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segunda-feira, março 16, 2020

O dilema no combate ao Covid-19


Morrer da doença, ou da cura?


Este parece ser o dilema colocado aos estrategos da guerra contra o Covid-19...

Quando Graça Freitas repetiu o que alguém lhe disse sobre o milhão de infectados em Portugal, não estava longe das previsões mais respeitáveis. Na realidade, estima-se que entre 20 a 60% da população será atingida pelo vírus. Pode sê-lo em seis meses, num ano, em ano e meio, ou em dois, mas dificilmente escaparemos à proliferação do Covid-19 e dos seus mutantes. A gestão do tempo é o pomo da discussão teórica e táctica que envolve o combate à pandemia. O ponto de vista inglês diverge, como sabemos, da visão chinesa, que o resto da Europa tende agora a aceitar. Novos surtos apareceram, entretanto, em fevereiro, na China, embora tenham sido ocultados da opinião pública. Acabaremos por ouvir falar deles em breve...

A população precisa de ganhar progressivamente imunidade ao Covid-19 e seus mutantes, única forma de este se tornar relativamente inócuo para a saúde humana. Falta, porém, saber se é possível. As vacinas são uma forma de ganhar esta imunidade, ainda que temporária, mas para a maior parte dos vírus que nos causam problemas, não há vacina, apenas graus diferenciados de imunidade. Ou seja, haverá vacinas contra o Covid-19, mas ninguém sabe ainda se resultarão. Por outro lado (outro pomo de discórdia silenciosa), a contenção é necessária, mas não pode ser exagerada, em primeiro lugar, porque não derrota por si só o vírus, apenas atrasa a sua disseminação e penetração nos corpos humanos, e em segundo lugar, porque se exagerarmos a extensão e duração das quarentenas poderemos estar a matar a economia, e esta morte arrastará muitas mais mortes que o próprio Covid-19!

Eis, em suma, o problema equacionado num post de 11/3 de Gail Tverberg, e que vale a pena ler na íntegra:

An economy is in many ways like a human being or other animal. Its operation cannot be stopped for a month or more, without bringing the economy to an end.  
... 
I sometimes write about the economy being a self-organizing networked system that is powered by energy. In physics terms, the name for such a system is a dissipative structure. Human beings are dissipative structures, as are hurricanes and stars, such as the sun. 
Human beings cannot stop eating and breathing for a month. They cannot have sleep apnea for an hour at a time, and function afterward. 
Economies cannot stop functioning for a month and afterward resume operations at their previous level. Too many people will have lost their jobs; too many businesses will have failed in the meantime. If the closures continue for two or three months, the problem becomes very serious. We are probably kidding ourselves if we think that China can come back to the same level that it was at before the new coronavirus hit. 
In a way, keeping an economy operating is as important as preventing deaths from COVID-19. Without food, water and wage-producing jobs (which allow people to buy necessary goods and services), the deaths from the loss of the economy would be far greater than the direct deaths from the coronavirus.
...
China’s shutdown in response to COVID-19 doesn’t seem to make much rational sense. 
It is hard to understand exactly how much China has shut down, but the shutdown has gone on for about six weeks. At this point, it is not clear that China can ever come back to the level it was at previously. Clearly, the combination of wage loss for individuals and profit loss for companies is very high. The long shutdown is likely to lead to widespread debt defaults. With less wages, there is likely to be less demand for goods such as cars and cell phones during 2020. 
China was having difficulty before the new coronavirus was discovered to be a problem. Its energy production has slowed greatly, starting about 2012-2013, making it necessary for China to start shifting from a goods-producing nation to a country that is more of a services-producer (Figure 1).

Figure 1. China energy production by fuel, based on 2019 BP Statistical Review of World Energy data. “Other Ren” stands for “Renewables other than hydroelectric.” This category includes wind, solar, and other miscellaneous types, such as sawdust burned for electricity.

...
We also need to be looking for new approaches for fighting COVID-19. One approach that is not being used significantly to date is trying to strengthen people’s own immune systems. Such an approach might help people’s own immune system to fight off the disease, thereby lowering death rates. Nutrition experts recommend supplementing diets with Vitamins A, C, E, antioxidants and selenium. Other experts say zinc, Vitamin D and elderberry may be helpful. Staying away from cold temperatures also seems to be important. Drinking plenty of water after coming down with the disease may be beneficial as well. If we can help people’s own bodies fight the disease, the burden on the medical system will be lower.


