quinta-feira, julho 24, 2003

Cova da Moura

Cova da Moura
Foto © autor desconhecido

Passeio filosófico

Em Dezembro de 2001, na Cova da Moura, Angelo, um jovem de 17 anos, foi baleado mortalmente nas costas pela PSP. A actuação de 90 polícias para acalmar os ânimos dum grupo de pessoas indignadas com o sucedido foi acompanhada por todas as estações de TV, projectando a imagem do bairro duma forma duvidosa junto da opinião pública portuguesa.

Em Fevereiro de 2002, na Damaia, um traficante de droga baleou e matou Felisberto, polícia caboverdiano nascido e criado na Cova da Moura. Estes incidentes, associados ao crescente tráfico de droga na zona (especialmente depois da destruição das barracas do Casal Ventoso) e à animosidade latente nalguns grupos organizados de jovens, faz deste aglomerado sub-urbano uma zona a evitar.

E no entanto, a Cova da Moura é um extraordinário exemplo daquilo a que poderíamos chamar "cidadania lateral". Em menos de 30 anos, cerca de 7000 pessoas construiram uma cidade ilegal (clandestina seria se as autoridades oficiais desconhecessem a sua existência, o que nunca foi o caso!), pobre, desprezada pela Autarquia (que agora é Socialista...), mas onde podemos ver a matriz orgânica de uma cidade, fruto da cooperação e não, como também podemos reparar em toda a sua vizinhança, da mais corrupta e abjecta especulação imobiliária. É precisamente esta realidade que pretendemos agora cartografar, desenhando um outro mapa mental daquela zona da Grande Lisboa.

Seguindo de perto as estratégias Psicogeográficas (oriundas das acções Situacionistas de meados do século passado), resolvemos redesenhar a imagem do Bairro do Alto da Cova da Moura a partir da linha irregular pontuada pelos 35 cabeleireiros nele existentes. Cremos que para os arquitectos, artistas, antropólogos, sociólogos, psicólogos e, em geral, gente de bem, esta é uma proposta irresistível!

Cova da Moura, Passeio Filosófico - 2003, 30 de Julho
Ponto de Partida: Galeria Quadrum - 18h
Promotor: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Apoio: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guia: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte



Philosophical Walk  

Cova da Moura is an incredible example of what we might call lateral citizenship. In less than 30 years, 7000 men and women, mostly from the african islands of Cabo-Verde (but also from the North of Portugal, Angola, Mozambique and Eastern Europe), built an illegal town in one of the suburban areas around Lisbon.

A large part of the property is private, and a small part is either common ground or it belongs to a solidarity institution. Speculators and the municipality of Amadora city (actually a 'Socialist' one!) want to destroy this marvellous "urban tapestry".

Some violent events took place in 2001 and 2002: by December 2001, a 17 years old boy was shot dead in his back by the Police; in February 2002 Felisberto, a young black policeman born and grown up in Cova da Moura was shot and killed by some drug diller. These tragic incidents put Cova da Moura on the media map. Drug dealing, gangs and gang wars, as well as poverty are responsible for most of the fear that Cova da Moura inspires to an average Lisbon fellow.

Our walk will trace another map of this site! We will follow the trace that link the 35 hairdressers that operate in Cova da Moura and are responsable for some of the most creative hair sculptures we can see everywhere in the metropolitan area of Lisbon.


Cova da Moura, Philosophical Walk - 2003, July 30
Check Point: Quadrum Galeria de Arte - 18h
Idea: Sociedade Portuguesa de Psicogeografia
Support: Associação Cultural Moinho da Juventude
Guide: Joaozinho
Quadrum Galeria de Arte

OAM n.1
Quinta-feira, Julho 24, 2003
¶ 7:43 PM

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 2 nov 2013, 00:10

4 comentários:

Anónimo disse...

Cova da Moura sitio mt perigoso! Cuidado com o k tencionam fazer... Socio do "Parchal/Portimão" nós estamos com os dreads da cova! props [PARCHAL 4LIFE]

Anónimo disse...

Há quem goste da vida do ghetto, eu vivo na cova da moura e ja me apercebi que o ser mau, ser bandido, traficar, assaltar e tudo o resto é algo que faz parte do sangue de quem cá vive e quem cá vai cresendo, muitos conseguem desviar-se desse caminho, outros crecem junto dos bandidos, e aprendem a ouvir rap de rua e a perceber do que as letras das musicas falam, é a partir dai das primeiras experiencias a nivel de droga e pequenos furtos que tudo se toran uma rotina no bandidismo! Não acredito que as pessoas de raça negra, pricnipalmente os jovens pratiquem o crime, por aquilo que os portugueses fizeram á muitos anos em africa, eles praticam o crime porque os amigos o fazem e é algo que nao vai mudar, é m ciclo vicioso! A palavra de ordem dos dreads da Kova M é o ódio, especialmente á bófia, que são os unicos que estao em cima de nós na prática do crime, seja ele qual for! abraços pa gangsta parchal!

António Maria disse...

O Joãozinho foi assassinado uns meses depois de este blogue ter sido escrito. Conheci-o e gostei muito do modo como via a vida. Chegámos mesmo a agendar um concurso de cabeleireiros na galeria Quadrum, pois achei que havia criadores óptimos naquele bairro. Os africanos que ali vivem têm muito a ensinar-nos, nomeadamente no que toca à sensibilidade estética e a algumas artes em particular (como a moda e a música). O projecto foi interrompido pela morte inesperada e violenta do Joãozinho. Não cheguei a ir ao eu enterro, pois não estava em Lisboa naqueles dias. Desde este episódio terrível, nunca mais voltei à Cova da Moura. Espero que os cretinos autárquicos percebam um dia que a única estratégia possível, justa e inteligente, será legalizar a Cova da Moura, investindo nas suas infra-estruturas, na qualidade de vida que aí se vive, e sobretudo na conservação e potencicação da sua intrínseca originalidade cultural e especificidade antropológica. Até sempre Joãozinho!

António Maria disse...

Não creio q a maioria das pessoas q vivem da Kova da Moura sejam "bandidos", "traficantes", "ladrões", etc. Aliás tenho a certeza de q não são. Pois se fossem, os "fora-da-lei" n teriam hipótese nenhuma de sobreviver. Seja como for, os "rappers" da Kova, façam as asneiras q fizerem, têm os mesmos direitos q o resto da população portuguesa. N podem ser discriminados negativamente. A famosa casa financeira Morgan tb começou a sua meteórica carreira assaltando diligências no Oeste americano! O Bush é um bandido e dirige a maior potência do planeta! O mundo n é simples...

Aos "dreads" da Kova recomendo apenas isto:

-- usem uma parte do vosso ódio para defender um futuro melhor para a Kova; n façam sangue, nem justiça pelas próprias mãos; usem a lei a v/ favor. Aprendam a fazer política no v/ interesse e a favor de quem amam. O bom ladrão tem sempre um banqueiro dentro de si; e o bom guerrilheiro, um líder político no coração :-)