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segunda-feira, junho 23, 2008

PPD-PSD-11

Casamento de D. João I com Phillipa of Lancaster
Chronique de France et d' Angleterre
(Jean Wavrin, 15th century)

Uma mulher na frente política

De Filipa de Lencastre à vitória de Manuela Ferreira Leite

Quando vi Manuela Ferreira Leite subir ao palco de onde proferiria o seu discurso de posse, num tom calmo, firme e pedagógico, reparei quão masculina era a composição da generalidade dos órgãos partidários do PSD. Vi a sempre sorridente mas nem por isso menos determinada deputada europeísta Assunção Esteves, descortinei por junto mais três ou quatro personagens femininas, cujos nomes ignoro, e foi tudo! Como é possível que tamanho sexismo persista ainda em organizações cuja razão de ser é a promoção e a garantia da própria essência política da democracia?

O PS e o Bloco de Esquerda fizeram ultimamente um esforço, eu sei. Mas que dizer do partido que pretende governar o país em 2009? Será possível que até lá nada mude nesta composição troglodita do segundo maior partido português? Então o PSD quer ser o primeiro partido de Portugal sem antes proceder à necessária metamorfose de género na composição das suas principais instâncias de poder? Acha que alguma vez chegará a São Bento de novo sem substituir algumas dezenas dos seus caricatos machos alfa? Estes Chicos espertos são, como toda a gente sabe, incultos, subservientes, ciosos de mordomias e preocupados acima de tudo com a sua medíocre vidinha, futebolística. Não servem rigorosamente para nada a não ser para arrebanhar pontualmente alguns votos para quem mais benesses lhes prometer em cada momento. Será que as elites da Quinta da Marinha, da Foz e de Matosinhos ainda não sabem que o país, em matéria de competência e mérito, mudou de sexo?

Os resultados de trinta anos de marialvismo político-partidário estão à vista de todos! É tempo de deixar Manuela Ferreira Leite e mais algumas centenas de mulheres competentes e politicamente sábias assumirem uma partilha efectiva na condução dos destinos de Portugal. Voltarei ao tema no fim deste postal de saudação à nova Secretária-Geral do PSD. Mas antes quero sublinhar o que para mim pareceu essencial no discurso de vitória da antiga ministra das finanças, ao encerrar o premonitório congresso de Guimarães.

Em primeiro lugar, o estilo: em vez de demagogia pura, apontou prioridades e metas que devem ter deixado aterrados muitos cus de aparelho da actual nomenclatura. Em segundo lugar, o modo consistente como reafirmou a sua estratégia de encostar o PS à direita, onde efectivamente se encontra em resultado de ter sido comido pela tríade de Macau. Em terceiro lugar, a decisão de enfrentar o grande capital subsidio-dependente que, incapaz de inovar e de trabalhar, se agarra, como um qualquer desgraçado tóxico-dependente, ao endividamento criminoso do país, clamando pelas fatídicas Parcerias Público Privadas, através das quais o Estado tem protagonizado um inacreditável papel de corruptor activo. O betão vai deixar de ser uma prioridade (1), por razões óbvias e ainda porque as responsabilidades e dívidas por ele criadas para as gerações futuras são uma das mais negativas e criminosas heranças deixadas ao país por toda uma geração de políticos que deviam estar na cadeia, em vez de alegremente engordarem os nossos serões televisivos!

A hipótese de um novo Bloco Central, sugerido em tom provocador por Marcelo Rebelo de Sousa, não é totalmente disparatada, ainda que inoportuna na circunstância. O problema é este: se o PSD ganhar em 2009, mas sem maioria absoluta, como vai ser? Bom, o melhor mesmo seria ganhar com maioria absoluta, uma probabilidade que não está totalmente fora de questão, sobretudo se a situação económico-social continuar a deteriorar-se gravemente, como é muito provável que ocorra se as bestas da Europa continuarem a alimentar de forma suicida os jogos de guerra do Pentágono. Se o petróleo chegar aos 200 dólares no fim deste ano (já se viu que as promessas da Arábia Saudita nada podem contra a especulação desenfreada actualmente em curso), e se Israel atacar o Irão, vindo em seguida os Estados Unidos, com o apoio imbecil do Reino Unido e da França, bloquear o Estreito de Ormuz, no início de 2009, então é mais do que certa a emergência de uma crise de regime em Portugal, com fracturas abissais tanto no PS como no PSD. Nesta circunstância, das duas uma, ou o PSD de Ferreira Leite consegue chegar às eleições (que poderão ser antecipadas por Cavaco Silva) antes do esboroamento partidário, e ganha uma maioria absoluta fortemente protegida pela actual Presidência da República, ou pelo contrário, a crise dos partidos adianta-se, e neste caso, regressaremos a uma qualquer variante do Bloco Central, do qual sairá provavelmente um governo de emergência nacional. É que então, poderemos estar todos a entrar numa III Guerra Mundial!

Termino este comentário com uma nota histórica sobre uma grande mulher que governou Portugal: Filipa de Lencastre, ou melhor, Philippa of Lancaster.

Há muito que estou convencido do papel determinante desta inglesa no arranque da expansão ultramarina da Europa, protagonizada por Portugal no início do século 15. No entanto, se procurarmos na Net referências em língua portuguesa ao seu desempenho, não encontraremos praticamente nada! Nada!! Foi preciso chegar à Universidade canadiana de Calgary para conseguir ler uma breve mas instrutiva biografia da esposa inglesa que o Rei João I não quis para si, mas que acabaria por aceitar após intervenção decisiva do duque de Lancaster, John of Gaunt, e do Arcebispo de Braga. Estava então em causa a independência de Portugal e o financiamento das suas guerras contra castelhanos e mouros. Alguém teria que espevitar o pseudo-casto de Aviz.

Ao ler a breve resenha biográfica que se segue (e de que apresentarei em breve tradução portuguesa) fiquei fascinado por esta mulher culta, determinada e com uma enorme visão estratégica. Como foi possível esconder até hoje o seu fundamental papel na história do nosso país? Na entrada completamente chauvinista, machista e reaccionária de Joel Serrão (sim, Joel Serrão) sobre Filipa de Lencastre, no seu Pequeno Dicionário de História de Portugal, podem ler-se estas pérolas de canina subserviência à mentira histórica de Estado:

"Em 1387, (Filipa de Lencastre) casa com D. João e até 1402 passa metade do tempo em estado de gravidez: são os nascimentos de D. Branca, D. Afonso (mortos na infância), D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Isabel. D. João e D. Fernando (a 'ínclita geração'). Ignora-se o papel que teve na educação de todos estes filhos. As alegações feitas nesse sentido não passam de fantasia. Filipa nunca se desligou do mundo inglês. Mantinha-se sempre informada dos negócios do seu país e à sua beira encontramos mordomos-mores, chanceleres, tesoureiros, confessores e damas de nacionalidade inglesa. Apesar disso parece ter tido alguma influência nas decisões de seu marido, como no caso do empreendimento de Ceuta."

É difícil encontrar prosa académica mais desonesta, despeitada, reaccionária e sibilina! Não li, mas vou ler o que outros historiadores portugueses escreveram sobre a rainha portuguesa. Espero que seja um pouco mais sofisticado do que esta demonstração de cronismo machista e bronco. Leia-se a biografia publicada pela Universidade de Calgary, para vermos até onde pode ir o sectarismo da subserviência burocrática.


Philippa of Lancaster, Queen of Portugal

Without the alliance between King João I, the Archbishop of Braga and Prince John of Gaunt, brother of the Black Prince, Portugal would probably have lost its independence to Castile. Central to that alliance negotiated by the archbishop and Prince John, was that John's daughter, Philippa of Lancaster, would be married to the 28-year-old King João I and become queen of Portugal. King João I was forced by necessity to agree to these terms although he had no intention of fulfilling his part of the agreement. Initially the king retreated to the country for two months with his mistress and their two illegitimate children, and sent back protestations that his monastic oath would prevent his ever contracting a marriage. John of Gaunt immediately produced a letter from the pope absolving the king of his vows of celibacy but the king continued to abscond from the marriage. On February 2, 1387 John sent the king a demand, delivered by an army of England's best troops, that the marriage take place at once or England would withhold from Portugal a loan that was desperately needed. King João I finally capitulated and later that month, on Candlemas Day, the Archbishop of Braga united the sullen king with the mortified princess in a resplendent ceremony. In public the royal couple played their parts but in private King João I treated his bride with churlish asperity. After the ceremony he left her at once for the camp of his army and plunged into the campaign against Castile.

Philippa was older than King João I by some years and had already been refused by several other royal bachelors, notably by King Charles VI of France and Albert, Duke of Bavaria. Despite these rejections Philippa would prove herself to be an extraordinary ruler and mother of a great empire. She had received a remarkable education as a girl studying under the Flemish poet Froissart, the foremost chronicler of medieval courts. Another of her tutors was the learned Friar John, the great pioneer in physics and chemistry, who presumably developed in her a sense of critical inquiry that was to become one of her outstanding characteristics. Her most beloved mentor was Geoffrey Chaucer, an intimate friend of her father's. Her father's confessor was the reformer John Wycliffe, Professor of Philosophy at Oxford and the first translator of the Bible into English. He also played a great role in moulding Philippa's young mind to be free of superstition thus enabling her to become a tolerant and enlightened leader.

