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sábado, maio 04, 2013

Partido Democrata-partido inteligente




Carta aos aderentes,​

É inadiável agir e precisamos, por isso, de um novo partido político que seja uma plataforma democrática e pragmática de resolução justa dos inúmeros problemas com que nos debatemos e têm vindo a agravar-se de forma rápida e dramática para milhões de portugueses.

Cheguei ao fim de vários anos de reflexão e espera a esta conclusão simples, mas pesada de consequências: é necessário criar uma nova plataforma política organizada e com vocação de poder, ou seja, preparada para disputar posições nas autarquias locais, no parlamento nacional e no governo do país.

O sistema partidário que temos está esgotado e sem capacidade de se regenerar sem o aparecimento e intervenção de novos interlocutores democráticos sérios e verdadeiramente representativos dos portugueses, sobretudo daqueles que olham aterrados para o empobrecimento catastrófico do país e para a corrupção infinita que atingiu o regime democrático.

O Partido Democrata é uma ideia a caminho de ser um projeto. Uma ideia aberta e um projeto pragmático de cooperação sem preconceitos.

Diria que a sua regra de ouro é esta:

— esquecer as ideologias tradicionais e negociar com pragmatismo e boa fé, em nome da justiça, do equilíbrio e da felicidade das pessoas.

Tenho vindo a desenvolver reuniões e conversas (por email, Skype, telefone e presenciais) com pessoas de todo o país. Estamos no começo, e nada há de mais estimulante do que começar algo novo!

Se quiser entrar na nossa conversa, será muito bem-vindo, será muito bem-vinda.

Iremos em breve convocar uma, ou várias e em simultâneo, convenções destinadas a aprovar um documento muito simples (10 mandamentos no máximo!) na base do qual se considere fundado o Partido Democrata.

Tudo o resto, programa, estatutos, organização, legalização, virá depois, com o tempo e as mediações que foram necessárias ao saudável crescimento desta nova plataforma de congregação política democrática.

Por enquanto, este movimento de vontades não obedece a nenhuma comissão coordenadora, nem a nenhuma pessoa em particular, o que não significa que esteja sem direção. As redes sociais, de que o Partido Democrata é e será cada vez mais uma emanação, trazem uma lógica colaborativa e de decisão inovadora à ação política e social das comunidades. Por aqui andaremos, sem a ingenuidade de acreditar no anti-partidismo primário, que apenas serve as mordomias de quem se apropriou das instâncias do poder democrático constitucional, mas não prestou bom serviço ao país.

Esperamos por si. Adira ao Partido Democrata, já!

Um abraço fraternal,

António Cerveira Pinto — em nome de todos os que já decidiram entrar nesta nau de esperança e vontade de agir.

ADERIR AO PARTIDO DEMOCRATA

domingo, maio 24, 2009

Portugal 105

Corrija o seu voto!

Depois de interagir com o Eu-Profiler, descobri que continuo a situar-me entre socialistas e algumas novas estirpes de democratas e liberais de esquerda. Não sou populista. Não sou conservador. E sou definitivamente europeísta. Os partidos portugueses de que estou mais próximo são o Partido Socialista (75,5%), o Partido Humanista (72,9%), o Movimento Esperança Portugal (67,1%) e o Movimento Mérito e Sociedade - 50,7%. O Bloco de Esquerda, cujo voto continuo a recomendar, apenas para retirar a maioria absoluta ao PS, não coincide em mais do que 46,3% com as minhas efectivas prioridades políticas.

Mas a descoberta mais surpreendente do perfil obtido depois de percorrer a trintena de perguntas colocadas pelo Eu-Profiler é que os partidos do meu coração não existem ainda em Portugal, mas já mexem e bem noutros países europeus: o Parti Démocratique do Luxemburgo, o Socialdemokratiska arbetarepartiet da Suécia, o Partij van de Arbeid holandês, o Social Democratic and Labour Party da Irlanda do Norte, o Socialdemokraterne da Dinamarca, o Demokratik Sol Parti e o Milliyetçi Hareket Partisi da Turquia. Todos estes partidos, e ainda o Hrvatska socijalno liberalna stranka da Croácia, o Eestimaa Rohelised e o Eestimaa Rahvaliit da Estónia, estão mais próximos do meu pensamento do que qualquer partido português! Façam o teste e surpreendam-se.

Votar é um hábito democrático. E como todos os hábitos tende a sofrer dos males da inércia que afecta tanto os sistemas físicos, como os intelectuais. Um dia votámos no PS, no PSD ou no CDS, e assim ficamos para toda a vida. Errando e dando tiros no pé, por preguiça e inconsciência pura, mas vendo bem, sem desculpa!