—in “It is easy to overdo COVID-19 quarantines”

Posted on March 11, 2020, by Gail Tverberg 

segunda-feira, dezembro 04, 2017

O falso PIB


A energia cara mata o crescimento


A bolha do falso crescimento suportado por uma dívida cumulativa insustentável vai acabar por rebentar, provavelmente antes de 2030. Será um evento destrutivo global, precedido certamente de uma catadupa de novas falência soberanas, entre as quais estará a próxima bancarrota portuguesa.

Se persistirmos na trajetória populista da esquerda irresponsável que se auto coroou depois da derrota do PS de António Costa, ou seja, se a Geringonça não for derrotada nas próximas eleições legislativas, estaremos no pelotão da frente dos países que irão implodir financeira, económica e socialmente na sequência, ou de uma valorização das taxas de juro dos principais bancos centrais (FED, BCE, BOJ, PBOC), ou de uma desvalorização monetária, ou de nova subida acentuada dos preços da energia, ou de uma súbita inflação bem acima dos 2%!

O endividamento sistémico está a chegar ao fim, e a repressão fiscal poderá ter os dias contados, seja por efeito do empobrecimento irreversível das classes médias, seja por efeito de uma fuga de capitais sem precedentes, por exemplo, em direção às cripto-moedas, como a Bitcoin, seja ainda pela deslocalização acelerada das sedes das nossas principais empresas, e em geral das empresas globais, para regiões fiscais mais favoráveis.

Convém ler a este propósito o que escreve Gail Tverberg sobre as implicações dramáticas do fim da energia barata no nosso estilo de vida.

...GDP looks like it is growing, but it is really very hollow economic growth. Governments invest in projects of essentially no value, and their investment is counted as GDP. For example, they invest in unneeded roads, in apartments that citizens cannot really afford, in educational institutions that do not produce graduates with wages that are sufficiently high to pay for education’s high cost, and in high-priced medical cures that are unaffordable by 99% of the population. Are these things truly contributions to GDP? 
We also find businesses that look like they are growing, but in fact are taking on increasing amounts of debt as they sell off assets. This is not a sustainable model! We encounter energy companies that claim to be doing “sort of” alright, but their profits are so low that they need to cut back on new investment, and they need to borrow in order to have funds to pay dividends to shareholders. There is something seriously wrong with this growth! 
[...]
The reason I have not included any discussion of renewables is because at this point in time, we do not have any renewables that are sufficiently inexpensive and sufficiently scalable to represent a solution.

A Video Game Analogy to Our Energy Predicament
Posted on November 28, 2017, by Gail Tverberg on Our Finite World

A semana passada, no regresso de uma viagem a Bruxelas, reparei em algo extraordinário: as marcas portuguesas foram praticamente todas irradiadas da zona de embarque/desembarque do Aeroporto de Lisboa. O mesmo podemos dizer de alguns setores estratégicos da nossa economia, como a energia, as águas municipalizadas, a indústria automóvel, ferroviária e aeronáutica, as telecomunicações e a comunicação social, ou ainda a banca. A pouco e pouco, para pagar as dívidas que continuam a crescer, o país tem vindo a descapitalizar-se a um ritmo assustador. Ao mesmo ritmo, aliás, que as próprias poupanças das famílias empenhadas em hipotecas de casas e automóveis, ou submetidas à rapina fiscal a que se dedica um regime em estado de necessidade absoluta.

A fragilidade do país é, portanto, enorme. A perda acelerada de soberania é cada vez mais evidente.

Haverá inevitavelmente um momento em que teremos que passar da propaganda à realidade. Esperemos que esse momento não chegue tarde demais.

segunda-feira, outubro 09, 2017

A ilusão politicamente correta

Origem desta imagem

Atravessar uma tempestade exige preparação e sangue frio. As invocações ideológicas e o atavismo só atrapalham e tornam a viagem mais perigosa.


Sem energia barata o mundo começa a encolher. Na demografia—cuja taxa de aceleração parou em meados da década de 1960—, no crescimento do produto agregado mundial, na capacidade de endividamento, em suma, no poder mágico dos governos e bancos.

Os Limites ao Crescimento chegaram, como previsto por Donella Meadows. Em breve saberemos se toda a nossa capacidade de pensamento, reforçada pela inteligência artificial, será capaz de dar conta do recado. Até lá, os ânimos individuais e coletivos agitam-se perigosamente. As pessoas passam-se (Las Vegas, outubro de 2017). Mas quando são as coletividades a passarem-se, a coisa agrava-se rapidamente. Os catalães, por exemplo, não querem ser mais espoliados fiscalmente para acudir à crise de rendimentos que afeta o resto da Espanha (exceto Madrid e as Baleares). O racional é simples, se a Catalunha empobrecer por causa do empobrecimento da Andaluzia, Galiza, Extremadura, etc., a prazo, todos empobrecerão de modo irremediável, destruindo-se deste modo, e ao mesmo tempo, capital, capacidade produtiva e poupança, ou seja, a própria esperança de gerir bem uma inevitável metamorfose civilizacional.