King João I initially refused to accept Philippa as his wife because he felt forced to go through with the marriage. Thus he avoided her and sought solace between campaigns from his mistress in Lisbon. This situation reminded Philippa of her father's own mistress who dominated her childhood home at the detriment of her mother. Philippa was determined not to go through the same humiliating experience in her own household. She waited patiently until the king was away at the battlefront, and sent a group of clerics and knights to the house where his mistress lived. The mistress was then committed to an ancient convent of Santos where the king could not access her. Philippa took pains to make certain that her rival was treated with every respect and given a dignified establishment with an ample allowance. Philippa then adopted the king's two illegitimate children and reared them with her own children as they were born. By being so conscientious about the care of her husband's children Philippa became responsible for the founding of the bastard House of Braganza. Philippa's quality of character and integrity eventually gained her husband's respect and affection. She bore him ten children and made him a devoted husband and father by encouraging his taste for study and while discouraging his excesses.

Over the next two generations King João I delegated the administration of civil affairs to Philippa while he guarded the kingdom's frontiers. Philippa became the balance wheel of the kingdom, and quietly introduced many enlightened customs from Flanders and England. Because of her close relationship to the English throne Philippa was able to improve the diplomatic and commercial bonds between the two kingdoms. She was also able to improve internal relations between the Portugal's middle class and the aristocracy, as well as the relations between the Christian and Jewish communities.

By the year 1410 Philippa and João had ruled Portugal together for a quarter of a century, during which the kingdom had been constantly at war with Castile and the Moors. All trade, finance, and taxation were designed as war measures. The law at the time compelled every able-bodied man not serving in the armed forces to labour for a certain number of days per year on the walls and defences of his home town. In addition, all male non-combatants were required to serve some weeks annually in the watchtowers and observation posts on the inland borders with Castile and along the seacoast to defend against Moor raiders. The expense of this extended warfare and the lack of metallic material for coinage exhausted the royal treasury, forcing Philippa to issue a bizarre fiat money, in the form of leather tokens, as legal tender. The situation drastically changed in 1411 with a political change in the enemy kingdom of Castile.

With peace came the totally upheaval of Portugal's war economy. Thousands of soldiers, sailors, mechanics, and shipyard workers were thrown into unemployment. The royal councillors feared the danger of a civil war from the domestic turmoil of peace and suggested a foreign war as a diversion. Others advisors pushed for a resumption of hostilities against Castile. Another suggestion was to send an army to help the emperor of Austria against the Turks but King João I vetoed sending the kingdom's defenders so far away. It was Philippa who proposed sending an armed expedition to the Muslim kingdom of Fez in order to reach the kingdom of Prester John, the fabled African Christian ruler. Philippa believed that an alliance with him would give Portugal access to the Indian sources of spices and oriental products, thereby destroying the monopoly of Egypt and Venice over the spice trade. Although the majority of the royal council harshly criticised Philippa's proposal, history eventually proved her vision to be quite sagacious as her successors, King João II and King Manuel the Fortunate, both implemented similar policies of pursuing the Indian trade.

Philippa's proposal was not based on a whim but on facts inspired by her extensive readings of the most respected scholars of that age. These included the written account by the Greek historian Herodotus of a voyage around Africa from the Red Sea, south through the Indian Ocean, and north up the Atlantic to Gibraltar, made centuries before Christ by Phoenician galleys at the command of the Egyptian Pharaoh Necho. Philippa also studied the Roman historian Pliny who chronicled a southerly voyage along the southwestern African coast by a Carthaginian named Hanno. She was also aware of the voyages of Lief Ericson across the Atlantic to Greenland that led her to assume that the ocean could be traversed safely without fear of superstitious monsters. Philippa probably studied the popular account of Marco Polo's expedition to the Orient. All of these sources corroborated the personal testimonies of hundreds of Genoese, Venetians, Byzantines, Jewish, and Moorish merchants who all travelled along the eastern coast of Africa to the Malabar coast of India where they traded in the bazaars of Calicut. Using her vast knowledge the queen not only conceived of the bold plan of an invasion of North Africa, but she also painstaking worked to win political support for it among the royal council. On her suggestion, spies were sent to Ceuta, the centre of all North African trade activities, to report back concerning the feasibility of her plan. One spy returned with information about the great south central African market and the importation of gold through Timbuktu, the hub of that particular trade network. This was the first information that Europeans had about the source of Arab gold, until this point they had believed that the gold was brought from India. The importance of this discovery was immense because the Arabic states were the only suppliers for gold-starved Europe, now the capture of Ceuta became an even more attractive option since it could potentially save Portugal's crippled economy.

With this information Philippa believed that the Florentine bankers could be persuaded to finance her invasion, she was correct and the bankers joined the enterprise. Philippa now sought out the good will of the clergy and their assistance in winning popular support for the invasion. Once the blessing of Rome was secured, the queen had to convince her husband to authorise the undertaking. At this time King João I was tired of war and considered the stronghold of Ceuta impregnable. He flatly refused the lure of gold and religious glories. Philippa then enlisted the aid of her three oldest sons, all eager to win the spurs of knighthood, to convince their father. Eventually King João I yielded once he realised that his wife had managed to convince the majority of her former detractors of the logical and potential of her proposal.

It took three years of active preparation before the army and fleet were ready for the invasion. At this stage Philippa stepped aside to allow her husband and sons to take over the planning of the expedition. She was now over sixty years old and exhausted from the task of financing and assembling the expedition. Then disaster struck when Philippa contracted the plague and failed to recover. When she knew her end was near, she called her children to her. Upon her deathbed Philippa made her three oldest sons and daughter swear a solemn vow to carry out her dream of trying to gain an alliance with the kingdom of Pester John and through this gain access to the Indies. On July 25, 1415, the fleet of two hundred vessels dropped down the Tagus into the Atlantic Ocean and steered south; Philippa was dead, but they carried out her invasion and successfully conquered Ceuta.

The European Voyages of Exploration / The Applied History Research Group / The University of Calgary. Copyright © 1997, The Applied History Research Group


NOTAS

  1. As grandes obras e as privatizações oportunistas estão agora, felizmente, em causa. Ou melhor, a haver Grandes Obras, estas deverão incidir sobretudo na ferrovia, no transporte colectivo urbano e sub-urbano, e ainda nos portos do país. Não faltam, como se vê, oportunidades de negócio!


    • A linha de Alta Velocidade entre Lisboa e o Porto nunca fez qualquer sentido, e agora faz ainda menos. Basta prosseguir o que há muito deveria ter sido concluído: acabar a adaptação da ferrovia ao potencial cinético do Alfa e melhorar radicalmente o respectivo serviço comercial.
    • No que à Alta Velocidade (AV) entre Lisboa e Madrid se refere, basta assegurar uma ligação de Velocidade Elevada (VE), em vez de AV, entre as duas capitais, construindo-se uma linha nova de passageiros e mercadorias entre o Caia e Pinhal Novo (em vez de deixá-la pendurada no Poceirão), e permitindo que os comboios atravessem a actual Ponte 25 de Abril, até chegar a uma estação central situada na Via de Cintura Interna (por exemplo, nos antigos terrenos da Feira Popular, ou nas imediações da actual estação Roma-Areeiro). A linha VE entre o Caia e Pinhal Novo poderá ainda ligar-se à Linha do Norte, sem precisar de passar por Lisboa, desde que seja lançado um desvio ao longo da margem esquerda do Tejo, como propõe António Brotas.
    • A ligação Porto-Aveiro-Salamanca em comboios de Velocidade Elevada para passageiros e mercadorias é uma necessidade que deverá ser desde já meticulosamente planeada.
    • O mesmo ocorre com a ligação Porto-Vigo, já prevista para ser uma via de Velocidade Elevada, e não de AV.
    • O Novo Aeroporto de Alcochete, por sua vez, pode esperar bem uma década. Uma decisão definitiva sobre o mesmo deve ser adiada para 2013-2015. Se então estivermos todos enganados, e o tráfego aéreo continuar a subir, então sim, faça-se o NAL de Alcochete. Até lá, melhore-se a Portela (depois de despedir os incompetentes da ANA e da NAER) e prepare-se o Montijo como solução de complementaridade, se vier a ser necessária.
    • Finalmente, os planos de privatização da ANA, destinados a viabilizar o projecto financeiro do NAL devem ser imediatamente denunciados e suspensos. Quem não tem dinheiro não tem vícios, muito menos à custa de terceiros e vindouros!

OAM 379 23-06-2008, 16:41

domingo, agosto 22, 2010

Portugal: 1415-2015

Castelo São Jorge da Mina, Gana (mandado construir por D. João II, ca.1486)

O fim de um ciclo muito longo

O impasse actual do nosso regime democrático não resulta apenas, nem sobretudo, da corrupção que alastra sem vergonha nem punição, da incompetência quase demencial dos partidos, da esfinge inútil colocada na presidência da república, da overdose alucinogénica do euro, nem sequer da tradicional indolência de um povo que sempre preferiu emigrar antes de explodir ou escolher um tirano iluminado. O que começa de facto a pesar sobre a integridade e definição do meu país é o fim dum ciclo de 600 anos de sustentação e equilíbrios de poder. O que porventura já começou é um colapso histórico sem precedentes cuja mitigação exige muito mais do que o actual regime é capaz de dar.

Este ciclo de vida nacional é, resumindo, aquele que medeia entre a consolidação da nossa fronteira ibérica e a exaustão dos recursos estratégicos que lhe deram sustentação a partir da aliança firmada entre John of Gaunt, primeiro Duke of Lancaster, e João I de Portugal (1). A formação do império colonial português, um dos mais extensos e duradouros de quantos houve, começou verdadeiramente nesta aliança que, por outro lado, viria a contribuir decisivamente para resolver, até hoje, o problema do bloqueio muçulmano do Mediterrâneo. Só as potências atlânticas, antes e depois da colonização das Américas, estavam e continuam a estar em posição de compensar os cortes de comunicações, por terra ou pelo Mediterrâneo, entre o Ocidente e o Oriente. O posicionamento de charneira do Islão, entre o Oriente e o Ocidente, foi também a sua maior fraqueza. Ficou por outro lado claro, desde a Reforma Luterana, que a Alemanha, pela sua interioridade continental, nunca foi capaz, nem poderá sê-lo no futuro, de chamar a si o centro de gravidade da força estratégica necessária à preservação da cultura greco-latina sobre a qual assenta o essencial da identidade civilizacional do Ocidente.

