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sábado, dezembro 20, 2014

2015: os dois erros fatais de Mário Soares e o fim deste regime

Soares diz que o Governo está "moribundo" e "vai cair" (outubro, 2013)
© Daniel Rocha/Arquivo

José Sócrates e Jorge Coelho foram os testas de ferro de Mário Soares, e perderam. Nem Ricardo Salgado os salvou. Muito pelo contrário!


Soares começou por avaliar mal a China e Angola, crendo que a Europa e os amigos do seu amigo Frank Carlucci, que cairiam parcialmente em desgraça depois do 11 de Setembro, nomeadamente em Portugal, lhe manteriam as costas quentes para dizer o que quisesse, de modo cada vez mais incontinente, e para mover as suas tropas à vontade no território manifestamene exíguo do país que sobrara da implosão do nosso exangue império colonial.

Soares não estudou e por isso não conseguiu ver o óbvio: que a China precisaria de África e da América do Sul para a sua própria sobrevivência estratégica e crescimento sustentado. Não percebeu que a projeção global da China em direção ao Atlântico se faria naturalmente através de uma ligação entre Pequim (com Xangai e Macau) e Maputo, Luanda, Lisboa e Brasília (além de Buenos Aires e Caracas). Não leu os meus posts, onde escrevi, entre outras coisas, que a China estabelecera o ano de 2015 para se tornar o banco do mundo (incluindo o banco da América, da Rússia e da Europa), e assim passar a ser, de facto, a nova e única potência global em condições de desafiar a supremacia do império americano.

Observação: nesta nova divisão do mundo é preciso lançar a iniciativa de uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas (a que chamei Tordesilhas 2.0), sob pena de, se algo de semelhante não for conseguido, Ocidente e Oriente cairem outra vez numa dinâmica de confrontação extremamente perigosa. Um alinhamento acéfalo e cobarde da Europa com os Estados Unidos só poderá dar péssimos resultados, como estamos neste momento a ver e perceber, finalmente.

A desastrosa política da NATO, comandada desde Washington, acossando e provocando as fronteiras da Rússia, mergulhou a Europa numa gravíssima crise de liderança.

Esperemos que Angela Merkel, que conhece bem os russos, tenha a sabedoria de reencaminhar a União Europeia para uma cooperação estratégica com Moscovo, em nome de uma Eurásia livre da prepotência americana. A Rússia precisa da ligação ferroviária entre Lisboa e Vladivostoque para se proteger da excessiva importância da ligação ferroviária Pequim-Madrid—que só não chega ainda a Lisboa porque o lóbi pirata do aeroporto da Ota em Alcochete conseguiu, até agora, condicionar a ação de Passos Coelho (1).

Por todos os motivos, neste particular aspeto da movimentação tectónica em curso, Portugal só tem uma opção estratégica que valha o nome: manter-se fiel à sua geografia, fiel às suas velhas alianças, mas também fiel à memória histórica, à sua memória histórica!

Ser um pequeno mas confiável parceiro do Ocidente e do Oriente onde estivemos ao longo dos últimos 600 anos—de facto até ao início deste século, pois Timor só obteve a sua independência efetiva em 2002— é uma missão histórica e a nossa principal estratégia para todo o século 21. Quem não percebeu ou não quer perceber esta subtileza histórica não tem lugar no futuro e deve, desde já, deixar de atrapalhar o presente.

Em Macau, para onde Mário Soares enviou uma tropa fandanga de aventureiros, ficou uma mancha terrível de corrupção grosseira e insaciável. Em Angola, Soares não só apoiou o cavalo errado, como teve mau perder e, desde então, foi sempre fustigando José Eduardo dos Santos, movendo sempre que quis a indigente imprensa local para denunciar a cleptocracia de Luanda.

José Sócrates bem tentou agarrar a areia com as mãos, quer dizer, bem tentou entrar no novo filão estratégico a que os país está destinado, viajando para Luanda, Maputo, Macau, Pequim, Caracas, Brasília. Até enviou o BES para Angola e para a China, onde mal estava presente. Até destacou a Mota-Engil para Angola, Moçambique, Brasil e alguns países mais da América Latina. Mas houve algo que falhou. O que foi? Só encontro uma explicação: a perceção de que Sócrates, Jorge Coelho e o resto da tríade de Macau era afinal a malta fixe do velho Mário Soares e do seu ajudante de campo, António Almeida Santos!

