerra imperial e respectivos assessores, Dick Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolfovitz, John Ashcroft, o presidente George W. Bush, claro está, o irmão deste, Jeb Bush, o pai deste, George H. W. Bush e, por fim, mas não menos destacável, Condoleeza Rice. Se a humanidade se salvar desta canalha, creio que a mesma não escapará nem ao juízo implacável da história, nem à mão pesada da justiça humana.

As provas evidentes de que quase nada bate certo na versão oficial dos factos são inúmeras, aconselhando vivamente a leitura e visionamento dos documentos referidos no fim deste artigo (que efectivamente permitem uma nova claridade informativa sobre o que terá realmente acontecido na manhã de 11 de Setembro de 2001). O mais extraordinário de tudo é a cumplicidade dos grandes meios corporativos de comunicação social com a versão oficial (titubeante e contraditória) da Adminstração Bush. O mais incrível e triste é ver como esta cumplicidade criminosa dos média estado-unidenses se propaga pela generalidade dos seus subservientes colegas ocidentais (1). Não faltará porém muito tempo para que quase tudo se saiba, nomeadamente sobre o enigmático Bin Laden (2), objectivamente um agente duplo dos Estados Unidos e do extremismo islâmico.

O FBI estava a par dos planos dos ataques aéreos seis meses antes de ocorrerem (mas mandaram-no calar). O sistema de defesa do espaço aéreo americano, pronto para interceptar quaisquer intrusos num intervalo de 10 a 20 minutos, nada fez ao longo de hora e meia, mesmo tratando-se da capital económica (Nova Iorque) e da capital política (Washington) dos Estados Unidos. As torres gémeas e o edifício 7 do World Trade Center não ruiram por efeito dos impactos dos dois Boeing 757, mas sim por efeito de implosões meticulosamente programadas e accionadas no momento certo. O Pentágono não foi atingido por nenhum Boeing, mas sim por um avião militar ou por um míssil. Perante o que parecia então ser um ataque em larga escala contra os Estados Unidos, não se sabendo portanto se os seus autores estariam ou não em condições de atacar a escola primária onde se encontrava o Presidente Bush, este dá-se ao luxo de ali ficar 47 minutos e mesmo falar à imprensa sobre os acontecimentos à hora anteriormente prevista para a sua comunicação sobre a visita escolar, sem que os serviços secretos o tivessem arrastado imediatamente para o carro presidencial, a única estrutura blindada nas imediações e com a melhor conectividade possível com a Casa Branca, o Pentágono e os vários serviços secretos e policiais do país (can you believe it?!). Dos dezanove terroristas anunciados como fazendo parte dos comandos que realizaram as operações de 11 de Setembro, nove estão vivos e recomendam-se. Ao fim de cinco anos não foi acusada uma única pessoa nos Estados Unidos por conspiração directa ou associação aos comandos que realizaram a acção terrorista (como se fosse possível uma acção daquela envergadura e complexidade ter sido planeada, preparada e executada sem uma vasta rede de contactos e participantes no terreno para além dos dez supostos terroristas que se enfiaram nos aviões). Depois desta encenação viria o resto do plano: declarar que os EUA estavam em guerra contra o terrorismo mundial (o dito Eixo do Mal) e que esta seria levada aonde a Adminstração Bush julgasse haver perigo para os interesses americanos; cortar a direito nos direitos da cidadania americana (Patriotic Act); criar o pânico sistemático entre a população dos Estados Unidos; atacar, invadir e ocupar o Afeganistão, a pretexto de perseguir a Al Qaeda e Bin Laden; atacar, invadir e ocupar o Iraque a pretexto de umas inexistentes Armas de Destruição Maciça (WMD); conspirar com Israel a mais recente guerra contra o Líbano, e preparar uma guerra alargada contra a Síria e o Irão, antes do grande teste chinês. Entretanto, no meio de uma crise económica e política indisfarçável, sem tropas de infantaria e cavalaria que cheguem para os sucessivos teatros de guerra em que se vem envolvendo na prossecução do seu desígnio imperial, o Pinóquio Bush e a pandilha que o comanda preparam-se para reintroduzir o serviço militar obrigatório nos Estados Unidos.

Os países aliados dos EUA, como Portugal, que se cuidem. Se não souberem gerir sabiamente a força de interposição que a ONU destacou para a fronteira entre o Líbano e Israel, nomeadamente no quadro das previsíveis provocações e jogos de guerra que ocorrerão nos próximos meses e anos, o espectro do serviço militar obrigatório poderá regressar à Europa. Para os especuladores e os financeiros envolvidos nos sectores energéticos e nas indústrias militares e afins estas são seguramente boas notícias (não é Sr. Amorim? não é Sr GALP? não é Sr OGMA?). Resta saber como vai reagir a cidadania a tanta pulhice.

O Muro de Berlim caíu em cima de todos nós. Mas a propagação das ondas assassinas do 11 de Setembro estão longe de ter chegado verdadeiramente às nossas costas. Irão chegar? Ou será que John Carry conseguirá, finalmente, arrancar a presidência dos EUA ao gang dos Bush?

Oil remains fundamentally a government business. While many regions of the world offer great oil opportunities, the Middle East with two thirds of the world's oil and the lowest cost, is still where the prize ultimately lies, even though companies are anxious for greater access there, progress continues to be slow. — Declaração proferida por Dick Cheney num discurso durante o almoço de Outono promovido pelo London Institute of Petroleum em 1999, quando o actual vice-presidente dos EUA era o chairman da empresa petrolífera Halliburton.

The attitude of the American public toward the external projection of American power has been much more ambivalent. The public supported America's engagement in World War II largely because of the shock effect of the Japanese attack on Pearl Harbor.
(...) Moreover, as America becomes an increasingly multi-cultural society, it may find it more difficult to fashion a consensus on foreign policy issues, except in the circumstance of a truly massive and widely perceived direct external threat
” — Zbigniew Brzezinski, The Grand Chessboard, 1997.


Post Scriptum [11 Set 2006] — a elevação generalizada dos patamares de prevenção policial e o aumento de coordenação entre os serviços de inteligência de todo o mundo tem a enorme vantagem de tornar muito mais difícil os jogos sujos da Casa Branca e do Pentágono. Ora aí está um efeito benigno, e certamente inesperado pelos próprios, da “guerra contra o terrorismo”.





Notas
1 — Os média corporativos europeus, sob a pressão crescente da Web, têm vindo a abrir excepções ao bloqueio informativo sobre a conspiração do 11 de Setembro, entrevistando personalidades com visões radicalmente distintas das versões oficiais do 9/11 e exibindo mesmo videos de desconstrução dessas mesmas verdades mediáticas (como sucedeu no canal 2 da televisão pública portuguesa nos últimos dias). No entanto, estas excepções são pontuais, não afectando minimamente o discurso mediático dominante, que continua a referir-se ao 11 de Setembro como a grande obra de Bin Laden e do terrorismo mundial. Ou seja, os média corporativos, objecto de uma concentração accionista planetária sem precedentes, veiculam sobre esta matéria (como sobre muitas outras) um discurso típico da contra-informação, ao qual os desgraçados jornalistas não conseguem escapar, se não episodicamente, e sempre sabendo que tais atrevimentos lhes custarão seguramente o emprego e mesmo a carreira profissional.

PS [11 Set 2006] — Foi delicioso ouvir o antigo presidente português Mário Soares no programa televisivo Prós e Contras de 11/09/2006. Uma criança de oitenta anos completamente envolvida na discussão política em curso sobre o 11 de Setembro e as suas sequelas. Apesar das naturais falhas na sua memória de curto prazo, tomara a maioria dos políticos lusitanos terem metade do seu entendimento estratégico do mundo. O seu interlocutor, José Pacheco Pereira, ex-maoista típico e como tal, hoje, um homem de direita (ex- dirigente de um partido de centro-direita chamado PSD), falou como um converso do bushismo mais radical: há um “problema cultural” (e por isso não vê como seja possível deixar de esmagar o Islão), a ONU é um verbo de encher, a Convenção de Geneva não serve e quem puser um ‘mas’ à frente da palavra ‘terrorismo’ ou é um traidor, ou um papalvo ou, mais provavelmente, um potencial e perigoso fundamentalista islâmico. Para ele, os 2900 mortos dos atentados do 11 de Setembro são as vítimas de um terrorismo hediondo. Mas os 250 mil mortos causados pela invasão e ocupação do Iraque pelas tropas americanas e inglesas, não existem, porque no fundo, para ele, são apenas o pequeno preço a pagar pelos beneficiários da missão civilizadora dos Estados Unidos. Já quando delirava com Mao pensava o mesmo dos milhões de sacrificados da gloriosa revolução chinesa! Quando um dia parar para pensar um bocadinho dá-lhe uma coisa, coitado. Não fora a voz de Mário Soares e só teríamos ouvido a Voz da América na televisão portuguesa que hoje abriu todos os seus noticiários com o espectáculo do 11 de Setembro e a pantomima de George W. Bush.

2 — Quem é e onde está Osama Bin Laden? Vale a pena ler esta conclusão de um dos mais atentos observadores do grande jogo de estratégia global, Michel Chossudovsky: “Since the Cold War era, Washington has consciously supported Osama bin Laden, while at same time placing him on the FBI's "most wanted list" as the World's foremost terrorist.
While the Mujahideen are busy fighting America's war in the Balkans and the former Soviet Union, the FBI --operating as a US based Police Force- is waging a domestic war against terrorism, operating in some respects independently of the CIA which has --since the Soviet-Afghan war-- supported international terrorism through its covert operations.
In a cruel irony, while the Islamic jihad --featured by the Bush Adminstration as "a threat to America"-- is blamed for the terrorist assaults on the World Trade Centre and the Pentagon, these same Islamic organisations constitute a key instrument of US military-intelligence operations in the Balkans and the former Soviet Union.
Link1, Link2

Referências
9/11 Time Line
Bush's Behavior on 9/11
Project for the New American Century (website).
Rebuilding America's Defenses — Strategy, Forces and Resources For a New Century, September 2000.
Michel Chossudovsky, America's "War on Terrorism".
David Ray Griffin, The New Pearl Harbor: Disturbing Questions About the Bush Administration and 9/11 + The 9/11 Commission Report: Omissions And Distortions.
Michael C. Ruppert, Crossing the Rubicon.
Sander Hicks, The Big Wedding.
Paul Thompson, The Terror Timeline.
Nafeez Ahmed, The War on Freedom e The War on Truth.
Webster Griffin Tarpley, 9/11 Synthetic Terror: Made in USA.
Loose Change 2n edition (vídeo).
Loose Change in Wikipedia
Loose Change, discussão com os autores no canal Democracy Now
David Ray Griffin, The 9/11 Commission Report: Omissions and Distortions (vídeo/ a melhor introdução a uma análise crítica do 11S)
9/11 Information Center — uma referência obrigatória.
9/11 blogger
9/11 for Truth Movement esgota sessão no Conway de Londres, 09 Set 2006. Nesta sessão David Ray Griffin, professor emérito de filosofia da religião da universidade de Claremont, e autor de “The New Pearl Harbor: Disturbing Questions About the Bush Administration and 9/11 ” e “The 9/11 Commission Report: Omissions And Distortions”, perguntará à audiência: "Foi o 11 de Setembro uma conspiração interna?" ("Was 9/11 an inside job?")