O império colonial português teve início na conquista de Ceuta em 1415, no ano da morte da rainha —a inglesa Filipa de Lencastre— que tudo fez para que o grande projecto atlântico europeu tivesse lugar. A falta de conhecimentos de economia e de estratégia da esmagadora maioria dos nossos historiadores tem infelizmente gerado uma cortina de enganos e ilusões sobre as origens e causas efectivas da persistência de uma nação com quase 900 anos, mas cuja sobrevivência parece agora condenada à inexorável dissolução numa união europeia de destino incerto. Portugal levou apenas 50 anos a definir as suas fronteiras, teve o primeiro grande sobressalto com Castela em 1385 (Batalha de Aljubarrota), ficou sob domínio castelhano durante 60 anos (1580-1640), e hoje, depois de se ter retirado de todas as antigas colónias e concessões, tem pela frente um novo e fundamental problema de definição e sustentação estratégica. Como travar a velha Castela, agora uma monarquia decadente à beira da desintegração, na sua incansável perseguição da preciosa porta atlântica: Lisboa? Tudo dependerá, pelo menos em parte, da nova e urgente triangulação estratégica que Portugal deverá estabelecer com o Brasil e Angola, no quadro de um posicionamento diplomático tão independente quanto possível —honest broker—, que é de nossa estrita conveniência adoptar na esfera da nova globalização que previsivelmente sucederá àquela que neste preciso momento implode com estrondo.

O problema é ainda mais sério, como se vê, do que teme Medina Carreira, e do que afirmam os recém convertidos economistas portugueses ao problema do nosso galopante endividamento —externo, público e privado. A aposta de Mário Soares na União Europeia foi seguramente o passo mais acertado da política portuguesa depois de uma inevitável, dolorosa e trapalhona descolonização. Mas se a União Europeia colapsar, por exemplo, na sequência de uma guerra nuclear no Médio Oriente, onde ficaremos perante uma Espanha que em menos de uma década ou duas poderá mergulhar num explosivo processo de desintegração? Terá Madrid, outra vez, a tentação de invadir Portugal? A Espanha detém cerca de 1/3 da nossa dívida externa (ver gráfico) e, por outro lado, Portugal encontra-se de facto em situação de pré-bancarrota. A probabilidade de até 2015 ser inevitável declará-la, ou, não a declarando (porque é humilhante), proceder-se à sua reestruturação é muito alta (2).

As guerras são sempre muito caras. Pela sua duração (1337-1453) e pelo que estava em causa, saber se a França e o Reino Unido poderiam ser um só país europeu, a Guerra dos Cem Anos foi seguramente uma das que mais custaram aos bolsos dos contribuintes de ambos os lados do Canal da Mancha. Uma das provas de que a deterioração da balança comercial inglesa foi uma coisa séria é, por um lado, a progressiva substituição da prata pelo ouro como metal financeiro, e por outro, a subida de valor deste ao longo da guerra (3).

Reparemos de novo nas datas:
  • em 1337 começa a guerra pela sucessão ao trono francês desencadeada pelo rei Edward III de Inglaterra, a qual duraria 23 anos (até 1360); 
  • sete anos depois, em 1344, começa a circular o Noble, a primeira moeda de ouro inglesa com efectivo valor monetário; 
  • entre 1373-1386 é estabelecida a aliança estratégica entre Inglaterra e Portugal, havendo que destacar aqui a contribuição das tropas inglesas para a derrota de Castela (que contava com tropas aliadas aragonesas, francesas e italianas) na decisiva Batalha de Aljubarrota, e o casamento de Filipa de Lencastre, irmã do futuro rei inglês Henrique IV, com o rei de Portugal, João I; 
  • em 1415, ano da morte da rainha portuguesa e mãe da chamada Ínclita Geração (Duarte, Pedro, Henrique, Isabel, João e Fernando), João I com os filhos príncipes e as suas tropas, auxiliados por soldados ingleses, galegos e biscainhos, tomam a cidade muçulmana de Ceuta, dando início, não a uma expansão pelo Mediterrâneo, como alvitraram António Sérgio e Vitorino Magalhães Godinho, mas sim pela costa ocidental de África, em demanda do ouro que comerciantes nómadas do deserto há muito faziam chegar a Marrocos e daqui à Europa (4).
Sem o ouro da Guiné (donde o nome da moeda inglesa guinéu), a sorte da Guerra dos Cem Anos teria sido provavelmente outra, bem como o destino de Portugal e da mais antiga aliança estratégica entre dois países.

1415 é não apenas a data do início da grande expansão marítima europeia, iniciada pelo estado português, e a que rapidamente se juntaram outras nações europeias, mas também, por assim dizer, o ano de colapso da grande marinha comercial e militar chinesa por ordem de um imperador assustado com a pressão mongol a Norte da China. A circum-navegação do império Otomano e o colapso da expansão chinesa no Índico permitiram a uma Europa que rapidamente se desenvolvia, alavancada pelo nascente sistema financeiro, uma acumulação de riqueza sem precedentes, entre outras razões porque lhe foi quase sempre possível impor aos outros povos os termos de troca, e nalguns casos mesmo a pilhagem pura e simples, em virtude da sua superioridade militar e sofisticação cultural. Sem o ouro, sem os escravos, sem as especiarias, sem as sedas e pedras preciosas, sem chá, nem café, nem tabaco, sem o açúcar, o milho, ou a batata, que teria sido dos europeus? Ora bem, a descolonização mundial e a OPEP vieram mudar toda esta longa e frequentemente sanguinária safra!

A mais justa redistribuição dos recursos disponíveis por uma humanidade que entrara numa curva de crescimento demográfico exponencial é uma condição irrecusável do mundo actual, sobretudo à medida que novos países emergem da sua antiga condição de menoridade e começam a impor de facto condições às velhas potências dominantes. O embaraço conjunto dos Estados Unidos e da Europa perante as exigências crescentes dos grandes detentores de recursos energéticos, minerais, alimentares e laborais do planeta, já para não sublinhar o poder financeiro extraordinário que têm hoje países como a China, são sinais evidentes de que um longo ciclo civilizacional chegou ao fim.

No caso de Portugal a equação é simples: onde estão o ouro, o algodão, as especiarias, as sedas, o café, as madeiras extraordinárias, o petróleo e os diamantes que alimentaram seis séculos de prosperidade relativa, e sobretudo um certo estilo de improvisação social e institucional? Mais, onde está a mão de obra barata que outrora permitiu disfarçar a nossa falta de organização e de ciência? Alguém se deu já ao trabalho de calcular o nosso actual potencial produtivo e de poupança tendo em conta os recursos objectivamente disponíveis. Que modelo de desenvolvimento poderemos no futuro efectivamente suportar e garantir sem cairmos numa qualquer forma de escravidão?

É por termos fechado um ciclo muito longo de modelo civilizacional que não faz qualquer sentido reduzir os desafios que temos pela frente às actuais querelas partidárias. A insanidade actual dos partidos políticos portugueses é mais um sintoma do grande colapso que se aproxima, do que a sua causa eficiente. Acantonar a discussão necessária dos problemas no pingue-pongue entre o pobre Sócrates e o atordoado Passos de Coelho sobre se é preciso subir impostos ou cortar despesas é uma criminosa perda de tempo. No imediato, é evidente que são necessárias medidas imediatas de contenção da hemorragia financeira que em breve levará o país ao prego. Terão que subir e muito alguns impostos (por exemplo, o IVA), e terão que encerrar todos os serviços públicos redundantes ou que não traduzam a realização duma missão imprescindível do Estado (surgindo daí novas oportunidades para os sectores empresarial e cooperativo.) Ao mesmo tempo que estas decisões drásticas e difíceis são tomadas, medidas claras de moralização e justiça devem igualmente ser adoptadas, a começar pela eliminação dos escandalosos privilégios de que goza a casta incompetente dos políticos.

Mas uma verdadeira resposta à crise exige o enquadramento das análises, dos cenários e das soluções, à luz duma visão global dos problemas. Porque é de globalização que estamos efectivamente a falar, desde 1415!