Que há de errado nesta configuração? Talvez isto: o aliado africano de Mário Soares foi Jonas Savimbi, e o aliado chinês chamou-se Stanley Ho — um milionário que perdeu 89% da sua fortuna em 2008 e cujos numerosos descendentes andam envolvidas em disputas de herança.

Como Mário Soares nunca fez as necessárias agulhas para os verdadeiros poderes da China e de Angola, e em Moçambique se manteve neutro, dificilmente se poderia esperar que o futuro das estratégias de Pequim e de Luanda passasse por velhos inimigos, ou por gente que se portou tão mal em Macau e nunca verdadeiramente olhou para Pequim com a atenção devida.

Na linhagem descendente e alinhada de Mário Soares, ninguém tentou mudar de direção exceto, em boa verdade, José Sócrates. Acontece, porém, que a mudança de direção teve mais de deriva oportunista do que estratégia. Basta ver a sanha moralista da deputada Ana Gomes, ou do filho de Mário Soares, João Soares, contra a cleptocracia angolana e a ditadura chinesa, para que fique claro que o Partido Socialista e os seus governos não são aliados confiáveis da China, nem muito menos de Angola.

Entretanto, José Sócrates e a sua turma de corruptos e irresponsáveis levaram o país à pré-bancarrota, deixando a maioria dos bancos portugueses na ruína, entregues a uma fuga criminosa de capitais e à ocultação de passivos mais ou menos clandestinos. Sem dinheiro, os banqueiros despediram Sócrates e o governo. O PS viria a perder compreensivelmente as eleições a favor de uma nova geração do PSD, capitaneada por Pedro Passos Coelho.

À medida que foi preciso corrigir o país, os casos de corrupção começaram a saltar.

Por outro lado, a estratégia diplomática portuguesa acertou o passo com a racionalidade e o pragmatismo, obtendo um significativo apoio por parte da China e de Angola. Foi isto que enfureceu Mário Soares e a corja corrupta do PS, mas também muita gentinha igualmente corrupta do PSD e do CDS/PP.

O timoneiro Soares chegou então à conclusão de que era preciso derrubar o governo de Passos Coelho fosse como fosse. António José Seguro não alinhava? Despediu-se o Tozé! A pressão sobre Cavaco Silva foi enorme, e veio dos dois lados: do PS de Soares e do PSD de Durão Barroso. Passos Coelho, porém, resistiu melhor do que se esperava.

Nem o golpismo impotente e de última hora de Mário Soares, atraindo toda a esquerda partidária neocorporativa e indigente para a rua, com as tropas de choque sindicais assediando continuamente ministros e comunicação social, empurrando os trabalhadores para greves que são becos sem saída (Professores, Metro, CP, Carris e TAP são bons exemplos da criminalidade sindical à solta), nada disrto derrubou a coligação, nem chegará para salvar o PS de uma mais que provável extinção partidária.

O carreirista limitado que é António Costa foi obviamente empurrado para o papel que hoje, sem jeito algum, e apesar da babada e desmiolada imprensa indigente que o apoia, desempenha: o de testa de ferro de segunda ordem de Mário Soares.

Esperemos que a Justiça que entretanto se libertou do disléxico Monteiro e de toda a canga de invertebrados judiciários que serviram a casta que nos arruinou, faça o seu trabalho depressa e bem, destapando um a um os potes da riqueza sequestrada aos portugueses, e recupere, se não todo o saque, pois parte dele foi delapidado em obras inúteis, contratos ilegítimos que terão que ser denunciados e corrigidos, e muita festa regada com Champagne, pelo menos nos ajude a restaurar, como povo, a honra perdida.

NOTAS
  1. O governo português, nesta particular mas importante matéria, só tem que fazer uma coisa: cumprir os acordos com Espanha e fazer a sua parte na construção da nova rede ferroviária europeia em bitola europeia. Para isto tem dinheiro europeu. Para as parvoíces que enfiaram no GTIEVA não tem, nem terá.

sábado, setembro 06, 2008

Angola 3

Democracia adiada?

