Mostrar mensagens com a etiqueta Lee C. Buchheit. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lee C. Buchheit. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, agosto 18, 2010

A crise soberana europeia



Dois pontos de vista interessantes sobre a crise das dívidas soberanas europeias. Ann Pettifor —The Coming First World Debt Crisis— e Lee C. Buchheit —The Dilemma of Odious Debts— apontam alguns aspectos críticos da actual crise financeira americana e europeia, cujas repercussões atingem profundamente toda a economia mundial.

Ann Pettifor argumenta a favor do chamado estímulo fiscal à economia e a favor de mais investimento público, na minha opinião cometendo um erro básico sobre as causas do endividamento das nações ocidentais. Ao contrário do que sucedia na época de Keynes, as economias americana e europeias deixaram progressivamente, desde a década de 70, de criar a sua riqueza através do investimento produtivo. Na realidade caminharam desde então para o limbo rarefeito de uma economia de consumo, de investimento público —debt spending— e de especulação financeira cada vez mais sofisticada. A repetição da receita keynesiana só voltaria a dar resultados positivos se as economias americana e europeias regressassem à produção de bens tangíveis (hipótese improvável), em vez de prosseguirem o actual padrão de economias burocráticas assentes no consumo e no endividamento compulsivos.  Para regressar a Keynes seria de facto necessário interromper a correia económico-financeira da globalização. Será essa, no fundo, a sugestão implícita de Ann Pettifor?

Lee C. Buchheit, pelo contrário, analisa de forma muito fina as implicações do plano de resgate da dívida grega, extraindo daí algumas sugestões analíticas particularmente estimulantes e instrutivas. O Plano A de reestruturação da dívida grega irá provavelmente falhar, e o Plano B, que pode desde já imaginar-se no horizonte, levanta curiosamente outras mas não menores perplexidades e ameaças.


POST SCRIPTUM — Qualquer análise sobre a situação económico-financeira mundial deve ter em conta a profunda crise do modelo americano e as manobras de mitigação que os EUA vêm realizando em conjunto com o reino de piratas de sua majestade a rainha de Inglaterra. Entre essas manobras está a guerra desencadeada pelos banksters de Wall Street e pela generalidade das agências de notação e imprensa económica anglo-saxónica contra a moeda única europeia. Os ataques especulativos em curso contra as dívidas soberanas da Grécia, Espanha e Portugal são as frentes criminosas dessa manobra de diversão. Ao mesmo tempo que a guerra financeira contra a União Europeia prossegue sem sinais de abrandamento, crescem as ameaças militares dos falcões americanos e da AIPAC (o poderoso lóbi Sionista que financia/manipula ambos os partidos do Congresso americano) contra o Irão e contra a China! Duas enormes chantagens com um único objectivo: manter o dólar como moeda de reserva mundial; manter a tiro e a saque a supremacia de um império manifestamente falido.

O artigo de Paul Craig Roberts publicado a 16 de Agosto pelo Global Research é bem elucidativo do que está em causa. As duas citações que se seguem tocam nos nervos principais da monumental crise que se desenrola perante um mundo atónito e sem aparente capacidade de reacção.

The last Bush budget deficit (2008) was in the $400-500 billion range, about the size of the Chinese, Japanese, and OPEC trade surpluses with the US. Traditionally, these trade surpluses have been recycled to the US and finance the federal budget deficit. In 2009 and 2010 the federal deficit jumped to $1,400 billion, a back-to-back trillion dollar increase. There are not sufficient trade surpluses to finance a deficit this large. From where comes the money?

(...) The Treasury was able to unload a lot of debt thanks to “the Greek crisis,” which the New York banksters and hedge funds multiplied into “the euro crisis.” The financial press served as a financing arm for the US Treasury by creating panic about European debt and the euro. Central banks and individuals who had taken refuge from the dollar in euros were panicked out of their euros, and they rushed into dollars by purchasing US Treasury debt.

This movement from euros to dollars weakened the alternative reserve currency to the dollar, halted the dollar’s decline, and financed the massive US budget deficit a while longer.

Possibly the game can be replayed with Spanish debt, Irish debt, and whatever unlucky country swept in by the thoughtless expansion of the European Union.

But when no countries remain that can be destabilized by Wall Street investment banksters and hedge funds, what then finances the US budget deficit? — in The Ecstasy of Empire: How Close Is America’s Demise? Without a revolution, Americans are history. By Paul Craig Roberts.