NOTAS
  1.  Em 1373 foi assinado o Pacto de Tagilde, e em 1386 celebrou-se o Tratado de Windsor, ambos fazendo parte daquilo que se chama a Aliança Luso-Britânica. A última vez que a Aliança foi invocada ocorreu em 1982, durante a Guerra das Malvinas (ou Falklands), para uso das facilidades aeroportuárias dos Açores, por sua vez obtidas pelos aliados anglo-americanos por iniciativa de Winston Churchill, em 1942.
    "I have an announcement", I said, "to make to the House arising out the treaty signed between this country and Portugal in the year 1373 between His Majesty King Edward III and King Ferdinand and Queen Eleanor of Portugal." I spoke in a level voice, and made a pause to allow the House to take in the date, 1373. As this soaked in there was something like a gasp. I do not suppose any such continuity of relations between two Powers has ever been, or will ever be, set forth in the ordinary day-to-day work of British diplomacy — Winston Churchill, Second World War, pp 146-7. Wikipedia.
  2. "O grupo de países designados pejorativamente por PIIGS (acrónimo humorístico para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) viu as probabilidades de incumprimento da dívida soberana dos seus membros num horizonte de cinco anos aumentar significativamente esta semana, de acordo com o monitor da CMA DataVision." — in Expresso, 28 Ago 2010.
  3. O esforço de guerra britânico em compra de alianças, custos da interdição de exportações de lã para a Flandres, e outros desequilíbrios na balança comercial, pressionaria a necessidade de cobrir os défices com pagamentos em moeda metálica. Quanto mais valiosa fosse a moeda metálica, menos metal teria que ser exportado e menos caras seriam também as operações de transporte do metal precioso. Daí a necessidade de substituir a prata pelo ouro. Foi isso que os monarcas ingleses começaram a fazer, apesar das várias tentativas falhadas e resistência interna pouco depois de iniciado o ciclo de guerras que viria a ser conhecida por Guerra dos Cem Anos. Por causa dos óbvios efeitos inflacionistas causados por uma nova moeda forte —o mesmíssimo fenómeno que ocorreu entre nós com a introdução do euro— os preços subiram, incluindo, claro está, o preço do ouro! Datam de 1252 as primeiras tentativas (Gold penny) de introduzir moedas de ouro em Inglaterra, mas foi em 1334, isto é, três anos antes da primeira guerra entre ingleses e franceses, a chamada Edwardian War (1337-1360), que a primeira moeda de ouro começou efectivamente a circular em terras britânicas. Chamava-se Noble, teve 4 cunhagens e durou até ser substituído em 1465 pelo famoso Angel (1465-1663), que por sua vez daria lugar ao Guinea (1663-1813). Um Noble pesava 138,5 gr, entre 1344 e 1346; 128,5 gr, entre 1346 e 1351; 120 gr., entre 1351 e 1377. O impacto da guerra na necessidade de obter ouro não poderia ser mais evidente.
  4. Dois motivos principais aconselharam em 1373-1386 a aliança entre ingleses e portugueses: um foi o facto de o acesso ao ouro do Oriente e de África, essencial para suportar os custos da Guerra dos Cem Anos, depender do acesso ao Mediterrâneo, fosse para chegar ao Norte de África, fosse para caminhar em direcção ao Oriente por terra, o que implicaria a impossível autorização da França, com quem a Grã Bretanha iniciara uma grande guerra; o outro, foi o conhecimento de que o Golfo da Guiné, sobretudo no actual Gana, dispunha de grandes recursos em ouro e escravos —duas componentes imprescindíveis ao modelo de crescimento económico que se perfilava no horizonte. Ceuta fica em frente a Gibraltar, então sob soberania castelhana, pelo que são posicionamentos estratégicos no controlo das entradas e saídas do Mediterrâneo. Hoje Espanha controla (vamos a ver por mais quantos anos) a outrora praça forte portuguesa de Ceuta. Não é pois por acaso que o Reino Unido não larga Gibraltar desde que teve oportunidade de deitar-lhe mão, em 1704, no decurso da Guerra de Sucessão Espanhola. Poder-se-à perguntar porque é que os povos mediterrânicos se não aventuraram há mais tempo na exploração da costa atlântica de África, tendo deixado aos portugueses o privilégio da iniciativa. Por incrível que pareça há uma razão geológica de fundo: as correntes superficiais do Atlântico entram pelo Mediterrâneo adentro a uma velocidade de 3 nós, causando inúmeros perigos à navegação entre os dois mares, precisamente no socalco submarino existente ao longo de todo o estreito de Gibraltar. O Mediterrâneo é um mar quente que evapora mais depressa do que o Atlântico, ficando por isso e ciclicamente abaixo do nível deste. Pelo princípio dos vasos comunicantes o Atlântico é assim levado a invadir o Mediterrâneo com gigantescas massa de água deslocando-se a três milhas náuticas por hora — o que é muito, se considerarmos que as caravelas atingiam então velocidades médias inferiores a 12 milhas náuticas por hora.

Última actualização: 29 Agosto 2010

    sábado, novembro 20, 2010

    O amigo americano

    Portugal, uma espécie de Suíça diplomática?

    Air Force One com Barack Obama aterra na Portela (Foto —pormenor— de Rui Spotter)
    Com a 10ª maior ZEE do mundo em perspectiva, Portugal passará a deter um domínio estratégico na ordem dos 3.119.799 Km2. Só para termos uma ideia do que isto é, basta pensar que corresponde mais ou menos à superfície da Índia. Embora o Portugal à tona dos mares (continental e insulares) ocupe a modestíssima posição 109 entre todos os países do mundo, já quando medimos o território nacional e a sua ZEE, ficaremos certamente entre os 10 maiores países do mundo!  — in O António Maria, 22 nov 2008.

    Escrevi há exactamente dois anos atrás que Portugal voltará a ter um papel de charneira diplomática entre o Ocidente e o Oriente. A formulação de um novo Tratado de Tordesilhas aproxima-se rapidamente. Previ então que a nova Rússia penderia para Ocidente. Vamos ver o que nos reservam a segunda viagem de Medvedev a Portugal e esta crucial Cimeira da NATO (1).

    Pensemos por um momento nesta coincidência: Durão Barroso tornou-se presidente da Comissão Europeia na era Bush, e viu renovado o seu cargo já com Obama no poder; Vítor Constâncio é chamado a ocupar o cargo de vide-presidente do Banco Central Europeu no pico da maior crise financeira mundial desde 1929, e certamente naquela que é a maior ameaça à consolidação do euro como nova moeda de reserva mundial; Portugal venceu o Canadá na corrida para a posição de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU; António Borges é o novo director para a Europa do FMI; António Horta Osório tornou-se recentemente presidente executivo do Lloyds Bank, deixando o Santander; Hu Jintao decidiu fazer uma viagem relâmpago a Lisboa poucos dias antes da cimeira da NATO, a que se seguiria uma viagem igualmente relâmpago de Sócrates a Macau, para se encontrar com o primeiro ministro chinês Wen Jiabao; Obama, enfim, escolhe Portugal para aquela que é já uma das mais importantes reuniões da NATO de sempre — pois, ao contrário dos inúmeros obituários já escritos sobre a organização, esta poderá ser dado neste encontro à beira Tejo o pontapé de saída para uma nova partilha do planeta entre os hemisférios ocidental e oriental. É o que venho chamando há já alguns anos o novo Tratado de Tordesilhas.


    Tal como quando a Inglaterra viu bloqueados os seus acessos ao Oriente e ao Norte de África, por causa do fiasco das Cruzadas e da Guerra dos Cem Anos, teve que se virar para a praia lusitana, casando a sua Princesa Filipa de Lencastre com João I de Portugal, como meio expedito de lançar uma ponte em direcção ao Golfo da Guiné (a célebre Costa do Ouro), onde se encontrava o metal de que tanto precisava, nomeadamente para pagar a guerra contra os franceses, também agora a América e o Reino Unido, ambos falidos até à medula, e de quem a Alemanha, a Rússia, a China e 4/5 do planeta desconfiam, precisam hoje de Portugal e do seu imenso mar territorial, para segurar o Atlântico Norte e Sul, impedir a expansão descontrolada da China e garantir os bons ofícios de um amigo nos corredores da diplomacia do euro.


    Portugal é um país pequeno, mal governado e coberto de dívidas. Mas se houver alguém lúcido entre as nossas desmioladas elites, verá que está na hora de arregaçar as mangas e de disciplinar a burguesia clientelar, as corporações profissionais e partidárias, e a burocracia, por forma a podermos tirar real vantagem da nossa nova centralidade geo-estratégica. É preciso acantonar imediatamente a corrupção, o desperdício e a balbúrdia parlamentar. Só depois, poderemos renegociar as nossas dívidas em paz, sem assassinar a classe média, nem humilhar os pobres, os desempregados e os idosos. Só depois poderemos cobrar à vontade, de Washington a Pequim, a nossa boa vontade e experiência diplomáticas. Um pequena quermesse entre os grandes colocará as nossas finanças públicas em ordem num ápice. Mas antes de tudo o mais teremos que despedir o imprestável Sócrates, e o imprestável Cavaco, mais as procissões de inúteis e corruptos que os seguem.

    NOTAS
    1. Pouco depois de publicado este texto, veio a confirmação (ler notícia do DN) de que a Rússia iniciou oficialmente um processo de convergência com os países da NATO. O cenário de um dia destes estar entalada entre a China e o Irão foi seguramente determinante para a nova estratégia de Moscovo.

    domingo, agosto 03, 2008

    Portugal 37

    O oráculo de Belém
    Mota Amaral quis eliminar normas

    3-08-2008. "Se porventura as minhas modestas propostas fossem atendidas tinha-se evitado que o processo de elaboração do Estatuto Político-Administrativo dos Açores tivesse ficado engatado, evitaria o acórdão do Tribunal Constitucional e a comunicação do Presidente da República ao País", diz Mota Amaral.

    ... As normas que o deputado do PSD queria eliminar eram precisamente as que Cavaco Silva contestou veementemente por restringirem os poderes presidenciais. São estas as que dizem respeito às consultas para dissolução da Assembleia Legislativa do Açores, à nomeação do representante da República e à competência para revisão do Estatuto da região. -- in Correio da Manhã.