O momento crítico das eleições angolanas começa verdadeiramente agora, ou seja, com a contagem dos votos. Se a tensão criada pelos atrasos verificados na abertura das 320 assembleias de voto de Luanda prosseguir e aumentar de tom, estarão criadas as condições para o regresso dos generais! Espero que a Oposição tenha juízo e demonstre a necessária maturidade para lidar com a casca de banana que lhe lançaram aos pés.

A derrapagem do processo eleitoral angolano, segundo testemunho directo de um dos muitos actores no terreno, que conheço bem e teve a amabilidade de me informar, teve origem nos seguintes contratempos e problemas:
  1. a credenciação dos 600 mil "agentes eleitorais", que decorreu sem problemas nas 17 províncias fora da capital angolana, foi trabalhosa e difícil em quatro dos nove municípios da província de Luanda, com especial destaque para o Cazengue, o município com maior densidade populacional do país;
  2. estes constrangimentos aumentaram exponencialmente com o volume de eleitores em Luanda (mais ou menos um terço dos eleitores do país), contribuindo para um certa confusão nas horas iniciais de funcionamento das assembleias de voto;
  3. o grande atraso na abertura das assembleias de voto parece ter sido consequência de alguns erros na distribuição dos boletins de voto;
  4. o Tribunal Constitucional não deverá, apesar do grau de desorganização verificado, considerar haver matéria suficientemente grave para impugnar as eleições, ou sequer marcar novo acto eleitoral nas assembleias de votos onde se registaram os atrasos e consequente diminuição do tempo previsto para decurso do acto eleitoral;
  5. a situação parece ter sido normalizada atempadamente, pois apenas 320 das mais de 13.000 assembleias de voto abriram hoje a fim de que os eleitores que ontem não puderam votar possam exercer em pleno o seu direito de voto;
  6. embora a UNITA tenha avançado com um pedido de repetição das eleições, os demais partidos da Oposição foram mais moderados nas suas reclamações e, em particular a Igreja manifestou uma posição de extrema moderação sobre a dimensão afinal reduzida dos problemas técnicos verificados;
  7. os erros, compreensíveis até certo ponto, não deixaram porém a melhor impressão nos observadores internacionais, pelo que Luanda poderá ser objecto de críticas e recomendações que não deixarão de pesar sobre o passeio eleitoral esperado por José Eduardo dos Santos, e pelos generais que ele, curiosamente, admoestou no principal comício eleitoral da campanha para estas eleições.

Este é o terceiro postal que escrevo sobre Angola. No primeiro, chamei a atenção para a cleptocracia instalada na antiga colónia portuguesa, sobre cujas irregularidades Portugal mantém um silêncio oportunista e cúmplice. No segundo, chamei a atenção para a necessidade de olhar para Angola numa perspectiva de longo prazo, tendo em conta a infância do novo país e os previsíveis custos da sua consolidação como uma das principais potências económicas e políticas africanas, desejando de caminho ao povo angolano que o seu segundo processo eleitoral corresse pelo melhor. Neste terceiro postal, registo as dificuldades e os perigos contidos no actual processo político, o qual poderá, se não for bem gerido por todos os actores interessados na futura democracia angolana, degenerar rapidamente em novos acertos violentos de território. O tempo internacional é, aliás, propício a este género de perversões!

O Estado angolano é demasiado novo, e portanto aquilo que essencialmente continua a estar em jogo é a formação das suas classes dominantes e das correspondentes acumulações primitivas de riqueza, poder e tradição institucional. Eu sei que dito assim, tão cruamente, pareço estar a defender a ganância insensível da família dos Santos e a voracidade cruel, por vezes sanguinária, da tropa pretoriana que o protege e à sua sombra enriquece para lá da nossa imaginação. Mas analisando friamente o problema, como se Angola fosse um mero paciente num teatro anatómico repleto de historiadores, etnólogos, sociólogos e políticos, que outro diagnóstico poderíamos fazer? Significa esta observação "científica" que não devemos criticar os estádios necessariamente duros do nascimento de uma nação? Não. Significa que temos que ser capazes de manter um olhar bifocal sobre a realidade angolana. Por um lado, devemos perceber que a constituição das classes dominantes do novo país não se deu ainda e será sempre um processo duro e prolongado. Por outro, devemos exercer uma pressão democrática firme, bem doseada, e sobretudo bem informada, sobre o regime, por forma a prestar uma ajuda solidária e responsável a uma realidade que tem muito de nós. A responsabilidade ética de Portugal nos processos de emancipação nacional das suas antigas colónias é uma herança civilizacional que deve ser cumprida com diligência, sabedoria e humildade. Teremos sempre uma vantagem comparativa sobre todos os novos amigos de Angola.

