sábado, março 07, 2015

IGCP: controlo de danos

Cristina Casalinho, presidente do IGCP desde 2014

Precisamos de 70% de mulheres aos comandos do país, e não 30!


Simpatizo com esta economista e mulher desde que comecei a ler as suas análises económico-financeiras na qualidade de economista-chefe do BPI. Arguta, subtil e ponderada, creio que terá sido uma excelente escolha para substituir o azarado Rato, que em má hora migrou do IGCP para o Titanic de Ricardo Salgado.

A sua função é contribuir decisivamente para uma boa gestão da calamitosa dívida pública portuguesa, com mais ou menos ajuda dos senhores do universo financeiro global: Rotshchild, Goldman Sachs, FMI, BCE, etc.

É uma tarefa dificílima, dada a situação em que nos encontramos:

  • — uma dívida soberana em volta dos 128% do PIB (a 6ª mais elevada do mundo, segundo a CIA)
  • uma dívida externa, contabilizada em 2011, na ordem dos 223% do PIB (posição 23 em 190 países)
  • mas, curiosamente, as receitas fiscais em % do PIB (37%) estão longe do esforço fiscal de países comunitários como a Dinamarca (49%), Bélgica—exceto os eurocratas que lá vivem (46,8%), França (44,8%), Itália (42,6%), ou Alemanha (40,6%), mas mais perto do paraíso fiscal que é o Luxemburgo (36,5%), em grande parte porque continuamos a ter uma economia rentista à solta. 
  • Curiosa, também, é a posição de meio da tabela (posição 10) que Portugal ocupa numa comparação relevante de 24 países sobre os níveis de riqueza financeira líquida familiar e pública. Estes dois últimos indicadores explicam claramente as tentações dos rendeiros, devoristas e dos partidos da esclerótica esquerda no avanço do fascismo fiscal sobre a poupança familiar. Antes de votar convém olhar bem para a tabela que se segue, e para o que um novo governo do PS certamente significaria em termos de assalto agravado aos bolsos dos contribuintes e aos seus bens, na forma de uma acrescida repressão fiscal sobre a propriedade imobiliária, urbana e rústica.

In Zero Hedge, "The Debto of Nations"


Mas vamos ao que disse Cristina Cristalinho

Portugal: taxas de juro da dívida pública a caminho do zero... Quem compra?

O BCE vai ensopar até setembro de 2016, 20 a 25% do total da dívida (soberana) europeia, e desta forma atrasar por mais alguns anos o colapso financeiro da Europa. O colapso social, esse segue na unidade de cuidados intensivos dos programas de financiamento público do desemprego, criação de emprego virtual (formação profissional, etc.) e apoio de emergência ao rendimento mínimo de milhões de pessoas e famílas em toda a Europa (RSI, bancos alimentares, IPSS, etc.)

É neste panorama extremamente complicado que a nova presidente do IGCP se move e move os precários equilíbrios financeiros do país.

Da entrevista realizada pelo Dinheiro Vivo a Cristina Casalinho, e que vale a pena ler na íntegra:
DV: A manutenção das taxas como estão agora já seria bom para o país?

Cristina Casalinho: Eu acho que elas ainda vão descer um pouco mais.

DV: Um pouco mais significa?

CC: Eu não vou avançar mas acho que ainda há espaço para elas caírem.

DV: Mas sempre acima dos 1,5%?

CC: Não vou avançar com patamares porque de certeza que vou falhar. Ainda recentemente estávamos entre nós, no IGCP, a conversas sobre onde é que víamos os patamares no final deste trimestre e do próximo, e tenho a dizer que foram todos pulverizados.

(...)

DV: Na estratégia de financiamento para este ano, o IGCP estima um encaixe de cerca de 2500 milhões de euros com produtos de retalho, muito menos do que obteve em 2014. Com a decisão de baixar os juros dos certificados, o IGCP abandonou o papel de incentivar a poupança das famílias?

CC: Não. Uma das coisas que se aprendeu com a crise é que se deve diversificar o mais possível em investimentos e em investidores, e uma das coisas que é valorizada é ter uma base de investidores local e doméstica diversificada, e bastante bem fidelizada. A ideia é continuar a fazer com que os aforradores portugueses tenham interesse em subscrever os títulos disponibilizados pelo IGCP para a distribuição no retalho.

DV: Mas a verdade é que as taxas baixaram?

CC: É verdade que as taxas baixaram muito significativamente. Mas também temos de ver que estávamos a falar em taxas de juro, as taxas dos certificados de aforro, por exemplo, remuneravam, num título que ia dos três meses até um máximo de dez anos, com uma taxa no primeiro ano de 3,05%, enquanto que os Certificados do Tesouro Poupança Mais, que é um título a cinco anos, remunerava em termos médios, 4,20%. Este tipo de remuneração está completamente desajustada. Continuamos a achar que as remunerações são atraentes. Ainda por cima com as quedas mais recentes das taxas de juros, este tipo de produtos ganhou um pouco mais de atratividade.


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