OAM #141 09 SET 2006

domingo, setembro 03, 2006

Israel-Libano 5

Azores
Açores, Canárias e Cabo Verde serão peças essenciais da futura estratégia europeia no Atlântico

A derrota americana no Líbano e a posição europeia


So what happens now? There are two places to look: inside the United States, and in the rest of the world. In the rest of the world, governments of all stripes are paying less and less attention to anything the United States says and wants. Madeleine Albright, when she was Secretary of State, said that the United States was "the indispensable nation." This may have been true once, but it is certainly not true now. Now, it's a tiger at bay.”
The Tiger at Bay: Scary Times Ahead by Immanuel Wallerstein, Sept 1, 2006

Não ouvi Durão Barroso, presidente invisível da União Europeia, nem o novo ministro português dos negócios estrangeiros, Luis Amado, assumirem posições claras sobre a ilegitimidade e desproporcionalidade bélica da intervenção israelita no Líbano. Ouvi, no entanto, o mesmo Amado admitir a possibilidade de Portugal participar no esforço de estabilização da região após o conflito. Ouvi também, mas só agora, o Sr. Durão Barroso reclamar por uma Europa mais pronta e apetrechada para reagir a futuras emergências deste género (lembram-se de Mário Soares pugnar por um braço militar e por uma política europeia de defesa?). Em ambos os casos, tratou-se, por um lado, de recuperar tempo perdido na reacção aos acontecimentos, e por outro, de ganhar algum espaço de manobra na prossecução incompreensível de uma postura de vassalagem ao amigo americano. O caso do vanguardismo pró-sanções contra o Irão (o maior fornecedor de petróleo à Europa) do ministério Amado é um bom exemplo da falta de visão e coragem no actual transe da geo-estratégia global.

Do Sr. Barroso não podemos esperar nada para o futuro da Europa, nem sequer para o futuro de Portugal. O homem revelou ser apenas um pequeno atlantista sem história nem futuro. Já no que se refere ao MNE lusitano, interessa perceber o que lhe vai eventualmente na alma. Até porque o essencial do Novo Grande Jogo estratégico deste pretendido Novo Século Americano passa por saber como desmamar os EUA do seu conforto imperial, economicamente falido.
In the space of 12 months Russia and China have managed to move the pieces on the geopolitical ‘chess board’ of Eurasia away from what had been an overwhelming US strategic advantage, to the opposite, where the US is increasingly isolated. It's potentially the greatest strategic defeat for the US power projection of the post World War II period. This is also the strategic background to the re-emergence of the so-called realist faction in US policy.”
America's Geopolitical Nightmare and Eurasian Strategic Energy Arrangements by F. William Engdahl, May 7, 2006


A Espanha disponibilizou 800 a 1000 militares para a força de interposição entre o Sul do Líbano e Israel, e mais de 26 milhões de euros para o bolo da reconstrução das infra-estruturas daquele país. Esta decisão, na sequência do determinismo e sentido de oportunidade de Romano Prodi, que arrastou uma França titubeante para a cabeça da força internacional da UNIFIL, colocou a União Europeia num novo e fundamental patamar de acção estratégica, alternativo aos interesses dos Estados Unidos e da anacrónica NATO (que já só existe como vigário da super-potência americana). Apesar dos riscos evidentes, parece óbvio que todos — Europa, Líbano, Hezbollah, Síria, Irão e sobretudo Israel (depois do isolamento em que actualmente se encontra a Administração Bush e o próprio governo Israelita) — têm razões para desejar que a operação corra bem. Trata-se, no essencial, de travar a natureza particularmente agressiva e perigosa da actual deriva estratégica dos Estados Unidos, e de multipolarizar de novo os equilíbrios estratégicos globais. Ora para isto, ao que parece, todos os santos e demónios estão dispostos a ajudar! (1) Neste sentido, devemos apoiar a colaboração portuguesa no esforço militar, logístico e financeiro de reconstrução e segurança do Líbano.

Mas este apoio deverá ser crítico e exigente. O governo tem, assim, que ser mais europeu em matéria de política externa, e mais consequente quando toma decisões. Enviar um destacamento de engenharia militar para a Força é uma decisão provavelmente acertada. Mas não dar um tostão para a reconstrução do Líbano, ou ficar calado sobre o assunto, é um intolerável sinal de miserabilismo político! No mínimo, Portugal deveria disponibilizar 25% da contribuição espanhola, o que viria a dar em 4,5 milhões de euros. Só depois faria sentido tanta preocupação com a possibilidade de os militares portugueses virem a estar subordinados a um sub-comando espanhol (2).

Portugal pode e deve jogar, com o Reino Unido, e com a Espanha, um papel decisivo na reformulação do posicionamento da Europa no Atlântico e nas relações de fundo com os países americanos. Desde logo, pondo em marcha uma renegociação séria dos acordos militares com os Estados Unidos (nomeadamente no que se refere aos usos e contrapartidas da base militar da Lages). E depois, promovendo activamente a associação, ou mesmo a integração, de Cabo Verde na União Europeia. Mas para aqui chegar terá que começar por se tornar mais previsivelmente europeu na sua política externa, e mais determinado e credível nas acções.

A impotência militar revelada pelos Estados Unidos e seus fieis aliados na prossecução das agressões dirigidas contra o Afeganistão, o Iraque e agora o Líbano pode ter aberto uma verdadeira Caixa de Pandora na política mundial. Começou inexoravelmente um movimento de ajustamento tectónico dos equilíbrios de forças à escala planetária. Trata-se, por isto mesmo, de uma crise perigosa e que pode a qualquer momento tornar-se explosiva e incontrolável. A Europa, neste contexto, poderá ser a carta decisiva no necessário reajustamento da justiça entre as nações.
The United States is today the greatest military power in the world. Israel is today the greatest military power located in the Middle East. One of the most obvious temptations of military superiority is to use military force when one wants to accomplish something which is resisted politically. The United States decided to use force against Iraq in 2003. Israel decided to use force against Lebanon in 2006. In both cases, the governments made these decisions, calculating that they could surely win the military conflict, and win it quickly.

Normally, the greatest military power in the world or in a given region can indeed win such military engagements, and win them quickly. That is what we mean when we say they are the greatest military power. But winning depends on a situation in which the military gap between the two states is truly overwhelming. If it is less than overwhelming, the decision to resort to military force can backfire, and backfire badly.

Five Reasons Why Great Military Powers Lose Wars by Immanuel Wallerstein, Aug 15, 2006


Actualização [12 Set 2006] — O uso de bases aéreas militares e civis portuguesas para o trânsito de aeronaves ao serviço da CIA, da NSA e do Pentágono, transportando prisioneiros clandestinos de e para o campo de concentração de Guantanamo, de e para prisões clandestinas em solo europeu (onde alegadamente se praticaram actos de tortura), é um abuso grosseiro da aliança transatlantica entre a Europa e os Estados Unidos, de que Portugal é parte constitutiva. O governo português tem a obrigação estrita de informar diligentemente a comissão de inquérito constituída na União Europeia para apurar a verdade, dimensão e gravidade dos factos imputados à descarada Administração Bush. Perante a gravidade destes factos, a União Europeia deve, sem hesitação, redefinir os graus de liberdade dos vários serviços e forças estado-unidenses acantonados e em trânsito na Europa. Imagine-se o que teria sucedido se a história se tivesse passado na direcção contrária, i.e. se aviões europeus transportassem prisioneiros clandestinos para serem interrogados nos EUA. A América vai ter que perceber que o direito de pernada imperial acabou! Em Portugal, onde este escândalo acaba de rebentar depois de ouvirmos um agente da CIA afirmar num video-documentário canadiano que havia aterrado nos Açores em missão relacionada com prisioneiros de Guantanamo, e de se saber que tais missões passaram pelos aeroportos açorianos de Santa Maria e das Lages, e ainda pelos aeroportos do Porto e de Tires (situado na área metropolitana de Lisboa) assiste-se a um silêncio comprometedor por parte das principais araras do comentário político institucional. Estou em crer que o pacto sobre a Justiça subitamente assinado pelos dois principais partidos lusitanos (PS e PSD) foi antes de mais uma cortina de fumo lançada sobre as evidentes provas de subserviência do estado português à arrogância imperial dos Estados Unidos. Espero que os patriotas de ambos os partidos com vocação governamental e das oposições de esquerda e de direita se unam contra este capitulacionismo vergonhoso. Já chegou a Conferência de Berlim de 1884-85!




NOTAS
1 — A visita do Sr. Annan a Teerão, além de legitimar a emergência de uma nova potência regional, revelou um Ahmadinejad menos anti-semita e disposto a rever calmamente a questão nuclear à mesa de negociações, enquanto dava a entender que a segurança das fronteiras libanesas deixou de ser uma tarefa do Hezbollah, porque a Europa, vários países árabes e sobretudo o Irão estão determinados a desempenhar esta tarefa crucial daqui para a frente. Ver noticia na BBC (03 Set 2006)
2 — Nesta matéria, eu preocupo-me mais com o facto de a Pesca Nova desembarcar em Mira para produzir 10 mil toneladas de peixe em regime de aquicultura, superando a produção atomizada das restantes 1472 empresas do sector [Expresso, 2 Set 2006], do que com a subordinação dos nossos engenheiros militares a um comando castelhano. Não por temer a ‘invasão espanhola’. Mas simplesmente por verificar que segmentos decisivos da economia portuguesa (bens primários, energia, serviços, circuitos de distribuição e telecomunicações) têm vindo a sucumbir à lógica da concentração financeira especulativa e à globalização, enquanto os nossos financeiros e empresáros se entretêm com o lucro rápido da especulação bolsista, a venda apressada das suas empresas e a pressão constante sobre o Estado para que aliene as suas empresas de ouro, a fim de que a pandilha do Compromisso Portugal e quejandos possam posteriormente colocar tais empresas no mercado internacional. Estes senhores não devem porém esquecer que o regresso à nacionalização parcial das economias nacionais pode ocorrer mais cedo do que esperam, assim como a responsabilização de quem levianamente pôs os paises em saldo. Olhem para o que sucedeu aos novos oligarcas russos...

