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sábado, agosto 19, 2017

Terrorismo ou guerra?

Mapa do novo califado por que luta o Daesh

A radicalização é geral, e os novos fascismos espreitam, à direita, mas também à esquerda.


In this Second American Civil War, whose side are you on? — Pat Buchanan (18/8/2017)

O autoproclamado Estado Islâmico, em mais um declarado ato de guerra e terror, assassinou duas cidadãs portuguesas no decurso do massacre de Barcelona. Qual é a posição do estado português? Qual é a posição do governo português? Qual é a posição do parlamento português? Qual é a posição do PCP? Qual é a posição do Bloco de Esquerda? Qual é a posição do Partido Socialista? Temos o direito de saber, e os visados têm a obrigação de explicar. Razão teve Passos Coelho ao avisar-nos sobre a imprudência esquerdista de deixar entrar no país 'qualquer um' (1).

Em 2001, em nome da identidade religiosa, e da proibição do culto de ídolos e imagens, os talibãs destruíram as estátuas dos Budas de Bamiyan. Parecia então uma reminiscência medieval. Não era :(

Os soldados do dito Estado Islâmico declararam guerra aos infiéis (nós) e vão aterrorizando e assassinando todos os inimigos que podem (nós). Reclamam, por exemplo, a reconquista da Península Ibérica.

Que resposta lhes devemos dar?

Deixar de ensinar a história da formação do reino de Portugal? Manter uma posição cobarde em nome de uma postura politicamente correta, abdicando da nossa própria identidade e história? Em suma, fingir que não se passa nada, ou pior ainda, que a responsabilidade pelos catorze civis portugueses assassinados pelos terroristas islâmicos desde 2001 é, afinal, nossa?!

Em que lado da barricada estão, afinal, as esquerdas?

In Durham, North Carolina, our Taliban smashed the statue of a Confederate soldier. Near the entrance of Duke University Chapel, a statue of Lee has been defaced, the nose broken off. 
Wednesday at dawn, Baltimore carried out a cultural cleansing by taking down statues of Lee and Maryland Chief Justice Roger Taney who wrote the Dred Scott decision and opposed Lincoln's suspension of the right of habeas corpus. 
Like ISIS, which smashed the storied ruins of Palmyra, and the al-Qaida rebels who ravaged the fabled Saharan city of Timbuktu, the new barbarism has come to America. This is going to become a blazing issue, not only between but within the parties. 
—in “America’s Second Civil War”, Pat Buchanan | Posted: Aug 18, 2017 12:01 AM 

Será que a fraude eleitoral, a corrupção, os atropelos grosseiros do estado de direito, a violência policial e militar, em suma, as ditaduras, para as esquerdas radicalizadas do século 21, só serão coisas más e condenáveis se forem de 'direita'? É nisto que agora acreditam? É nesta lavagem cerebral que querem mergulhar as nossas consciências? Porque não são capazes de criticar Nicolás Maduro?

Este padrão de cinismo e comportamento generalizou-se infelizmente desde dos Estados Unidos ao Brasil, passando pela Venezuela, e alastra como uma nova sarna na Europa.

O drama do regresso às ideologias anti-humanistas e ao apoio em surdina das ditaduras em nome da razão leninista, estalinista e trotskysta é que, se nada fizermos entretanto, quando acordarmos para a realidade poderá já ser tarde demais.

O fantasma de uma segunda República de Weimar parece pairar no horizonte.

A divisão das sociedades, entre bons e maus, politicamente corretos e xenófobos racistas, esquerda e direita, fez já enormes estragos psíquicos e culturais em inúmeras sociedades ocidentais. Esperemos, a este respeito, que António Costa arrepie rapidamente caminho!

O pior, por fim, é que uma crise destas proporções era esperada há já umas boas décadas.

