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quarta-feira, janeiro 28, 2015

O nó grego. Alemanha isolada?

Alexei Tsipras visitou em Kaisariani a campa dos duzentos ativistas gregos, na sua maioria comunistas, fuzilados pelos nazis em maio de 1944.

Parece que a Alemanha vai perder mais uma guerra


A Alemanha, que é tão extraordinária em tanta coisa, como no fabrico de automóveis e lentes fotográficas, ou na sua Filosofia, tem, no entanto, o mesmo problema do Francisco Louçã: pensa de maneira quadrada. Ou seja, a sua sensibilidade e capacidade de manobra são iguais a zero. Sempre que é conveniente contornar um obstáculo, o quadrado mal se move, pois, para chegar a qualquer um dos outros três lados do polígono, precisa de realizar um esforço enorme para vencer a inércia.

Todos sabemos que os oportunistas do sul da Europa se aproveitaram do súbito mas falso enriquecimento proporcionado pela entrada numa zona monetária forte. Sem produzirem o suficiente para o poder aquisitivo que lhes saiu na rifa, de um dia para o outro, desataram a comprar Golfs, Audis, BMWs, Mercedes e Porshces. E não ficaram por aqui. Especularam com terrenos e construiram milhares de empreendimentos imobiliáros para nada, construiram pontes para lado nenhum, autoestradas vazias, fecharam e venderam empresas em catadupa porque, de repente, o que produziam ficou mais caro do que sul-americanos, africanos e asiáticos exportavam para a Europa. Dedicaram-se aos casinos financeiros, que davam mais proveitos e prestígio do que a maçada de criar valor. E, para culminar tudo isto, endividaram os respetivos estados até à ruína, em nome de excelentes serviços de saúde, educação para todos, pensões de reforma para quem trabalhou e não trabalhou, e ainda mordomias sem fim e salários milionários para os principais rendeiros e devoristas dos novos e mui populistas regimes democráticos (outra aquisição repentina e mal digerida, claro). Em cima de tudo isto, a cereja da corrupção galopante—uma consequência previsível do abandono da ética, e da arrogância, protagonizados desde logo e em primeiro lugar pelas partidocracias instaladas.

Isto é tudo verdade, mas falta acrescentar um ponto: a Alemanha e os países ricos da Eurolândia contribuiram e beneficiaram como ninguém desta mentira económica, social e ética.

“...the conclusion is that Greece’s crisis is the EU’s fault, and the EU should “pay” via the debt write-offs that Syriza wants.” — Steve Keen, “It’s All The Greeks’ Fault”, Forbes, 21/1/2015.

Os gráficos (aqui e aqui) mostram que
  1. antes do euro a produção industrial da Grécia, Espanha e Itália cresciam mais depressa que a produção alemã, mas mais devagar do que esta última assim que foi criada a zona euro; e
  2. que o desemprego, a dívida pública, e o rácio da dívida privada face ao PIB se agravaram, e o desendividamento privado foi mais acentuado na Grécia e na Espanha do que nos Estados Unidos, quando comparados os gráficos homólogo, única e exclusivamente por efeito da austeridade. 
Mas há mais:

Por um lado, não podemos isolar o problema do endividamento e sobretudo das responsabilidades financeiras futuras do estado social grego, do resto da Eurolândia, como no gráfico seguinte bem se demonstra. 418% do PIB alemão são qualquer coisa como $15 592 490 980 000, enquanto que 875% do PIB grego são algo parecido com $2 115 058 750 000, ou seja, mesmo considerando as responsabilidades por cabeça, os números são desfavoráveis à Alemanha: $193 055/hab na terra da senhora Merkel, contra $192 418 /hab na terra do senhor Alexei Tsipras.



E mais ainda:

O sistema bancário grego está sob um enorme e orquestrado ataque financeiro especulativo. Teme-se pela segurança bancária grega, dizem. Mas a verdade é outra: o que se realmente se teme é que a crise grega possa revelar o grau de exposição criminosa da banca alemã, nomeadamente do Deutsche Bank, ao buraco negro dos derivados especulativos. Se não, reparemos no gráfico seguinte:



Vale a pena ler o comentário publicado pelo Zero Hedge sobre o artigo do The Wall Street Journal sobre esta bomba-relógio:

NY Fed Slams Deutsche Bank (And Its €55 Trillion In Derivatives): Accuses It Of "Significant Operational Risk"

Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 07/22/2014 20:41 -0400

First it was French BNP that was punished with a $9 billion legal fee after France refused to cancel the Mistral warship shipment to Russia (which promptly led to French National Bank head Christian Noyer to warn that the days of the USD as a reserve currency are numbered), and now moments ago, none other than the 150x-levered NY Fed tapped Angela Merkel on the shoulder with a polite reminder to vote "Yes" on the next, "Level-3" round of Russia sanctions when it revealed, via the WSJ, that "Deutsche Bank's giant U.S. operations suffer from a litany of serious problems, including shoddy financial reporting, inadequate auditing and oversight and weak technology systems."

What could possibly go wrong? Well... this. Recall that as we have shown for two years in a row, Deutsche has a total derivative exposure that amounts to €55 trillion or just about $75 trillion. That's a trillion with a T, and is about 100 times greater than the €522 billion in deposits the bank has. It is also 5x greater than the GDP of Europe and more or less the same as the GDP of... the world.

Que se passa então para lá da poeira e do fumo criados pela artilharia mediática?

Infelizmente só há uma explicação: a Alemanha tentou, mais uma vez, conquistar a Europa, usando desta vez uma estratégia sobretudo financeira. Uma vez mais falhou. E uma vez mais falhou porque traíu simultaneamente os compromissos com os aliados atlânticos, e com a Rússia!