A não perder: George Galloway sobre o Líbano, Israel e as lavagens ao cérebro da Skynews

OAM #140 01 SET 2006

quinta-feira, agosto 31, 2006

Indianos contra a Coca-Cola

No Coke, Thanks
Coca Cola? Não. Obrigado. Prefiro chá verde!

Da privatização (roubo) das águas ao imperialismo dos refrigerantes


O Fascismo deveria ser chamado, com mais propriedade, Corporativismo, uma vez que é uma fusão do Estado com o poder das corporações”. — Benito Mussolini

A Coca-Cola e Pepsi são culpadas de causar severas faltas de água em comunidades por toda a Índia; poluir a água subterrânea e o solo nos arredores das suas unidades de enchimento; espalhar o lixo tóxico resultante dos processos de lavagem de vasilhame por vastas zonas agrícolas indianas pobres; vender refrigerantes misturados com elevados níveis de pesticidas — em alguns casos, superando 30 vezes os padrões aceites na União Europeia.
Pode argumentar-se, para dourar a pílula (como o fez o World Watch Institute), que o problema da água, seja o da sua falta dramática, seja o da sua má qualidade, ou seja o da contaminação induzida pelas enormes quantidades de adubos, fungicidas e pesticidas artificiais usados na produção de alimentos, é muito mais vasto e grave que o dos níveis de contaminantes contidos na Coca Cola e na Pepsi produzidas na India. Mas a verdade, porém, é que foram detectados (já em 2003) elevados níveis de chumbo, cadmiun e crómio nestes refrigerantes, sabendo-se ainda que as práticas abusivas destas empresas na apropriação dos recursos aquíferos nos países em desenvolvimento começa a tornar-se mais um problema mundial directamente ligado ao expansionismo americano. Bush interveio junto das autoridades indianas para impedir o alastramento do que ameaça ser um movimento nacional contra a presença daquelas multinacionais na India. Se falhar, podemos imaginar as tremendas ondas de choque que uma tal eventualidade poderá gerar no resto do mundo, a começar por alguns países muçulmanos, ou pela Colômbia, onde 8 sindicalistas foram assassinados por milícias privadas a soldo da Panamco, principal distribuidora da Coca Cola na América Latina. Motivo destes crimes: a denúncia das condições de exploração praticados nas unidades de enchimento do refrigerante.
Não é difícil prever as dificuldades que os oligopólios dos refrigerantes irão ter num futuro cada vez mais ameaçado pela descida constante das tabelas de água em todo o mundo.
Por mim, dispenso a Coca Cola e a Pepsi. Prefiro o chá verde dos Açores (o da Gorreana), o guaraná e as infusões geladas de hibisco. Além do mais, fique sabendo que o excesso de consumo de Coca-Cola foi a causa comprovada do aparecimento de osteoporose precoce em pré-adolescentes alemães! [Água versus Coca-Cola]




Referências
Suspected Soft Drink Contamination Raises Broader Questions About Food Safety in India. By Biko Nagara - August 30, 2006 — in World Watch Institute.
The Opposition to Coca Cola and Water Privatization. Activists in Medhiganj, India Rise Up. By Gina Drew e Mike Levien — in Z Net.
Coca Cola: Destruindo Vidas, Meios de Sobrevivência e Comunidades. Impossível Pensar. Impossível Beber! — in India Resource Center. Building Global Links for Justice.
Communities Reject Coca-Cola in India. by Amit Srivastava, India Resource Center. July 10th, 2003 — in Corp Watch.
Killer Coke
The Zero Coke Movement

OAM #139 31 AGO 2006

segunda-feira, agosto 21, 2006

Carrilho 3

Capa de Sob o Signo da Verdade. Ed. Dom Quixote

A arena da verdade

Acabo de ler, em segunda edição, o livro de Manuel Maria Carrilho, onde o próprio explica as causas da sua derrota na corrida eleitoral para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, cuja vitória viria a caber ao discreto político do PSD, Carmona Rodrigues. O modo directo como denuncia o “polvo” e a “matilha” de Gresham que se atiraram à sua candidatura autárquica, sem regras nem tréguas, é convincente. Percebe-se ao longo do livro como, de facto, a corrupta imprensa que temos se prestou ao linchamento mediático do candidato do Partido Socialista. A demonstração é meridianamente clara e vale a pena ler o livro só por isto.

Como escrevi noutra ocasião, os nossos média convencionais são empresas falidas, que empregam mão-de-obra precária e se subsidiam intermitentemente nos projectos de fabricação de consensos mais idiotas, ou mais próximos do poder económico e político. Eu zapeio um máximo de duas horas de televisão por dia, detendo-me algum tempo no Jornal das Nove, apesar dos salamaleques cómicos do Mário Crespo, e passando invariavelmente pelas notícias da Sky, BBC e Bloomberg. Vi irregularmente Sete Palmos de Terra e Os Sopranos, aprecio a comédia britânica (The Office, etc.) e abomino cada vez mais a TV Cabo e os seus pseudo-canais repetitivos. Vejo e ouço com alguma regularidade o Marcelo Rebelo de Sousa, e mais nenhum outro comentarista, na medida que este me parece o mais arguto e venal clown da nossa praça televisiva. Não vejo futebol, nem concursos, nem televonelas, nem touradas! Deixei há muito de comprar jornais portugueses, na medida em que continuam a sujar as mãos, raramente informam, continuam a dedicar-se soturnamente à manipulação incestuosa ou encomendada da informação e opinam miseravelmente. Tendo a Internet à mão, para que preciso do Expresso, do Público ou do Diário de Notícias? Para nada, de facto. Ora bem, é neste contexto que as mensagens de Manuel Maria Carrilho, quase sempre cheias de ruído, se não mesmo na forma pura e simples do boato, têm viajado até mim.

O seu programa eleitoral não me chegou às mãos, nem me chegou aos olhos, nem me chegou aos ouvidos. Passou-se exactamente o mesmo com os programas dos outros candidatos. O problema é que se nada havia a esperar do PSD, que acabava de provar a sua completa incapacidade para governar Lisboa e o País inteiro, e se nada de relevante poderíamos esperar dos dois partidos da esquerda minoritária — a não ser que cumprissem o seu dever de vigilantes democráticos no interior de uma instituição consabidamente macrocéfala, imbecil e corrupta —, pelo contrário, do candidato que corria pelo partido que poucos meses antes havia conquistado uma notável maioria absoluta, havia a maior das expectativas.

Por conseguinte, se o que sobressaíu da candidatura de Carrilho foram os faits divers, e não as suas ideias, algo terá falhado no quartel-general da sua campanha, para além da voragem canina dos paparazzi das agências noticiosas e dos venais jornalistas, editores e directores da provinciana e terceiro-mundista imprensa escrita e audiovisual que temos. Estou de acordo com a autocrítica que Carrilho faz no seu livro, num esforço de ultrapassar um episódio certamente dramático e triste da sua inesperada, intempestiva e meteórica carreira política.

Esta autocrítica está explicada através de seis factores que propiciaram o desastre e seis erros que contribuiram fatalmente para o mesmo.

São estes os factores: a imagem polémica do candidato; o regresso do publicitário Edson Athaíde a Portugal com a missão de orientar a sua campanha; o cansaço político dos eleitores depois de todas as peripécias que se sucederam ao abandono de António Guterres (que para todos os efeitos detinha uma maioria relativa para governar); a manipulação dos média por intermédio da agência noticiosa de Cunha Vaz (que entretanto assumira o encargo de promover Carmona Rodrigues); a vitória tíbia de Marques Mendes no Congresso do PSD, para quem uma derrota autárquica em Lisboa e no Porto poderia ser uma machadada antecipada no seu inglório consulado à frente do destroçado PSD pós-Barroso e sobretudo pós-Santana; e finalmente, o impacto negativo da nova austeridade governamental sobre a sua candidatura, que levaria seguramente alguns eleitores a castigar o PS, ou abstendo-se ou votando, por exemplo, no Bloco de Esquerda, ou mesmo no PCP.

E os erros foram, segundo Carrilho, os seguintes: não ter insistido na coligação de esquerda com o PCP; ter começado a sua campanha cedo de mais; não ter recorrido a uma agência de comunicação, quanto mais não fosse para compensar defensivamente a acção da Cunha Vaz; o voluntarismo e o vanguardismo conceptuais da sua campanha; o desafio que dirigiu ao lóbi da construção civil e da especulação imobiliária, traduzido no anúncio de uma aposta mais firme na reabilitação, contra o predomínio escandaloso das novas construções; e ainda, uma aposta errada no modelo dialéctico da campanha, a qual, escreve, deveria ter sido mais adversarial e menos propositiva.

Estou, em geral, de acordo com este balanço. Há, porém, mais algumas causas fundamentais para o insucesso de Manuel Maria Carrilho, que o mesmo parece ignorar, ou às quais não confere peso suficiente. A primeira, diz respeito à óbvia falta de habilidade como abordou e geriu o dossiê Bárbara Guimarães (além de sua mulher, Bárbara é uma estrela da televisão e da moda, o que exigiria sempre uma estratégia muito clara e transparente no uso da sua imagem, além de especiais cuidados na conjuntura hostil que se montou). A segunda, decorre dos efeitos nefastos que os coelhos do aparelho socialista (Miguel Coelho e Jorge Coelho) tiveram na marcha dos acontecimentos (o primeiro, manifestamente sabotando o apoio da Distrital do PS, e o segundo, desviando as atenções para Bárbara Guimarães no jantar da FIL de 13 de Julho). A terceira, deriva da pobreza dos materiais de comunicação utilizados (em vez de jornadas apressadas e inconsequentes e de excesso de vedetas interessadas na sua vitória, teria sido bem mais produtivo usar convenientemente a Internet e acções de rua criativas, como canais alternativos ao carnaval mediático que se montara contra si e contra a campanha do PS). A quarta, prende-se com a falta de ligação aos actores aparentemente secundários e invisíveis da cidade (refiro-me às associações e organizações sociais e culturais de Lisboa, que poderiam, se abordadas no decurso da própria formação das ideias programáticas, ter tido uma significativa influência no resultado final da eleição). A quinta, decorre da confusão entre a necessidade de transmissão de uma visão para Lisboa (“Mudar Lisboa” soou pretencioso, teria sido preferível propor-se, realisticamente, Melhorar Lisboa) e as medidas concretas de um programa de acção (onde anunciar a travagem do lóbi da construção, ou a redução para metade do contingente automóvel que todos os dias invade a capital foram duas ingenuidades de palmatória!) Finalmente, a forma dos argumentos do candidato foi frequentemente agressiva (esquecendo-se que os portugueses, em geral, não gostam de excessos de frontalidade e preferem, quase sempre, a ironia e as estratégias indirectas da oratória), e assim, Manuel Maria Carrilho não desfez, antes reforçou, uma certa imagem negativa que os média (mas também ele próprio) foram construindo de si ao longo do tempo. Neste contexto, o não aperto de mão a Carmona Rodrigues foi, todos o perceberam, fatal ao candidato do PS.