O fim da bonança petrolífera implicará menos uso e consumo de energia per capita. Este declínio energético gera, por sua vez, um crescimento económico real tendencialmente próximo de zero, e raramente acima dos 3%. A queda do crescimento extraordinário que marcou a história da humanidade ente 1870 e 1970 conduziu-nos, trinta anos depois dos avisos feitos pelo Clube de Roma, ao fim do sonho americano e, em geral, ao fim das democracias apoiadas por fortes classes médias, industriais, comerciais e profissionais. Este é o cerne do problema!

O endividamento doméstico, empresarial e público é uma das consequências fatais do período pós-petrolífero. A retórica sobre uma sociedade sustentável sem petróleo não passa de uma ilusão piedosa, capaz, ainda assim, de enriquecer escandalosamente alguns especuladores.

O petróleo é hoje exageradamente caro para quem o compra e importa, e demasiado barato para acudir aos custos exponencialmente crescentes da sua produção.

As empresas petrolíferas, tais como os países que há décadas vivem quase exclusivamente dos rendimentos do petróleo, estão à beira da falência, endividando-se cada vez mais. A luta pelo último barril, tal como a luta pelo último atum selvagem, agudiza-se sem remédio. As sociedades, como navios à beira dum naufrágio, lutam desesperadamente por manter-se à tona, aligeirando nomeadamente a carga considerada menos valiosa. Podemos, pois, imaginar que sentido fazem os assassínios de caráter, os argumentos desesperados e os insultos trocados entre os protagonistas desta tragédia anunciada. Nenhum.

A guerra pela sobrevivência já começou. Acreditarmos na ideia fabricada de que o terrorismo que atacou as Ramblas de Barcelona não é um claríssimo ato de guerra, tentando a todo o custo esconder a sua natureza islâmica radical, só pode alimentar ilusões fatais.

Por outro lado, se estamos em guerra, devemos procurar conhecer o seu contexto, as suas causas profundas e as suas regras, pois doutro modo não saberemos defender-nos, e muito menos negociar a paz e preparar o futuro.

NOTAS

  1. A expressão de Passos Coelho no Pontal ('qualquer um'), que ativou de imediato a saliva pavloviana de João Galamba, refere-se obviamente à necessidade de um maior escrutínio na entrada de imigrantes, refugiados e turistas em Portugal, por razões estritas de segurança num teatro global marcado por uma guerra assimétrica (vulgo, terrorismo) sem precedentes. O Canadá deixa entrar no seu país qualquer um? Quantos luso-descendentes oriundos dos Açores foram expulsos dos Estados Unidos pelas Administrações de Bush e de Obama em resultado de condenações por atividades criminosas? Qual o impacto destas expulsões no sistema prisional e na tranquilidade açorianas? Porque não falamos dos assuntos sérios de forma séria?
    A Rússia, a China ou a Venezuela deixam entrar qualquer um? Basta tentar, para ver que não deixam. Francisco Louçã que o diga, pois consta que é persona non grata em Pequim.

    Nesta discussão exacerbada, como noutras, estamos a pagar infelizmente o divisionismo político e ideológico introduzido em Portugal por António Costa e a corja socratina que o acompanha ao agarrar-se ao poder através de uma aliança espúria com partidos desmiolados que ainda defendem a ditadura do proletariado. Ao decretarem a divisão do país entre portugueses de esquerda e portugueses de direita, os partidos da Geringonça prestaram um péssimo serviço ao país e aos seus concidadãos. Espero bem que eleitorado acorde e corrija o entorse democrático forçado pelos oportunistas que tomaram o poder sem os votos necessários. Se esta correção eleitoral democrática não ocorrer em breve, só poderemos resvalar para uma degradação sem pecedentes dos equilíbrios sociais e ideológicos dos últimos quase 40 anos de democracia. Marcelo Rebelo de Sousa terá que estar particularmente atento às tendências divisionistas em curso. O exemplo dos Estados Unidos é mais do que elucidativo sobre o que poderá acontecer em qualquer país que resolva radicalizar as democracias em direção ao populismo. Como todos sabemos, os comportamentos populistas de direita e de esquerda são simétricos, com sinais simbólicos antagónicos, mas de natureza idêntica. Em Weimar, na Alemanha pré-nazi, a degradação económica e financeira levou à proliferação do chamado lumpenproletariat. Hoje temos uma subclasse média em formação, em resultado da implosão em curso das classes médias profissionais. Tal como a expansão do lumpenproletariado pariu o fascismo e o social-fascismo, também a degradação económica, social e cultural das classes médias é hoje o cadinho onde os novos velhos radicalismos fascistas e social-fascistas já brotaram e crescem em irracionalismo e número de forma muito preocupante. As ditaduras que bailam nos sonhos dos chefes-populistas são pesadelos experimentados a que não queremos regressar!
Atualizado em 20/8/2017 13:00 WET