Tal como nas anteriores tentativas de hegemonia, a Alemanha procurou resolver simultaneamente o problema do acesso ao mar e o problema da energia. Aceder à Eurásia, ao Atlântico e ao Mediterrâneo sem pedir licença, nem pagar taxas a ninguém, foi sempre um desejo racional, mas ilegítimo. Desta vez, caiu na armadilha americana de tentativa de isolamento da Rússia, aceitando expandir a NATO para os antigos países da Cortina de Ferro, ignorando que tal movimento seria sempre avaliado por Moscovo como uma ameaça intolerável.

A resposta de Moscovo foi estrategicamente contundente: interromper o fornecimento de gás natural (a energia rainha do século 21) à Europa via Ucrânia, e apostar num novo gasoduto a sul, com entrada europeia pela... Grécia!

A complicação está montada, e não é nada interessante para a Alemanha, a Holanda, e os países do Báltico.

Sinais eloquentes: os dois primeiros atos do novo governo grego foram uma homenagem aos comunistas fuzilados pelos nazis em Kaisariani, em 1944, e a receção do embaixador da Rússia, que já prometeu fornecer alimentos à Grécia, e o mais que for preciso.

A Rússia ameaçou o Ocidente com uma escalada sem precedentes da tensão existente se Wall Street, Londres e Frankfurt se atreverem a expulsar o país de Putin da SWIFT, a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais.

A Rússia e a China são dois poderes globais a que a Grécia certamente recorrerá no seu desafio à arrogância paternalista do senhor Schauble.

Como em tempos escrevi, em vez de a Grécia sair do euro, pode acontecer que seja a Alemanha a regressar ao marco.

sábado, dezembro 10, 2011

Os piratas de sempre

A bomba lançada por David Cameron na cimeira europeia foi encomendada pela City e pelos paraísos fiscais de sua majestade

David Cameron conduz um Mini Cooper fabricado pela BMW em Oxford.
Foto© Sang Tan/AP (The Guardian)

Nick Clegg deu provavelmente o tiro de partida para o fim da coligação presidida pelo conservador e primeiro-ministro inglês David Cameron, na sequência do veto inglês imposto por Cameron à revisão do Tratado Europeu. Já todos sabíamos que esta seria a posição britânica, mas talvez fosse razoável esperar um pouco mais de tacto e mediação.
Deputy prime minister Nick Clegg is no longer prepared to take the hits for the coalition on policies he does not agree with.

Just 24 hours after appearing to back Cameron, sources close to Clegg made clear that the deputy prime minister believed the PM had been guilty of serious negotiating failures that risked damaging the national interest, British jobs and economic growth. The Guardian, 10-12-2011.

 O Reino Unido tem tido desde sempre uma posição oportunista relativamente à União Europeia: quer todas as suas vantagens, mas nenhum dos seus preços. No entanto, apesar da tolerância demonstrada pelo "continente" (onde é que já ouvimos este tipo de idiossincrasia?) o resultado tem sido a desindustrialização acelerada do país (primeiro, a favor do Japão, e depois da Alemanha) e o seu empobrecimento deslizante, só disfarçado pela sua ainda formidável indústria de serviços, nomeadamente financeiros.

A City londrina e os seus paraísos fiscais são responsáveis por uma verdadeira rede de especulação à escala global (1), curiosamente protegida pelo direito europeu, ao mesmo tempo que disfarçam na sua actividade frenética boa parte do descomunal endividamento da economia e da sociedade britânicas. O Reino Unido tornou-se, embora esconda a realidade o mais que pode, um gigantesco banco negro (shadow bank) cujos contornos começam agora a ser revelados.

Ora foi precisamente a pressão exercida pelo eixo franco-alemão para limitar os graus de liberdade desta actividade financeira não regulada e obscura (2), maioritariamente sediada em Londres e nos off-shores do reino e da rainha, que acabaria por quebrar a tradicional fleuma britânica. O primeiro ministro inglês levava um veto no bolso acompanhado de uma única instrução: usar em qualquer caso!

O endividamento descontrolado da Europa e dos Estados Unidos da América é um fenómeno complexo (3) cuja análise deixaremos para outra oportunidade. Mas importa reter o facto de que o mesmo decorre de fenómenos aparentemente tão diversos quanto o crescimento demográfico global, o envelhecimentos das populações, a maior redistribuição dos recursos naturais, energéticos e tecnológicos disponíveis que se seguiu à descolonização mundial, a urbanização em massa, a automação tecnológica e a desmaterialização de uma gama imparável de processos de produção, organização, informação, comunicação e gestão, ou ainda da especulação financeira generalizada que acabaria por tomar conta das economias empresariais, públicas e pessoais.

A Europa e os Estados Unidos são os olhos de um furacão financeiro sem precedentes na história económica. A ameaça de colapso do sistema é real (4)! O olho esquerdo deste furacão foi o Lehman Brothrers (e em geral, a chamada crise das hipotecas subprime), o olho direito chama-se Grécia (e em geral, a chamada crise das dívidas soberanas na zona euro). Os impactos do subprime na Europa e no resto do mundo foram tremendos, em grande medida por causa da concentração existente no sistema financeiro e da globalização da sua actividade. No entanto, se as dívidas soberanas europeias degenerarem num verdadeiro colapso do crédito e da circulação monetária, as suas repercussões na economia americana seriam provavelmente fatais. Daí a inevitabilidade de a Eurolândia ter que passar por alguma forma de Quantitative Easing (5), isto é, de criação de liquidez assente em nada mais do que quimeras! No entanto, a Alemanha só aceitou ir por este caminho de forma mitigada (envolvendo os bancos e os especuladores) e ancorada (no FMI), depois de garantir que a esmagadora maioria dos países da União Europeia aceitaria implementar previamente mecanismos de convergência tributária, prudência orçamental e supervisão financeira mais transparentes e confiáveis.