E no entanto, Manuel Maria Carrilho, que precisa urgentemente de rever os seus protocolos de comunicação e a sua retórica, continua a ser uma referência importante para a nossa democracia e uma possibilidade real para melhorar Lisboa. Teve a coragem de expôr a pobreza confrangedora do aparelho partidário do PS (que não é pior que os outros, entenda-se). Teve a coragem, a par de João Cravinho, de denunciar a corrupção instalada em Portugal. Teve a coragem de atacar sem medo os mastins da informação e os mercenários da opinião. Tem uma visão, no essencial, ajustada e justa para o nosso país. Não será nunca o seu fraquinho pela meritocracia, ou o bom gosto, que toldarão o seu desejo manifesto de lutar por uma sociedade menos estúpida, menos corrupta e mais inteligentemente solidária. Falta-lhe apenas aceitar que o lugar da verdade é uma arena, e não uma revelação.

OAM #138 21 AGO 2006

terça-feira, agosto 15, 2006

SOS Infante Santo

Infante Santo, Lisboa
Condomínio Residencial Lapa-Infante Santo, Av. Infante Santo 58 e 58a, Lisboa

Imobiliário, Corrupção e Autarquias


O problema da corrupção associado à especulação imobiliária e à destruição das cidades e das paisagen é, por assim dizer, universal. De Pequim a Nova Iorque, de Marbella a Bragança, de Bagdad a Beirute, e claro está, em Lisboa, a construção, pelo seu elevado efeito multiplicador na economia, exerce uma atracção fatal sobre muitos dos que se vêm envolvidos neste gigantesco sector económico. Quando não serve para construir, serve para especular na compra e venda de activos, ou para lavar dinheiro negro das mais diversas proveniências, quase sempre com a cumplicidade do sector financeiro (bancos, sociedades financeiras e off-shores.)

A propósito: nunca mais se ouviu falar dum tal Artur Albarrán, nem da empresa fantasma de que foi cabeça de turco (EUROAMER HOLDING, SGPS, SA), nem do verdadeiro papel de Frank Carlucci (então Presidente Emérito do Carlyle Group) neste negócio virtual, com sede no paraíso fiscal da Madeira, e que viria a descarrilar depois do 11 de Setembro... até se estatelar nas malhas cada vez mais partidarizadas da investigação criminal em 2003. É difícil encontrar melhor exemplo recente, entre nós, da resistente ecologia onde proliferam semelhantes formas de criminalidade organizada.

O caso do Condomínio Residencial Lapa-Infante Santo é, pelo que aparenta, um caso típico do estado de promiscuidade existente entre a política e o dinheiro, de que o negócio municipal é um dos principais veículos. Se neste caso não houve corrupção, tráfico de influências, financiamento ilícito de partidos, houve algo de muito errado, e há na resposta de Carmona Rodrigues ao relatório da Provedoria da Justiça, que acusa a autarquia de ilegalidades várias, um exemplo acabado do formalismo cínico e lata argumentativa. O Senhor Presidente da Câmara não percebe que ler diante dos jornalistas (sem direito a perguntas) a prosa gongórico-legal que lhe puseram na frente só pode aumentar as nossas suspeitas sobre a ilicitude do empreendimento e a obscuridade do comportamento dos sucessivos intervenientes nesta trapalhada, assim como a desconfiança citadina sobre a sua capacidade de liderar a resolução deste caso de uma forma exemplar, quer dizer, mandando demolir o que está mal construído, processando os intervenientes na teia de irregularidades e ilegalidades e reiniciando o processo com transparência. Por esta via, a democracia seria servida e ficaria claro o aviso aos actuais e futuros actores económicos, politicos e institucionais da cidade.

As duas empresas actualmente envolvidas neste processo são a FDO-Investimentos (de Braga) e a SALEMA QUINTELA (com interesses sobretudo a Sul do Tejo). Pergunta: que relação existe entre a FDO-Investimentos e a Braga Parque? Porque será que do sítio web da FDO desapareceu o portfólio de obras e clientes? Basta uma simples pesquisa na Net — "Braga Parque-Estacionamentos"+"FDO-Investimentos"; "Feira Popular"+"Parque Mayer"; "Braga Parque"+"Parque Mayer" e " Jose Sa Fernandes"+"Parque Mayer" — para chegarmos a algumas conclusões. Os casos de Bragança, do Parque Mayer e da Infante Santo revelam aquilo a que se chama um padrão comportamental. À medida que o caso avance, este padrão virá à tona dos principais média, e aí todas as hesitações e figuras tristes que o actual presidente da câmara da capital fizer apenas poderão contribuir para a possível formação de um movimento cívico com a finalidade expressa de exigir a sua demissão do cargo — em nome da lei, da democracia e da cidade.

Parece que 45% do empreendimento foi já vendido, ou prometido a compradores que sinalizaram a sua intenção de comprar. Se a construção vier a ser demolida, estes promitentes compradores terão que ser ressarcidos. Mas se a construção vier a ser demolida, em que situação ficarão as empresas que actualmente levam o negócio? Quantos anos estarão os promitentes compradores dispostos a esperar, se houver, como vai haver, um longo e duro processo judicial? Chegarão as referidas empresas ao fim da batalha jurídica? E quanto valerá no futuro este condomínio, tendo em conta tudo o que já se sabe sobre a sua origem, e ainda a crise do mercado imobiliário que chegará dos Estados Unidos à Europa, com toda a probabilidade, em 2008-2009?

Para saber os contornos exactos deste escândalo, vale a pena consultar o sítio web do grupo de residentes da Avenida Infante Santo, que desocultaram de forma brilhante e persistente mais um caso de má conduta autárquica e flagrante desrespeito pelos munícipes. Chama-se SOS-Infante Santo.

Os alfacinhas devem interessar-se pela sua cidade e exigir aos seus representantes eleitos que actuem como tal, i.e. como seus delegados na administração imaginativa, mas responsável, de uma urbe maravilhosa, que a ganância de alguns não tem o direito de desfigurar. A melhor forma de esclarecer e responsabilizar quem tiver que ser responsabilizado no escândalo da Infante Santo é interessarmo-nos pelo caso, pesquisar e comparar informações e argumentos, e finalmente divulgar as nossas próprias opiniões junto da comunidade. Só assim seremos capazes de enxotar os bárbaros que, mais vezes do que seria de esperar, ameaçam a beleza de Lisboa.


OAM #137 15 AGO 2006

sábado, agosto 12, 2006

Brasil, sinais de colapso?

cueca_do_mensalao
Pela dimensão que o problema atingiu entre nós, pelo fato de envolver personalidades na vida nacional e ganhar enorme relevo na opinião pública, a corrupção deixou de ser um amontoado de episódios menores da crônica policial, para se tornar uma questão política de suma importância para a Nação.” — in Declaração Programática do Partido da Social Democracia Brasileira.
Cueca do Mensalão

Eleições, banditismo em rede e guerra urbana


O primeiro ministro de Portugal, José Sócrates, visitou oficialmente o Brasil, entre 8 e 11 de Agosto últimos, a convite do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o qual se encontra (para quem não souber) em plena campanha eleitoral desde 6 de Julho. A visita do primeiro ministro português e secretário-geral do PS (Partido Socialista) é pois um sinal evidente de apoio à continuidade do antigo torneiro mecânico e fundador do PT (Partido do Trabalho) à frente dos destinos do maior país de língua oficial portuguesa.

Décimo primeiro país do mundo em produção de riqueza (PIB real), com uma renda média individual (PIB/capita) de US$8.400 — 92º na tabela de 214 países elaborada pelo World Fact Book da CIA — e uma taxa de crescimento moderada (2,4% em 2005), o Brasil continua a padecer de alguns problemas de modelo de desenvolvimento e de equilíbrio democrático muito sérios. O primeiro deles, é o agravamento contínuo das diferenças económicas, sociais e culturais, que separam os mais pobres dos mais ricos. O segundo, talvez menos visível, mas não menos preocupante, é o desemprego associado ao número de cidades com mais de 100 mil habitantes, e o terceiro, que tem sido usado indevidamente pelo PT no vale tudo eleitoral, é a insegurança urbana e suburbana que ameaça as duas principais megalópolis brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo. A verdadeira guerra urbana que tomou conta de São Paulo, com sucessivos ataques em 6 de Maio, 13 de Julho e 7 de Agosto últimos, dirigidos sobretudo contra as autoridades policiais, mas também contra fachadas de agências bancárias, quarteis de bombeiros e autocarros, deixou a cidade em estado de choque e muita gente preocupada por esse mundo fora.

