terça-feira, janeiro 25, 2011

Minocracia

A terra foge debaixo dos calcanhares do sistema

O condottiero Marcelo Rebelo de Sousa, segundo o ouvi ao fim da noite eleitoral, na TVI, quer apagar do mapa democrático português 5 153 660 abstencionistas. Até aqui chega a venalidade dum Je sais tout que não sabe nada! Será que o avençado mediático da anestesiada TVI não percebe que algo vai muito mal numa democracia quando o presidente eleito apenas consegue reunir o voto de 23% do eleitorado?

O senhor Cavaco Silva não tem maioria, não senhor! Os 52,94% que obteve, são uma mistificação. Não valem mais, mas menos do que 23% do país eleitoral — pois muitos houve que votaram nele com um encolher de ombros, só para equilibrar o descalabro "socialista", ou para garantir a humilhação do incapaz Alegre e do quadrado Bloco do eterno seminarista Louçã, tapando mesmo as narinas para não apanhar com o fedor de decomposição de alguns dos indefectíveis amigalhaços do próximo presidente.

Mas como uma só voz de pânico (a de Marcelo) não chega, o rebanho do Bloco Central da Corrupção começou a soprar em uníssono nas trombetas da miserável e cooptada comunicação social que temos: são os "candidatos anti-sistema"! São só 20% — murmuraram. Calma — balbuciaram nervosamente.

A tropa partidária crê que se for capaz de entupir os canais mediáticos com as suas doutas "análises" sobre o acto eleitoral, apontando o dedo acusador aos candidatos "anti-sistema", o anti-sistema, que incha como uma bolha de irritação, indignação, desespero e revolta, por enquanto contida, desaparece como que por milagre. E nesta doce ilusão, a canalha partidária, a canalha financeira, e a canalha burocrática acreditam que poderão voltar a dormir descansadas, sem receio de perderem a gamela orçamental, nem medo de levarem um sopapo na rua.

Nunca como agora foi tão evidente a solidariedade oportunista e a corrupção endémica que atravessam o promíscuo falanstério partidário do regime minocrata que conduziu Portugal à falência. Divergem para inglês ver, ao mesmo tempo que pilham as últimas migalhas de um país que já só come e bebe o que os seus credores deixam. É simples de constatar. E não há outra forma de o dizer.

Olhando para os resultados da farsa eleitoral que acaba de decorrer (digo farsa, porque num regime democrático a sério, dois políticos que cometam ilegalidades, por acção ou omissão, e mintam sobre factos ocorridos, não têm lugar em corridas presidenciais), verificamos que a mole anti-sistema que cresce é bem maior do que os tais 20% a que mais um imbecil do PSD, Marques Mendes, esta noite aludia numa entrevista à TVI.

Na realidade, para avaliarmos sem subterfúgios a vaga de fundo que se está formando, legitimamente, contra a actual democracia burocrática, néscia e corrupta, que conduziu Portugal à bancarrota, teremos que somar não apenas os votos nos tais "candidatos anti-sistema", mas também juntar-lhes as abstenções, os votos brancos e os votos nulos, pois é a soma de todos este votos e não votos que traduz a real dimensão da rejeição crescente que o "povo" vota à corja que tomou de assalto o espaço público de decisão.

E aqui as contas, que os opinocratas escondem, são fáceis de fazer:
  • eleitores registados: 9 656 474
  • votos no futuro presidente da república: 2 230 240, ou seja, 23% do eleitorado!
  • abstenções+votos brancos+votos nulos+votos em Nobre, Coelho e Moura: 6 280 701 (65% do eleitorado!)
É caso para dizer que bastará um próximo José Manuel Coelho, mais novo e um pouco mais sofisticado, para conduzir a confortável maioria anti-sistema, mas nem por isso menos democrata, que já existe, embora sem liderança, contra a degenerada democracia que nos conduziu até ao beco sem saída onde estamos, abrindo oportunidades mais racionais e justas para colocar Portugal no caminho de uma nova república, adulta, exigente, generosa e criativa.

Do actual regime já nada podemos esperar. O matrimónio oportunista entre Cavaco e Sócrates, que anunciei a tempo e horas, está para lavar e durar. É um casamento com convenção antenupcial, no interesse de ambos, no interesse das tropas partidárias do regime, no interesse das tríades e máfias do Bloco Central, no interesse das famílias financeiras sentadas à mesa do orçamento, no interesse das corporações burocráticas. Só não é no interesse da mole anti-sistema que cresce. Um dia destes, provavelmente mais cedo do que se pensa, uma qualquer forma de revolução voltará a passar por aqui.

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