POST SCRIPTUM

Acabo de ler o discurso de Helmut Schmidt ao congresso ordinário do SPD — uma reflexão de grande sabedoria cuja leitura a todos recomendo (versão portuguesa aqui; transcrição original neste pdf; registo vídeo integral aqui). Recomendo ainda, muito a este propósito, a audição do histórico discurso de Wiston Churchill na Universidade de Zurique um ano depois da capitulação alemã (1946), no qual o primeiro ministro inglês apelou à constituição dos Estados Unidos da Europa sob iniciativa do eixo franco-alemão (registo áudio aqui.)

É muito curiosa a ausência, no discurso de Schmidt, de qualquer referência ao Reino Unido, a não ser indirectamente, no ataque claro dirigido à banca pirata mundial que hoje desafia de forma descarada os estados soberanos, os governos democráticos e centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. 11-12-2011 18:40


NOTAS E REFERÊNCIAS
  1. “MF Global and the great Wall St re-hypothecation scandal”, by Christopher Elias (UK). Reuters, 12/7/2011.
    “Rumours, disasters and ‘re-hypothecation”, by Golem XIV, December 8, 2011.
    “Shadow Rehypothecation, Infinte Leverage, And Why Breaking The Tyrany Of Ignorance Is The Only Solution”. Tyler Durden, ZeroHedge, 12/10/2011.
  2. Entre os múltiplos esquemas destinados, por um lado, a criar liquidez do nada (ou melhor dito, da expropriação potencial intempestiva do valor intrínseco a várias categorias de activos financeiros e não financeiros), e por outro, a especular com a sorte dos investimentos, numa lógica autofágica do sistema financeira enquanto tal, o buraco negro dos derivados financeiros OTC —com um potencial de destruição na ordem dos 10x o PIB mundial— e o agora evidenciado esquema das rehipotecas financeiras (que gozam de especiais privilégios na City e nos ilhéus propriedades pessoais da rainha de Inglaterra) são as principais armas de destruição maciça do sistema financeiro global. A tentativa de colocar a zona euro a suportar as fugas de radioactividade financeira resultantes da implosão em curso deste sistema deu origem à verdadeira guerra movida pelo par dólar-libra ao euro. Menos mal que os alemães ainda sabem pensar e têm os ditos no sítio!
  3. “Chris Martenson and James Turk talk about Europe and the global economy” (video). E ainda este quadro sobre o descontrolo do défice na União Europeia. 
  4. “Eurozone banking system on the edge of collapse.” By Harry Wilson
    “The eurozone banking system is on the edge of collapse as major lenders begin to run out of the assets they need to keep vital funding lines open.” Telegraph, 10:01PM GMT 09 Dec 2011.
  5. “The ECB Decision – A Detailed Analysis”, by Pater Tenebrarum. Acting Man, December 9th, 2011.
    “ECB as Pawnbroker of Last Resort (POLR)”, by Izabella Kaminska. ft.com/Alphaville, Nov 29 2011.
    “True ‘Austrian’ Money Supply update”, by Michael Pollaro. Forbes, Jul. 17 2011.

act. 11-12-2011 11:30; 18:44; 22:58

sexta-feira, outubro 28, 2011

Uma década de austeridade

O euro não sucumbiu, o dólar, sim, apodrece!

A Eurolândia ganhou a primeira grande batalha que lhe foi movida pelo par dólar-libra, mas tem pela frente uma década de austeridade, e precisa dramaticamente de maior e melhor integração económica, financeira e social, precisa de outra coesão política e de uma estratégia global comum.

Rich Mattione ©GMO LLC
(clicar para ampliar a img)
Eurozone bail-out: holes emerge in the 'grand solution’ to solve EU debt crisis
A trillion euro bail-out to save the EU’s single currency is in danger of unravelling after Germany’s central bank warned that the rescue measure was too dependent on the high-risk deals that caused the economic crisis. By Bruno Waterfield — 27 Oct 2011, The Telegraph.

Apesar do nervosismo evidente do eixo que continua a unir Washington a Londres, a verdade é que a Eurolândia se safou, por enquanto, de mais um grande aperto e de mais uma ameaça de cisão. Sem ceder no essencial, a Alemanha acabou por convencer a França e os países do Sul de que a melhor maneira de atacar a crise das dívidas soberanas da União é perspectivá-la a médio-longo prazo, ou seja, repartir no imediato entre governos (i.e. pagadores de impostos), bancos e fundos de investimento, os efeitos mais nefastos e prementes do buraco negro criado pelo sobre endividamento privado e soberano e pelas bolhas especulativas do casino derivativo em que se transformou a chamada inovação financeira desenhada pelos piratas de Wall Street, e, por outro lado, convencer os mais indisciplinados de que vai ser necessário manter, como alternativa à inflação monetária suicida da América, um programa de disciplina orçamental (austeridade), aumento da produtividade e reequilíbrio da balança comercial comunitária e intra-comunitária, no mínimo, ao longo dos próximos dez anos. Só assim continuaremos a contar com a boa vontade (liquidez) e expectativa positiva da China-Japão, Rússia, produtores de petróleo e Brasil.