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit? (3)

Topol M ICBM — uma arma nuclear infernal

BCE—0, Grécia—1 


“About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.” 
TASS

Ontem o BCE tentou humilhar a Grécia. Hoje a Rússia forçou o BCE a adiantar 60 mil milhões de euros aos gregos, e de caminho colocou armas nucleares em regime de prontidão em vários pontos do seu território. O casal Merkel-Hollande sai amanhã disparado em direção a Moscovo!

Mais do que uma simples expulsão da Grécia da Eurolândia, o que está em causa é muito maior e muito mais perigoso: trata-se de saber como irá decorrer o braço de ferro entre Moscovo e Washington em volta da magna questão dos corredores do gás natural em direção à Europa.

É hoje evidente que os americanos pretendem isolar a Rússia para tolher a China. E uma das formas de o fazer é atacar as exportações de petróleo e gás natural. Primeiro prepararam um Inferno na Ucrânia, e outro na Síria. Objetivo: cortar ao meio os gasodutos que ligam a Rússia à Europa através do território ucraniano; e depois apoiar o Qatar, a Arába Saudita e Israel a lançarem novos gasodutos em direção à Europa, dificultando ao mesmo tempo a construção do pretendido gasoduto entre a Rússia e a Grécia, com passagem única pela Turquia.

Este garrote, se funcionasse até ao fim, acabaria com Putin e lançaria a Rússia numa nova bancarrota e na agitação social. É este o objetivo da diplomacia levada a cabo pelos emissários de Obama na Arábia Saudita e na Ucrânia—com o apoio óbvio de Israel, que lançou uma ofensiva militar terrorista contra a Palestina. É percebendo esta manobra que se entenderá o aparecimento e ação psicológica global do famoso Estado Islâmico, uma criação, tal como a Al Qaida, dos serviços secretos militares norte-americanos (com a ajuda mais do que provável dos ingleses e dos israelitas).

É possível que Obama tenha um rebuçado para Putin: se deixares cair Bashar al-Assad, essencial à construção dos gasodutos Árabe e Islâmico, deixaremos a Ucrânia em paz e ao teu cuidado.

É neste teatro bélico potencial, a que os dirigentes eurolandeses assistem com ar bovino, que os ortodoxos gregos e os ortodoxos russos se encontram neste momento.

Vladimir Putin, que ameaçou já fechar o fornecimento de gás natural à Europa através da Ucrânia, oferece, porém, uma alternativa: um gasoduto através da Turquia com entrada na União Europeia pela Grécia. Mas se for assim, como poderá a Alemanha deixar cair os ortodoxos gregos?

A Turquia não se oporá, obviamente, à proposta russa.


FILME DO DIA

Rússia avisa EUA que fornecer armas à Ucrânia causará “dano colossal” às relações
Jornal de Notícias
“Nos nossos contactos com representantes da administração norte-americana sempre sublinhámos que as informações sobre a intenção de Washington de entregar a Kiev armas modernas letais nos causam grande preocupação”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Alexander Lukashevich.

Merkel, Hollande, Putin to discuss end to Ukraine’s civil war at Moscow talks
RT. Edited time: February 05, 2015 16:26

The French president and the German chancellor are set to visit Moscow on Friday after a trip to Kiev, in order to find a peaceful solution to the escalating violence in Ukraine, the Kremlin has confirmed.