Why political correctness fails – Why what we know ‘for sure’ is wrong (Ex Religion)Posted on October 1, 2017, by Gail Tverberg in Our Finite World 

Most of us are familiar with the Politically Correct (PC) World View. William Deresiewicz describes the view, which he calls the “religion of success,” as follows: 
There is a right way to think and a right way to talk, and also a right set of things to think and talk about. Secularism is taken for granted. Environmentalism is a sacred cause. Issues of identity—principally the holy trinity of race, gender, and sexuality—occupy the center of concern. 
There are other beliefs that go with this religion of success: 
  • Wind and solar will save us. 
  • Electric cars will make transportation possible indefinitely. 
  • Our world leaders are all powerful. 
  • Science has all of the answers. 
To me, this story is pretty much equivalent to the article, “Earth Is Flat and Infinite, According to Paid Experts,” by Chris Hume in Funny Times. While the story is popular, it is just plain silly.

segunda-feira, agosto 21, 2017

Peak Growth?



Sem energia barata e abundante não há trabalho, nem crescimento.


...it appears that only a relatively small share of countries have experienced rising GDP in current US dollars.
(...)
To fix the problems (...), we would need to get prices of oil and other energy products back up again. This would indirectly raise prices of many other products as well, including food, new vehicles, and new homes. With lagging wages in many countries, this would seem to be virtually impossible to accomplish.
(...)
—in “World GDP in current US dollars seems to have peaked; this is a problem”, Posted on August 14, 2017, by Gail Tverberg.

Isto está bem pior do que parece. Já só crescemos, e pouco, endividando-nos. O filão chinês está a chegar ao fim. A demagogia, o populismo e a gritaria mediática browniana são, pois, sintomas de uma crise profunda, e não caminhos para a ultrapassar.

O resultado geral da deflação económica, sobretudo visível nos preços da energia e das commodities, é a falência progressiva dos países e dos seus governos. Até agora esta tendência recessiva foi disfarçada, desde 2001 (Japão), 2009 (Reino Unido/ EUA) e 2015 (União Europeia), com doses sucessivas de expansão monetária eletrónica, promovida pelos bancos centrais. Infelizmente, a abundância artificial de liquidez tem sido acompanhada da desvalorização do dinheiro, nomeadamente através da destruição das taxas de juro, para assim mais facilmente financiar o endividamento explosivo dos governos e ensopar as imparidades e desvarios acumulados nas bolhas especulativas. Que o objetivo desta política monetária tem sido o de impedir um colapso económico-financeiro em cadeia à escala planetária percebe-se claramente quando observamos o fracasso persistente dos chamados mecanismos de transmissão. O dinheiro circula dos bancos centrais para os bancos comerciais e destes para os governos, entretanto submetidos a regras orçamentias cada vez mais apertadas, mas raramente cheg diretamente às empresas sob a forma de crédito.

O autor involuntário do famoso Quantitative Easing (Prof. Richard Werner) repudiou a receita que apareceu em seu nome, por esta trair a sua intenção inicial ao propor uma resposta à crise do ' yen carry-trade' japonês, a qual consistia originalmente em aumentar a liquidez monetária para potenciar o crédito disponível, mas sem desvalorizar intencionalmente a poupança!



O pico do petróleo propagou-se ao crescimento, empurrando-o para o seu próprio pico.

As formações sociais —a economia e as infraestruturas, por um lado, a riqueza e o trabalho produtivo remunerado, por outro— estão a ruir por dentro. Um dia, apesar da pele dos países se apresentar ainda brilhante, e continuarmos a ouvir decibéis de otimismo de governantes, banqueiros e demagogos, veremos o seu interior completamente podre. Quando isto acontecer, as soluções disponíveis serão provavelmente insuficientes e todas más.

Existe, como facilmente se percebe, uma necessidade absoluta de percebermos o que aí vem. Mas para o conseguirmos temos que nos afastar da algazarra que inevitavelmente acompanha e acompanhará a metmorfose em curso. Precisamos de tudo menos de uma abordagem ideológica aos limites do crescimento.

segunda-feira, maio 08, 2017

Dívida, uma Supernova?

Fotografia: Axel Morin. Detroit.

Os que ganham muito são cada vez menos, e os que ganham pouco (cada vez menos) são cada vez mais. 


É este o verdadeiro paradoxo que o otimismo alucinado de alguns não alcança, ou alcança, mas ignora, preferindo as loas populistas a que os economistas desonestos conferem legitimidade académica.