De acordo com os números de Rich Mattione (“Et tu, Berlusconi? The daunting (but not always insuperable) arithmetic of sovereign debt”. By Rich Mattione — October 2011 © GMO LLC) a situação europeia, no que diz respeito às dívidas soberanas, é grosso modo esta:

País Dívida Pública
Alemanha2.062.000.000.000 (83% do PIB)
França1.591.000.000.000 (82% do PIB)
Reino Unido1.353.000.000.000 (80% do PIB)
Bélgica341.000.000.000 (96% do PIB)
PIIGS3.123.000.000.000
Portugal161.000.000.000 (93% do PIB)
Irlanda148.000.000.000 (95% do PIB)
Itália1.843.000.000.000 (118% do PIB)
Grécia329.000.000.000 (145% do PIB)
Espanha642.000.000.000 (61% do PIB)

Ou seja, como já aqui se escreveu repetidamente, as dívidas públicas da Alemanha e da França juntas superam a totalidade das dívidas soberanas do PIIGS (Itália incluída!) Mais: ao contrário da Espanha, cujo problema é sobretudo uma gigantesca dívida externa, resultante da sua monumental bolha imobiliária, raros são os países da União Europeia que respeitam o Pacto de Estabilidade e Crescimento em matéria de endividamento público, cujo limite é de 60% do PIB. Nenhum dos acima citados pode, de facto, atirar a primeira pedra. A próxima grande dor de cabeça que levou a Alemanha a despachar rapidamente o caso grego chama-se, obviamente, Itália!

O apoio dos países emergentes e produtores de petróleo à Europa resulta de uma nova compreensão estratégica do mundo actual. Os Estados Unidos não poderão continuar a gastar e consumir o que gastam e consomem, sobretudo tendo em conta que produzem cada vez menos coisas palpáveis, e a própria Europa terá que rever alguns aspectos insustentáveis do modelo de consumo e bem-estar social estabelecido numa época em que era sobretudo uma potência colonial, a demografia mundial era outra e o petróleo abundava. O mundo tornou-se muito mais pequeno, muito mais povoado, envelhecendo dramaticamente nos países mais industrializados, com um número crescente de recursos ameaçados ou mesmo em vias de extinção, e onde deixou, pura e simplesmente, de haver hegemonia militar. Em caso de guerra mundial, morreremos todos, ou quase todos!

Mais do que persistirmos numa lógica de conflitos e guerras assimétrica pelos recursos que deixaram de ser abundantes, e em muitos casos se extinguem a olho nu, parece mais evidente a cada dia que passa, que ou conseguimos desenvolver um modelo de crescimento zero criativo, justo e sustentável, ou espera-nos o abismo ao virar de cada esquina de cada crise financeira, de cada guerra, de cada desastre ambiental, ou de cada incidente climático extremo.

É fundamental substituirmos a lógica suicida do prisioneiro encurralado, por uma nova lógica de cooperação competitiva.

act. 28-10-2011 23:10

domingo, outubro 23, 2011

A formiga e as cigarras europeias

A Alemanha tem razão, os bancos, não!

Sacrificar a poupança, nomeadamente de quem produz, em nome da rigidez dos direitos sociais adquiridos, de uma desmiolada cultura do consumo, e de um sistema bancário insolvente, será o caminho mais expedito para o colapso em cadeia do actual sistema capitalista. Não precisaremos de nenhum marxista para nos ajudar!

Se a cigarra triunfar, mais uma vez, sobre a formiga, em vez de uma transição pacífica para o pós-capitalismo teremos miséria e guerra nos próximos anos e décadas — OAM.

O fracasso redondo do Conselho Europeu deste fim-de-semana mantém em suspenso uma divergência fundamental entre a Alemanha, mais alguns países do norte da Europa, e a França, mais os endividados países do Sul:
  • Quem vai pagar as dívidas soberanas da Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido... ?
  • Quem vai pagar as dívidas externas do Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria, França…, quando o colapso da bolha de derivados financeiros atingir o zénite? 
  • Quem vai reequilibrar as deterioradas balanças de pagamentos da Espanha, Itália, França, Reino Unido, Portugal, Grécia…? 
  • Quem vai salvar os bancos sobre expostos às bolhas especulativas (imobiliária, soberana e dos mercados cambiais) da sua cada vez mais grave crise de liquidez e de um dominó de insolvências? 
O GEAB deste mês fala da falência inevitável de 10 a 20% dos bancos ocidentais! As praças financeiras de todo o mundo, entretanto, tornaram-se os alvos compreensíveis de uma indignação à escala global que apenas começou a crescer, que dificilmente será neutralizada pelas polícias, e que poderá muito bem ditar o fim do capitalismo tal qual o conhecemos nos últimos quatrocentos anos.

Há basicamente duas posições:

Uma é a posição da França e de todos os demais países europeus sobre endividados, para quem a solução passa por monetarizar as dívidas nacionais, expandindo a liquidez do euro e emprestando assim sem limite aos governos e aos bancos, com a consequente desvalorização monetária e disparo da inflação, nomeadamente por via do preço acrescido das importações e pelo estímulo artificial do consumo privado e público. Esta solução significaria, pura e simplesmente, um novo assalto à robustez comercial e industrial da Alemanha, um ataque sem precedentes à produtividade e competitividade externa desta trave mestra da União Europeia, e uma destruição inexorável da poupança europeia, onde quer que a mesma se encontre — nos países, nos negócios equilibrados, e nas pessoas produtivas e prudentes. Esta solução implicaria promover o que não pode deixar de ser considerado um crime: financiar os bancos, os especuladores profissionais e os governos populistas da Europa, à custa de quem planeou, produziu e poupou!

A outra solução, propugnada nomeadamente pela Alemanha, e agora também por Durão Barroso, passa por envolver os especuladores e os bancos na reestruturação inevitável dos países simultaneamente sobre endividados e incapazes a prazo de pagar os serviços das respectivas dívidas públicas sem colapsar económica, política e socialmente — casos da Grécia, Portugal, Bélgica e talvez mesmo de países como a Itália, a Espanha, ou a própria França. O BCE e Sarkozy aceitaram em Junho passado um haircut das expectativas de retorno especulativo das bolhas imobiliária e soberana na ordem dos 21%, mas a Alemanha exige agora maior responsabilização por parte dos especuladores privados no colapso financeiro em curso: 50 a 60%.