    A mansa e sedutora "livre administração dos Açores pelos açorianos" poderá transformar-se, em futuro nada longínquo, numa imparável caminhada para a exigência de referendos independentistas, tanto nos Açores como, bem entendido, na Madeira. Esta probabilidade histórica não decorre do maior ou menor patriotismo de Carlos César e dos restantes açorianos - que é certamente muito, indiscutível e inabalável -, mas de imprevistas circunstâncias que escapam para já aos protagonistas desta muito séria crise constitucional, aberta pela leviandade geral do actual parlamentarismo português, e pela esperada resposta de Cavaco Silva. Não tenho nenhuma dúvida de que o presidente da república dissolverá os parlamentos nacional e regionais se o braço de força persistir. Alguns falariam, se tal viesse a ocorrer (uma hipótese, apesar de tudo, pouco provável), de golpe de Estado constitucional a favor dum regime presidencialista. Outros, porém, saudariam a iniciativa como a única forma de estancar a actual hemorragia democrática, provocada sobretudo por uma classe política populista, corrupta e desmiolada, de que uma Assembleia da República a meio gás (1), composta na sua maioria por funcionários públicos e agentes comerciais da partidocracia vigente, é a mais indecorosa expressão.

    Portugal caminha rapidamente, como há muito vem alertando Adriano Moreira (único estratega decente que faz ouvir a sua voz no país), para o estatuto de "Estado exíguo" e, digo eu, se não tiver cuidado, para uma versão europeia de "Estado falhado"!

    Como qualquer caloiro de estudos internacionais dirá, não existe nenhuma razão de princípio que impeça os dois arquipélagos portugueses de exigirem, sobretudo no quadro de uma prolongada e grave crise económica e social, a sua independência (obviamente no quadro da actual União Europeia), à luz do precedente criado pela independência concedida levianamente ao arquipélago de Cabo Verde, ou mais recentemente, à luz dos processos em curso no Cosovo, no País Basco e na Bélgica. Quanto à dimensão territorial, está bom de ver que tanto os Açores (2.333 km²) como a Madeira (801 km²) são mais extensos do que Malta (316 km²), e o arquipélago açoriano pouco menor é do que o próspero Luxemburgo (2.586 km²). Por fim, numa Europa das Regiões os direitos à autonomia plena deixaram de ser tabu. A Macaronésia, por exemplo, é o anel natural dos arquipélagos de Cabo Verde, Canárias, Açores e Madeira. O anel merece mais autonomia real e agilidade política própria, mas no que toca aos territórios portugueses e espanhol, a gestão deste dossiê tem que ser seguida com pinças, seja por Lisboa, seja por Madrid. As dinâmicas adversativas congénitas às filosofias políticas ocidentais, sobretudo as da cada vez mais mentecapta "esquerda" estalinista e trotsquista, são contraproducentes e devem ser expeditamente substituídas por dinâmicas colaborativas e harmoniosas de gestão de interesses, territórios e conflitos. Não nos iludamos!

    A transformação e consolidação da China na maior economia mundial, antes de 2015, prevendo-se que possa duplicar o PIB dos Estados Unidos em 2035, é uma dinâmica imparável salvo se: 1) houver um III Guerra Mundial, ou 2) se os países do Atlântico Norte e Sul forem capazes de, por um lado, garantir a supremacia económica e militar no Mare Nostrum atlântico e, por outro, mitigarem o desvio do poder global, actualmente em curso do Ocidente para o Oriente, através da imposição de um novo Tratado de Tordesilhas. No entanto, os avanços da China em Angola, na Nigéria, no Zimbábue, no Brasil, na Argentina, na Venezuela e... em Cabo Verde, revelam um atraso clamoroso da resposta europeia a tão extraordinário cenário, e deixam aos Estados Unidos, uma vez mais, a oportunidade, mas também os custos, de equilibrar o avanço chinês no Atlântico através, nomeadamente, da recente criação do AFRICOM, cujo porta-aviões principal será obviamente o arquipélago dos Açores (ler a este propósito o meu artigo Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano).

    Ora bem, esta nova conjuntura coloca Portugal e a sua ZEE no centro de uma disputa estratégica sem precedentes (até as Ilhas Desertas poderão rapidamente regressar à agenda de Madrid, que considera as mesmas como devendo fazer parte do arquipélago das Canárias). O sinal dos novos tempos foi aliás dado pela célebre Cimeira das Lajes que precedeu a invasão do Iraque, e na qual a Espanha inaugurou uma viragem estratégica de 180 graus na sua política externa. Para todos os vizinhos do Atlântico, excepto Portugal, seria ideal que os Açores se libertassem da tutela de Lisboa. Lembram-se da Conferência de Berlim? As araras parlamentares nem devem saber o que isso é!

    Eu percebo muito bem as insónias de Cavaco Silva, a interrupção súbita das suas férias e o ar grave da sua pose. O caso não é para menos. Bem gostaria de ouvir o que tem Mário Soares a dizer sobre esta crise. E bem gostaria que Durão Barroso desse seguimento acelerado à proposta de Adriano Moreira e Mário Soares relativamente à adesão de Cabo Verde à União Europeia!

    Portugal iniciou um ciclo de expansão e autonomia nacionais em 1415, depois de uma gravíssima crise institucional que poderia ter conduzido ao esfumar puro e simples da nacionalidade. Seguindo um plano meticuloso, a inglesa Filipa de Lencastre, rainha de Portugal depois de casar com o limitado e mentireiro João de Aviz, preparou os seus filhos para a expansão marítima. Conquistada a decisiva praça de Ceuta, iniciou-se a expansão marítima, primeiro ao longo da costa africana, e depois em direcção à Ásia, à Oceania e às Américas. As marinhas militares e comerciais lusitana, castelhana, holandesa e inglesa definiriam assim, a pouco e pouco, o mapa e o estatuto da hegemonia europeia no mundo, por um período que curiosamente termina, para nós, portugueses, em 2013, ou seja no ano em que nos diluiremos de vez na União Europeia, deixando de imaginar o futuro em função de rendas ultramarinas ou dos subsídios de Bruxelas. A China, em 1436, decidira acabar com a sua pujante marinha de alto mar, para dar mais atenção aos mongóis que pressionavam a Norte do império. Foi um erro fatal, que a China imaginada por Deng Xiaoping não voltará a cometer.

    As oito inconstitucionalidades declaradas pelo Tribunal Constitucional relativamente ao novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores são clamorosas e testemunham bem o populismo eleitoralista da actual nomenclatura partidária. No leilão para as próximas eleições regionais, ninguém quis deixar-se para trás. Licitaram todos, muito alegremente, sem ler nada, nem pensar em nada, a não ser nas respectivas aritméticas eleitorais, 8 disposições que violam flagrantemente a Constituição da República. A simples possibilidade absurda de uma lei ordinária aprovada em parlamento retirar poderes constitucionais ao principal órgão de soberania do país diz tudo sobre o estado lamentável da choldra partidária em curso.

    São estes os OS OITO ARTIGOS DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS PELO TC (citação retirada do Correio da Manhã):

    114.º n.º 3

    O Presidente da República procede obrigatoriamente à audição do presidente da assembleia legislativa e do presidente da Região, previamente à declaração do estado de sítio ou de emergência no território da região.

    46.º n.º 6

    Fixa o número mínimo de 1500 cidadãos eleitores que podem subscrever uma iniciativa referendária popular, disposição que implica um juízo de mérito sobre os pressupostos da iniciativa que não decorre da Constituição.

    49.º n.º 2

    Atribui à competência legislativa própria da Região Autónoma 'O Regime de elaboração e organização do orçamento' da mesma Região -- que a Constituição prevê como reserva absoluta da Assembleia da República.

    53.º n.º 2

    A matéria dos regimes de licenciamento, no âmbito da utilização privativa dos bens do domínio público marítimo do Estado, respeita à esfera de competência legislativa própria da Região Autónoma.

    61.º n.º 2

    Inscreve na competência própria da Assembleia Legislativa da Região matérias que vertem sobre os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, tendo por fim a sua regulação por acto legislativo regional.

    63.º n.º 2

    Compete à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores competência para legislar em matéria de regulação do exercício da actividade dos órgãos de comunicação social na região.

    66.º n.º 2

    Define como matéria de competência legislativa própria da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a manutenção da ordem pública e da segurança de espaços públicos.

    67.º n.º 2

    Compete à Assembleia da Região a faculdade de legislar para o território regional, e em concretização do princípio da subsidiariedade, sobre matérias não enumeradas no estatuto e não reservadas aos órgãos de soberania.
    Zeus é manhoso e sedutor. Esperemos que a lusitana princesa nascida em 1143 não se deixe seduzir pelo touro irresistível que ronda de novo as nossas praias.



    NOTAS
    1. Mais de metade dos deputados já se baldou das funções para as quais pediram o nosso voto. Entretanto, há registo de 1500 faltas à função, algumas com justificação efectiva, mas várias outras sem nenhuma justificação plausível, ou então escoradas em atestados de médico fraudulentos! Ou seja, parte significativa dos deputados falta ao trabalho, como qualquer adolescente irresponsável e mentiroso. Não precisamos, pois, de um parlamento com mais de 150 deputados, em vez dos actuais 230, metade dos quais comprovadamente dispensáveis. Ora aqui está um bom tema para a próxima revisão constitucional!

    OAM 402 3-08-2008 18:05 (última actualização: 4-08-2008 14:01)

    quinta-feira, dezembro 20, 2012

    Apocalipse 2012

    Fim do mundo
    ©TOYZE para OAM

    Não é o fim do mundo, mas de uma era que se esvai com o fim do petróleo barato e alterações climáticas brutais

    “A fourth stage began as this institutionalized inflation took hold. Prices went higher, and became highly unstable. They began to surge and decline in movements of increasing volatility. Severe price shocks were felt in commodity movements. The money supply was alternately expanded and contracted. Financial markets became unstable. Government spending grew faster than revenue, and public debt increased at a rapid rate. In every price-revolution, the strongest nation-states suffered severely from fiscal stresses: Spain in the sixteenth century, France in the eighteenth century, and the United States in the twentieth century.