Se alguém nos disser, ou descobrirmos subitamente, que o nosso pensamento evoluiu, ou simplesmente mudou, e por conseguinte aquele partido em que nos habituámos a votar já nada tem que ver connosco, ou até contraria os nossos renovados interesses, convicções e desejos, que deveremos fazer? Persistir num hábito que perdeu forma e sentido? Ou experimentar novos caminhos?

Pois bem, a tempo das próximas eleições europeias surgiu uma Aplicação de Aconselhamento Eleitoral — Voting Advice Application (VAA) — desenvolvida por um consórcio independente formado pela Robert Schuman Centre for Advanced Studies (RCAS), integrado no European University Institute (EUI); Kieskompas e NCCR Democracy (University of Zurich/Zentrum für Demokratie Aarau)/Politools network. Chama-se Eu-Profiler. Esta divertida aplicação é seguramente pioneira no caminho que todos começamos a percorrer em direcção às democracias virtuais.

É tempo de corrigir o sentido de voto, e de começarmos a pensar em novos partidos!


OAM 587 24-05-2009 13:50

segunda-feira, março 16, 2009

Portugal 92

Uma semana com 20 horas?

Diante da natureza da crise e dos seus efeitos devastadores, é também a teoria económica de matriz neoliberal que perde credibilidade e se revela incapaz de interpretar a realidade económica. Consequentemente a efectiva resposta aos novos desafios da crise não deve ser procurada em políticas económicas assentes naquela inspiração. — "Reflexão para a Quaresma de 2009" (PDF), Comissão Nacional Justiça e Paz.

Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman (1).

Roosevelt later "voiced regret that he did not get behind the Black-Connery Thirty Hour Week Bill and push it through Congress" — in Jeremy Rifkin, The End of Work.

Eu não sou suspeito de morrer de amores pelo papagaio que a tríade de Macau colocou à frente do partido e do governo de maioria que actualmente nos governa. Mas devo confessar um facto: não é apenas a José Sócrates e à dita tríade que podemos atribuir a responsabilidade pelos mais de 574 mil desempregados, inactivos e sub-empregados registados pelo INE.

Comparando os números da análise crítica de Eugénio Rosa, compilados com base nas estatísticas oficiais, ficamos a saber que o desemprego em Portugal se manteve sempre em alta desde que José Sócrates prometeu criar 150 mil novos postos de trabalho. Esta tendência altista iniciou-se, porém, pouco depois de António Guterres ter entregue o governo, de mão beijada, a Durão Barroso.

Entre os 548.900 desempregados, no 1º trimestre de 2005, e os 574.200, no fim do 4º trimestre de 2008 —com um pico máximo no 4º trimestre de 2006, de 614.000, e um mínimo de 539.600 no fim do 2º trimestre de 2006—, registou-se um agravamento indisfarçável do desemprego em mais 25 mil postos de trabalho.

Tendo o INE interrompido desde 2003 o cálculo estatístico da emigração portuguesa, nomeadamente para a Europa, não podemos quantificar com exactidão a perda total de empregos no nosso país ao longo dos últimos quatro anos. Lendo porém o Relatório Internacional sobre Migrações de 2007 da OCDE (citado pelo D.N.), segundo o qual os 5 milhões de emigrantes espalhados pelo planeta se aproximam rapidamente da população activa do país (2), podemos estimar uma sangria média anual para o exterior nos últimos quatro anos na ordem dos 36.761 emigrantes —ou seja, quase 150 mil pessoas quando a presente legislatura chegar ao fim.

Em vez dos 150 mil novos postos de trabalho prometidos por José Sócrates, Portugal perdeu nos últimos quatro anos mais 172.344 empregos — os 25.300 desempregados a mais que no fim de 2008 se somam aos 548.900 do início da legislatura, mais 147.044 emigrantes. Ou seja, quando este governo for a votos, haverá 721.244 portugueses (ou talvez mesmo 800 mil) sem perspectivas de trabalho regular no nosso país, entre os quais se encontrarão desempregados recentes e de longa duração, jovens à procura do primeiro emprego e portugueses que emigraram desde 2005.

Os 70.334 novos desempregados inscritos até ao fim de Janeiro de 2009 (3) revelam bem até que ponto estamos perante uma tendência avassaladora, que nem este nem o próximo governo conseguirão travar, se não se perceber primeiro as causas do fenómeno.