ÚLTIMA HORA

08-09-2008 00:16. Depois das excitações paternalistas do grupo Impresa e da pequena histeria matinal da deputada maoista Ana Gomes em volta das eleições angolanas, o bom-senso veio ao de cima, sobretudo depois de constatada a esmagadora vitória do MPLA e a pesadíssima derrota da UNITA (fruto mais do que provável da sua convivência governamental com o MPLA ao longo de tantos anos.)

Não creio que a UNITA acabe por impugnar as eleições, como ameaçou no calor dos incidentes logísticos nalgumas centenas de assembleias de voto na capital. O MPLA não pode fazer o trabalho dos demais partidos políticos, que terão aliás muito que trabalhar para disputar um dia o terreno ocupado pelo MPLA. Mas o MPLA poderá começar, cumprindo as promessas de José Eduardo dos Santos no principal comício da campanha eleitoral, por despartidarizar o poder e a comunicação social, dando espaço ao crescimento conveniente do peso eleitoral dos seus adversários, e sobretudo estimulando o nascimento de uma sociedade civil activa, patriótica e empenhada no desenvolvimento sustentável do país. O petróleo não durará mais de 20 a 25 anos, e quando este recurso começar a decair, Angola será ainda um país muito jovem, com uma demografia escassa e um território imenso por organizar (e apetecível), que ou poderá contar com uma sociedade economicamente articulada e dinâmica, socialmente equilibrada, politicamente adulta e culturalmente forte, ou então... ou então terá muito com que se preocupar, a sério!

O artigo do Nicolau Santos (Director-Adjunto do semanário Expresso) poderia ter sido escrito por mim, que sou um bloguista independente, que não precisa do BES, nem do MillenniumBCP, nem do Governo, para sobreviver, mas não pelo Expresso! Compreendo que todo o grupo Impresa esteja indignado por não ter sido autorizado a cobrir as eleições angolanas in situ, e que proteste veementemente. Já me parece ridículo que se entretenha com prosas moralistas sobre a filha do Edu e a corrupção angolana, citando exemplos tão fora de propósito como o caso da banca falida e mendicante portuguesa que espera desesperadamente pelos petrodólares angolanos, mas quer continuar a ser senhora da situação! O Expresso tem que começar por compreender que uma coisa é investigar casos de corrupção, para o que tem toda a legitimidade jornalística do mundo. Outra muito diferente, e inaceitável, é lançar anátemas sobre protagonistas de primeiro plano de uma ex-colónia, como se ainda estivéssemos no tempo em que dávamos lambadas nos pretos, por dá cá aquela palha. O estilo, meu caro Nicolau, é tudo. Num mundo em que a maior potência mundial é dominada por três patrões da indústria petrolífera (George W. Bush, Dick Cheney e Condoleezza Rice) que, em nome dos seus exclusivos interesses privados, dizimaram mais de 100 mil iraquianos e alguns milhares de afegãos, e acabam de colocar a Europa perante uma crise político-militar gravíssima; ou num país (Portugal) onde a corrupção, a pedofilia de Estado e a endogamia dominam a economia, a política, e fazem lei, como é que você se atreve a escrever como um bloguista, nas respeitáveis páginas do Expresso, deixando passar em claro (pior ainda, sem a devida investigação) a imensa podridão e impunidade das nossas intocáveis democracias ocidentais? Estilo! Estilo, meu caro Nicolau!

OAM 428 06-09-2008 18:57 (última actualização: 08-09-2008 00:16)