    [...]

    Finally, the great wave crested and broke with shattering force, in a cultural crisis that included demographic contraction, economic collapse, political revolution, international war and social violence. These events relieved the pressures that had set the price-revolution in motion. The first result was a rapid fall of prices, rents and interest. This short but very sharp deflation was followed by an era of equilibrium that persisted for seventy or eighty years. Long-term inflation ceased. Prices stabilized, then declined further, and stabilized once more. Real wages began to rise, but returns to capital and land fell.”

    Estas palavras foram escritas por David Hackett Fischer num livro que recomendo vivamente, sobretudo aos feiticeiros conhecidos por economistas. The Great Wave; Price Revolutions and the Rhythm of History foi publicado em 1996, uma década antes de a bolha do Subprime rebentar e dar origem à maior crise financeira mundial desde a Grande Depressão.

    As conclusões deste vasto e meticuloso estudo do autor de Washington's Crossing (2006) resumem-se, como ele próprio escreve, a uma evidência histórica: houve quatro revoluções-de-preços (price-revolutions) desde o século XII, na Europa, mas que se propagaram aos outros continentes, sobretudo às regiões com as quais a Europa estabeleceu pontes comerciais e coloniais. Entre cada uma destas longas ondas de carestia crescente houve períodos marcados por preços relativamente baixos e estáveis. Grosso modo, as ondas marcadas pela subida, primeiro subtil e lenta, depois acentuada, e finalmente explosiva de preços, estão compreendidas entre as seguintes datas: 1180-1350 (170 anos); 1470-1650 (180 anos); 1730-1815 (85 anos); e 1896-? 

    Os mares de tranquilidade relativa que antecederam estes longos períodos de inflação, ou que lhes sucederam, foram muito férteis em criatividade: Renascimento do século XII, Renascimento do século XV, Iluminismo, e Era Vitoriana. Será que estamos perto de um novo colapso demográfico e de preços, acompanhado da inevitável desestruturação das nossas sociedades de consumo, dando origem a um novo mar de tranquilidade, procriação e crescimento moderado, assente em novos paradigmas, mentalidades e ideias culturais? 

    A grande revolução de preços, que abrange todo o século XX, já vai em 116 anos. A base de recursos que a fez expandir tão rapidamente —sobretudo depois de passarmos da economia do carvão e da iluminação a gás, para a economia do petróleo e da energia elétrica— dá sinais públicos de esgotamento desde 1973. As recessões sucedem-se desde então com intervalos cada vez mais curtos e impactos cada vez maiores. As respostas políticas conjunturais não diferem em nada das que foram sendo experimentadas nos últimos oitocentos anos (1). O fracasso da bruxaria económica, que aliás cultiva a amnésia histórica, é total.

    Nostradamus?

    Desde já convém afastar o senhor Nostradamus e os Maias desta conversa. Para quem ficou impressionado com a especulação cinematográfica recente sobre o tema, aqui vai um descodificador de mitos escrito por gente sensata da NASA.

    Astrologia e Economia à parte, a verdade é que, desde 1956, ciências um pouco mais sólidas do que as adivinhações anteriores, como a física, a geologia, a biologia, a ecologia, a climatologia e a história têm vindo a estudar e expor os limites do crescimento exponencial que tem caracterizado boa parte das dinâmicas humanas desde que as sociedades industriais tomaram o freio nos dentes.

    O primeiro desses estudos fundamentais é um relatório apresentado em 1956 pelo géologo M. King Hubbert num encontro do American Petroleum Institute, no Hotel Plaza de Santo Antonio, no Texas. Pode dizer-se que este documento (PDF) estabeleceu para todo o sempre o intervalo de vida de recursos tão vitais para nós como o carvão, o gás natural e o petróleo.

    Em 2001, a teoria do Peak Oil, surgida na esteira analítica de Hubbert, ganha um número crescente de adeptos (ASPO/ ASPO-Portugal), cujos estudos, realizados sobretudo nos Estados Unidos e na Suécia, têm vindo a dar razão ao geólogo americano: o petróleo é um recurso limitado e a sua duração enquanto recurso energético e químico barato e abundante para uso humano chegou ao fim em 2005. As consequências serão necessariamente assustadoras.

    No início do século XXI, trágica e simbolicamente assinalado pela destruição de dois arranha-céus de Nova Iorque, a escassas centenas de metros de Wall Street, pelo impacto suicida de dois aviões comerciais com os tanques cheios de querosene, o petróleo deixa visivelmente de ser um recurso suficientemente barato para continuar a garantir o ritmo de crescimento da economia mundial conhecido desde o início do século XX. Em 1964 registou-se o pico da descoberta de novas jazidas. Em 2005 —ou para os mais otimistas, em 2010, 2015, 2020—  mais de metade do petróleo recuperável —isto é, cuja extração é tecnológica e financeiramente viável— terá sido produzido e consumido pelos humanos. A metade restante, e este é lado trágico da história, desaparecerá a uma velocidade muito superior do que a primeira. Nos cem anos de uso intensivo do petróleo (1930-2030) levámos oitenta atingir o pico da produção, mas depois de aqui chegados apenas restarão vinte anos até que a sua produção se torne demasiado cara para continuarmos a produzi-lo numa escala sequer aproximada da atual. Depois deste limiar, o petróleo deixará de ser um recurso estratégico da economia global. Ou será que continuará a sê-lo, por mais algum tempo, enquanto outras energias não o substituem, em regiões delimitadas e militarmente protegidas do planeta, mas pelo preço de um genocídio sem precedentes? Não creio, sinceramente, nesta hipótese.

    O nosso modo de vida contemporâneo, industrial, urbano e cosmopolita nasceu há duzentos anos. O seu esgotamento, porém, está à vista, e o colapso dar-se-à muito provavelmente entre 2030 e 2060. Pode, aliás, ocorrer muito antes. Basta para tal que desastres imprevistos mas prováveis, de ordem climática (secas prolongadas, inundações, ciclones, etc.), financeiras, ou bélicas, aumentem de forma súbita e muito intensa a pressão sobre os recursos disponíveis. 

    Estamos, pois, perante a eventualidade de um retrocesso civilizacional de dimensões bíblicas. E o pior é que nenhum governo se preocupa com o assunto, salvo nas respostas atabalhoadas e pontuais que vão dando aos efeitos das sucessivas e cada vez mais frequentes catástrofes climatéricas, crescentes conflitos militares e guerras civis.


    Enquanto a descoberta de novas reservas decresce desde 1966, a produção entrou em 2005 no planalto dos 83 milhões de barris/dia, antes de começar a cair.

    Para termos uma ideia da gravidade desta ocorrência, típica do fim de uma era, basta meditar nisto: nos EUA 2/3 do petróleo consumido vão para o transporte automóvel, 60% na OCDE. Por outro lado, 98% dos transportes nos países industrializados dependem do petróleo. Os transportes são ainda responsáveis por 13% das emissões globais de CO2 equivalente, e dentro desta fatia, 80%  das emissões provêm dos veículos rodoviários (The Market Oracle)

    O boom mediático em volta das areias betuminosas do Canadá, do petróleo pesado venezuelano, do pré-sal brasileiro, das jazidas do Árctico, e mais recentemente do petróleo e gás de xisto americano e canadiano, há muito contabilizados no estudo de M. King Hubbert, não passa disso mesmo, duma diversão jornalística. Por outro lado, as chamadas energias alternativas representavam, em 2010 (Wikipedia), 16,7% do total da energia industrial consumida pelo homem, sendo que as renováveis tecnológicas mais recentes, solar e eólica, não iam além dos 2%. Como se isto não bastasse, o rendimento energético e a portabilidade das energias que são anunciadas como alternativas ao petróleo são irremediavelmente insuficientes.


    Crescimento exponencial e colapso

    Um outro estudo sobre limites do crescimento, mais abrangente, foi apresentado em 1972 por Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III, a pedido do Clube de Roma e subsidiado pela Fundação Volkswagen, usando para tal um modelo computacional denominado World3

    A sua publicação causou uma enorme polémica e é ainda hoje, pela acuidade dos temas tratados e precisão de resultados, um marco histórico da nova consciência ecológica mundial. 

    Basicamente, os autores deste estudo mostraram de modo chocante os limites intransponíveis das dinâmicas de crescimento exponencial em que a humanidade está envolvida e que irão acabar por provocar um enorme colapso se não forem tomadas medidas urgentes de abrandamento do crescimento demográfico mundial, a par de uma utilização sustentável dos recursos disponíveis.

    Infelizmente o tempo da mitigação (Hirsch Report, 2005) do desastre anunciado passou, e portanto, não estando o fim do mundo a 24 horas de distância, o fim de uma era, sim. O colapso, aliás, já começou em muitas partes do mundo, e nem o Ocidente industrializado e rico escapa às catástrofes climatéricos e à austeridade que começaram a invadir o nosso quotidiano numa escalada sem precedentes e que só estancará, no que ao paradigma petrolífero se refere, quando o racionamento começar...

    Enquanto escrevia este texto encontrei uma entrevista preciosa a Dennis L. Meadows, realizada no dia do meu aniversário, 27 de novembro de 2012, num simpósio promovido pela Fundação Volkswagen. O título é sugestivo: “Already Beyond? – 40 Years Limits to Growth”.