E é também por isto que o declínio da era petrolífera deixou de se traduzir na subida dos preços do barril de crude, mas antes na deflação dos mesmos, arrastando países como a Venezuela, Angola, Moçambique, Nigéria, e o Médio Oriente em geral, para o colapso das respetivas sociedades.

Neste momento o status quo e o business as usual são meras aparências de estabilidade e progresso.

Na realidade, assistimos a divisões económicas, sociais e culturais profundas nas sociedades, que os movimentos populistas e o fundamentalismo religioso induzido refletem.

Estamos no fim de um ciclo de prosperidade mundial com mais de 100 anos, proporcionado pelo uso intensivo de energia abundante e barata, e por aquilo a que poderíamos chamar inflação criativa.

Esta grande revolução nos preços decorreu sensivelmente entre 1897 (D. H. Fischer) e o momento em que o decréscimo persistente da produtividade mundial, da inflação e do rendimento/consumo per capita anunciou o seu fim, dando lugar a medidas contra-cíclicas desesperadas, como a globalização e a desregulamentação laboral, comercial e financeira, o otimismo tecnológico, o endividamento público e políticas monetárias expansionistas, e ainda a grande especulação capitalista, entre 1983 e 2007, estimulada pela negociação eletrónica de títulos e outras operações financeiras (HFT), e pelos produtos financeiros complexos: Credit Debt Obligations (CDO), Credit Default Swaps (CDS), Asset Backed Secutioes (ABS), Over-the-counter Derivatives (OTC), etc.

O dilema atual é este: o petróleo é demasiado barato para quem o produz, e demasiado caro para quem o consome. Por outro lado, segundo defende Gail Tverberg, o endividamento, a eficiência e a complexidade como resposta à mudança de paradigma energético e ao fim de um ciclo económico de longa duração não impedem a chegada de uma nova era, que será necessariamente distinta da que agora declina rapidamente.

Vale a pena ler a este propósito o que Gail Tverberg apresentou recentemente em Bruxelas, num workshop promovido pela Comissão Europeia: “Elephants in the Room Regarding Energy and the Economy.”

Trata-se de uma súmula de recentes trabalhos seus, nomeadamene sobre a natureza dissipativa das estruturas económicas, e sobre o aviso paradoxal do fim da era petrolífera, ou seja, a queda dos preços do petróleo, provocada pelaa queda da procura agregada mundial de crude, pela queda dos rendimentos do trabalho, pela erosão imparável dos dividendos empresariais (nomeadamente nos produtos energéticos), pela divisão social que se agrava na maioria das sociedades desenvolvidas e ricas, ou ainda pelas crises políticas insanáveis que vão destruindo paulatinamente os estados e as instituições democráticas.

Eu recomedaria a leitura destas reflexões a Emmanuel Macron, mas também ao otimista cada vez mais irritante, Marcelo Rebelo de Sousa.




Most people assume that oil prices, and for that matter other energy prices, will rise as we reach limits. This isn’t really the way the system works; oil prices can be expected to fall too low, as we reach limits. Thus, we should not be surprised if the OPEC/Russia agreement to limit oil extraction falls apart, and oil prices fall further. This is the way the “end” is reached, not through high prices.



Many people think that the increasing use of tools can save us, because of the possibility of increased productivity.

mas...

Using more tools leads to the need for an increasing amount of debt.




—in “Why We Should Be Concerned About Low Oil Prices”
Posted on May 5, 2017 by Gail Tverberg @ Our Finite World

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Temos um problema


A mão invisível de Adam Smith


“By 2040 (...) the world could need to replace over 4 times the current crude oil output of Saudi Arabia (>40mbd), just to keep output flat.” 
—HSBC Peal Oil Report 2017

A economia é um sistema dissipativo, logo não é controlável inteiramente pelos governos.

Ou seja, a mão invisível a que se referia Adam Smith, mais do que uma questão ideológica, é da natureza dos seres vivos e dos seus sistemas económicos, tal como é da natureza dos tufões que se formam sobre as águas sobreaquecidas dos oceanos. Quanto têm condições favoráveis ao seu nascimento e desenvolvimento, tendem a expandir-se imoderadamente, até que os recursos começam a escassear, ou a ficar demasiado longe, exigindo cada vez mais tempo e trabalho para os alcançar, e morrem.

A consequência destas dinâmicas, a que, no caso dos períodos longos da vida humana, David Hackett Fischer chama price revolutions, é terminarem repentinamente sob a forma de um colapso, ou desastre, precedido por uma perda de controlo da situação, a que os autores do famoso relatótio de 1972, The Limits to Growth, chamaram overshooting.