A causa próxima e declarada destas confrontações é a situação das prisões brasileiras (1) e os sucessivos motins que nelas têm ocorrido nos últimos anos, em grande medida por causa da saturação dos estabelecimentos prisionais, falta de acompanhamento social adequado dos condenados, brutalidade incontrolada dos carcereiros, má gestão, falta de serviços de informações especializados e, em geral, subfinanciamento do sistema. No entanto, já não se trata apenas de um problema prisional, que a oferta de apoio militar por parte do presidente brasileiro — uma jogada eleitoral oportunista que o Governador de São Paulo fez e faz bem em rejeitar (2) —, ou a privatização das prisões, possam resolver (sobretudo se as empresas que vierem a dedicar-se a negócio tão sombrio forem sucursais do crime organizado). Há algo bastante mais preocupante nas sucessivas ondas de violência urbana dirigidas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Trata-se da formação de verdadeiras redes de criminalidade organizada com a capacidade de atrair sectores empobrecidos e marginalizados da sociedade brasileira para formas de confrontação civil cada vez mais radicais e generalizadas. A natureza meramente criminal das actuações até agora conhecidas poderá sofrer mutações no futuro, dando origem a novos modelos de acção social e política violenta bem mais complexos do ponto de vista ideológico. O PCC, depois de ter absorvido o chamado Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, tornou-se uma poderosa força de desestabilização, de momento regional, mas que poderá alastrar aos restantes estados brasileiros, criando uma ameaçadora federação do crime organizado, se entretanto os políticos brasileiros continuarem a brincar com o fogo.

O fim do petróleo barato vem arrastando consigo a subida geral dos preços de todos os outros combustíveis, dos cereais e das principais matérias primas. Este fenómeno irreversível está na origem da invasão do Afeganistão, das duas guerras do Iraque, da actual invasão do Líbano, de uma muito provável guerra dos Estados Unidos, Israel e Turquia contra a Síria e o Irão, e do mais que se verá, e não será bonito, até 2020-2030 — momento em que o actual modelo civilizacional colapsará em cadeia. Os Estados estão, na sua maioria e em todo o mundo, a caminho da falência. O mesmo se passa com todas as grandes cidades. Quando a vida urbana e suburbana se tornar inviável, por causa da hiperinflação, do desemprego estrutural galopante, da falta de alimentos frescos e da violência urbana e suburbana generalizada e exponencial, começará o êxodo em direcção à terra (espécie de reversão caótica do século 20). Em muitos países isso significará, pura e simplesmente, o início de guerras civis prolongadas que, nos casos bem sucedidos, acabarão por conseguir reajustar as sociedades às novas condições energéticas, climáticas e de mobilidade física e social dos povos. É por isto que a violência de São Paulo preocupa o mundo, muito para além dos cálculos eleitorais do Sr Lula da Silva e do seu corrupto PT.



Notas
1 — A criminalidade no Brasil (186 presos por 10 mil residentes) é bem menos preocupante do que, por exemplo, nos Estados Unidos da América, que detem a mais alta taxa de encarceramento do mundo: 690 presos por 10 mil residentes. Mais de 2 milhões de presos! O problema brasileiro tem sobretudo que ver com a sua cultura presidiária e com o fosso crescente entre ricos e pobres, que gera o caldo ideal da criminalidade de baixa intensidade (roubos, raptos económicos e pequenas agressões).
2 — “Estamos todos trabalhando, o Exército e a Polícia Militar, em harmonia, não houve um sentido de ruptura. Palavra de campanha eleitoral é uma coisa. Um governador de São Paulo que tem os pés no chão é outra coisa. Eu tenho os pés no chão.” — Cláudio Lembo.

OAM #136 12 AGO 2006

sexta-feira, agosto 11, 2006

Londres: plano terrorista abortado?

Somos nós que temos que mudar...


Explosivos líquidos conduzem a novas medidas de segurança nos aeroportos.

Strange that our beloved PM decides to jet out on holiday when we are on the brink of the biggest terrorist attrocity of all time (TM). Unless nobody told him ?” — in Guardian news blog

Reino Unido, 10 Ago 2006 — O caos aeroportuário que se seguiu ao alerta vermelho lançado pelas autoridades britânicas foi enorme, sobretudo, mas não só, nos aeroportos londrinos. A queda das acções das companhias aéreas e das empresas de viagens e turismo não se fez esperar. Depois disto, é natural que os turistas tendam a reavaliar as vantagens e desvantagens das viagens aéreas em determinadas épocas do ano e para certos destinos, sobretudo quando o petróleo chegar aos 100 dólares e as medidas de segurança começarem a pesar cada vez mais nos rituais de partida e chegada (tempos de espera, atrasos cada vez maiores, inspecções minuciosas, etc.)

De acordo com as autoridades britânicas, mais de duas dezenas de cidadãos do Reino Unido, de origem paquistanesa, preparavam-se para fazer explodir em pleno voo 12 aviões civis de passageiros tendo por destino vários aeroportos dos Estados Unidos: Nova Iorque, Washington, Los Angeles, Boston, Chicago. Segundo as mesmas autoridades, o plano previa que os aviões explodissem durante o sobrevoo dos populosos subúrbios que rodeiam os aeroportos americanos. Ou seja, se o plano tivesse surtido efeito, o morticínio poderia facilmente chegar às 5 mil pessoas (entre tripulações, passageiros, habitantes e transeuntes situados nas áreas de impacto).

Os efeitos de uma tal acção de sabotagem, se tivesse tido êxito, conduziriam provavelmente a economia ocidental a uma súbita paragem cardíaca, autorizando Bush e Blair a precipitar o mundo numa mais do que provável guerra regional de consequências imprevisíveis. Sob o pretexto de defender o mundo livre do “fascismo islâmico”, Bush e Blair (aflitos com a deterioração acelerada das respectivas margens de manobra no Médio Oriente) dariam carta branca a Israel para ocupar o Líbano, assegurando deste modo o controlo efectivo e duradouro do novo oleoduto que liga o Mar Cáspio ao Mediterrrâneo, vital para a subsistência energética de Israel e maior tranquilidade de uma Europa excessivamente dependente do petróleo iraniano e do gás russo. O menor incidente com a Síria ou com o Irão levaria os EUA, o Reino Unido e Israel (numa espécie de santa aliança judaico-evangelista acolitada pelo Sr Blair) a nova aventura bélica no Médio Oriente, desta vez, de grandes proporções. O uso de armamento nuclear táctico não estaria à partida excluído.

Ao abortar esta anunciada conspiração terrorista islâmica, os serviços secretos ingleses e paquistaneses adiaram objectivamente a hipótese de uma intervenção a curto prazo dos Estados Unidos e do Reino Unido no Líbano, na Síria e no Irão. É uma boa notícia!

Faltam todavia muitos factos e explicações para entender o estranho oportunismo deste quadro de crise. Segundo algumas personalidades inglesas de origem paquistanesa, o alarme criado poderá não ter passado disso mesmo: de uma operação psicológica, destinada a desviar as atenções dos eleitores britânicos e do mundo em geral do terror que Israel levou e continua a levar ao Líbano, com a cumplicidade activa dos Estados Unidos e do Reino Unido. Numa visão mais sinistra, há quem veja no desarmar desta conspiração terrorista islâmica um calculado jogo de Poker destinado a manter a pressão sobre a opinião pública ocidental no sentido de a fazer aceitar o intolerável belicismo em curso sob comando da Administração Bush, a acolitagem de Tony Blair e o apoio invisível das maiores petrolíferas ocidentais (BP, Chevron-Texaco, Shell, Total, Eni, ConocoPhillips, ITOCHU, INPEX, etc.) O Médio Oriente continua a ser o prémio deste grande jogo, e o protectorado de Israel a principal desculpa da diplomacia ocidental.

Mas vamos admitir, como parece razoável fazê-lo neste momento, que uma vintena de jovens muçulmanos radicais, ingleses, de origem paquistanesa, se lançaram mesmo na concepção e preparação deste ataque suicida. A primeira pergunta que os ingleses e todos nós, ocidentais, temos que fazer a nós próprios é: porquê?! A melhor maneira de responder é pormo-nos no seu lugar... Imaginemo-nos uma minoria branca e cristã num país muçulmano tolerante, mas onde somos invariavelmente tratados como cidadãos de segunda classe, com empregos de segunda classe, com salários de segunda classe, e ainda por cima olhados como potenciais terroristas. Depois imaginemos que os longínquos países de onde os nossos pais vieram são objecto de cobiça dos nossos governos, e que estes lhes movem guerras sucessivas, com pretextos invariavelmente hipócritas ou cínicos, com o objectivo efectivo de os manipular e explorar, sem nenhum respeito pelas suas populações — irmãos, tios, cunhados, avós dos nossos pais... Talvez não seja assim tão difícil perceber o ódio crescente do mundo muçulmano pelo Ocidente. Somos nós que estamos errados. Somos nós que teremos que mudar, sob pena de nos afundarmos na nossa própria ganância, cegueira e bestialidade.

Ler a propósito: Guardian special report



Actualizações
[20 Ago 2006] Depois da histeria securitária gerada pelos serviços secretos e de segurança ingleses em volta deste putativo mega-atentado, crescem as suspeitas sobre a real verosimilhança do mesmo e as intenções ocultas do que começa a parecer cada vez mais como mais uma sórdida operação de guerra psicológica. Vale a pena ler algumas reflexões sobre os antecedentes deste tipo de operações e ainda sobre as fantasias em volta dos shampôs explosivos e outras patetices a la James Bond Ordem para Matar. O artigo é de Michel Chossudovsky e chama-se: Crying Wolf: Terror Alerts based on Fabricated Intelligence.
[17 Ago 2006] O alarmismo e a histeria securitária de ingleses e estado-unidenses em volta do anunciado mega-atentado abortado pelos serviços de informações britânicos e paquistaneses está a transformar-se numa verdadeira borla publicitária para os movimentos radicais muçulmanos. Ninguém conhece pormenores relevantes sobre a putativa conspiração terrorista, mas os aeroportos ingleses continuam num caos e as comunidades muçulmanas do Reino Unido vêm-se submetidas a uma enorme pressão policial e mediática. Abortaram uma operação de sabotagem destinada a gerar o pânico mundial, mas seis dias depois do grande alarme um avião civil da United Airlines foi forçado, por caças bombardeiros, a uma aterragem de emergência tão simplesmente por uma passageira de 60 anos ter sofrido um ataque de pânico!

A teoria da longa guerra contra o terrorismo, defendida pelo complexo industrial-militar americano (representado eufemisticamente pelos chamados neo-cons), parece ter uma voz londrina chamada John Reid. Este trabalhista, recém nomeado para o cargo de UK Home Secretary, parece mover-se na administração interna britânica com o mesmo tipo anfetamina securitária e anti-islâmica administrada a George W. Bush. Para ele, a ameaça islâmica radical é permanente, e assim sendo, haverá que montar um dispositivo anti-terrorista permanente, hiper-visível e irritantemente incómodo, como se as polícias não pudessem fazer o seu trabalho de modo mais discreto e sobretudo sem avisarem os terroristas pelos jornais e televisões do que andam a fazer... Esta entrada de leão do Sr. Reid está condenada a uma saída de sendeiro. Até agora, parece não ter feito mais do que uma monumental campanha de relações públicas a favor da Al Qaida! Se continuar com o mesmo estilo, talvez consiga mesmo afundar a indústria aeronáutica do seu país (companhias aéreas, aeroportos e alguns segmentos importantes da hotelaria e turismo). Finalmente, a sua propensão para políticas de anti-imigração e restrição de direitos e garantias democráticas, só poderá aumentar a vaga de fundo que no Partido Trabalhista se prepara para varrer o Sr. Blair para debaixo do tapete da História.