“I can confirm that indeed tomorrow [Friday] Putin, Merkel and Hollande will have talks. The leaders of the three states will discuss what specifically the countries can do to contribute to speedy end of the civil war in the southeast of Ukraine, which has escalated in recent days and resulted in many casualties,” Russian presidential spokesman Dmitry Peskov said.

Putin Invites Tsipras To Visit Russia
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 10:45 -0500

While Greek finance minister Yanis Varoufakis’ comments that “we will never ask for financial assistance in Moscow,” which notably does not deny acceptance of aid if offered, and Greek Minister of Energy Panagiotis Lafazanis adding that Athens opposes the embargo imposed on Moscow, “we have no disagreement with Russia and the Russian people,” it is perhaps not surprising that, as Vedemosti reports, Russian President Vladimir Putin spoke by phone with the new Prime Minister of Greece Alexis Tsipras, congratulated him on taking office, and invited him to Russia.

[ANA]

The situation in Ukraine and other international issues, among them, “the South Stream and Turkish Stream pipeline projects, dominated a telephone call between Russian President Vladimir Putin and Greek Prime Minister Alexis Tsipras earlier on Thursday, the Kremlin announced.

Putin invited Tsipras to visit Moscow on May 9 when celebrations will take place, commemorating the peoples’ victory over fascism. On his part, the Greek prime minister underlined the importance he attributes to the fight against Nazism, expressing his intention to accept the invitation.

The Russian leader’s top foreign policy adviser Yuri Ushakov said that Putin congratulated Tsipras on his victory in last month’s general elections and on the assumption of his duties as the new prime minister of Greece.

The discussion was very warm and constructive, he said, noting that President Putin invited Tsipras to Russia. He also said that the will for a more active development of bilateral relations was reaffirmed.

The Russian ministers of foreign affairs and defence have already invited their Greek counterparts to visit Moscow.

Tsipras talks to Putin while US urges Greece to cooperate with its partners, IMF
ekathimerini, Thursday February 5, 2015 (14:55)

The United States has urged Greece to work closely with its European partners and the International Monetary Fund, a senior American official said late on Wednesday.

“We do believe that in the case of Greece it is very important for the Greek government to work cooperatively with its European colleagues, as well as with the IMF. And we have advised it to do so, and we are hopeful that these conversations are now moving to a place with some cooperation and mutual understanding.” noted the official during a conference call regarding US Vice President Joe Biden’s visit to Belgium and Germany which begins on Thursday.

The comments followed President Obama’s recent remarks with regard to austerity in Greece, in which he argued that countries could not go on being “squeezed.”

Russia Deploys Nuclear ICBM Launchers On Combat Patrol
Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:56 -0500

Perhaps it is a coincidence that a day before John Kerry’s arrival in Kiev (a visit which “coincided” with a 35% devaluation of the local currency) where among other things the US statesman discussed the possibility of official (as opposed to unofficial) deliveries of US “lethal support” to the civil war torn and now hyperinflation country, that Russia decided to put its nuclear ICBMs on combat patrol missions in various Russian regions. Specifically, according to Tass, “About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.”

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sexta-feira, novembro 07, 2014

Petróleo, gás, Síria e Estado Islâmico

Gasoduto do Nabucco: a resposta à chantagem de Putin

O dossier energético e a guerra na Síria: o caso do pipeline Irão-Iraque-Síria


Por José Manuel Castro Lousada

I - Primeiro as generalidades

De um lado temos o governo sírio, dirigido por um alauíta do partido Baath, xiitas, sunitas moderados, cristãos, ortodoxos, curdos e drusos. Assad é apoiado pela Rússia, Irão, Líbano, Hezbollah e palestinos. De outro lado, a oposição síria "livre" e grupos sunitas, alguns dos quais extremistas. EUA, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Qatar e Turquia apoiam de alguma forma os rebeldes, fornecendo armas e dando cobertura política.