Quando esta perda de controlo que precede o embate acontece num automóvel, tudo é muito rápido para quem assiste de fora, embora para o condutor o filme pareça correr em câmara lenta. Já quando se trata do acidente com um grande petroleiro, é possível observá-lo em tempo real como algo aparentemente evitável. O piloto do navio, porém, mostra-se incapaz de fazer o que quer que seja para impedir a colisão e o eventual naufrágio. Tal como neste último exemplo, é a escala dos acontecimentos que nos permite ou não perceber a tempo o que se vai passar. No caso da crise energética que teve início em 1970-73, só agora a aproximação do desastre começa a ser percebido por um número significativo de pessoas.

Dois artigos recentemente publicados—um de Gail Tvelberg, e outro escrito por um grupo de analistas para o HSBC, um dos maiores bancos do mundo— confluem na determinação das causas da turbulência económica, financeira, comercial, social, diplomática e militar que atingiu o mundo desde o colapso do Lehman Brothers. Dito muito simplesmente, a causa é esta: acabou a energia barata e acessível que permitiu a extraordinária aceleração civilizacional iniada no final dos século 19, pouco tempo antes do Jubileu da Rainha Vitória (1887).

O início do fim do crescimento explosivo proporcionado pelo uso intensivo de fontes de energia acessíveis e baratas como o carvão, o gás natural e o petróleo, e de novas energias como a eletricidade, ocorreu curiosamente antes da primeira grande crise petrolífera de 1973; ocorreu quando a taxa de crescimento demográfico mundial atingiu o seu próprio pico, em 1969 (ler também este post).

A principal conclusão que Gail Tvelberg retira da sua comparação do mundo globalizado com um sistema dissipativo, por definição aberto, é que só poderemos mitigar as dimensões trágicas do colapso (na minha opinião já em curso), por um lado, levantando faseadamente o pé da despesa pública, nomeadamente das despesas militares, e por outro, eliminando o excesso de controlos bancários e financeiros que empurram a riqueza dos países ricos para os países onde a energia e o trabalho são mais baratos, empobrecendo por esta via a grande maioria da população mundial, seja através da repressão fiscal, seja da usurpação das suas poupanças, como consequência da destruição das taxas de juro e do próprio dinheiro.

Por sua vez, as dez conclusões veiculadas pelo HSBC são cortantes, sobretudo esta: em 2040 precisaremos encontrar 4x a produção atual da Arábia Saudita, só para suprir as necessidades correntes de energia.

A leitura destes dois textos dispensaria boa parte da berraria parlamentar a que temos assistido.







Oops! The economy is like a self-driving car
Posted on February 20, 2017 by Gail Tverberg

Back in 1776, Adam Smith talked about the “invisible hand” of the economy. Investopedia explains how the invisible hand works as, “In a free market economy, self-interested individuals operate through a system of mutual interdependence to promote the general benefit of society at large.”

We talk and act today as if governments and economic policy are what make the economy behave as it does. Unfortunately, Adam Smith was right; there is an invisible hand guiding the economy. Today we know that there is a physics reason for why the economy acts as it does: the economy is a dissipative structure–something we will talk more about later.  First, let’s talk about how the economy really operates.

Our Economy Is Like a Self-Driving Car: Wages of Non-Elite Workers Are the Engine

Workers make goods and provide services. Non-elite workers–that is, workers without advanced education or supervisory responsibilities–play a special role, because there are so many of them. The economy can grow (just like a self-driving car can move forward) (1) if workers can make an increasing quantity of goods and services each year, and (2) if non-elite workers can afford to buy the goods that are being produced. If these workers find fewer jobs available, or if they don’t pay sufficiently well, it is as if the engine of the self-driving car is no longer working. The car could just as well fall apart into 1,000 pieces in the driveway.

If the wages of non-elite workers are too low, they cannot afford to pay very much in taxes, so governments are adversely affected. They also cannot afford to buy capital goods such as vehicles and homes. Thus, depressed wages of non-elite workers adversely affect both businesses and governments. If these non-elite workers are getting paid well, the “make/buy loop” is closed: the people whose labor creates fairly ordinary goods and services can also afford to buy those goods and services.

(...)

In theory, both debt and increased complexity can help the economy grow faster. However, as I noted at the beginning, it is the wages of the non-elite workers that are especially important in allowing the economy to continue to move forward. The greater the proportion of the revenue that goes to high paid employees and to bond holders, the less that is available to non-elite workers. Also, there are diminishing returns to adding debt and complexity. At some point, the cost of each of these types of turbo-charging exceeds the benefit of the process.

[...]

