Mostrar mensagens com a etiqueta redes sociais. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta redes sociais. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, janeiro 13, 2017

Jornalistas à beira dum ataque de nervos

Maria Flor Pedroso, presidente do Congresso de Jornalistas


Passados quase 20 anos desde o último congresso de jornalistas, a classe enfrenta “a mais grave crise das suas vidas profissionais”. Durante este período de tempo abandonaram a profissão duas mil pessoas e há jornalistas que sobrevivem graças ao Rendimento Social de Inserção, afirmou esta quinta-feira o presidente da Casa da Imprensa, Goulart Machado, na sessão de abertura do 4.º Congresso de Jornalistas, que decorre até domingo no Cinema São Jorge, em Lisboa. 
in Público

O mais preocupante desta crise tecnológica do jornalismo é a própria indigência que ameaça o meio, e a auto-censura que se instala a olhos vistos. Outro efeito grave da dependência extrema que as empresas de comunicação social manifestam de modo cada vez mais claro perante o poder político é o assalto de jornais e canais de televisão pela marabunta partidária e pelo futebol. A papa resultante é infumável.

A Internet mudou as regras do jogo da informação, da comunicação, da propaganda e da manipulação ideológica e cultural. Soube-o em 1994, quando pela primeira vez entrei no mundo das BBS, e uns meses depois na World Wide Web. Passei então a mensagem ao principal empório de comunicação social português. Mas não fui entendido. O dinheiro comunitário chegava com fluidez e abundância aos bolsos de políticos, empresários, profissionais, facilitadores e redações (eu era, então, colaborador de O Independente). Para quê pensar no futuro? O problema, como hoje se percebe tardiamente, chegou num ápice de tempo.

Em geral, as empresas de comunicação social do nosso país tardaram a perceber o impacto profundo que o mundo online iria ter nas suas vidas e possibilidades de sobrevivência. Quando as redes sociais explodiram, sobretudo no Facebook (2004) e no Twitter (2006), coincidindo a sua rápida expansão com a mais violenta crise económico-financeira mundial dos últimos oitenta anos (2008 - ...), o jornalismo convencional entrou numa espiral implosiva, com todas as consequências económicas, sociais e culturais que em 1994 já se podiam imaginar, ainda que sem a vertente dramática que desde então viemos a conhecer.

Mas o pior de tudo será crer que os média convencionais poderão salvar-se numa espécie de corrida populista de lémures em direção à mediocridade e à subserviência. A ideia é fraca e os resultados trágicos, como o Congresso dos Jornalistas acaba de o reconhecer.