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sábado, agosto 29, 2015

Quem subsidia o crescimento?


Gas Stealers Beware 1974
David Falconer/National Archives, Records of the Environmental Protection Agency.
Wikipedia

Depois do pico do petróleo barato, o pico da dívida e a fossa da taxa de juros


1970: pico do petróleo nos EUA (aumento exponencial das importações).
1971, 15 de agosto: Nixon decreta o fim da convertibilidade do dólar (1 onça de ouro = 35 USD).
1973, março
: abandono da convenção de Bretton Woods.
1973, outubro: embargo petrolífero decretado pela OPEP.
1974: início do crescimento pela via do consumo, do endividamento, e da criação de moeda virtual.
1988: Basel I (por cada 100USD de depósitos/ empréstimos, os bancos passam a ter em reservas obrigatórias, não 20, mas apenas 8 dólares).
1990: Japão inicia primeira experiência, pós-keynesiana, de monetização especulativa do endividamento público e privado, através da criação monetária virtual, com desvalorizações cambiais agressivas e sucessivas, e destruição paulatina das remuneração do dinheiro (taxas de juro a caminho de -0).
2004: Basel II elimina as exigência de reservas, transferindo a avaliação objetiva da solvência dos bancos para um regime inverificável de avaliação qualitativa, através das famosas agências de notação financeira (rating agencies).
2008: Copiando a receita japonesa da década de 1990, a China começa a expandir a sua base monetária de forma especulativa, através de empréstimos sem retorno a uma economia assente na exportação e atingida pelo colapso do Lehman Brothers .
2009: Reserva Federal (Fed) e Banco de Inglaterra (BoE) começam a imprimir dinheiro virtual. Os Estados Unidos imprimiram 4 biliões de USD, entre 2009 e 2012, à razão de 1 bilião de dólares por ano ($1.000.000.000.000), ou seja, 80 mil milhões por mês.
2015: BCE anuncia a compra de ABS (Asset Back Securities) até ao montante de 60 mil milhões de euros/mês, até, pelo menos, setembro de 2016. Segundo Paul Mason (Postcapitalism, a guide to our future) a expansão da massa monetária virtual, desde 2008, andará pelos 12 biliões de dólares, ou seja, 1/3 do PIB mundial.


Aqui vão alguns gráficos para ajudar alguns dos nossos jornalistas económicos a papaguearem menos a voz do dono, a escreverem menos disparates, e a pensarem com os seus próprios neurónios.

Lição número 1:

—a algazarra entre os partidos da corda, sobre a dívida portuguesa e o défice, não diz respeito às suas diferenças de linguagem e demagogia, mas ao simples facto de a economia ser há muito uma realidade global. Ou seja, a diferença entre votar no PS, ou no PSD, é apenas a diferença entre votar em mais despesa, apesar do descalabro em curso (PS), ou continuar com as barbas de molho até que a tempestade amaine (PSD). 

No entanto, se soubermos combater a cleptocracia indígena (nomeadamente os DDT do Bloco Central da Corrupção), seremos também capazes de preparar o país para se defender, com algumas garantias reforçadas, do dilúvio da dívida onde corremos sérios riscos de nos afogarmos todos. A sorte de José Sócrates e da família Espírito Santo mostra que o perigo chega mesmo a todos!

Os Estados Unidos-Canadá, o Japão e a Europa, a que se juntaram a Austrália, no início da década de 1980, e a China no início da década de 1990 (1), deixaram de poder crescer à custa do resto do planeta, entre outras razões porque os chamados segundo e terceiro mundos acordaram e ganharam garras suficientes para exigirem a sua parte do bolo da distribuição do PIB mundial.

É por causa desta equilibração dos pesos da distribuição da riqueza global, que as bolhas especulativas se formaram tão rapidamente (décadas de 1980, 1990, 2000, 2010, 2020...), o endividamento global disparou (300% do PIB mundial em 2014), e esrtamos todos neste momento a caminho de um buraco negro. Ninguém sabe o que iremos lá encontrar!

Nestas situações históricas, os países mais antigos devem fazer o que os velhos recomendam: cuidados e caldos de galinha.

Os dois gráficos que se seguem são claros sobre a dimensão do monstro que fomos capazes de parir.

That 70s show – episode 4
by Eugen von Böhm-Bawerkon August 28, 2015
4

Source: History of the United States from Colonial times to 1970, Bureau of Economic Analysis, Bawerk.net

...why did debt levels rise so dramatically after the final central bank restraint was removed? It is essentially due to the massive subsidy central bankers provided. If you tax a thing you get less of it (think all the tax on labour) but if you subsidise it you will get more of it. As time went by, debt obviously grew ever larger and eventually large enough to become an integral part of the business cycle. In other words, central banks could not stop the subsidy for fear of creating, well, a 2008 financial meltdown.

So every time spending growth came to a halt, the central banks would step in and lower rates and consequently also debt servicing cost. With more money in consumers’ pockets spending could resume.

As debt continued to grow, debt servicing cost obviously rose along with it, and the high in interest rates could never reach its previous peak before a new slump in spending occurred. In addition, the central banks always had to lower rates to a lower level than in the preceding cycle to reinvigorate spending.

When debt funded spending could not be stimulated even at zero rates the necessary deleveraging started with devastating consequences for global finance, trade and output.

Source: Federal Reserve, Bundesbank, European Central Bank, Bank of England, Bank of Japan, International Monetary Fund, Bawerk.net

NOTAS
  1. A Grande Miragem da China. A China esteve de pernas cortadas no que se refere ao seu crescimento e desenvolvimento enquanto não pôde dispor de petróleo barato. Até 1960, quando finalmente começou a produzir petróleo, a partir das grandes reservas de Daqing, descobertas em 1959, tudo mudou. Pequim deixou de depender de Moscovo e do Ocidente para se abastecer do precioso ouro negro. Foi a descoberta das grandes reservas de petróleo na bacia de Songhua Jiang-Liao —cujo pico de exploração foi, no entanto, atingido em 2014— que viria a pulverizar o comunismo chinês, inventado por Mao Zedong, e tão do agrado de alguns intelectuais sado-masoquistas da Europa. Foi a junção económica entre as reservas próprias de petróleo e as suas formidáveis reservas de mão de obra barata e submissa que levou a China até aos píncaros de 2007. No entanto, a conjunção entre o colapso da procura agregada mundial, pondo fim ao boom das exportações Made in China, a par do fim do petróleo barato chinês, fazendo da China hoje o maior importador de petróleo do planeta, podem transformar 2015 no ano da Grande Miragem da China. Talvez alguns chineses já se tenham apercebido disto mesmo, e por isso começam a voar como as andorinhas em direção ao Ocidente, nomeadamente para Portugal.