Acontece, porém, que este contra-ataque alemão à lógica insaciável do capital financeiro vem colocar em causa a situação já de si extremamente frágil de dezenas, se não mesmo centenas de bancos e fundos de investimento por essa Europa fora e ainda onde quer que haja sociedades financeiras e bancos atolados de obrigações soberanas europeias: Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Abu Dhabi, Brasil, etc. A pressão sobre Angela Merkel não pode, pois, deixar de ser brutal.

Conseguirá a União Europeia sair deste dilema?

Os preços da alimentação tendem a acompanhar os preços do petróleo. Ler Gail Tverberg.

No decurso das décadas de 1950 até meados da de 1970, o fim do colonialismo e uma redistribuição mundial menos desequilibrada e menos injusta dos recursos disponíveis, sobretudo do petróleo, do gás natural, dos metais e das matérias primas alimentares, acabaria por induzir uma desindustrialização acelerada dos Estados Unidos e da Europa ocidental, com a subsequente deslocalização de sectores industriais inteiros para países com contingentes aparentemente infindáveis de trabalho barato e socialmente desprotegido. O consequente desequilíbrio resultante do aumento e encarecimento progressivo das importações, e a ameaça do abrandamento económico resultante da diminuição da actividade industrial nos países mais ricos do planeta, conduziram sucessivamente os Estados Unidos e a Europa ao desenvolvimento de uma estratégia de compensação apoiada em três pilares:
  1. a expansão do consumo interno, desenvolvendo para tal toda uma ideologia cultural apropriada (a sociedade de consumo);
  2. o crescimento do campo tecnológico e cognitivo, de que resultaria uma expansão sem precedentes nos sectores da educação, da investigação e do desenvolvimento de produtos inovadores (tecnológicos, mas também culturais);
  3. e a inovação financeira, sobretudo orientada para o desenvolvimento de estratégias de financiamento virtual de economias cujas rentabilidade e deterioração dos termos de troca com o exterior se prefiguraram desde muito cedo nos radares dos estrategas mais atentos.
Foi precisamente a aceleração contínua destes três factores que conduziu o capitalismo mundial à crise sistémica anunciada em 2005-2006, declarada em 2008, e que viria a mergulhar os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo na grande complicação em que agora se encontram. A bolha especulativa da China que acompanha a previsão, para 2012, do primeiro défice comercial chinês dos últimos vinte anos, mostra até que ponto estamos perante uma crise global, e até que ponto os países emergentes são incapazes de sustar o poder destruidor do buraco negro financeiro responsável por esta prolongada e profunda crise sistémica do capitalismo.

O paradigma do consumismo e do consumo conspícuo chegou ao fim, nomeadamente por efeito da inflação crescente, dos limites explosivos do endividamento, e ainda por causa do crescimento demográfico que de uma forma ou doutra implica um melhor aproveitamento e redistribuição dos recursos disponíveis à escala mundial. A tecnologia, por sua vez, evoluiu para uma rede geograficamente dispersa e desnacionalizada, diminuindo progressivamente a densidade dos antigos centros de ciência e tecnologia americanos, japoneses e europeus. A inovação financeira, por fim, acaba de esbarrar nos limites materiais da deteriorada hegemonia monetária da América, renovando o debate sobre a sustentabilidade do actual sistema bancário e financeiro global, desenhado à imagem e semelhança de um modelo que parece ter dado resultados desastrosos na China imperial, e volta agora a mergulhar a Europa numa sucessão catastrófica de bolhas especulativas.

É possível que os Estados Unidos estejam a preparar uma nova moeda, ou até a retoma da indexação do dólar ao ouro, através de uma operação súbita, surpreendente e sem precedentes de decuplicação do valor da onça de ouro. Para aqui chegar teria, porém, que lançar sucessivos pacotes de Quantitative Easing e afogar praticamente o planeta em notas verdes e inflação. Num cenário desta grandeza, que faria a União Europeia?

Uma parte da União Europeia, viciada no bem-estar gratuito, no consumismo, na corrupção, e no endividamento especulativo, não quer sofrer, quer continuar a satisfazer os seus caprichos sem pagar o preço justo das coisas, exige, portanto, dinheiro grátis, que alguém pague as contas, e que se esse alguém não aparecer (e for impossível sangrar mais o indefeso contribuinte europeu), então, que não se pague e pronto! A solução protagonizada nomeadamente por Cavaco Silva é portanto esta: que o contribuinte refinancie os bancos e que estes, depois de refinanciarem os governos, as nomenclaturas e as burocracias, e depois de pagarem os dividendos aos especuladores (nomeadamente do BPN), que retomem paulatinamente as operações de crédito à economia e ao consumo. Haverá riscos elevados de cairmos numa inflação galopante, e de uma desvalorização imparável do euro? Sim, há! Mas não faz mal, diria um qualquer assessor de Belém — os alemães, os árabes, os chineses, os iranianos, os russos e os brasileiros que paguem a crise!

A Alemanha já por duas vezes viu o seu sucesso industrial e económico ser desbaratado pelo resto de uma Europa, ou decadente e com maus hábitos difíceis de perder, ou simplesmente indolente. Será que iremos assistir a um terceiro suicídio colectivo?

Juntei a este escrito uma selecção de factos, observações e opiniões que me parecem de grande oportunidade para melhor compreendermos o que está em causa. De algum modo complementam as minhas reflexões sobre a nova e perigosa disputa entre as cigarras e as formigas desta velha Europa.