    Dennis L. Meadows, Co-Author of the study "The Limits to Growth", during the Opening of the Herrenhausen Symposium | Volkswagen Foundation.
    © Photography: F. Fiechter
    “Once the limits to growth were far in the future. Now they are widely in evidence. Once the concept of collapse was unthinkable. Now it has begun to enter into the public discourse—though still as a remote, hypothetical, and academic concept. We think it will take another decade before the consequences of overshoot are clearly observable and two decades before the face of overshoot is generally acknowledged.”

    in Limits to Growth; The 30-Year Update

    January 2004
    Dennis L. Meadows, Durham, N.H., USA
    Jorgen Randers, Oslo, Norway

    Um dos fenómenos que mais estranhei em viagens ao Porto, que tenho vindo a realizar desde há uns cinco ou seis anos, foi a abundância de gaivotas que invade a cidade, de Matosinhos e da Foz do Douro até à Ramada Alta e Avenida Damião de Góis. Também estranhei que as cegonhas pairem já em grande número na zona de Aveiro. E há cerca de um ano comecei a notar em certos dias escuros de vento sul e chuva que também em Carcavelos, onde vivo a maior parte do ano, as gaivotas começam a sobrevoar a vila e o terraço de minha casa. Que se passa? Têm fome!


      
    Post scriptum — quando preparava este post reuni uma série de referências bibliográficas e de sítios web que entretanto coloquei numa página autónoma a que chamei Collapse Link. É um complemento deste e possivelmente de futuros escritos sobre este mesmo tema.

    NOTAS
    1. Além destas ondas de 60 a 200 anos de duração, muito bem documentadas no livro de Fischer, há ainda na Europa, e mais particularmente em Portugal, uma mega onda histórica (pura dedução minha que precisa de ser estudada em pormenor) compreendida entre de 1415, data da conquista da praça forte de Ceuta pelos portugueses, e o ano 2015,  data geralmente apontada para o regresso em pleno da China ao palco mundial como grande potência económica, marítima, científica, financeira e militar. A expansão marítima europeia inaugurada pela conquista militar de Ceuta, largamente inspirada pela rainha inglesa Filipa de Lencastre, casada com João I, e que coincide com o Renascimento e o período de equilíbrio nos preços que transcorreu entre 1400 e 1479-90, abriu a Europa a novos mercados de matérias primas, manufaturas e sobretudo ouro e escravos. É sobre esta nova e ampla base de recursos abundantes e baratos, que viria a ser reforçada nos séculos XIX e XX pela sucessiva entrada em cena do carvão e do petróleo, que a Europa irá crescer sem parar até meados da década de 1960. A partir do final desta década, princípios da seguinte, o mundo começa outra vez a mudar. Caminhamos para um novo equilíbrio, não sem antes passarmos por uma quebra brutal do rendimento disponível da Europa. Repare-se qe o império colonial português, um dos mais longos da História, durou praticamente todo este período (1415-1999). Se percebermos isto será muito mais fácil entender a crise atual, para a qual as bruxas economistas nenhuma solução têm ou podem ter. Desde logo porque ainda nem sequer percebam as causas.

    Última atualização: 29 dez 2012 - 21:45 WET

    segunda-feira, julho 20, 2009

    Mare nostrum

    A caminho de um novo Tratado de Tordesilhas

    CPLP: «Estratégia para o Mar» é hoje aprovada

    Os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Mar da CPLP vão aprovar hoje na Cidade da Praia a «Estratégia para o Mar» numa reunião parcialmente conjunta entre os chefes da diplomacia dos «oito» e os ministros do sector. — in Diário Digital (segunda-feira, 20 de Julho de 2009 | 06:10)

    Tudo vai mal no governo Sócrates, menos a sua política externa. Luís Amado daria um bom futuro primeiro-ministro de Portugal. Quando a maré regressar ao PS, claro!

    Os países da CPLP —Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e Timor (mais a observadora Galiza)—, por razões que adiante resumimos, voltam a ser decisivos no jogo de equilíbrios mundial, podendo mesmo —ou melhor, devendo mesmo— preparar-se desde já para um forte papel de mediação diplomática e comercial no embate de titãs que se aproxima entre uma Ásia crescentemente protagonizada pela China, e o ainda dominante Ocidente euro-americano com os seus aliados, nomeadamente em África.

    O interesse crescente da China e da Índia pelo Atlântico é óbvio e claramente explicável: sem uma navegação amigável por este oceano, não haverá energia, nem matérias primas, nem alimentos que cheguem para suportar as actuais taxas de crescimento daqueles dois gigantes emergentes. As importantes delegações, chinesa e indiana, que recentemente nos visitaram, sugerindo um papel mais activo de Portugal na cena internacional, são a prova provada do que venho escrevendo há mais de três anos (ler aqui) sobre este tema: vai ser preciso um novo Tratado de Tordesilhas para garantir a paz mundial e o ajustamento harmónico das placas tectónicas das geo-estratégias planetárias — actualmente em rota de colisão.

    A passagem do Médio Oriente está infestada de conflitos militares (1) e até de "piratas" (2). As regiões de contacto terrestre entre a China e o resto do planeta —Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Paquistão, Índia, Birmânia (Myanmar)— estão a ser bloqueadas pelo Ocidente através da aliança judaico-cristã protagonizada pela NATO e por Israel, em nome, claro está, da luta contra o terrorismo fundamentalista. Primeiro foi a desestabilização do Tibete nas vésperas dos Jogos Olímpicos; agora é a "revolução" nacionalista em Xinjiang. A Turquia, que é um estado predominantemente islâmico, mas pró-Ocidental e que quer entrar na União Europeia, avisou a China de que não poderia tratar o Turquistão Chinês, i.e. a região autónoma chinesa de Xinjiang, palco recente de grandes conflitos étnicos e religiosos, como vem tratando da questão tibetana. Em suma, o cerco terrestre à China está em marcha!

    Resta, pois, ao país dos pandas, uma de duas soluções: ou antecipar um conflito militar em larga escala (para o que não está preparado), ou criar uma grande armada comercial e militar, em nome das regras internacionais da livre-circulação marítima — que é o que vem fazendo, com sucesso. A visão interrompida, em 1433, de um súbdito de três imperadores chineses, o eunuco muçulmano e mítico almirante da então maior armada militar do planeta —Zheng He—, regressa agora como uma inevitabilidade, curiosamente, cinco séculos depois de Filipa de Lencastre ter estimulado os seus bem educados filhos a conquistar Ceuta e descer a costa ocidental de África, em busca de ouro e do lendário Preste João das Índias.

    Os nossos grandes empresários escusam pois de teimaram na betonagem do país à custa da sangria fiscal e da destruição dos direitos sociais dos seus concidadãos. A China e a Índia, já para não mencionar o Brasil, Angola e Moçambique, precisam da vossa versatilidade, dos vossos conhecimentos técnicos, da vossa experiência de gestão e dos vossos capatazes, mas sobretudo, precisam do vosso idioma! Portugal, se calhar não morreu ainda. Teve um colapso. Desmaiou. Dêem-lhe umas bofetadas, para acordar!



    NOTAS
    1. The Pentagon and its NATO allies have launched the largest combat offensive to date in their nearly eight-year war in South Asia - Operation Khanjar (Strike of the Sword) with 4,000 US Marines, attack helicopters and tanks and Operation Panchai Palang (Panther's Claw) with several hundred British engaged in airborne assaults - in the Afghan province of Helmand.

      The American effort is the largest ground combat operation conducted by Washington in Asia since the Vietnam War.

      Other NATO and allied nations have also boosted or intend to increase their troop strength in Afghanistan, with German forces to exceed 4,000 for the first time, Romanian troops to top 1,000 and contingents to be augmented from dozens of other NATO member and partner states, including formerly neutral Finland and Sweden.

      The US, NATO, NATO's Partnership for Peace and Contact Countries and other allied nations - states as diverse as Australia, New Zealand, Ireland, the United Arab Emirates and Macedonia - have some 90,000 troops in Afghanistan, all under the command of America's General Stanley A. McChrystal, former head of the Joint Special Operations Command in Iraq and a counterinsurgency master hand. The Afghan-Pakistani war theater resembles the Vietnam War in more than one manner.

      The US troop contingent has nearly doubled since last year, more than quintupled in five years, and will be in the neighborhood of 70,000 soldiers by year's end.

      Concurrent with the ongoing offensive the US has fired missiles from aerial drones into Pakistan in the two deadliest strikes of the type ever in that country, killing 65 and 50 people in two recent attacks.

      Large-scale government military operations on the Pakistani side of the border, coordinated with the Pentagon through its new Pakistan Afghanistan Coordination Cell and with NATO through the Trilateral Afghanistan-Pakistan-NATO Military Commission, have uprooted and displaced well in excess of two million civilians, the largest population dislocation in Pakistan since the 1947 partition of British India. — in "Military Escalation: From Afghanistan To the Caspian Sea and Central Asia Largest ground combat operation since the Vietnam War", by Rick Rozoff, Global Research, July 10, 2009.

    2. Na realidade, os propagandeados "piratas" do Índico não passam duns pobres diabos esfarrapados, a quem não resta outro remédio que não seja pilhar quem passa ao largo das suas costas, normalmente navios atulhados de petróleo e outras mercadorias, depois de as suas águas e territórios terem sido e continuarem a ser literalmente pilhados pelos verdadeiros e grandes piratas da humanidade que somos nós, Ocidentais alegres e sempre cheios de razão, devoradores insaciáveis de recursos, que com a nossa tecnologia superior varremos, por exemplo, os bancos de peixe das costas da Somália.