O aumento do desemprego durante o governo de maioria absoluta é uma consequência directa da redução do Défice Orçamental imposta pelo Pacto de Estabilidade da União Europeia. Obras públicas e "jobs for the boys", alimentados sobretudo pelas receitas extraordinárias das privatizações e pelos fundos comunitários, foi a maneira como António Guterres disfarçou a tendência para a destruição do emprego inscrita nas sucessivas revoluções tecnológicas que têm marcado o Capitalismo desde o aparecimento da máquina a vapor. Porém, assim que o financiamento da bolsa artificial de emprego criada pela expansão do sector público começou a pesar no défice orçamental e na dívida pública, e o chicote de Bruxelas colocou Portugal sob a ameaça de multas pesadas por infracção manifesta do Pacto de Estabilidade —tendo então começado as dramáticas "reformas estruturais"—, o desemprego disparou.

Basta comparar os números oficiais do desemprego ao longo deste século:

Governo António Guterres
  • 2000: 4,0%
  • 2001: 4,0%
Governo Durão Barroso
  • 2002: 5,0%
  • 2003: 6,3%
Governo Santana Lopes
  • 2004: 6,7%
Governo José Sócrates
  • 2005: 7,6%
  • 2006: 7,6%
  • 2007: 8,0%
  • 2008: 7,6%

As anunciadas grandes obras públicas, pela fraca quantidade, qualidade e natureza precária dos empregos prometidos, nada podem fazer para inverter esta tendência de fundo. E pior do que isso: são uma ilusão caríssima que o País não pode suportar, nem sequer está em condições de financiar, mesmo que o IVA fosse parar aos 25% e a especulação financeira pagasse impostos. Os impactos desta ilusão na dívida externa portuguesa são pura e simplesmente insustentáveis. Neste ponto, o consenso crescente entre os economistas só é contraditado pela demagogia generalizada dos partidos políticos, à excepção, diga-se em abono da verdade, de Manuela Ferreira Leite.

A retórica dos partidos excêntricos da Oposição não convence. Ao elegerem o emprego e a segurança como bombos da festa anti-Sócrates, PP, PCP e Bloco de Esquerda —que nenhuma estratégia concreta propõem para mitigar o iminente colapso económico e social do país—, sabem que não têm soluções para esses dois dramas. A Direita folclórica do PP não pode ser mais previsível na sua histeria securitária, e a Esquerda previsível repete palavras de ordem há muito descredibilizadas. Onde pretendem pois chegar os partidos excêntricos com semelhante demagogia? Eu também quero ver o papagaio da tríade de Macau fora de São Bento. Mas em nome de algo que faça sentido! A voz grave, mas esfíngica, de Manuel Alegre, por si só, não basta. Precisa-se urgentemente de uma estratégia clara e criativa para superar a mais grave crise sistémica do Capitalismo desde a Grande Depressão.


O desemprego é o principal coveiro do Capitalismo

A principal causa da destruição de milhões de empregos em todo o mundo, mais ainda do que a deslocalização de milhares de empresas para a China e em geral para os países de mão-de-obra barata, é a inovação tecnológica aplicada tanto aos processos produtivos como aos métodos de gestão.

As ciências e as tecnologias aumentam a produtividade do trabalho. Este aumento, por sua vez, é responsável pelo acréscimo da produção, pela concentração do capital, pelo crescimento dos lucros, mas também pela extinção acelerada do trabalho humano! Se a tecnosfera cresce e é cada vez mais inteligente, ao mesmo tempo que o trabalho humano desaparece e é cada vez pior remunerado, quem irá no futuro adquirir os frutos da extraordinária produtividade das economias pós-industriais?

Até ao eclodir da primeira grande crise sistémica global do Capitalismo, esta aporia do progresso foi mitigada por uma estratégia combinada de deslocalização da produção para países com factores de exploração do trabalho mais favoráveis, e por uma expansão artificial do crédito e da massa monetária. O que agora desabou foi precisamente a bolha do endividamento continuado e excessivo das economias mundiais. As consequências são fáceis de prever: crises de endividamento, falências pessoais, falências empresariais, falência do sistema financeiro, quebra abrupta da procura, desinflação, quebra abrupta da produção, deflação, ajustamento dos modelos de emprego às nova tecnologias produtivas e de gestão, desemprego em larga escala, colapso iminente de milhares de sistemas públicos, colapso potencial dum número indeterminado de países, hiperinflação, adaptação catastrófica dos actuais sistemas sociais à super produtividade tecnológica.