No Médio Oriente a política e a religião estão interligadas. A guerra mexe com toda a região e com a temperatura internacional. A Síria tem um governo autoritário. Não obstante, desde há duas décadas e até ao início da revolta na rua em 2011, Assad conseguiu manter a unidade nacional, proporcionando à população educação e saúde gratuitas, garantindo às diferentes comunidades étnicas uma convivência pacífica. Os cristãos não eram perseguidos, apesar de não serem a maioria, mas na Síria não há maiorias expressivas.

Os EUA e seus aliados são acusados de apoiar directa ou indirectamente a Jablat Al Nusra e outras organizações jihadistas por intermédio do Exercito Sírio Livre e de outros "moderados", para destruir a Síria laica e independente. Invocaram que Assad é um tirano e que usou armas químicas contra o seu povo, mas a Rússia e a imprensa internacional mostraram armas químicas na posse da Al Nusra que, segundo alegado, foram fornecidas pelos norte-americanos e estados do Golfo. Israel está de atalaia.

A rebelião popular de 2011 surgiu no quadro da Primavera Árabe. Para alguns analistas, especialmente iranianos e russos, houve um aproveitamento das primaveras árabes para orquestrar a queda de Assad. A revolução na rua terá sido incentivada pelos EUA, Reino Unido, Holanda e parceiros do clube Bilderberg. Argumentam que os operacionais da Al Nusra e organizações similares não falam siríaco mas sim árabe e que muitos rebeldes "moderados" não são sírios.

Em 2011 existiam dezenas de bancos na Síria, o que indiciava um razoável nível de liberdade económica. Haverá corrupção no governo ou em redor do governo, como em muitos outros países. Tem-se afirmado também que o regime não permite eleições livres, segundo um padrão ocidental. Mas qual é o país árabe onde existem eleições livres e democráticas? A Al Zajeera e a Al Arabia têm manipulado os media contra Assad e a comunidade internacional diabolizou-o a partir de 2003, quando recusou apoiar a guerra contra o Iraque. O que ainda mantém o regime são as instituições sírias, o povo e as forças armadas. E, evidentemente, o apoio da Rússia e do Irão.

É provável que se Assad cair a guerra civil sectária continue, numa senda de progressiva balcanização do território, sendo o poder ocupado por grupos islâmicos que não vão permitir a existência de outros credos. Cristãos, curdos, drusos, xiitas e alauítas, ou seja um total de 4 milhões de sírios, aguardarão o resultado da guerra para saber se podem continuar no país. Perspectivando soluções de governo: os sunitas são aproximadamente 65% da população e aspiraram exercer o poder. Olhando para o padrão da península arábica, o mais natural será o nascimento de um novo estado islâmico sob os auspícios da Irmandade Muçulmana. No que em particular interessa aos cristãos, a queda do regime de Damasco apressará o fim da história da Cristandade no Médio Oriente. Os maronitas do Líbano não conseguirão evitar a pressão dos islamitas sírios ou absorver a infindável chegada de refugiados.

O chamado Gasoduto Islâmico


II - A conexão entre a política energética e a guerra na Síria

O que estava errado num dos países mais democráticos e multi-culturais do Médio Oriente, a Síria, para chamar a atenção do Ocidente e concitar a oposição dos defensores da democracia, ao ponto de serem considerados "combatentes da liberdade" indivíduos que no Ocidente seriam tratados como terroristas?