A Europa tem que definir urgentemente uma estratégia de coexistência pacífica e de cooperação económica e cultural construtiva com os principais países árabes e muçulmanos, sabendo ao mesmo tempo definir uma agenda democrática firme, embora paciente e ajustada, para os vários países envolvidos. O objectivo estratégico de fundo da Europa é impedir as consequências práticas das teorias reaccionárias que afirmanm estarmos perante um choque de civilizações. Esta é a visão da América mais reaccionária, decadente e imperial, protagonizada pela desesperada administração Bush. Não pode ser a visão da Europa. A reforma antecipada do actual Primeiro-Ministro inglês seria uma grande ajuda na clarificação desta diferença essencial

[11 Ago 2006] “(...) we must drop the metaphor of a ‘war on terrorism’. Wars are mostly fought with arms on battlefields between soldiers of opposing countries. Wars have beginnings and ends. None of these characteristics apply here. Terrorism can now be carried out with boxcutters and airplanes as easily as with explosives. Office buildings and commuter trains and coffee shops are today's battlefields. There are no uniforms, and often those doing the killing are acting in the name of causes or movements. And there is no end in sight. To the contrary, terrorism is now part of the fabric of contemporary life.” — Richard N. Haass in CRF.org.

OAM #135 11 AGO 2006

quinta-feira, agosto 10, 2006

Israel-Libano 4

Guterres. C Refugiados
Antonio Guterres no lançamento do futuro Centro de Acolhimento de Refugiados

Como estamos a receber os refugiados libaneses?


Chama-se Rania Safar, libanesa, da comunidade cristã-muçulmana da zona Oeste de Beirute. Tem 32 anos, estudou nas universidades de Beirute e Paris, formou-se em Jornalismo, possui um diploma de estudos avançados em Ciências Políticas e um mestrado em História e Geografia. Deixou o Líbano no dia 11 de Julho de 2006 para assistir a uma conferência em Marrocos, onde deveria ter permanecido três dias. Chegou a Lisboa no dia 27 de Julho, Quinta-feira.

Recomecemos: a 12 de Julho o Hezbollah ataca uma patrulha israelita que circulava em território palestino ocupado. Do recontro resultam 3 militares israelitas mortos e dois prisioneiros. Israel recusa uma proposta de troca destes prisioneiros por prisioneiros do Hezbollah e exige a libertação incondicional dos militares israelitas. O Hezbollah rejeita a exigência do governo de Israel. No dia seguinte, 13 de Julho, pelas 06h00, a aviação israelita bombardeia com mísseis o aeroporto internacional de Beirute. Às 07h30 o aeroporto é encerrado sine die. Na impossibilidade de voar para Beirute, Rania decide seguir para Lisboa, onde a espera uma amiga libanesa, refugiada da anterior guerra israelo-libanesa (1982).

A 2 de Agosto de 2006 Rania entrega um pedido de asilo no Gabinete de Asilo e Refugiados
do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). Compareceu no SEF no dia 8 de Agosto. Foi convidada a comparecer de novo naquele serviço no próximo dia 25 de Agosto...

Rania dirigiu-se aos serviços portugueses responsáveis por este tipo de situações. Mas alguns outros refugiados não o fizeram, nomeadamente por temerem um repatriamento forçado, causado eventualmente pela improbabilidade de poderem satisfazer todos os requisitos da Lei de Asilo. Fiquei por conseguinte a saber que chegaram a Portugal, no mínimo, uma dezena de refugiados da guerra actualmente em curso no Líbano.

Curiosamente, os média convencionais ainda não se fizeram eco desta situação, embora destaquem diariamente a crise libanesa e o drama humanitário que se vive naquele país mediterrânico. Ouvimos falar da AMI e dos seus peditórios, do vanguardismo do actual ministro da Defesa (que resolveu anunciar extemporaneamente a sua vontade de enviar militares portugueses para uma eventual força de interposição no Sul do Líbano!), da quebra de neutralidade portuguesa no conflito (autorizando a aterragem na base militar das Lages de um avião militar israelita), mas, curiosamente, ainda não ouvimos o governo anunciar a sua disponibilidade para bem receber eventuais refugiados da guerra em curso no Líbano que eventualmente se dirijam para o nosso país.

A crise energética actual tenderá a agravar-se ao longo de todo este século. Muitos são os que duvidam da possibilidade de reconverter o actual paradigma energético e o actual modelo económico global (baseado no crescimento e consumo permanentes) nos próximos 20 ou 30 anos. Assim sendo, a actual instabilidade mundial tenderá a ter como sua principal zona nevrálgica todo o Médio Oriente. Nesta circunstância, o Mediterrâneo e a Europa serão inevitavelmente palcos de tensões, conflitos bélicos e crises humanitárias. Portugal e a Europa devem pois preparar-se quanto antes para a longa emergência que nos espera a todos.

Em matéria de política, diria que Portugal deverá promover uma posição europeia de consenso sobre as questões essenciais. E em matéria de energia, a questão essencial é o direito de toda a humanidade ao uso racional, ponderado e justo dos recursos disponíveis, sem divisões pela força, nem chantagens de qualquer tipo.
Em matéria de solidariedade global, diria que Portugal tem que olhar para as suas prioridades (que são, na realidade, as mesmas de toda a Europa) e tornar pública, transparente, estável, expedita e humana a sua acção, dentro e fora das suas fronteiras. A aplicação das leis, nomeadamente as que se referem ao asilo e acolhimento de refugiados, será a primeira pedra de toque do nosso real comprometimento com as responsabilidades que nos esperam.

Observemos pois como vai lidar o actual governo socialista com a crise humanitária e política gerada pela invasão do Líbano.


Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Conselho Português para os Refugiados
Refugiados.net



OAM #134 10 AGO 2006

terça-feira, agosto 08, 2006

Cuba 1

Fidel Castro e Joao Paulo II, Cuba, 1998
Papa João Paulo II, de visita a Cuba, em 1998, condena o Embargo dos EUA

A manobra cubana de Condolezza Rice


Filho ilegítimo de um imigrante galego, instruído por jesuitas, advogado e doutorado em Direito, Fidel Castro não poderia ter combinado melhor o gene paternalista e autoritário do Noroeste ibérico com o peso da bastardia — arrastada até aos 17 anos de idade —, a sabedoria perversa da congregação de Jesus e a manha político-diplomática aprendida no estudo das leis. Como se isto não bastasse para formar um político de gema, Fidel Castro aprendeu tudo o que havia a aprender no manejo de armas de fogo e nas tácticas de guerrilha — e leu ainda as funestas teorias leninistas e trotskystas sobre a ‘violência revolucionária’ e o ‘humanismo burguês’. Das 20 mil vítimas da sua longa revolução (1959-2006), 16 a 18 mil foram executadas na sequência da ofensiva de 1958, sendo as restantes alvos de assassínios extra-judiciais, desaparecimentos e mortes em cativeiro — a cargo de guardas prisionais ou da falta de cuidados médicos apropriados.

Esta contabilidade sinistra fica, todavia, muito aquém da monumentalidade das carnificinas e do inominável sadismo que caracterizou a selvajaria civilizacional do século 20: revolução mexicana, revolução russa, guerra sino-japonesa, duas guerras mundiais, nazismo, estalinismo, revolução chinesa, guerra civil espanhola, guerra da Coreia, guerra do Vietnam, regime de terror de Pol Pot, ditadura de Suharto, guerras israelo-árabes, guerra Irão-Iraque, fragmentação da Jugoslávia, as duas guerras contra o Afeganistão, Chechnya, Ruanda, Congo, Angola, Libéria, Etiópia-Eritreia, Sudão, Tailândia, guerras do Iraque 1 e 2,...

Comparado com o que ocidentais e orientais, árabes, judeus, cristãos e indus, democratas, comunistas e fascistas foram capazes de fazer, em número e barbaridade, ao longo de todo o século 20, é preciso dizer que o regime de Fidel Castro, apesar do mal que fez, merece indubitavelmente a consideração de algumas atenuantes.

Ninguém sabe ao certo se a rigidez do regime teria acabado mais cedo, não fora a proverbial falta de jeito e mão dura da América de John Foster Dulles, Henry Kissinger, Robert McNamara, Caspar Weinberger, George Shultz, Dick Cheney e Donald Rumsfeld.

Se o Embargo imposto pela super-potência a Cuba, a partir de 1958, não tivesse ocorrido, talvez não se tivesse seguido a célebre crise dos mísseis de 1962, e o posterior agravamento do embargo, que dura, é bom lembrar, até aos dias de hoje. Os americanos deixaram de comprar açucar, charutos e serviços aos cubanos. Mas não só. Também tentaram impedir o resto do ‘mundo livre’ de negociar com este pequeno país de 11 milhões habitantes! A brutalidade da medida é tão humilhante quanto ridícula vinda de quem vem: uma super-potência com mais de 250 milhões de habitantes, conhecida por alimentar ditaduras de conveniência em todo o planeta, assassinar líderes nacionais inconvenientes — Enrico Mattei em Itália, Allende no Chile, Jaime Roldós em El Salvador, Omar Torrijos no Panamá, etc. —, desenhar golpes de Estado e movimentos insurreccionais, provocar e fazer guerras um pouco por todo o planeta.

A condenação do embargo estado-unidense pelo Papa João Paulo II, na sequência de uma viagem estatégica a Cuba, mostrou ao mundo que aquele regime marxista foi, com grande probabilidade, um dos mais suaves da Guerra Fria, e que há algo bem mais profundo do que aquele verniz ideológico conjuntural: o catolicismo do povo cubano. O mundo deveria saber que Cuba foi e é desde sempre um país católico tradicional, que Roma não gostaria de ver subjugado pelo fundamentalismo evangélico, protestante e milenarista, que inspira a deriva imperial dos Estados Unidos, sob a batuta alucinada do falanstério que tomou de assalto a Casa Branca.

