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quinta-feira, julho 23, 2015

Ler antes de votar

PIETRA, António Onofre Schiappa, fl. ca 1830
Marquez de Pombal : nasceo em Lisboa a 13 de Maio de 1699... / Schiappa. - [S.l. : s.n., entre 1830 e 1852] ([Lisboa] : : Off. Lithog. de Santos). - 1 gravura : litografia, p&b ; 16,3x12,1 cm (imagem com letra); pormenor. BNP.


Precisamos de uma maioria reforçada na próxima legislatura


O Presidente da República foi muito claro no discurso desta noite: o próximo Governo tem de ter uma maioria estável, porque senão não conseguirá resolver os problemas do país. Não o disse explicitamente, mas deu a entender que não aceitará um Governo sem maioria.
Jornal de Negócios, 22 Julho 2015, 21:37 por Bruno Simões

Tenho zero simpatia pelo senhor Silva, mas a verdade é que Cavaco tem andado bem no fim de um mandato que ainda vai dar muito que falar. Definiu uma posição estratégica correta face à Grécia; respondeu de modo certeiro ao beijoqueiro Jean-Claude; e exige, bem, uma maioria reforçada na próxima legislatura. É que sem revisão constitucional, ou sem uma nova Constituição, e sem uma maioria bem atada, não será possível conduzir a casca de noz portuguesa no mar cada vez mais encapelado que aí vem. A próxima coligação de governo terá que ser não só maioritária, como gozar da maioria qualificada para uma revisão inadiável do presente texto constitucional.

Portugal tem uma dívida pública, privada e externa colossal, gerada em grande medida pela corrupção endémica do país, e pelo populismo genético da democracia saída Revolução de Abril.

Salvo se reduzirmos o estado às suas funções essenciais, eliminando as redundâncias e entregando à sociedade o que esta pode fazer melhor e mais barato, salvo se reduzirmos o poder de bloqueio corporativo das agremiações rendeiras e devoristas do país —dos sindicatos dos funcionários públicos e equiparados, ao exército partidário que proliferou como uma praga, passando pelos banqueiros e industriais a soldo do orçamento de estado e dos subsídios comunitários—, salvo se libertarmos a iniciativa dos cidadãos e das suas empresas e associações livres, da canga burocrática que os reprime e esfola em sede fiscal, salvo se aprendermos a criar e proteger instituições democráticas sólidas, contra o nepotismo, a partidocracia e a predominância de uma aristocracia nova que herdou a iniquidade e repete os mesmos vícios de sucessivas gerações, pelo menos desde 1640, atirando e mantendo ainda hoje Portugal na cauda do mundo, o que nos espera é um enorme buraco negro, muito semelhante ao da Grécia, onde, se não pararmos um momento para pensar antes de votar, cairemos miseravelmente e sem retorno.

A aliança tipicamente provinciana e reacionária entre Francisco Louçã e João Ferreira do Amaral é a imagem mais fiel das resistências indígenas que teremos que vencer se quisermos finalmente criar um país civilizado, produtivo e justo.

Cá, como na Grécia, as velhas elites caricatas e obscurantistas, economicamente retrógradas e politicamente autoritárias, unem-se por conveniência oportunista a uma esquerda radical zombie cujo realejo disléxico há muito alienado da realidade é incapaz de apresentar uma ideia prática que se veja. Não precisamos de passar pelo suplício de ver um dia o senhor Louçã num ministério. O pesadelo proporcionado pelo Syriza aos gregos, e o senhor Varoufakis, chegam e sobram!

Não sei se os economistas (nomeadamente os sábios de António Costa) e os jornalistas da nossa ilustrada praça leram Trade and Power—Informal Colonialism in Anglo-Portuguese Relations, de Sandro Sideri, publicado em 1970. Se não leram, está na altura de lerem.

Duas citações apenas de um livro que vale cada vírgula, para o debate que deveria haver entre os beatos do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda, e o famoso liberalismo de Passos Coelho. O primeiro ministro, apesar de contaminado pela pressão dos poderosos fregueses que o rodeiam, percebeu o essencial: endividados até ao tutano não iremos a parte alguma. Ou melhor, estando onde estamos, se não travarmos a fundo a despesa pública e o endividamento privado, se não libertarmos o estado de quem dele se serve sobretudo para proveito próprio e da casta, se voltarmos a ser governados por quem pensa que a obsessão do défice é uma doença, então sim, iremos àquela parte. Tal como foi a Grécia. E não será nada agradável de ver, menos ainda de viver.

...the potential contribution of capital to development is minimal without the necessary ‘institutions’ to really take advantage of it.

[...]

“In fact the partial success that Pombal did achieve with his commercial policies and the reduction of the trade deficit with Britain, encouraged him to move into a vast programme of industrialization. He could not fail to realize that without a strong manufacturing sector, his country’s dependence on the old ally might be somewhat lessened, but certainly not eliminated. Commercial measures alone could not substantially improve the Portuguese economic situation; if her destiny was to rest in Portuguese hands, and if a modern nation was to be reborn from what had become a colony then they had to be part of a large plan geared to the development of manufactures. Thus, it was necessary to redress the situation that had been created by the previous Anglo-Portuguese commercial treaties and which had forced the country into such a specialization that in the middle of the 18th century ‘two-third of her physical necessities were supplied by England’. This situation could not have been changed without breaking the regulations on which such a dependence was based. It is this emphasis on national interests, without war as the final aim of his development strategy, that makes Pombal more a forerunner of F. List [Friedrich List] than the last mercantilist, especially of the Colbert type.

There is another element in Pombal’s development strategy that reminds us of List’s industrial education, namely his constant effort to strengthen the young and  small bourgeoisie and gain its participation in the economic process. It was through his efforts that some of the most successful merchants and industrialists were made noblemen; this introduced a new mentality and outlook into the old ultra-conservative Portuguese nobility whose parasitic role had been increasing during the first half of the 18th century.”

(S. Sideri, 1970)