Os problemas geopolíticos relacionados com a produção, transporte e uso do gás natural - eventualmente o principal combustível do século XXI - estão, talvez, mais do que qualquer outro tema, no radar dos estrategas ocidentais. F. William Engdahl, consultor em energia, diz que o gás natural é o ingrediente inflamável que alimenta a corrida à energia na região. A guerra em curso é sobre se os gasodutos que abastecerão a Europa, de leste para oeste, seguirão do Irão e do Iraque para a costa mediterrânea da Síria, ou se farão uma rota mais pelo norte, do Qatar e da Arábia Saudita, através da Síria e da Turquia. Tendo percebido que o fluxo do encalhado pipeline Nabucco (e de todo o Corredor Meridional) é abastecido apenas por reservas do Azerbaijão, e que não pode nunca igualar o fornecimento russo para a Europa ou impedir a construção do South Stream, o Ocidente está com pressa em recorrer ao Golfo Pérsico. A Síria, elo fundamental nesta cadeia, alinha com o Irão e a Rússia. Como tal, ter-se-á decidido nas capitais ocidentais que Assad tem de cair. A luta pela democracia é uma falsa bandeira exibida para encobrir objectivos não declarados.

Recorde-se que a rebelião na Síria teve início há três anos, quase ao mesmo tempo em que era assinado em Bushehr, no sul do Irão, em 25 de Junho de 2011, um memorando respeitante à construção de um novo gasoduto Irão-Iraque-Síria, para ligar 1.500 km desde Asaluyeh, no campo de gás natural de North Dome/South Pars (compartilhado pelo Qatar e pelo Irão), a Damasco. O gasoduto percorre 225 km em território iraniano, 500 km no iraquiano e 500-700 km em terra síria. Mais tarde, poderá prolongar-se pelo leito do Mediterrâneo até à Grécia. A possibilidade de fornecimento de gás liquefeito para a Europa através dos portos sírios no Mediterrâneo também está em cima da mesa. Os investimentos montam a 10 biliões de dólares.

O projecto, conhecido por "gasoduto islâmico", deveria entrar em operação entre 2014 e 2016. A capacidade projectada é de 110 milhões de metros cúbicos de gás por dia (40 biliões de m3/ano). Iraque, Síria e Líbano já assumiram que necessitam do gás iraniano (25-30 milhões de m3/dia para o Iraque, 20-25 milhões de m3 para a Síria e 5-7 milhões de m3 para o Líbano até 2020). Uma parte será fornecida através do sistema de transporte de gás árabe para a Jordânia. O projecto concorreria com o Nabucco, promovido pela União Europeia (capacidade estimada de 30 bilhões de m3 de gás/ano), que não tem reservas suficientes. Planeou-se o trajecto do Nabucco pelo Iraque, Azerbaijão, Turcomenistão e Turquia. Após a assinatura do memorando sobre o Pipeline Islâmico, o director da Companhia Nacional de Gás Iraniano (NIGC), Javad Oji, afirmou que o South Pars, com reservas de 16 triliões de m3, é uma "fonte confiável de gás e um pré-requisito para a construção de um gasoduto com uma capacidade que o Nabucco não tem". Cerca de 20 biliões de m3/ano seguiriam para a Europa, concorrendo com os 30 biliões do Nabucco, mas não com os 63 biliões do South Stream russo.

Um gasoduto do Irão seria altamente rentável para a Síria. A Europa também beneficiaria com a construção, mas no Ocidente há outras ideias. Os parceiros fornecedores de gás do Golfo Pérsico não estavam satisfeitos com a concorrência, nem era suposto estarem, nem sequer o transportador número um, a Turquia, que ficaria fora de jogo. A "Unholy Alliance" constituída para o negócio declarou ter por objectivo "proteger os valores democráticos" no Médio Oriente, ao arrepio da forma como as monarquias do Golfo lidam com tais valores.

Os estados sunitas percepcionam o Pipeline Islâmico segundo contradições interconfessionais, considerando-o um "gasoduto xiita do Irão xiita, através do território do Iraque com a sua maioria xiita e para o território do amigo xiita-alauíta Assad". Como refere F. William Engdahl, este drama geopolítico é intensificado pelo facto de o campo de Pars Sul se encontrar no Golfo Pérsico, directamente na fronteira entre o Irão xiita e o Qatar sunita que, não sendo adversário para o Irão, faz uso activo das suas ligações à presença militar dos EUA e britânica no Golfo Pérsico. No território do Qatar está um nó do “Pentagon’s Central Command of the U.S. Armed Forces”, o quartel-general do “Head Command of the U.S. Air Force”, o “N.º 83 Expeditionary Air Group of the British Air Force” e a “379th Air Expeditionary Wing of the U.S. Air Force”. O Qatar, escreve Engdahl, tem outros planos para o Pars Sul, é avesso a esforços conjuntos com o Irão, Síria e Iraque, e fará o possível para impedir a construção do pipeline, incluindo armar os "rebeldes", muitos deles sauditas, paquistaneses e líbios.