É assim desde o aparecimento da máquina a vapor que levou à desertificação progressiva dos campos e ao crescimento exponencial das cidades. É assim desde a invenção da electricidade, do motor de combustão e das telecomunicações que conduziram à contracção do emprego industrial e ao aparecimento das sociedades de serviços. É assim desde o aparecimento da micro-electrónica, da computação digital e das bio e nanotecnologias que irão fazer disparar a produtividade e o desemprego para patamares dificilmente imagináveis.

Segundo Jeremy Rifkin, cujo livro, The End of Work, não me canso de recomendar, por volta de 2050, apenas 5% da população adulta mundial será provavelmente suficiente para dar conta de toda a produção industrial necessária.

Ainda segundo Rifkin, em apenas sete anos, entre 1995 e 2002, as vinte maiores economias mundiais perderam 31 milhões de postos de trabalho só na indústria transformadora. Ao contrário do que poderíamos imaginar, 15 milhões dos empregos perdidos ocorreram na China. Entre 1982 e 2002, apesar da produção de aço nos Estados Unidos ter subido de 75 para 102 milhões de toneladas, o emprego neste sector diminuiu de 289 mil para 74 mil trabalhadores. No sector de serviços a destruição massiva de empregos não é menos surpreendente, sobretudo para quem continua a crer que este sector será capaz de absorver eternamente os deserdados da agricultura e da indústria transformadora. O chamado net banking, por exemplo, pode chegar a reduzir 90% dos seres humanos necessários para gerir a mesma carteira de clientes que um banco convencional. Ou seja, o futuro de boa parte das actividades de serviços (finança, seguros, comércio, jornalismo, publicidade, etc.) irá eliminar milhões de empregos urbanos ao longo das próximas décadas.

Em Portugal, o caso da transportadora aérea nacional, embora menos badalado que a situação igualmente terminal da Alitália, é um bom exemplo do futuro dramático que se avizinha.

O Grupo TAP, depois de ter sido forçado politicamente a comprar por 140 milhões de euros (que não tem) a falida Portugália Airlines, do Grupo BES, ficou com cerca de 10 mil trabalhadores a cargo, ou seja, o mesmo número de trabalhadores que conjuntamente empregavam em Fevereiro de 2007 a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin.

A Alitália, uma empresa em perda acelerada de produtividade, apesar de ter uma das mais jovens frotas europeias, continua incapaz de competir com o ascendente sector das Low Cost. Os seus 22 mil funcionários, i.e. 122,9 trabalhadores por aeronave, são um handicap muito desfavorável na comparação com as três principais Low Cost europeias, Ryanair, Easy Jet e Air Berlin, com uma média de 37,5 trabalhadores por avião. Na TAP esta relação é ainda mais desfavorável: 156,3 trabalhadores por aeronave. Alitália e TAP são pois empresas obsoletas na concepção estratégica do negócio, nos métodos de gestão e sobretudo na racionalização dos custos e flexibilidade laborais. A tendência para a concentração capitalista no sector não irá retroceder, pois sendo o capital fixo cada vez mais eficiente e precioso, também é cada vez mais caro e difícil de obter sem que previamente sejam dadas garantias de uma gestão racional dos recursos disponíveis. A contracção do emprego nestas, como na generalidade das companhias aéreas mundiais, pode ser adiada, mas é inevitável a médio prazo.


O voluntarismo neo-keynesiano é um erro

O desemprego deixou de ser um problema conjuntural que a demagogia partidária possa resolver. Na realidade, à medida que se esgotam as estratégias de mitigação (obras públicas, expansão do sector público, criação monetária, especulação financeira, endividamento) da principal tendência evolutiva das sociedades humanas actuais — a tendência para a diminuição do trabalho humano no sistema produtivo —, o desemprego e a falta de trabalho ocupam o centro das preocupações da esmagadora maioria da humanidade.

Se há cada vez menos trabalho, e se o trabalho disponível é cada vez mais mal pago independentemente do grau de preparação e até de responsabilidade de quem vai tendo acesso a este recurso em vias de extinção, que regime de acesso ao bem comum podem os humanos esperar no futuro?

O recurso à despesa pública de tipo keynesiano seria mais do mesmo, i.e. maior inércia dos sistemas económicos, sociais e políticos obsoletos, mais endividamento de quem já está sobre endividado (todos nós!), e diminuição dos períodos de expansão económica, com o consequente aumento, duração e gravidade das recessões e depressões económicas.

Ao contrário do que se diz por aí, não foi o New Deal (1933-1938) que salvou a América da interminável Grande Depressão, mas sim a preparação e entrada do país na Segunda Guerra Mundial. O ataque e destruição dos 11 obsoletos navios e 188 aviões de guerra estacionados na base militar de Pearl Harbour, em 1941, foi mais uma oportunidade do que um verdadeiramente inesperado casus belli.