REFERÊNCIAS

Esta pirâmide entrou em modo especulativo (Ponzi) a partir da decisão de descolar o USD do ouro. Os CDO, CDS, e toda a parafernália de produtos financeiros criados para segurar/especular com o endividamento exponencial, privado e público, são as causas próximas do colapso sistémico actualmente em curso — OAM.
  1.  The European Financial Crisis in One Graphic: The Dominoes of Debt   (October 24, 2011)
    “After 19 months of denial, propaganda and phony fixes, the political and finance leaders of the European Union are claiming a "comprehensive solution" will be presented by Wednesday, October 26-- or maybe by the G20 meeting on November 3, or maybe on Christmas, when Santa Claus delivers the gift global markets are demanding: a "solution" that actually pencils out and that forces monumental writeoffs of debt and thus equally monumental losses on European banks and bondholders”.

    in Charles Hugh Smith.

  2. German Parliament Slows Euro Rescue Decisions
    “Europe’s leaders had only just presented themselves to their guests as a picture of unity, amid speeches praising the outgoing president of the European Central Bank (ECB), Jean-Claude Trichet, before the sparks began flying in another part of the building. Unfortunately, the German chancellor told a group of stunned men, she would not be able to make a decision on the euro bailout fund at the European Union summit on the following Sunday, because she needed the approval of the German parliament, the Bundestag, first. But because this approval was not to be expected, Chancellor Angela Merkel, a member of the center-right Christian Democratic Union (CDU), proposed postponing the meeting of the 27 heads of state and government.

    European Council President Herman Van Rompuy protested, saying a postponement was absolutely out of the question, if only out of consideration for the other member states. “This is the last exit on the highway,” French President Nicolas Sarkozy said excitedly. “If we don’t reach a decision now, we’re dead.”

    But it was of no use. By the end of last week, it was clear that the decisions would be postponed. Grudgingly, the majority of the EU was forced to follow the Germans’ lead.”

    By Ralf Neukirch, Christian Reiermann and Christoph Schult, in Der Spiegel (23-10-2011)
     
  3. M3 has ceased to be published by the US Federal Reserve
    The world is left without any reliable data on the dollar-value.

    As announced last February 15 by Leap/E2020, yesterday March 23, 2006, the US Federal Reserve has ceased publishing M3, the most reliable indicator of the amount of USDs circulating in the world.

    The Fed has also ceased publishing a number of less important indicators (such as the amount of EuroDollars, large-denomination time deposits, and repurchase agreements) which could have been used to calculate M3 on the basis of other aggregates.

    It is important to bear in mind that the Fed continues to calculate M3 and the other indicators. It doesn’t cease to gather these data, but it no longer shares the information with US citizens and the rest of the world. To use a simple image, it is as if, on the eve of a war, the Pentagone suppressed GPS guidance, including for its own allies.

    Such measure, which has had no equivalent since 1945, when the dollar imposed itself as the global monetary reference, is a major break in the confidence contract between the US and its Allies.

    in GEAB
    (March 24, 2006)
     
  4. The Seeds of Our Destruction Were - And Still Are - Sown in the Bond Markets

    Paul Brodsky:  All the way through 2006, where a monetary aggregate called M-3 -- which was the only aggregate that included repurchase agreements, which is the process by which banks fund themselves with each other -- grew almost 12% a year. It is an enormous amount, and that basically tells you that this overnight lending among banks provided the fuel from which all of the term credit, or the 30-year mortgages ultimately, and the auto loans, and revolving consumer credit that, of course, has never paid down from whence that came. So in effect, we knew that the system became highly susceptible to any hiccup.

    And what we were looking at was an economy where, according to recent data, we have got $53 trillion dollars in dollar-denominated claims, according to the Fed. Well, I actually think it is higher than that, significantly higher than that, but let us just take their figure. On top of a $2.7 trillion dollars in actual money, or M-zero, or to put it another way, currency in circulation plus bank reserves held at the Fed.

    So the system is levered at least 20 to 1, and there is effectively 20 times more debt than money with which to repay it. And so that is a long-winded way of setting the table for where we come down in our macro views. Clearly, it has great ramifications, negative ramifications, for the currency, and given that the dollar is the world’s reserve currency, we think it has significant ramifications for the global monetary system in general.

    [...]

    I think debt is still probably marked too high on balance sheets. Certainly at banks. And so I think it is still out there; it is still lurking. It does not necessarily have to be recognized, ever, frankly, if the Fed produces enough inflation that takes them out in nominal terms. But it is still out there, and I would argue it is not only sub-prime, but as we are seeing now, it is turning into prime as well.

    [...]

    Chris Martenson:  [...] Suppose, for the moment, though, that somehow things do get away from the Fed, they find themselves following, not leading the market. It has happened to them before. It has not happened recently, but certainly, that used to be the case. So I do not know, so there are all these people who have bond funds that are levered up 20 times, 10 times, some big giant number, and all of a sudden the rumor comes through the grapevine that China has decided enough is enough and they are quietly liquidating their custody account into what ever bids they can find. Would we not find that those levered bond funds would potentially get caught in the equivalent of a long squeeze, in essence? I mean, they would have to get out there and start liquidating into this madness. Is that a possibility? Let us admit that it is a possibility; how probable it is, is another question. Do you think the Fed has, with its infinite capability, can really step in and battle that?

    Paul Brodsky:  Well, functionally, yes, they can. Because again, let us say China has three trillion in dollar reserves (just to pick a round number). Yes, the Fed could print five trillion if they wanted to. They would always have more money than bonds outstanding, number one. And they could always assume anyone else’s debt, because there is literally no limit.

    [...]