The economy is yet another type of a dissipative structure. This is why Adam Smith noticed the effect of the invisible hand of the economy. The energy that sustains the economy comes from a variety of sources. Humans have been able to obtain energy by burning biomass for over one million years. Other long-term energy sources include solar energy that provides heat and light for gardens, and wind energy that powers sail boats. More recently, other types of energy have been added, including fossil fuels energy.

When energy supplies are very cheap and easy to obtain, it is easy to ramp up their use. With growing supplies of energy, it is possible to keep adding more and better tools for people to work with. I use the term “tools” broadly. Besides machines to enable greater production, I include things like roads and advanced education, which also are helpful in making workers more effective. The use of growing energy supplies allows growing use of tools, and this growing use of tools increasingly leverages human labor. This is why we see growing productivity; we can expect to see falling human productivity if energy supplies should start to decline. Falling productivity will tend to push the economy toward collapse.

[...]

Now, in 2017, prices are “sort of” affordable for consumers, but they are not high enough for producers. Oil companies will go out of business if these low prices persist.

Back in 2007 and 2008, we had the reverse problem. Prices were high enough for producers, but too high for consumers (especially non-elite workers). This is a big part of what pushed the economy into recession.

[...]

Very few have realized that the economy cannot really shrink back very much; past history, as well as the nature of dissipative structures, shows that economies tend to collapse. The only economies that have at least temporarily avoided that fate have shifted toward less complexity–for example, eliminating huge government programs, such as armies–rather than yielding to the temptation to add ever more complexity, such as wind turbines and solar panels.

The real situation is that we have a here-and-now problem of too low wages for non-elite workers. Commodity prices are also too low. Intermittent renewables such as wind and solar are thought to be solutions, but it is well-known that intermittent renewables cause too-low prices for other types of electricity generation, when added to the electric grid. Thus, they are likely part of the low-price problem, not part of the solution. Temporary solutions, if there are any, are likely in the direction of cutting back on government expenditures and reducing regulation of banks. In fact, with the election of Trump and the passage of Brexit, the economy seems to again be re-optimizing.

Full text here

sábado, maio 14, 2016

O fator subjetivo da revolução

Virar a esquerda contra a direita não resolve o problema


O triângulo dos recursos tem um limite físico e comercial

O chamado fator subjetivo da transformação do capitalismo já não se chama proletariado, como ocorreu quando Karl Marx identificou este motor social na segunda metade do século 19. (1848-1867). A crise do capitalismo atual é sistémica e objetiva, e por isso não depende de modo relevante de um qualquer ator social privilegiado. Na realidade, a transição sistémica de que necessitamos só poderá ocorrer com sucesso se houver uma cooperação exigente entre, de um lado, os trabalhadores não especializados e, do outro, os negócios, os governos e os trabalhadores/criadores especializados.

Assim sendo, quer os tradicionais partidos da esquerda operária, quer os derivados tardios da retórica leninista e suas variantes (estalinista, trotskista e maoista) fazem hoje pouco sentido. O eco deste mundo há muito desaparecido mas que continuamos a escutar não passa de uma máscara atrás da qual se aninham burocratas e intelectuais ociosos e oportunistas.

A transformação que o capitalismo está neste preciso momento a sofrer é estrutural e deriva sobretudo da sua globalização num contexto de esgotamento do paradigma energético fundacional: energia fóssil abundante, facilmente transportável e barata + tecnologia. A tecnologia continua a expandir-se rapidamente, mas a energia barata acabou. Apenas porque o endividamento global se transformou numa bolha especulativa foi até agora possível esconder o problema real que temos diante de todos nós.

Estamos metidos num grande sarilho do qual talvez seja possível sair, mas não agravando a bolha do endividamento público e privado que asfixia o crescimento, nomeadamente através da destruição do poder de compra dos trabalhadores não especializados, e da destruição financeira em curso.


Because the oil problem is one of diminishing returns, adding debt becomes less and less profitable over time. There is a potential for a sharp decrease in debt from a combination of defaults and planned debt reductions, leading to very much lower oil prices, and severe problems for oil producers. Financial institutions tend to be badly affected as well. If a person looks at only past history, the situation looks secure, but it really is not.
Substitutes aren’t really helpful; they tend to be high-priced and dependent on the use of fossil fuels, including oil. They cannot possibly operate on their own. They add to the “oversupply at high prices” problem, but don’t really fix the need for low-priced supply. 
[...] 
We are reaching a head-on collision between (1) the rising cost of energy production and (2) the falling ability of non-elite workers to pay for this high-priced energy. 
[...] 
As I have previously mentioned, most researchers begin with the view that soon there will be a problem with energy scarcity. The real issue that tends to bring the system down is related, but it is fairly different. It is the fact that as we use energy, the system necessarily generates entropy. This entropy takes the form of rising debt and increased pollution. It is these entropy-related issues, rather than a shortage of energy products per se, that tends to bring the system down.  
in “The real oil limits story; what other researchers missed”
Our Finite World. Posted on May 12, 2016 by Gail Tverberg


quinta-feira, novembro 05, 2015

As esquerdas mentem quando falam de crescimento e de estado social

O comércio mundial declina

Não há crescimento possível, mas há uma bolha de crédito que acabará por rebentar