A determinação do Qatar é ainda alimentada pela descoberta, em 2011, de uma área de produção de gás na grande Síria, perto da fronteira com o Líbano, não muito longe do porto mediterrâneo de Tartus, arrendado à Rússia, e pela detecção de um importante campo de gás perto de Homs. Segundo estimativas preliminares, tais descobertas devem aumentar substancialmente as reservas de gás do país, que já ascendiam a 284 biliões m3. A perspectiva da exportação de gás sírio ou iraniano para a Europa através de Tartus joga contra os interesses do emirado e dos seus patronos ocidentais.

Segundo a Global Research, o jornal árabe Al-Akhbar revelou informações sobre um plano aprovado pela administração norte-americana destinado à construção de um gasoduto Qatar-Europa, envolvendo a Turquia e Israel. A capacidade não é mencionada, mas, considerando os recursos do Golfo Pérsico e do Mediterrâneo oriental, poderia ultrapassar tanto a do Pipeline Islâmico como a do Nabucco, fazendo frente ao South Stream russo. O principal encarregado do projecto é Frederick Hoff, "responsável pelas questões de gás no Levante" e membro do "Comité norte-americano para a crise síria". O pipeline teria origem no Qatar, atravessaria território saudita e jordano, contornando o Iraque xiita, até chegar à Síria. Perto de Homs, o gasoduto ramificar-se-ia em três: para Latakia, Trípoli, no norte do Líbano, e Turquia. Homs, onde existem reservas de hidrocarbonetos, é o "principal entroncamento do projecto". Nas proximidades da cidade e do ponto-chave Al-Qusayr travam-se algumas das batalhas mais ferozes e é o sector onde o futuro da Síria se joga: os locais onde os rebeldes operaram com o apoio dos EUA, Qatar e Turquia, ou seja a norte, Homs e arredores de Damasco, coincidem com a rota prevista para o gasoduto, em direcção ao Líbano e à Turquia. Um cotejo entre o mapa dos combates e o mapa da rota do pipeline Qatar-Europa indicia uma ligação entre a guerra e a necessidade de controle territorial. São três os objectivos a atingir: "quebrar o monopólio de gás natural da Rússia na Europa; libertar a Turquia da dependência do gás iraniano; e dar a Israel a oportunidade de exportar o seu gás para a Europa por terra, com menos custos". Pepe Escobar, analista do Asia Times, afirmou que o emir do Qatar fez, aparentemente, um acordo com a Irmandade Muçulmana, apoiando a sua expansão internacional em troca de um pacto de paz no Emirado. A Irmandade Muçulmana na Jordânia e na Síria alteraria abruptamente todo o mercado geopolítico mundial do gás natural - decididamente a favor do Emirado e em detrimento da Rússia, Síria, Irão e Iraque. Seria também um duro golpe para a China.

Entre outros objectivos, a guerra na Síria permitirá impulsionar o projecto do pipeline Qatar-Europa e desmantelar o acordo celebrado entre Teerão, Bagdad e Damasco. A implementação deste foi interrompida várias vezes devido à acção militar, mas em Fevereiro de 2013 o Iraque mostrou disponibilidade para assinar um acordo-quadro que permitiria a construção do gasoduto. Pouco depois, novos grupos xiitas iraquianos manifestaram-se em apoio de Assad. As participações no "jogo de eliminação" sobre o Pipeline Islâmico iniciadas na Síria pelo Ocidente continuarão a crescer. O fim do embargo da União Europeia ao armamento dos rebeldes sírios, que segundo a BBC mereceu a oposição inicial da maioria dos estados-membros, poderá não chegar para ajudar os rebeldes.