Quando Franklin D. Roosevelt chegou ao poder (1933) e lançou o primeiro New Deal (1933-1934), o desemprego situava-se nuns elevadíssimos 25%. No início de 1937 desceu para os 15%, mas no fim desse mesmo ano, princípios de 1938, voltou a subir para os 21%. Em 1939, a jovem Conservative coaliton (formada pela maioria conservadora do Partido Republicano e pela minoria conservadora, sobretudo sulista, do Partido Democrata) bloqueou os planos liberais de Roosevelt, interrompendo o segundo New Deal então em curso (1935-38) e favorecendo claramente o esforço de guerra americano, primeiro no auxílio aos aliados ingleses, e depois de Pearl Harbour, entrando directamente na guerra mundial. Em 1940 o desemprego desceu para 15%; em 1942 (um ano depois de Pearl Harbour), para 7,5%; e em 1943, para 3,75%. A família Bush bem tentou recriar uma oportunidade parecida. Mas a sorte dos deuses não esteve do seu lado. Que fará Obama? A Cimeira do G20 que terá lugar em Londres no próximo dia 2 de Abril será porventura decisiva a este respeito...


Porque seremos o único animal que paga pelo que bebe e come?

O maior problema que temos pela frente é saber como distribuir o trabalho humano que assegura e faz progredir o trabalho das máquinas físicas, comunicativas e cognitivas que, por sua vez, asseguram a produção de uma parte crescente de tudo o que precisamos para viver e aumentar os níveis de sofisticação das redes de interacção social a que pertencemos.

Desde logo, precisamos de redefinir radicalmente a titularidade dos meios de produção, procedendo à sua integral socialização. Sabemos hoje que boa parte da concentração capitalista mundial e dos aumentos de produtividade do trabalho pela via da automação e da desmaterialização de muitos processos produtivos é alimentada financeiramente pela gigantesca poupança acumulada nos fundos de pensões. De facto, só mesmo a poupança —isto é a acumulação— permite estimular o aumento da produtividade do trabalho, na medida em que só a poupança que conduz à acumulação de reservas assegura em geral o crescimento económico, pela sua capacidade de desviar uma parte dos recursos, da esfera do consumo, para a esfera produtiva.

No entanto, se o trabalho assalariado tende a desaparecer, sobrando por outro lado uma enorme capacidade produtiva e de consumo progressivamente fora do sistema de valor capitalista, onde irá no futuro a economia dominante buscar a poupança de que necessita para promover os investimentos de capital intensivo de que depende criticamente para seguir em frente na procura de uma ainda maior produtividade do trabalho assalariado? No dia em que tudo for comandado por robots, quem contribuirá para os fundos de pensões que hoje, segundo Jeremy Rifkin, perfazem 1/3 dos activos financeiros da maior economia do mundo? O buraco negro do endividamento exponencial que hoje ameaça destruir a economia mundial é o resultado indesejável da tentativa de fugir a esta pergunta.

O trabalho assalariado tem que passar a ser uma actividade temporária de menor duração e mais sustentável em termos energéticos, abrangendo a totalidade dos adultos saudáveis, mas apenas durante um período limitado das suas vidas (por exemplo, dos 22 aos 45 anos), ocupando em média 4 a 5 horas seguidas de trabalho diário bem remunerado, 4 ou 5 dias por semana. Antes de chegar à idade profissional as pessoas deveriam evoluir livremente numa rede educativa alimentada em partes iguais pelo sector público, pelas empresas privadas e pelo chamado terceiro sector — uma vastíssima rede de voluntariado, cooperação e criatividade, cuja importância económica poderá ultrapassar, antes do final deste século, a dos actuais sectores empresariais públicos e privados. Depois dos 45 anos as pessoas abandonariam progressivamente a economia capitalista, levando consigo uma pensão vitalícia e universal (isto é, igual para todos). A partir deste ponto começa o terceiro sector, i.e. um estádio social de grande liberdade individual e de intensa criatividade, seguindo o paradigma da dádiva, por oposição ao paradigma da troca. Esta espécie de economia social radical deverá basear-se na cooperação, no voluntariado e na solidariedade. O que fazemos chegar aos outros, e o que os outros nos fazem chegar, tem origem num puro acto de amor e libertação subjectiva. O paraíso na Terra? Porque não?