      Somali pirates are in the news once again, capturing ten shipping vessels in the Indian Ocean this week. That is a total of 66 vessels on the year, with 16 still in the hands of pirates. This time there were no off-colored remarks about parrots and scallywags, treasure chests or Captain Jack Sparrow in the American media. This time an American was taken hostage. — in "To Deal With Pirates, Look To The Land" (Olive & Arrow).
    3. After the tragic events of July 5 in Xinjiang Uyghur Autonomous Region in China, it would be useful to look more closely into the actual role of the US Government’s ”independent“ NGO, the National Endowment for Democracy (NED). All indications are that the US Government, once more acting through its “private” Non-Governmental Organization, the NED, is massively intervening into the internal politics of China.

      The reasons for Washington’s intervention into Xinjiang affairs seems to have little to do with concerns over alleged human rights abuses by Beijing authorities against Uyghur people. It seems rather to have very much to do with the strategic geopolitical location of Xinjiang on the Eurasian landmass and its strategic importance for China’s future economic and energy cooperation with Russia, Kazakhastan and other Central Asia states of the Shanghai Cooperation Organization.

      The major organization internationally calling for protests in front of Chinese embassies around the world is the Washington, D.C.-based World Uyghur Congress (WUC). — in Global Research, July 11, 2009. — Washington is Playing a Deeper Game with China, by F. William Engdahl (Global Research).


    OAM 605 20-07-2009 12:14

    sábado, junho 14, 2014

    A moeda e os impérios

    Origem: DoubleLine

    O tempo histórico tem um passo mais largo que o tempo da nossa ansiedade


    O gráfico que acompanha este artigo elucida bem como os impérios nascem, impõem a sua moeda, e depois morrem.

    É o caso agora dos EUA, cuja moeda de reserva acaba de perder a hegemonia e está obrigada a partilhar tal estatuto com o euro e com o renminbi, depois de os especuladores ingleses e americanos terem perdido a guerra inglória que lançaram contra a moeda única europeia.

    Mas tal como o gráfico também mostra, os impérios morrem devagar. Por exempo, Portugal só 600 anos depois (1415-2015) de ter sido um império, dono de uma moeda de reserva mundial ao longo de oitenta anos, se viu envolvido em sucessivos episódios de insolvência. Só em 1999 Portugal arriou a sua bandeira em Macau e deixou de ter moeda própria — a favor do euro. E, com sorte, só em 2015 iniciaremos um novo período histórico, ainda pleno de incógnitas.

    Devemos, pois, olhar para o declínio dos Estados Unidos com prudência, tendo sempre em conta que os aliados estratégicos são em larga medida determinados pela geografia, e não pela ideologia.

    O Atlântico volta a ser o centro estratégico do planeta, por motivos que explicaremos noutro texto, mas que no essencial se prende com a impossibilidade objetiva de a Ásia se aproximar tanto da Euroamérica, quanto a Euroamérica se tem aproximdado ultimamente da Ásia. A paragem do movimento tectónico em curso vai ocorrer ao longo da próxima década (2020-2030), e a linha da redistribuição global da riqueza material, tecnológica e cultural vai acabar por manter uma grande assimetria entre o Ocidente e o Oriente, e entre o Norte e o Sul. Não há, pura e simplesmente, energia barata para que seja doutro modo.




    How Much Longer Will the Dollar Remain the Reserve Currency of the World?
    By Cullen Roche, June 11th, 2014. Pragmatic Capitalism.

    ...will the USA lose its reserve currency status at some point?  Yes.  In fact, it’s already starting to lose its reserve status to Europe and China.  Will it be the end of the world and will it cause everyone to suddenly ditch the dollar?  Probably not.  It just means the USA will produce a lower proportion of global output and therefore, as a matter of accounting, the rest of the world will hold a lower percentage of US dollar denominated financial assets as a percentage of global output.  It’s not the end of the world.  It’s just a sign that market shares change and when you’re #1, well, there’s only one direction to go.

    Segundo Paul Kennedy escreve em The Rise an Fall of the Great Powers, a China, se não tivesse destruído a sua grande Armada, para acudir à pressão que os Mongóis exerciam a norte do seu território, talvez tivesse chegado à Europa por via marítima. O contemporâneo, embora mais velho, do Infante Dom Henrique (1394 - 1460), que na China poderia ter promovido um movimento simétrico ao dos Descobrimentos Portugueses, era um general eunuco, de origem muçulmana, chamado Zheng He (1371 - 1433). Este personagem assume hoje na China um protagonismo mítico só comparável ao do famoso filho da princesa inglesa Filipa de Lencastre e de D. João I, que foram reis de Portugal. Mas na História, ao contrário do que se diz, as repetições são raras. E o sonho que a China hoje alimenta de abrir-se ao mundo e devir um império moderno e mundial, como Portugal, Castela, a Holanda, França, Inglaterra e o Estados Unidos foram, pode estar irremediavelmente comprometido por uma realidade chamada pico do petróleo, e pela consequente implosão do período de crescimento inflacionista extraordinariamente rápido e intenso que uma parte do mundo conheceu nos últimos duzentos anos.

    Portugal verá porventura aumentar o seu território por efeito da extensão da sua Plataforma Continental (Facebook). Mas será por aqui e pelo papel que soubermos jogar na União Europeia que o novo ciclo começará, depois do arriar definitivo da bandeira colonial? Ou teremos que descer previamente ao inferno de nós mesmos, para podermos renascer genuinamente em uma nova era?


    sexta-feira, maio 19, 2017

    Nacionalidade e esquizofrenia

    As moedas mundiais, que só apareceram na Época Moderna, têm tido uma duração média de 100 anos. 

    Portugal foi, é e será um país europeu com os olhos virados para o mar.


    El misterio portugués 
    Gabriel Magalhães, 23/09/2009 03:31 | Actualizado a 02/10/2009 13:10. La Vanguardia 

    ¿Cuáles son los retos actuales de la portugalidad? El lector ya se ha dado cuenta de que, en realidad, Portugal es un país inviable. Siempre lo ha sido. No posee una individualidad geográfica; sus raíces más profundas las comparte con Galicia; su propio idioma es una evolución, una mundialización del gallego. La independencia portuguesa hay que crearla todos los días. Por eso, ser portugués cansa muchísimo.

    Um texto subjetivo, quase justo, sobre o nosso país. Falha em dois pontos cruciais: é incapaz de explicar o mistério da nossa independência (ninguém em Portugal vive a esquizofrenia duma dupla nacionalidade imposta), bem como a existência dum idioma novo e seminal, vindo do galaico-português, que veio do latim, etc., mas que também veio do árabe, tanto no vocabulário, como na entoação da língua.

    A manta de retalhos que existe na Península Ibérica resultou da chamada Reconquista Cristã, em resposta à queda do Império Romano e ao ascenso do Islão (que fecharia então o acesso a Rota da Seda, que a China está neste momento a reabrir, mas que há quem queira manter fechada...), e nem os Reis Católicos alteraram realmente este mosaico de nações. Rainhas portuguesas em Leão, Aragão e Castela foram 12...

    Quanto ao futuro, diria que terminou em 2015 um ciclo de 600 anos de diáspora europeia moderna e contemporânea, cujo primeiro passo foi dado por Portugal, sob influência decisiva duma rainha portuguesa vinda de Inglaterra (Filipa de Lencastre), ao pisarmos terra em Ceuta, uma cidade estratégica que ainda hoje, mesmo tendo optado por ser espanhola, depois de 1640, continua a exibir na sua bandeira as cores de Lisboa e o brasão de armas de Portugal). Não é um pormenor!

    Já agora: depois de completada a rede de autoestradas e depois da necessária atualização das ligações da nossa rede ferroviária à rede euro-asiática (2030), a prioridade será reconstruir uma marinha mercante e militar ligeiras ultra-moderna.


    Clique para ampliar o gráfico


    Leituras recomendadas

    The Rise of the Great Powers
    Documentário televisivo chinês, difundido pela CCTV-2 em Novembro de 2006

    The documentary “endorses the idea that China should study the experiences of nations and empires it once condemned as aggressors bent on exploitation” and analyzes the reasons why the nine nations rose to become great powers, from the Portuguese Empire to current United States hegemony. The series was produced by an “elite team of Chinese historians” who also briefed the Politburo on the subject.” In the West the airing of Rise of the Great Powers has been seen as a sign that China is becoming increasingly open to discussing its growing international power and influence—referred to by the Chinese government as “China’s peaceful rise.” (LINK)


    The rise and fall of navies, Paul Kennedy, Herald Tribune, Aril 5, 2007.

    "By 2010, China's submarine force will be nearly double the size of the U.S. submarine fleet The entire Chinese naval fleet is projected to surpass the size of the U.S. fleet by 2015." -- USA Congressional Research Service, March, 2007.

    In the very first decades of the 15th century, the great Chinese admiral Cheng Ho led a series of amazing maritime expeditions to the outer world, through the Straits of Malacca, into the Indian Ocean, across even to the eastern shores of Africa. Nothing at that time compared with China's surface navy.

    Yet, within another decade, the overseas ventures had been scrapped by high officials in Beijing, anxious not to divert resources away from meeting the Manchu landward threat in the north and about how a seaward-bound open-market society might undermine their authority.

    Coincidentally, on the other side of the globe, explorers and fishermen from Portugal, Galicia, Brittany and southwest England were pushing out, across to Newfoundland, the Azores, the western shores of Africa.

    While China's great fleets were being dismantled by imperial order, Western Europe was beginning to move into "new" worlds, full of ancient peoples and cultures in the Americas, Africa, Asia and the Pacific. Any place vulnerable to Western naval and military power was at risk. Above all, as the American naval captain A. T. Mahan taught us over a century ago in his classic book, "The Influence of Sea Power Upon History" (1890), the West valued navies as the key to global influence.