Quanto à civilização e à justiça, quando o lucro está em causa, os sentimentos não contam. O que importa é não jogar a carta errada neste jogo que cheira a sangue e a gás.

O pipelina que liga Síria ao Qatar

Fonte da parte II deste texto, correspondendo à sua quase tradução integral:

The Geopolitics of Gas and the Syrian Crisis: Syrian “Opposition” Armed to Thwart Construction of Iran-Iraq-Syria Gas Pipeline
By Dmitry Minin
Global Research, September 19, 2014/ Strategic Culture Foundation 31 May 2013 


NOTA (O António Maria)

Ainda a propósito dos contornos desta espécie de Cruzada pós-moderna contra países muçulmanos, cuja origam principal é, desde 1917, a decisão ocidental de controlar a principal região petrolífera do planeta, vale a pena ler este texto de Glenn Greenwald

Glenn Greenwald. ¿Cuántos países musulmanes ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980?

 Barack Obama, en su conferencia de ayer posterior a la elección, anunció que pedirá una Autorización para el Uso de Fuerza Militar (AUMF, por sus siglas en inglés) del nuevo Congreso, que autorice su campaña de bombardeo en Iraq y Siria – que comenzó hace tres meses. Si uno fuera generoso, diría que pedir autorización del Congreso para una guerra que comenzó hace meses es por lo menos mejor que librar una guerra incluso después que el Congreso rechazara explícitamente su autorización, como lo hizo Obama ilegalmente en el ahora colapsado país de Libia.

Cuando Obama comenzó a bombardear objetivos dentro de Siria en noviembre, señalé que era el séptimo país con preponderancia musulmana que había sido bombardeado por EE.UU. durante su presidencia (lo que no incluía el bombardeo por Obama de la minoría musulmana en las Filipinas). También señalé previamente que esta nueva campaña de bombardeo significa que Obama se ha convertido en el cuarto Presidente consecutivo de EE.UU. que ordenó que se lanzaran bombas sobre Iraq. Considerados por sí solos, ambos hechos son sorprendentemente reveladores. La violencia es tan corriente y continua que ya apenas nos damos cuenta. Precisamente esta semana, un drone estadounidense lanzó un misil que mató a 10 personas en Yemen, y los muertos fueron rápidamente calificados de “presuntos militantes” (lo que en realidad significa solo que son “varones en edad militar”); esos asesinatos apenas merecieron ser mencionados.

Para obtener una visión total de la violencia estadounidense en el mundo, vale la pena formular una pregunta más amplia: ¿cuántos países en el mundo islámico ha bombardeado u ocupado EE.UU. desde 1980? La respuesta fue suministrada en un reciente artículo de opinión en el Washington Post del historiador militar y ex coronel del ejército de EE.UU.,

Andrew Bacevich:

“Mientras los esfuerzos de EE.UU. por “degradar y finalmente destruir” a los combatientes del Estado Islámico se extienden a Siria, la III Guerra de Iraq se ha transformado discretamente en el Campo de Batalla XIV del Gran Medio Oriente. Es decir, Siria se ha convertido en por lo menos el 14º país en el mundo islámico que fuerzas estadounidenses han invadido, ocupado o bombardeado, y en los cuales soldados estadounidenses han matado o han sido muertos. Y eso es solo desde 1980.

Enumerémoslos: Irán (1980, 1987-1988), Libia (1981, 1986, 1989, 2011), Líbano (1983), Kuwait (1991), Iraq (1991-2011, 2014-), Somalia (1992-1993, 2007-), Bosnia (1995), Arabia Saudí(1991, 1996), Afganistán (1998, 2001-), Sudán (1998), Kosovo (1999), Yemen (2000, 2002-), Pakistán (2004-) y ahora Siria. ¡Vaya!.

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Atualização: 8 nov 2014, 16:28 WET