Comércio mundial está em queda. Os preços da energia e das matérias primas estão a cair, não porque escasseiem, mas porque não há dinheiro para pagar o crescente custo da sua produção. A diarreia monetária conhecida por alívio quantitativo (QE) é um remédio que produz cada vez menos resultados e está a destruir a poupança mundial e a formação de capital a ritmos alucinantes. Sem poupança não há capital, sem capital não há investimento produtivo, sem investimento produtivo não há comércio, nem consumo, nem portanto crescimento. Em suma, o crescimento global morreu.

A austeridade é, assim, inevitável, e as despesas sociais continuam a disparar em todos os países desenvolvidos ou a caminho disso.

As consequências estão à vista de todos, em toda a parte: no Japão, nos Estados Unidos, na Europa, na Venezuela, no Brasil, em África e no Médio Oriente, na China. O êxodo demográfico em direção à Europa apenas começou.

Foi Você que pediu crescimento? Esqueça!

A taxa anual de crescimento de Portugal tem vindo a cair desde 1996
@ Trading Economics
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O discurso das esquerdas, começando pelos seus famosos economistas, é uma mistificação demagógica. Nomeadamente quando ouvimos as carpideiras do Bloco de Esquerda e as Testemunhas do Marxismo-Leninismo do PCP a acusar os partidos do centro-direita de estarem a destruir o estado social. Mentem descaradamente, como os gráficos que se seguem provam abundantemente.

80% das pensões auferem menos de 833€/mês, 91% auferem menos de 1667€. Um teto de 2500€ permitiria maior sustentabilidade no sistema.
@Governo de Portugal
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Mas comecemos pelo fim do crescimento...


Gail Tverberg

Once the debt bubble collapses, we are in deep trouble 
} Low commodity prices suggest we are now near debt collapse 
Oops! Low oil prices are related to a debt bubblePosted on November 3, 2015 by Gail Tverberg 
Why is the price of oil so low now? In fact, why are all commodity prices so low? I see the problem as being an affordability issue that has been hidden by a growing debt bubble. As this debt bubble has expanded, it has kept the sales prices of commodities up with the cost of extraction (Figure 1), even though wages have not been rising as fast as commodity prices since about the year 2000. Now many countries are cutting back on the rate of debt growth because debt/GDP ratios are becoming unreasonably high, and because the productivity of additional debt is falling.

Não há crescimento sem consumo crescente de energia
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A energia cara trava o crescimento
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O petróleo e a energia em geral tem sido comprada com dívida crescente
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Embora os preços da energia estejam a cair, os seus custos continuam a crescer
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Só nos resta a eficiência para mitigar os graves problemas que temos pela frente
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Acabar de vez com a demagogia populista das esquerdas sobre o estado social

Ao contrário da litania sem imaginação do PCP, do Bloco e de António Costa, os sucessivos governos que temos tido não só não atacaram o estado social, como a dimensão deste e o seu peso no orçamento do estado e na dívida pública não têm parado de aumentar desde 1975. Se repararmos nos gráficos deste excelente artigo de Ryan McMaken, onde se mostra que os Estados Unidos são um estado social insuspeito, veremos que também Portugal está entre os dez ou quinze países da OCDE que mais despesa social executa anualmente.

“Social Expenditures” In the US Are Higher Than All Other OECD Countries, Except FranceMises Institute, OCTOBER 30, 2015Ryan McMaken

According to the Organization of Economic Cooperation and Development (OECD), "social expenditures" are expenditures that occur with the purpose of redistributing resources from one group to another, in order to benefit a lower-income or presumably disadvantaged population.

The focus on direct government spending, however, creates the impression that the US does not engage in the business of redistributing wealth to the degree of other OECD-type countries. But this is not the case. When we consider tax incentives, benefits, and mandates, the picture is very different.

...

Once tax breaks for social purposes (TBSPs) are included, the US begins to look much more similar to its European counterparts. By this measure, the US falls in the middle, with more net social spending (as a percentage of GDP) than New Zealand, Norway, Luxembourg, Australia, and Canada (y axis=percentage of GDP).


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quinta-feira, agosto 06, 2015

Sem energia barata não há crescimento

Figure 12. World GDP in 2010$ (from USDA) compared to World Consumption of Energy (from BP Statistical Review of World Energy 2014)

O petróleo continua muito caro!