Perante a crise actual, em vez de perdermos mais tempo a discutir as grandes obras públicas, deveríamos analisar e levar por diante duas reformas estruturais com impactos imediatos na redução dos riscos que a deterioração da actual situação económica comporta para a paz social:
  1. reduzir a semana de trabalho a 20 horas, diminuindo ao mesmo tempo a semana laboral para 4 dias;
  2. criar em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes um cartão de residente municipal que dê acesso a múltiplos recursos em troca de voluntariado.
Se estas medidas de fundo fossem acompanhadas de um plano nacional de eficiência energética incidindo numa primeira fase sobre todos os edifícios públicos nacionais e municipais, teríamos com certeza resultados bem mais visíveis do que as expectativas demagógicas alimentadas irresponsavelmente pelo debate eleitoral em curso.


NOTAS
  1. Vale a pena ler toda a descrição de Jonathan Grossman sobre a iniciativa do Presidente Roosevelt relativamente à legislação laboral proposta no quadro da Grande Depressão de 1929-1943, de que os contributos do Senador Hugo Black e do deputado da Câmara dos Representantes, William P. Connery, foram então fonte de grande polémica e voltam hoje a inspirar autores como Jeremy Rifkin. Aqui fica a passagem completa de onde retirei a citação sobre o famoso, embora não aplicado Black-Connery Bill.
    On May 24, 1937, President Roosevelt sent the bill to Congress with a message that America should be able to give "all our able-bodied working men and women a fair day's pay for a fair day's work." He continued: "A self-supporting and self-respecting democracy can plead no justification for the existence of child labor, no economic reason for chiseling worker's wages or stretching workers' hours." Though States had the right to set standards within their own borders, he said, goods produced under "conditions that do not meet rudimentary standards of decency should be regarded as contraband and ought not to be allowed to pollute the channels of interstate trade." He asked Congress to pass applicable legislation"at this session."

    Senator Hugo Black of Alabama, a champion of a 30-hour workweek, agreed to sponsor the Administration bill on this subject in the Senate, while Representative William P. Connery of Massachusetts introduced corresponding legislation in the House. The Black-Connery bill had wide Public support, and its path seemed smoothed by arrangements for a joint hearing by the labor committees of both Houses.

    Generally, the bill provided for a 40-cent-an-hour minimum wage, a 40-hour maximum workweek, and a minimum working age of 16 except in certain industries outside of mining and manufacturing. The bill also proposed a five-member labor standards board which could authorize still higher wages and shorter hours after review of certain cases. — in Fair Labor Standards Act of 1938: Maximum Struggle for a Minimum Wage by Jonathan Grossman.
  2. 5.507.000, no 1º trimestre de 2005; 5.613.900, em Dezembro de 2008.
  3. Mais 44,7% do que em Dezembro de 2008; mais 27,3% do que em Janeiro de 2008.


OAM 557 17-03-2009 19:30 (última actualização: 25-03-2009 01:47)

sábado, março 14, 2009

Republica Electronica 2

Perceber o rizoma social

A primeira constatação que me leva a considerar mais seriamente a possibilidade e utilidade de se promover um movimento electrónico de opinião e pressão política é o estado terminal em que se encontra o sistema partidário português. A desorientação é completa. O oportunismo dos partidos e organizações corporativas (sindicatos e associações patronais) salta à vista. A corrupção perdeu a vergonha. Em suma, caminhamos para um perigoso colapso constitucional, sob o peso de uma dívida externa insuportável e a ameaça de pilhagem do que ainda resta da riqueza nacional, pelos muitos piratas à solta, num país sem rei nem roque, onde a justiça não passa de anedota.

Não creio, porém, que devamos copiar a filosofia e a arquitectura do sistema constitucional em vigor para a Internet. O problema da criação duma República Electrónica, ou de uma Democracia Virtual (qualquer destas designações me parece oportuna), não reside na desmaterialização dos vícios existentes, mas antes na descoberta de uma forma nova de perceber a vontade esclarecida dos povos e os interesses estratégicos de cada território ou rede de cidadania.

Daí que a solução exija sobretudo um esforço preliminar de conceptualização, e o recurso a estratégias computacionais de compilação e representação simbólica das complexas redes ideológicas e de vontade que formam o tecido social pós-contemporâneo.

Deveríamos, pois, começar pela elaboração de um mapa interactivo da blogosfera política e social portuguesa.

Se lá chegarmos, poderemos então criar um conjunto de filtros, algoritmos e formulários, com a missão de plasmar, visual e conceptualmente, as diferentes maiorias democráticas dinâmicas face aos temas importantes da vida colectiva.