    ...if we anger them for whatever reason and they decide as retribution, and maybe it is an economic decision that they just do not want to own Treasurys any more and they decide to liquidate. I would suspect at that point, you would see a, maybe even a formal devaluation, of dollars. And we could go into that in a bit if you would like, but I would think that is the point at which you would see obviously the Fed would have to come and buy a bunch and monetize a lot of debt. But my guess is that would see something more formal. And you would go into a weekend and you would come out of the weekend with a completely different new monetary system.

    Chris Martenson:  Okay, interesting. So where I am, what I am hearing here, is a fairly simple story then, had a very long, very protractive credit bubble, it ran up pretty hard. And the Fed has nearly infinite or probably infinite capability to just manufacture credit, or what we call "money," out of thin air. All U.S. debt is denominated in U.S. dollars in this point in time, so there is really no external forcing function. So, guess what, printing can always happen. You started all of this by saying that when you peered through this landscape, what you saw was actually a currency risk. Let us go there for a second, if we could. What do you, how would that play out, if it does not really play in a big bond market route, something has to give in this story. You are saying it is the currency; what does that play out like?

    Paul Brodsky:  I think the Fed is going to have to continue printing. They are going to go significant QE3 at some point; I do not know exactly what form it will take, but they are going to have to monetize debt. The process of doing that is, I am sure your listeners know, is when you buy debt, you print money with which to buy it. And which moves new money out, ostensibly into the system, but as we have seen, it only goes into banks as excess reserves. This process is the exact process of inflation, so if you print a dollar, you are diminishing the purchasing power of that dollar through dilution. And it is a very easy thing to understand more dollars chasing, let us say, the same amount of goods and services and assets, must drive the price level higher for those goods services and assets. And so what we see happening is, through this process of money printing, we will have rising prices that rise much faster than wage growth or income growth, and it is going to make the ability to service debt that much harder.

    [...]

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it looked as though we have output growth and in nominal terms, we did. However, I had to fire someone who was a consumer and so on and so forth and a taxpayer. And so the real economy actually shrunk while nominal growth grows. And so this is what has already been happening. The pressure is the fundamental economic pressures that build, through this juggling act of trying to keep all the balls in the air by printing money and giving the appearance of growth, and trying to instill confidence among consumers and among factors of production, and among manufacturers and so on and so forth. It really can’t last if there is no fundamental reason for it to continue. So in reality we think that they will print a lot of currency, the real economy will shrink. However, the good side of this whole thing, in an aggregate sense, and I am not judging the merits or whether or not it is moral or anything along those lines, but since the U.S. and Western Europe and Japan, the great majority of our populations are indebted. By printing all this money, the prices will rise and eventually even our wages will rise, but the only thing that won’t rise, is the amount we owe. And so this process of inflation reduces the burden of repaying debts. Both in the private and the public sector. While it does not reduce the debt at all but it does act as a de-leveraging. You can de-lever either by letting credit deteriorate and that has all terrible ramifications because you actually do have real contraction in the economy. Or you can print money up to meet the notional value of the debt. And those are the two ways to de-lever and I think they are clearly going to print money and that is the process of de-leveraging they are going to take. Thereby inflating the way the burden of paying the debt.

    Chris Martenson: Yeah, there is all kinds of reasons that, there is really no opposition to the idea of printing. At the political sphere, they love it. Politicians tend to get tossed out during deflationary episodes. Inflation you know, they tend to hold their jobs. So there is a job, job’s creation act for political people buried in there. And also, government cannot tax deflation. Meaning if I hold an asset like a house, and it inflates 100%, some of that is taxable, depending on the size, or any asset that inflates, that is a taxable moment. A deflating asset is not a taxable amount. So you cannot tax deflation. There is another reason why we hate deflation, because it does not perpetuate the entire model of continued growth. But you know at some point, in every credit bubble - and this has been true through all of history and Reinhart and Rogoff certainly proved that - at some point, you just hit the limit, you cannot go any further. Even leaving aside that we remove the natural resource pressure from peak oil or from other resources or that there are natural limits being hit, forget about all of that. There is always a moment when your credit bubble just cannot go any further. There are no more noses that can fog mirrors, that can take out a loan. In your estimate, you are looking at all of this, they have been pulling on the ripcord of the chain saw as hard as they can trying to get this thing started again. Have they? And if they cannot, do we not just face some sort of deflationary outcome anyway?

    Paul Brodsky: I think before we ever get to a truly deflationary outcome, meaning output contraction, shall we say. The Fed will formally devalue the currency, which will solve all these problems. They can do it tomorrow if they chose.

    Chris Martenson: Isn’t everybody trying to devalue their currency?

    Paul Brodsky: Well, they would devalue it to gulp and not against the Euro, or not against the Yen or the Renminbi. That alternating currency devaluation tag team, whack-a-mole, beggar-thy-neighbor  policy, works obviously for exporters and it works in the very near term but it really does not solve the problem which is all of these currencies are baseless and are losing their purchasing power versus the goods and services with inelastic demand properties. Such as natural resources and things of scarcity.

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it makes perfect sense that while they are trying to politically, through policy, devalue their currencies versus other fiat currencies. That is not a long-term solution. When I say devaluation, I mean against the currency that is scarce and that policy makers cannot manufacture because ultimately it comes down to if I have a widget that I want to exchange for money, no matter where I am in the world, the money I want in exchange, I want to know that that’s going to have. I want to have confidence in it that that is going to retain its purchasing power. And it will get to the point ultimately where the one I am going to want is something other than what you are offering. There is precedent obviously, that gold has backed money. And we happen to think that that is the end game. Ultimately, you will see probably the Fed formally devalue the dollar versus gold. After 40 years of it being untied, and that is all. This is just the pendulum swinging back we think. And they will do it at a price, a gold price, in dollar terms, that will reflect the amount of past monetary inflation that we have seen.