A pequena ilha fez frente ao grande vizinho e este, com um inqualificável mau perder, montou uma ‘Cuba livre!’ em Miami e prepara-se, no momento em que o velho timoneiro cede à doença e ao tempo, para desencadear uma ampla e desestabilizadora manobra diplomático-militar pelo controlo do petróleo e demais matérias primas de todo o continente americano (sim, do Canadá ao Chile!) A hipócrita, gananciosa e desumana América quer abrir uma nova e decisiva frente de batalha pelo domínio da América. Espero sinceramente que o tiro lhe saia pela culatra.

Aos neo-atlantistas falidos do meu país pergunto: e quando esta manobra ocorrer, de que lado estarão, e pretenderão que esteja Portugal?



NOTAS
Cuba sustentável. Com o fim a União Soviética, Cuba perdeu em apenas um ano 50% das suas disponibilidades petrolíferas! A sua adaptação a esta emergência energética está a ser um dos mais interessantes case studies sobre o destino das sociedades pós-petrolíferas. Vale a pena ler o Power Point Cuba — a Peak Oil Country (6.1Mb), elaborado por The Community Solution: The Solution to Peak Oil
Neoturismo em Cuba. Tomei uma decisão: a próxima viagem fora da Europa será a Cuba: Havana, Pinar del Rio, etc., tendo o cuidado de eleger o pacote mais favorável à economia local. Os agentes turísticos internacionais há muito que anteciparam este cenário (com especial destaque para espanhois e ingleses). No imediato, pode ser um importante canal de entrada de divisas num país que delas precisa desesperadamente. O turismo convencional é pura imbecilidade consumista, mas podemos escapar a este tipo de fatalidade e fazer das nossas explorações urbanas e campestres (locais, nacionais e internacionais) verdadeiras aventuras psicogeográficas, com um sentido preciso das nossas responsabilidades éticas e exigências estéticas. Eu quero conhecer as vegas onde se cultivam o tabaco e produzem os inesquecíveis puros cubanos, percorrer as ruas de La Habana, conduzir um daqueles milagrosamente conservados Buicks dos anos 50, pisar uma praia de areia branca e mar cálido e dançar por uma noite tropical adentro.

OAM #133 08 AGO 2006

sábado, agosto 05, 2006

Portugal 1

Os sete pecados mortais de um país

Segundo os valores estimados para 2005, dos 214 países considerados, mais de metade (110) crescia a valores do PIB entre 4% e 26,4%. Cresciam a 8% ao ano, ou mais, 24 destes países. A generalidade dos chamados países desenvolvidos crescia abaixo dos 4%. A União Europeia, por sua vez, crescia a uma média de 1,7% ao ano. Portugal, ocupando a posição 202 entre 214 países, crescia tão só a 0,30% ao ano...
Dizer que este país cresce abaixo da média da União Europeia é, como se vê, uma verdade piedosa sobre a crise que efectivamente atravessa. Piores que os lusitanos apenas há 12 países: Itália, Tanzânia, Niue, Dominica, Monserrate, Saint Kitts and Nevis, Guiana, Iraque, Malawi, Seychelles, Maldivas, Zimbabwe.

Não fora pertencer à União Europeia, Portugal estaria hoje à beira de convulsões sociais muito sérias. A prosperidade aparente de que goza deve-se, basicamente, a cinco causas principais: as remessas dos emigrantes portugueses residentes na União Europeia (que deixaram de ser contabilizadas como receitas de emigração...), os fundos comunitários, a economia informal e clandestina, o turismo e o endividamento imparável do Estado. A balança comercial tenderá, porém, a deteriorar-se no médio e longo prazo, por causas mais ou menos óbvias: valorização do Euro contra praticamente todas as outras moedas, deslocalização crescente dos investimentos dentro e fora da zona Euro, destruição interna das actividades alimentadas por trabalho intensivo, barato e de baixa produtividade e falta de competitividade dos custos de contexto: carga fiscal, preço da energia, excentricidade geográfica, falta de transparência estratégica do país e falta de qualidade do sistema judicial.

Deixando de lado o optimismo inconsciente de alguns governantes, conviria, antes de mais, identificar quais são efectivamente as causas principais do declínio relativo do país. O diagnóstico é mais ou menos conhecido:

  1. Um Estado obeso, tentacular, autoritário, ineficaz e com profundos veios de corrupção instalada

  2. Um bi-partidarismo efectivo, que foi sendo paulatinamente transformado num regime político de base endogâmica e clientelar, protegido por um tecto parlamentar aburguesado e retórico (de cujo atrofiamento político nem os pequenos partidos escapam)

  3. Um país dependente e ineficiente do ponto de vista energético, fruto de uma desorganização territorial escandalosa, a qual preside a um modelo de desenvolvimento local e regional basicamente assente na especulação imobiliária e na privatização da propriedade pública (baldios, espaço público urbano, etc.)

  4. Fragilidade extrema dos sectores primários da economia, sobretudo nas áreas da agricultura, aquacultura, silvicultura e pescas

  5. Manutenção de um sistema de ensino estatista, retórico, elitista, improdutivo, burocrático e sem objectivos

  6. Um sistema de Justiça incapaz, socialmente injusto e espartilhado entre corporações formadas no anterior regime

  7. Um sistema de saúde e segurança social todavia longe da eficiência esperada num Estado europeu competitivo


Embora não possa ser considerado um pecado capital, deve ainda assinalar-se como factor de entropia a falta de qualidade informativa e cognitiva dos meios de comunicação de massas. Esta fragilidade deriva em grande parte do modelos económicos das respectivas empresas e conglomerados, actualmente incapazes de manter-se sem recorrer a sucessivas engenharias financeiras que, na maioria dos casos, têm vindo a tecer uma crescente dependência dos principais média nacionais dos interesses económicos e políticos instalados. Em vez de um efectivo quarto poder, os média lusitanos transformaram-se, ao longo da década de 90, em meras agências de contra-informação dos lobbies dominantes. A omnipresença do futebol no imaginário quotidiano dos média portugueses, os frequentes assassínios de carácter promovidos pelas televisões e jornais, os chamados sound bites, as campanhas promocionais de projectos inviáveis ou injustificados pelas verdadeiras frentes de projecto público-privados (F3P), de que o caso da Ota é, de momento, o mais preocupante e revelador, ou ainda a difusão acéfala de produtos mediáticos destinados à pura anestesia social, revelam até que ponto o quarto poder deixou de contar como um desejável factor de desenvolvimento, cidadania e civilização.

Tudo isto é triste e vai tornar-se trágico à medida que a União Europeia for perdendo a sua unidade programática, seja pela manifesta incapacidade de redigir uma carta constitucional consensual, ou de alinhar uma estratégia defensiva comum.

Ou Sócrates percebe isto a tempo, ou Cavaco Silva acabará por ter a sua oportunidade presidencial.

Listagem de países por PIB (in CIA - The World Factbook)

OAM #132 05 AGO 2006

terça-feira, agosto 01, 2006

Israel-Libano 3

Caixoes Libano
O seguidismo europeu face ao trio Bush-Olmert-Blair só pode conduzir a Europa ao desastre.

Europa sem vergonha


Se todos sabíamos que Israel é há muito o cavalo de Tróia dos EUA no Médio Oriente (1), na realidade uma verdadeira extensão armada até aos dentes da América, ficámos agora a saber que o Reino Unido é o cavalo de Tróia dos EUA na União Europeia. A inacção desoladora da ONU, que nenhum dos grandes países e respectivos afilhados respeita, foi escandalosamente secundada pela mais humilhante derrota sofrida pela União Europeia naquela que teria sido a sua grande oportunidade para: 1) afirmar uma política externa comum — pelo menos no que se refere à assunção das leis humanitárias da guerra —, e 2) dar um passo de gigante na contenção do egoísmo expansionista dos EUA nas próprias fronteiras geo-estratégicas da Europa. Um Solana patético balbuciando coisas sem nexo foi tudo o que os Europeus obtiveram de uma cimeira uma vez mais obstaculizada pelo veto britânico do Sr Blair — a verdadeira besta actual da política externa europeia.

Como no Afeganistão e no Iraque, os burros do Atlântico (que se vêm pedantemente como estrategos atlantistas), temerosos de perder os despojos da vitória criminosa de Israel (que só terminará, nos planos estado-unidense e sionista, depois de um confronto militar com a Síria e com o Irão), e por outro lado em pânico com as possíveis interrupções dos fornecimenos do petróeo iraniano e do gás russo, já decidiram juntar-se todos na anunciada zona tampão entre o Norte de Israel e o Sul do Líbano. Vai ser um desastre para a Europa e um passo certo na direcção de uma prolongada guerra terrorista mundial entre o Eixo da Corrupção e o chamado Eixo do Mal.

Ou muito me engano, ou os democratas de todo o mundo passarão, mais cedo ou mais tarde, à clandestinidade, como única possibilidade de organizar um levantamento mundial contra o rapto das democracias — não pelo dito Eixo do Mal, mas pela Máfia Global que tomou conta dos governos ocidentais e dos principais canais de comunicação de massas.
Não será em meu nome que a barbárie montada pelo triunvirato da corrupção formado pelos EUA, Israel e Reino Unido continuará a assassinar centenas, milhares, milhões de mulheres e crianças por esse mundo fora!



NOTAS

1 — Esta hipótese, a que Noam Chomsky poderia facilmente aderir, foi recentemente contrariada num polémico, para não dizer incendiário, paper universitário de dois importantes académicos norte-americanos, John J. Mearsheimer e Stephen M. Walt, e cujo argumento principal é a perda de autonomia estratégica da política externa dos Estados Unidos por efeito da influência que sobre ela exerce o lobby judeu liderado pelo American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). A ser demonstrada esta tese, a América estaria confrontada com uma incerteza preocupante sobre o que tem determinado nas últimas décadas a prossecução dos seus interesses: se a sua democracia, ou se os interesses insinuados de outro país: Israel. Apesar das críticas sofridas a propósito de algumas inconsistências factuais, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy é um documento de leitura obrigatória para quem quiser perceber o poder da direita judia americana na política dos Estados Unidos no Médio Oriente. A publicação da versão inicial deste estudo (10 Mar 2006) foi rejeitada pela revista que inicialmente o encomendou. Uma versão sem notas seria posteriormente publicada (23 Mar 2006) pelo London Review of Books, com o título The Israel Lobby

REFERÊNCIAS

14 AGO 2006 — Huge Buffer Zone Protects Us From Islamohordes, by Ted Rall.

NEW YORK--Whether by military occupation or political cooption, powerful nations create buffer zones to protect their core homelands. In 1823 the Monroe Doctrine declared the Western Hemisphere, including all of Latin America, off limits to interference by other nations--a policy enforced, for example, during the 1962 Cuban missile crisis. Pointing to the carnage they suffered during World War II, leaders of the Soviet Union said they required a "sphere of influence" in Eastern Europe in order to protect themselves from another German attack.
Currently Israel, a regional mini-superpower with nukes, is fighting to reoccupy its 15-mile-wide "security zone" in southern Lebanon to shield its population from Hezbollah rocket attacks. "We have no other option," said Israeli Defense Minister Amir Peretz.
Can invading or exerting political influence over another country ever be morally justifiable? If it can, how big a buffer zone is reasonable? The Bush Administration answered the latter question during an August 3rd hearing of the Senate Armed Services Committee. His answer was: 3,000 miles.