Ou seja, ao contrário das hierarquias e compromissos típicos dos partidos políticos que regem a nossa república, teremos que descobrir o caminho para uma democracia automática, não coerciva, inteligente, e onde a energia das redes e a transparência cibernética substituam a manha do cacique, bem como a corrupção endémica associada à perversão burocrática que usurpou a democracia portuguesa.


Post scriptum — Acabo de conhecer o trabalho e linhas de investigação de Manuel Lima. Recentemente nomeado pela revista americana Creativity como "uma das 50 mentes mais criativas e influentes de 2009" (ler artigo sobre a nomeação), Manuel Lima é Interaction Designer, investigador e fundador de VisualComplexity.com: A visual exploration in mapping complex networks. Um dos seus projectos mais interesantes, dedicado a Portugal, chama-se Formas de Portugal. Quando falo de Democracia Virtual, estou nomeadamente a referir-me a este tipo de estratégias de cidadania baseadas no poder do conhecimento.

Ao contrário da pobreza franciscana da maioria dos sítios web institucionais do nosso país, e da pseudo independente Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos — CADA, criada em 2007, dois anos depois do prazo limite de transposição da directiva comunitária de 2003 e já com um processo do Tribunal Europeu de Justiça em cima, onde nem o sector privado, nem os consumidores, se encontram representados, como deviam, de acordo com o espírito da directiva comunitária sobre o Public Sector Information - PSI (Quick Guide - PDF), o projecto de Manuel Lima é um bom exemplo do tipo de resposta positiva que a cidadania criativa pode dar, contornando sem grande atrito a incompetência pública alimentada pelos esquemas manhosos do poder. No caso da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos — CADA, engendrado pelo Bloco Central.

"A informação pública em Portugal é de livre acesso a qualquer cidadão, no entanto está na sua maioria dispersa em longas tabelas estatísticas que dificilmente permitem o reconhecimento de padrões congruentes. Quando analisados pelos media tradicionais, que para uma grande maioria da população é o principal - senão o único - meio de acesso aos dados, estes são utilizados apenas para reforçar determinado argumento que nem sempre corresponde ao mais relevante para o domínio público. Neste sentido, é imperativo que a vasta informação pública seja filtrada e apresentada segundo um conjunto de perguntas e respostas que conduzam ao saber. Compreender a informação e transformá-la em conhecimento é uma inabalável forma de poder. E é este o principal objectivo de Formas de Portugal." — Manuel Lima.

REFERÊNCIAS

OAM 556 14-03-2009 17:20 (última actualização: 20:27)

Manif 1

Manif, 13 mar 2009. Foto: Miguel A. Lopes/LUSA

A desgraça das burocracias sindicais

A manifestação (manif) de Sexta Feira 13, do mês de Março de 2009, tal como algumas das concentrações e manifs de professores do ano passado, foram animadas e politicamente controladas pelo PCP, através do seu braço sindical, a CGTP. A panela da pressão social não se cansa, de facto, de apitar, e há portanto que canalizar a tensão para algum lado. A corrompida UGT, que não passa de um fantasma de circunstância, aninhada como sempre esteve, aos pés do governo de turno, não tem pedalada para lidar com a crise de regime que aí vem. Já o PCP-Intersindical, mesmo sem saber para onde tudo isto pode ir, tem um catecismo antigo por onde se guiar. E fá-lo sempre que as circunstâncias ou proximidade eleitoral o exigem. Resta saber para quê... dada a dimensão sistémica da crise e a falta alarmante de soluções programáticas por parte da totalidade dos actores políticos em presença.

As manifs são uma forma de catarse colectiva. Mas desta forma de catarse nasce invariavelmente uma consciência de classe mais nítida e sobretudo uma percepção partilhada dos problemas e das dificuldades. À medida que a crise das falências empresariais, familiares e pessoais alastra e o desemprego expulsa indistintamente gestores, trabalhadores liberais e operários dos seus empregos, as manifs irão engrossar — na busca de irmandade, mas também na expectativa de uma luz ao fim do túnel da depressão para onde a Europa e a América caminham a passos largos. Até mesmo a classe média, em vias de extinção, desesperada, que por enquanto vai enterrando os cabedais ainda disponíveis, em psicólogos, psiquiatras e gurus da MT, não tardará a engrossar o novo ciclo de manifs que hoje começou. E quando tal ocorrer, o radicalismo das acções de rua ganhará outra dimensão retórica e programática.