What we really need is more high wage jobs. Unfortunately, these jobs need to be supported by the availability of large amounts of very inexpensive energy. It is the lack of inexpensive energy, to match the $20 per barrel oil and very cheap coal upon which the economy has been built that is causing our problems. We don’t really have a way to fix this [Gail Tverberg].

Em vez de ouvir os desvarios geopolíticas sobre energia do senhor Partex (António Costa Silva) seria bem melhor ler o que escreve Gail Tverberg.

A queda dos preços do petróleo não é uma consequência do excesso de oferta e de produção, mas sim da queda agregada da procura motivada pelo preço demasiado alto do petróleo e das commodities em geral.

Neste momento, o preço do petróleo está abaixo do seu custo real uma vez descontado o efeito inflacionista do mercado especulativo que é por definição o seu. Deste modo a indústria petrolífera tenta responder à estagnação económica induzida, precisamente, pelo preço insustentável da energia e das matérias primas—do petróleo, do gás natural, da terra fértil, da água potável, das sementes e dos metais comuns, preciosos e raros.

Em suma, o petróleo está a ser vendido abaixo do seu preço de custo (deflação) porque se tornou demasiado caro. O petróleo barato acabou em 2006 (Peak Oil).

Sem crescimento do consumo energético não há crescimento. Sem crescimento, o endividamento gera instabilidade económica, financeira, social e política.

Ponto.

E agora?

Figure 1. Oil as a percentage of total energy consumption in 2006, based on June 2015 Energy Information data. (Inverted order from chart originally shown.)

Nine Reasons Why Low Oil Prices May “Morph” Into Something Much Worse
by Gail Tverberg
Posted to Our Finite World on July 22, 2015

[...]

4. The way workers afford higher commodity costs is primarily through higher wages. At times, higher debt can also be a workaround. If neither of these is available, commodity prices can fall below the cost of production.

If there is a significant increase in the cost of products like houses and cars, this presents a huge challenge to workers. Usually, workers pay for these products using a combination of wages and debt. If costs rise, they either need higher wages, or a debt package that makes the product more affordable–perhaps lower rates, or a longer period for payment.

Commodity costs have been rising very rapidly in the last fifteen years or so. According to a chart prepared by Steven Kopits, some of the major costs of extracting oil began increasing by 10.9% per year, in about 1999.

In fact, the inflation-adjusted prices of almost all energy and metal products tended to rise rapidly during the period 1999 to 2008 (Figure 7). This was a time period when the amount of mortgage debt was increasing rapidly as lenders began offering home loans with low initial interest rates to almost anyone, including those with low credit scores and irregular income. When debt levels began falling in mid-2008 (related in part to defaulting home loans), commodity prices of all types dropped.

Figure 6. Figure by Steve Kopits of Westwood Douglas showing trends in world oil exploration and production costs per barrel. CAGR is “Compound Annual Growth Rate.”


O que aí vem

O RUÍDO PARTIDÁRIO EM VOLTA DOS ÚLTIMOS NÚMEROS DO EMPREGO É UM RUÍDO POPULISTA QUE DEVE SER DENUNCIADO E DESPREZADO.

Sem uma disponibilidade crescente de energia barata (sobretudo petróleo e combustíveis líquidos em geral, abaixo do 40USD/b) não há crescimento; sem crescimento não há emprego, há desemprego e há substituição de emprego caro por emprego barato e mais eficientemente servido por máquinas e sistemas inteligentes. Esta espiral descendente é de natureza recessiva e deflacionista, sobretudo à medida que a capacidade de endividamento e de monetização das dívidas se esgota nos Estados Unidos, na Europa, na China...

Os governos têm cada vez menos controlo sobre esta dinâmica, e na luta entre capital e trabalho, desta vez, ambos empobrecem: número crescente de falências industriais e bancárias, empobrecimento das classes médias e colapsos financeiros de grande magnitude, com consequências terríveis, por exemplo, na bancarrota iminente de vários países, regiões e cidades.

Onde melhor podemos antever o nosso futuro, se nada fizermos e nos deixarmos embalar pelo populismo estridente das nomenclaturas partidárias instaladas, é nas vagas de migração de África para a Europa. Os níveis de rendimento destes países é há muito totalmente incompatível com o custo da energia e matérias primas disponíveis... Quando o barril de crude desce abaixo dos 60USD a maioria dos países exportadores de petróleo e gás natural deixam de obter as gigantescas receitas e margens de lucro e de rapina que têm alimentado as suas altíssimas taxas de crescimento e os investimentos e a especulação financeira nos Estados Unidos e na Europa.