    Chris Martenson: Yikes

    Paul Brodsky: Or something close to that.

    Chris Martenson: That is a big number.

    Paul Brodsky: It is a big number, we think it is about little north of $10,000 currently.

    [...]

    What I am saying is, the government will want to retain control, the only way they will be able to do that, is through going back, is devaluing. As they devalued it in 1971, the irony is, they will be going back to a gold standard or a quasi gold standard. I think that the method that they will do that, you know they will print a lot of money with which to tender gold at some big number. That will be highly inflationary. And then they will probably make a market, target a gold price as today they target Fed funds and interest rate. They will target a gold price. You know we will buy your gold at $10,000 we will sell you our gold at $10,200 and if too many people tender, then they will take the price down and vice versa. And what I think that would do, that is not a gold standard by the way, that is maintaining a credit market in effect. However, what it would still place a little more pressure on lenders to watch their backs in terms of the unreserved credit that they are carrying. And it would probably, more than anything, just instill confidence.]

    in Chris Martenson, Transcript for Paul Brodsky
     
  5. The collapse of paper money & the vertical move of gold

    It is the charging of interest on money issued as loans from a central bank that is the foundation of capitalism. It should be noted that prior to capitalism, charging interest on money lending was considered immoral by Christians, Muslims and Jews alike.

    Outlawed by Islam, considered by the Catholic Church to be a sin and contrary to the Law of Moses, because of William Patterson’s combination of money and debt, money lending is now the basis of all modern economies.

    Jews, barred from all trade guilds in Medieval Europe, were allowed only two avocations in the Middle Ages, that of money lending and the selling of used clothing. It is not without irony that the once shunned practice of money lending has now catapulted Jewish bankers to their pre-eminent position of power and wealth in the world today.

    [...]

    When capitalism—institutionalized money lending in debt-based economies—became the world’s predominant economy, bankers found themselves temporarily on top. The operant word is temporarily because where credit and debt is concerned, that which goes up always comes down.

    [...]

    In 1971, capitalism began to unravel when the US was forced to suspend the convertibility of the US dollar to gold. Without gold’s constraint on the money supply, governments—especially the US—began printing and borrowing money virtually without limit. Today, that limit has been reached.

    William Patterson’s 300 year-old house of cards and credit is now collapsing as defaulting debt consumes what’s left of savings. Despite the efforts of governments to save the system that allows them to spend money they don’t have, the end of the banker’s reign is near.

    By Darryl Robert Schoon, in Goldsurvival, July 18, 2011.
É por isto que os bancos querem que os governos tapem o buraco dos derivados especulativos com a expropriação fiscal do cidadão comum — OAM.
act. 24-10-2011 01:38

domingo, junho 12, 2011

Euro contra-ataca?

Presidente do Eurogrupo aponta baterias às dívidas americana e japonesa. Não percebe, diz, porque está o epicentro da crise na Eurolândia. Vamos ter um Verão quente!



Juncker: Greece Needs 'Soft' Debt Restructuring

BERLIN—Highly indebted Greece needs a “soft, voluntary restructuring” of its debt, said Jean-Claude Juncker, the head of the group of countries using the euro as a common currency, in a radio interview Saturday.

(...) “The debt level of the USA is disastrous,” Mr. Juncker said. “The real problem is that no one can explain well why the euro zone is in the epicenter of a global financial challenge at a moment, at which the fundamental indicators of the euro zone are substantially better than those of the U.S. or Japanese economy.” -- Wall Street Journal.

Tendo presente os números do FMI referentes a 2010, percebe-se melhor a declaração de Jean-Claude Juncker:

Dívida Pública em % do PIB (Wikipedia):
  • Japão: 225,8
  • Grécia: 130,2
  • Itália: 118,4
  • Bélgica: 100,2
  • Irlanda: 93,6
  • EUA: 92,7
  • Reino Unido: 76,7
  • França: 84,2
  • Portugal: 83,1*
  • Alemanha: 74,3
Dívida Externa em % do PIB (Wikipedia):
  • Irlanda: 1224
  • Reino Unido: 398
  • Portugal: 201 
  • Grécia 165
  • Eurozona: 120
  • EUA: 97
  • Mundo: 95
  • União Europeia: 83
  • Japão: 51
Balança de Transacções correntes, posição relativa (Wikipedia)
  • China: 1º (+)
  • Japão: 2º (+)
  • Alemanha: 3º (+)
  • Noruega: 5º (+)
  • União Europeia: 14º (+)
  • Irlanda: 167º (-)
  • Grécia: 180º (-)
  • Portugal: 181º (-)
  • Reino Unido: 186º (-)
  • França: 188º (-)
  • Itália: 189º (-)
  • Espanha: 190º (-)
  • EUA: 191º (-)

Ou seja: da guerra em curso ente o dólar e o euro apenas pode resultar um desastre maior. O modelo económico tem que mudar. E com ele o modelo financeiro especulativo dominante.

PS: a reestruturação da dívida grega vai ter consequências imediatas no BCP, o banco português mais exposto à dívida soberana daquele país. Sem capacidade para reforçar os capitais próprios, terá em breve que recorrer ao fundo de resgate de 16mM€ previsto no Plano da Troika. Esperam-se tempos difíceis neste banco.

(*) Estes números foram recentemente revistos em alta, depois de Bruxelas incluir no perímetro orçamental as dívidas que andavam escondidas nas empresas públicas e em entidades privadas de capitais 100% públicos! Segundo o Expresso: “Bruxelas estima que a dívida pública portuguesa aumente de 93 por cento do PIB em 2010 para 101,7 em 2011 e 107,4 em 2012.”