Quando os jornalistas despedidos da SIC, do Diário de Notícias, etc., e os engenheiros despedidos da Mota-Engil, da Teixeira Duarte, etc, e os bancários e gestores despedidos do BCP, do BPN, etc., já para não falar do exército de arquitectos, advogados e economistas que verão encolher dramaticamente as suas possibilidades de emprego ao longo dos próximos anos, ou décadas, então as manifs deixarão de ser uma alavanca oportunista do PCP —partido envelhecido, sem ideias e tão agarrado ao actual regime como qualquer outro partido com assento parlamentar. Quando aí chegarmos, o poder que estiver terá realmente motivos para se preocupar com o seu futuro e com o futuro da nomenclatura de que é parte.

O actual regime democrático corrompeu-se e isso está cada vez mais à vista de todos. Como se a corrupção não fosse em si mesma razão que baste para uma revolução, acresce que estamos economicamente como estava o meu avô republicano nas vésperas do 5 de Outubro de 1910 — isto é, à beira da ruína! A ilusão de que poderemos escapar airosamente da delapidação do património e da poupança em que embarcamos todos nos últimos vinte anos, porque temos o Euro, é uma das tais ideias peregrinas que só pode ter mesmo vindo dum desses economistas que acordaram há menos de um mês para a gravidade da nossa dívida externa: 200% do PIB e não 100% como ainda continuam a balbuciar (1)

É preciso uma grande imaginação para encontrar soluções. A demagogia persistente das esquerdas burocráticas (PCP e BE) não serve. A solução, pelo menos provisória, está na explosão dos dois principais partidos do Bloco Central: o PS e o PPD/PSD. E está também na emergência de um rizoma de cidadania democrática pro-activa, inteligente e tecnologicamente avançada. Chegou provavelmente a hora de tecer uma Democracia Virtual em rede, plural, dialógica, solidária, humanista, realista e criativa.


NOTAS
  1. A maioria, se não mesmo a totalidade dos economistas portugueses, tem a mania de olhar apenas para aquilo que se chama a Dívida Externa Líquida (i.e. a diferença entre o que devemos e o que nos devem), quando o número para que temos realmente que olhar é o da Dívida Externa Bruta (i.e. aquilo que estamos a dever ao estrangeiro independentemente daquilo que eles nos devem). Se por acaso quem nos deve não paga, isso não alivia em nada as nossas dívidas. Como bem sabemos todos!

OAM 555 14-03-2009 00:57

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Crise Global 48

Sistema Locais de Troca e Financiamento

Se não concederem crédito às empresas Governo avisa que pode retirar garantias à banca

2008-12-17 08:01 (Diário Económico) O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, admitiu que, no limite, o Governo pode vir a retirar as garantias que deu à banca se as instituições não fizerem chegar o crédito às empresas.

A falácia da ajuda às famílias anunciada pelo Pacote Barroso-Sócrates (1) começa a vir à tona mais depressa do que se previa. Valerá pois a pena, a este propósito, entrar no debate em curso sobre as moedas e sistemas financeiros paralelos e alternativos (WIR Bank, etc.), promovido nomeadamente pela ODE MAGAZINE. A discussão está a aquecer rapidamente em países como os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha, já para não falar de casos clássicos como a Argentina, ou do Brasil, cujo real não pára do cair!

Para acompanhar este debate inscreva-se no fórum Democracia Virtual. É gratuito, independente e responsável.


NOTAS
  1. 8 Outubro 2007 — O Royal Bank of Scotland (RBS), em associação com o espanhol Santander e o holandês Fortis, consumou a maior operação de take over da história bancária europeia, tomando de assalto o banco holandês ABN Amro, pela linda quantia de 71 mil milhões de euros (98,5 mil milhões de dólares). — Link.

    28 de Novembro de 2008 — o governo britânico nacionalizou por 31 mil milhões de dólares cerca de 60% do Royal Bank of Scotland Group PLC. — Link.

    Hoje, pelo mesmo dinheiro pago pelo ABM Amro poder-se-ia comprar:

    Citibank $22.500.000.000
    Morgan Stanley $10.500.000.000
    Goldman Sachs $21.000.000.000
    Merrill Lynch $12.300.000.000
    Deutsche Bank $13.000.000.000
    Barclays $12.700.000.000
    E sobrariam ainda uns $6,5 mil milhões de trocos...... que chegariam para comprar a GM, a Ford, a Chrysler e ainda, bem negociadinha, a escuderia Honda de F1...

    Esta comparação talvez ajude a compreender melhor a escala do colapso financeiro a que estamos assistindo, e o ridículo do Pacote Barroso-Sócrates.


OAM 496 17-12-2008 13:19