sexta-feira, setembro 15, 2006

Justiça

Lucas Cranach, TêmisAs adoradoras de Têmis, enquanto devotas da "pudenda muliebria" (a vulva), dedicavam-se a rituais orgiásticos, onde as descargas da libido serviam não só para aumentar a cumplicidade entre a Deusa e as suas adoradoras, mas também para uni~las ao mundo. Esta Deusa do prazer e da virtude opunha-se à dominação do um sobre muitos, preferindo a unidade à multiplicidade, a totalidade à fragmentação, e a integração à repressão. Nessa actividade de contenção e vinculação, Têmis revelava o princípio operado pela consciência feminina, i.e. a lei do amor. Deusa da consciência colectiva e da ordem social, da lei espiritual divina, da paz, do ajuste de divergências e da justiça, Têmis, a voz profunda da Terra, foi também a inventora das artes e da magia.
adaptado de um artigo na Wikipedia
Lucas Cranach, O Velho. Alegoria da Justiça, 1537

A voz da Terra não é a voz dos homens


Um dos problemas mais sérios que actualmente afecta a humanidade é o da natureza da justiça. Ouvimos o termo sair da boca infecta de muitos políticos como se de uma trivialidade instrumental se tratasse. Reparamos que o seu nome tem vindo a ser aviltado da maneira mais insidiosa pelos chamados operadores judiciários, cuja venda que deveria proteger os seus olhos do poder e da sedução, há muito se deixou corromper pelo brilho ofuscante dos pequenos paraísos do dia a dia. Chegámos a um tempo em que a evidência material e confessa dos crimes perde sistematicamente contra a engenharia do direito e o poder da forma. Os lobos da guerra e da corrupção definem quando querem e como querem já não apenas o uso das normas sociais, mas também a sua omissão ou rejeição discricionária. O povo vê e arrepia-se. Entre outras causas, por adivinhar uma espécie de unanimidade sinistra no horizonte do poder.

OAM #142 15 SET 2006

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