13 AGO 2006 — Triple Alliance: The US, Turkey, Israel and the War on Lebanon, by Michel Chossudovsky.

Those Western heads of State and heads of government who overtly support Israel's air raids and illegal occupation of Lebanon, are complicit in "war crimes" and "crimes against humanity." This pertains specifically to those Western political leaders who, at the outset of the war, turned down the "cease fire" proposal, which would have led to a halt to the Israeli aerial bombardments, largely directed against the civilian population.

06 AGO 2006 — Sempre é o petróleo! Embora inaugurado no passado dia 13 de Julho, o oleoduto que liga Baku (no Azerbeijão) a Ceyhan (na Turquia), passando por Tblisi (na Geórgia), só estará pronto, quer dizer, a debitar 1 milhão de barris de petróleo por dia, em 2009. Este oleoduto, conhecido por BTC, é uma operação liderada pela BP (British Petroleum), a qual detém 30,1% do negócio, contra 25% da AzBTC Co. (empresa petrolífera privada do Azerbeijão, na qual o Estado detem uma participação de 80%). Os restantes 45% repartem-se por algumas empresas bem conhecidas: Chevron (EUA, 2ª do respectivo ranking petrolífero), a cujo conselho de administração pertenceu Condolezza Rice, STATOIL (Noruega), TP (Turkiye Petrolleri), Eni (Itália), Total (França), ITOCHU e INPEX (Japão), ConocoPhillips (EUA, 3ª do respectivo ranking petrolífero) e Amerada Hess (EUA, 7ª do respectivo ranking petrolífero), dominada pela importante Hess Corporation, cujas relações com a Arábia Saudita e a própria família Bin Laden, nomeadamente na formação do consórcio Delta-Hess, foi objecto de conjecturas várias depois do 11 de Setembro. Percebe-se, agora, o afã do Sr. Blair em toda a conjuntura bélica do Médio Oriente. É a BP burro! E percebemos também a aliança guerreira entre os EUA e Israel, sobretudo se tivermos em conta que o novo pipeline (e o futuro gasoduto que corrererá paralelamente ao oleoduto) servirá sobretudo os mercados petrolíferos ocidentais: a Europa, os Estados Unidos e Israel! O Azerbeijão e a Geórgia, repúblicas ex-soviéticas do Mar Cáspio, autoritárias e corruptas, estão hoje sob protectorado dos EUA, e é pelos respectivos territórios que o oleoduto passa, antes de entrar na Turquia, país onde igualmente não existem quaisquer garantias democráticas, sendo conhecidas as perseguições desencadeadas contra os opositores turcos à iniciativa da BP.
Sobre esta vertente, até agora passada em claro, da guerra contra o Hezbollah e da destruição parcial do Líbano, vale a pena estudar esta passagem do oportuno artigo de Michel Chossudovsky, The War on Lebanon and the Battle for Oil:
“The bombing of Lebanon is part of a carefully planned and coordinated military road map. The extension of the war into Syria and Iran has already been contemplated by US and Israeli military planners. This broader military agenda is intimately related to strategic oil and oil pipelines. It is supported by the Western oil giants which control the pipeline corridors. In the context of the war on Lebanon, it seeks Israeli territorial control over the East Mediterranean coastline. In this context, the BTC pipeline dominated by British Petroleum, has dramatically changed the geopolitics of the Eastern Mediterranean, which is now linked , through an energy corridor, to the Caspian sea basin:

"[The BTC pipeline] considerably changes the status of the region's countries and cements a new pro-West alliance. Having taken the pipeline to the Mediterranean, Washington has practically set up a new bloc with Azerbaijan, Georgia, Turkey and Israel, " (Komerzant, Moscow, 14 July 2006)

Israel is now part of the Anglo-American military axis, which serves the interests of the Western oil giants in the Middle East and Central Asia
.”

Ver também o mapa do oleoduto, para perceber a verdadeira origem da actual guerra e do comportamento lamentavelmente hipócrita e oportunista da maioria dos países europeus.

03 AGO 2006 — Líbano: A Batalha da Percepção. Enquanto Israel (com o apoio activo de Bush e de Blair) prossegue a sua campanha terrorista no Líbano, um antigo negociador israelita e actual director do Reut Institute — Gidi Grinstein — fala do ’paradoxo 90-10’, segundo o qual, mesmo que Israel destrua 90% da capacidade militar do Hezbollah, os 10% restantes surgirão aos olhos da opinião pública mundial, e em particular dos mil milhões de muçulmanos que a formam, como uma vitória da resistência palestiniana ao sub-imperialismo israelita. Sem caças bombardeiros, nem helicópteros, nem navios, nem tanques, o Hezbollah surgirá aos olhos dos seguidores de Alá e de Maomé, sobretudo depois desta guerra, como o David que anuncia o fim de um intolerável Golias. O mundo cristão e o mundo ateu, tal como qualquer democrata civilizado onde exista, estão chocados com a destruição ilegal de um país por parte de uma potência nuclear impune, estão chocados com a extrema fragilidade da ONU, estão indignados com a arrogância dos EUA e do boneco inglês, estão horrorizados com as bombas de fragmentação e as bombas químicas lançadas por Israel contra os civis (sobretudo velhos, mulheres e crianças) do Líbano. Mais do que um conflito de civilizações (onde os corruptos de todo o mundo gostariam de meter cristãos e judeus de um lado, e muçulmanos do outro) o que realmente alastra nas consciências humanistas deste planeta é a rejeição da insustentável e criminosa geo-estratégia dos EUA e dos seus cavalos de Tróia: Israel e Reino Unido. Israel tem direito ao seu Estado, na condição de respeitar o território e o direito do anunciado, mas sempre boicotado, Estado da Palestina. Para acompanhar com independência de espírito a tragédia libanesa vale a pena seguir o artigo, em permanente actualização, que o Wikipedia vem publicando em vários idiomas sobre este tema. Ref.: NYT 03AGO2006

02 AGO 2006 — Quem atira a primeira pedra? Num comentário amigo a este post, cujo autor pretendeu manter o anonimato, pergunta-se: “Será que vamos arrastar esta guerra cruel das bombas e do entulho a todo o mundo antes de haver uma clarificação das alternativas? E quais são? Quem atira a primeira pedra?
Gostaria de dizer, em primeiro lugar, que a primeira condição para actuar justamente é ver claro. Para ver claro, temos que procurar a informação e deixar de lado a guerra psicológica que actualmente controla a maioria dos grandes meios de comunicação de massas, entre os quais, a maioria dos miseráveis jornais e canais de televisão portugueses (que papagueiam toda a contra-informação que as ‘agências de comunicação’ e as chamadas fontes bem informadas lhes metem pelas goelas falidas abaixo). A outra condição é abandonarmos o complexo de culpa relativamente ao Holocausto, que fomos absorvendo acriticamente, ao ponto de temermos criticar o Sionismo criminoso que domina os destinos do Estado de Israel. Os holocaustos existiram e continuam a existir. Os judeus, mas também os arménios, os sérvios, os ciganos, os homossexuais, os mendigos e os declarados doentes mentais, entre outros, foram vítimas dos programas eugénicos de apuramento da raça humana praticados na Alemanha, mas também nos Estados Unidos, onde mais de 60 mil pessoas foram involuntariamente esterilizadas ao abrigo de uma cientologia racista e economicista, entre 1907 e meados da década de 70! A história da barbárie humana é um conto de terror sem fim. Os judeus não foram as únicas vítimas. E mesmo que tivessem sido, nada justificaria que alguns deles, hoje, autoproclamassem o direito de exterminar todos os vizinhos muçulmanos e árabes que atrapalhem a sede de espaço vital de um estado chamado Israel. Basta ler Noam Chomsky para perceber que denunciar o terrorismo de estado praticado fria e arrogantemente por Israel não pode ser confundido com anti-semitismo. Faz parte da propaganda Sionista de Israel confundir qualquer crítica ao seu comportamento criminoso com anti-semitismo. Mas a nossa obrigação é, como disse, ver claro...

“A primeira pedra” — 1) impôr o fim imediato das hostilidades no Líbano; 2) julgar e condenar o Estado de Israel pela sua conduta ilegal, reincidente, desproporcionada e terrorista durante a invasão e destruição do estado do Líbano; 3) julgar e condenar os Estados Unidos pela sua colaboração efectiva nesta operação brutal; 4) censurar o Reino Unido pela sua conivência com a política unilateralista e belicista dos Estados Unidos e de Israel; 5) restabelecer as fronteiras da Palestina e de Israel desenhadas pela ONU em 1948; 6) permitir a imediata constituição do Estado da Palestina no âmbito das definições essenciais de 1948; 7) envolver uma força militar e humanitária internacional independente na consolidação do novo Estado da Palestina. Qualquer solução passiva de compromisso, ou pior do que isso, diplomaticamente cobarde, não levará nenhuma solução estável e duradoura à Palestina israelo-árabe. Mas poderá fazer explodir o que resta dos barris de petróleo do Médio Oriente.

PS: A Espanha regressou a uma posição geo-estratégica inteligente, ao adoptar um distanciamento crítico perante a aliança corrupta entre Bush, Blair e Olmert. Esperemos que o recauchutado atlantismo lusitano não se venha a revelar como um imprudente baixar dos calções e como um oportunismo injustificável face à influência anglo-saxónica e texana sobre as nossas elites mais ignorantes. Olhem para o Brasil!


OAM #131 01 AGO 2006